Carros zero combustão tem menos peças e as revisões costumam ser mais simples, mas é preciso ficar atento aos detalhes

Por Fernando Miragaya

Imagine quando seu filho ou filha faz aniversário e alguém tem a linda ideia de presenteá-lo com um Lego com 800 partes para montar. No próximo ano, com jeitinho, ou você nem convida essa criança ou pede ao pai que opte por aquele Lego mais simples, com umas 100 peças, para facilitar a vida. Essa é mais ou menos a mudança que você vai vivenciar quando trocar seu carro a combustão por um veículo elétrico na hora da manutenção.

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Um dos principais argumentos dos automóveis zero combustão, inclusive, é esse: a manutenção do veículo elétrico é bem mais simples, a começar pela concepção do carro. O EV (electric vehicle) tem de 10% a 15% dos componentes de um modelo a combustão tradicional. Ou seja, se o seu Renault Kwid tem umas 400 peças mecânicas, a variante elétrica dele vai ter umas 50.

Isso implica em custo imediato. Especialistas apontam que um carro elétrico pode ser até 80% mais barato de manter do que um similar a combustão. 

O que fica de fora da manutenção do veículo elétrico?

Não chega a ser uma dieta, mas o carro elétrico, por ter um mecanismo que dispensa combustível e combustão interna, se livra de um monte de itens. Para começar, o motor não precisa de lubrificante, então esqueça o cárter, a bomba e o filtro de óleo. 

Velas de ignição não são necessárias, pois você não precisa de centelha para fazer a explosão da mistura ar-combustível. A propósito, filtro, mangueiras e bomba de combustíveis também foram cortados no veículo elétrico. Correia/corrente, bielas, virabrequim são outros itens inexistentes.

Conjuntos mais simples 

Os veículos elétricos têm outras vantagens na hora da manutenção no que diz respeito a sistemas específicos. Um exemplo é a transmissão. Se nos carros a combustão o câmbio é composto de várias engrenagens, no EV a caixa é ligada diretamente ao diferencial do automóvel. 

Por isso que as respostas ao pedal do acelerador são tão imediatas em um carro elétrico. Não há necessidade de subir as rotações do motor e desta forma se dá o torque “instantâneo” que costuma servir de referência para os escribas ao falar dos modelos sem propulsor a combustão tradicional.

De qualquer forma, o EV é dotado de caixa de redução, que necessita de lubrificante. O fluido geralmente é trocado a cada 20 mil ou 30 mil km na manutenção do veículo elétrico prevista pela fabricante.

Freios na manutenção do veículo elétrico 

Outro sistema que não chega a ser mais simples, porém é bem menos sacrificado é o dos freios. Como ao tirar o pé do acelerador o carro elétrico já tem uma desaceleração forte, pastilhas e discos são menos exigidos. 

Além disso, a função “B” ou “e-pedal” que otimiza essas desacelerações para alimentar as baterias podem poupar ainda mais os componentes do conjunto de frenagem, especialmente naquelas descidas de serras.

No caso dos freios, eles também precisam de checagem e de troca do fluido a cada 20 mil km, em média. O prazo varia conforme o plano de manutenção do veículo elétrico definido pela montadora. Já a troca de pastilhas costuma se dar em prazos maiores que os 30 mil/40 mil km “usuais” nos modelos a combustão.

Amortecedores, filtro e inspeção

A manutenção da suspensão segue o padrão dos carros com motores a gasolina, flex ou diesel. Os componentes do conjunto devem ser checados a cada 10 mil km, mas a vida útil de itens como amortecedores vai variar conforme o uso do carro.

Já o filtro do ar-condicionado também segue os intervalos dos modelos a combustão. Devem ser trocados a cada 20 mil km, mas se você trafega muito por engarrafamentos, estradas de terra ou túneis, convém fazer a verificação da peça a cada 10 mil km.

Além disso, a manutenção do veículo elétrico prevista pela maioria das montadoras prevê a inspeção de vários outros itens do carro. Fechaduras, dobradiças, trincos, palhetas dos limpadores, borrachas de vedação, entre outros, são vistoriados nas revisões obrigatórias.

Mas e o conjunto elétrico na manutenção do veículo?

A parte elétrica do EV merece também manutenção, mas é preciso ficar atento que esta deve ser feita por profissionais e oficinas qualificadas, com equipamento apropriado. Como o mercado de veículos elétricos ainda é incipiente, as concessionárias – mesmo após o fim da garantia – são os locais mais recomendados para que seja feita a revisão.

A inspeção inclui a vistoria das portas e do bocal de carregamento do motor, assim como dos rotores. Também é feito um diagnóstico do estado e do uso da bateria. A propósito, as fabricantes geralmente concedem garantia de oito anos para estas peças.

Mas isso não significa que após esse período elas podem parar de funcionar. Essa é a cobertura que a montadora dá para que a bateria entregue toda sua capacidade.

De qualquer forma, estudos revelam que as baterias dos veículos elétricos naturalmente perdem entre 2% e 4% de suas propriedades originais a cada ano. Ou seja, conforme o tempo, ela vai perder o poder de autonomia e exigir mais tempo de recarga.

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