Equipar o carro é legal, mas é preciso ficar atento ao produto e serviço para não ter dores de cabeça
Por Fernando Miragaya
Muita gente não vê a hora de pegar aquele carro com cheiro de novo e plástico ainda no banco para deixá-lo do seu jeito. Colocar um rodão diferente, aquela central multimídia mais bacana, um friso aqui outro ali. Porém, instalar acessórios deve ser uma compra igualmente pensada como a do veículo, ou o proprietário corre o risco de até perder a garantia.
Isso mesmo. Acessório comprado e colocado fora da concessionária pode acarretar em dores de cabeça. Isso porque aquele item não foi testado ou homologado pelo fabricante. E a mão de obra usada pode não conhecer o carro e não ter recebido treinamento específico.
Para as montadoras, pode ser o suficiente para o veículo perder a cobertura de fábrica. Ou seja: assim como é obrigatório fazer as revisões dentro dos prazos, o uso de acessórios automotivos referenciados pelas marcas também se faz necessário para manter a garantia do carro.
“O acessório faz parte do desenvolvimento com a plataforma do veículo e o próprio carro é testado com o equipamento. O acessório tem que conversar com o automóvel”, diz Luiz Mandacaru, gerente de Portfólio de Acessórios da Mopar, marca da FCA – Fiat Chrysler Automóveis (agora Stellantis).
Desenvolvimento dos acessórios automotivos
Conforme o acessório, o processo de validação pode levar de seis meses a quase três anos. Primeiro as montadoras começam pelo desenvolvimento junto ao fornecedor a partir, muitas vezes, de um carro ainda na fase de conceito. Depois, iniciam-se os testes de bancada e na sequência as avaliações de campo, com o veículo rodando com o acessório.
“São testes rigorosos, cujos órgãos reguladores são muito exigentes no Brasil e lá fora. Equipamento original tem de atender diversas situações e a própria instalação é feita dentro da fábrica, para gerar procedimento para a rede. É um processo que envolve diversas áreas”, explica Marcio dos Santos, diretor de Pós-Venda do Grupo Caoa, responsável pela Caoa Chery e Caoa Hyundai e pelos importados da Subaru.
As avaliações implicam até na segurança. O acessório também é submetido a crash-tests, por exemplo. Quando o carro faz o teste de colisão, muitos dos ensaios incluem também um veículo abarrotado de acessórios. Serve, inclusive, para verificar se tais peças podem se soltar e causar ferimentos nos ocupantes e em pedestres.
Além disso, tem a parte da qualificação da mão de obra da rede. Os profissionais recebem treinamento para instalação e manuseio de todo e qualquer acessório original.
“A instalação do acessório é quase uma intervenção de um produto original. Imagina deixar alguém mexer no meu carro que acabou de sair de fábrica? Os técnicos são os mais capacitados, pois conhecem o carro, o equipamento e as situações para adequar o acessório”, ressalta Alexandre Gudin, coordenador de Pós-Venda da Nissan.
Corto o fio azul ou o vermelho?
A colocação de um acessório não original pode interferir em diferentes aspectos do veículo. A parte elétrica é uma das áreas sensíveis do veículo, ainda mais em tempos de popularização das centrais multimídias. E isso mais uma vez passa pelo produto e pelo treinamento.
Ainda mais que qualquer equipamento elétrico do veículo implica em fiação. E ao contrário daquela superpopulação de cabos coloridos que tínhamos nos veículos mais antigos, hoje a elétrica de um automóvel é composta majoritariamente por condutores.
As montadoras buscam cada vez mais simplificar toda essa parte eletrônica e elétrica com a redução na quantidade de cabos. A tendência da indústria é usar condutores e a chamada linha CAN, por pulsos elétricos controlados pela central eletrônica do carro.
Com este sistema, o técnico da concessionária consegue entrar com o código do acessório e do veículo (que fica na nuvem), fazer a instalação de uma central eletrônica ou de um farol de neblina sem precisar retirar uma parte do painel ou do para-choque, por exemplo. Apenas pluga o equipamento e a central já faz a atualização imediatamente.
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Aí, meu amigo, se o dono do veículo for fazer instalação em qualquer lugar corre riscos. Primeiro de uma instalação mal feita, que pode afetar outros equipamentos – há relatos de centrais mal colocadas que provocam interferência no quadro de instrumentos e nas setas indicadoras de direção. Ou mesmo “roubar” carga da bateria.
“Em outra loja, corre-se o risco de cortar os condutores, ligar fio com fio e usar a famosa fita isolante. Em casos extremos esse serviço mal feito pode queimar a central, o painel e até causar um princípio de incêndio”, alerta Luiz Mandacaru , da Mopar.
Acessórios automotivos: Estética que compromete
Tem gente que gosta de transformar o carro quase em uma alegoria carnavalesca. Mas mesmo para quem vai colocar uma peça ou outra para dar um toque estético peculiar, é preciso ter cuidado.
Uma peça a mais na carroceria precisa estar adequada ao modelo do veículo, para evitar que a peça interfira na dirigibilidade, eficiência e até segurança do carro. Spoiler e saias, por exemplo, podem afetar o comportamento dinâmico e o consumo. E até mesmo o tempo correto de funcionamento dos airbags em um eventual acidente.
“Qualquer item tem um efeito aerodinâmico e tem de ser muito estudado. Neste caso, tem de nascer com o projeto do carro. Uma vez que esse equipamento não foi homologado, ele pode gerar até um acidente grave. Todos esses acessórios devem nascer com o desenho original do automóvel”, observa Márcio dos Santos, da Caoa.
Um exemplo clássico é aquele nefasto pino bola como ”engate traseiro”. A peça geralmente é colocada em lojas independentes fixadas na chapa do veículo – e não no monobloco, como o correto. Além de causar ferimentos em pedestres e ser passível de multa*, em uma batida a distribuição de forças para o qual o automóvel foi projetado será alterada.
Sem falar que, se alguém tiver a brilhante ideia de rebocar outro carro com um cabo usando esse pino, corre o risco de ter o para-choque arrancado na tentativa de resgate.
Por esta razão, qualquer adorno também é submetido a uma bateria de testes da montadora antes de ser colocado à venda nas concessionárias. Desde um inocente friso até um rack de teto.
“Quando você vai colocar uma saia, por exemplo, é necessário um padrão de instalação que evite fazer a furação, que o deixe bem encaixado e que evite qualquer futura infiltração e corrosão. Isso é o mais importante: a montabilidade”, afirma Gudin, da Nissan.
“São verificados se as peças colam direito, se não ressecam. Até para colocar uma borracha em um carro é preciso ter uma régua específica para instalação”, completa Márcio dos Santos.
Garantia dos acessórios automotivos
Como dito, a instalação dos acessórios automotivos originais pode evitar problemas com a garantia veicular. Além disso, os fornecedores dos equipamentos geralmente oferecem uma cobertura própria, que pode ser de um ano, com a garantia junto da concessionária e da montadora.
“Os parceiros oferecem sua garantia, mas, como montadora, também há a cobertura. O cliente tem o respaldo que o serviço foi feito dentro da concessionária e que pode até ter exceção de garantia caso seja necessário fazer algum reparo. O consumidor ganha em segurança e comodidade”, garante Gudin.
*Pelo Código de Trânsito Brasileiro, o veículo que estiver com o engate em desacordo com as normas comete infração grave, com multa de R$ 127,69 e cinco pontos na CNH (em 6/4/2021).
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