Volkswagen alardeia redução de preços e mais equipamentos, porém é preciso ler nas entrelinhas
Por Fernando Miragaya
Em tempos de inflação automotiva galopante e carros com preços absurdos, se deparar com uma redução de tabela em um produto “novo” é sempre bom. Só que ao alardear a diminuição dos valores cobrados pelo reestilizado Polo, é preciso estar atento e entender por que o compacto ficou mais barato nesta atualização de meia vida.
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Afinal, em um momento em que a indústria luta com a falta de componentes e a alta no preço do aço e dos custos logísticos, o cobertor é curto para fazer qualquer redução de preços. Por isso, o novo Polo 2023 foi remodelado, até ganhou itens e melhor acabamento, mas ficou barato porque também foi bem aliviado em equipamentos.
Veja como eram e como ficaram os preços do Polo, e o quanto o hatch compacto ficou mais barato.
Para início de conversa, o motor TSI, a menina dos olhos da linha, perdeu bastante potência. Ganhou a calibragem do falecido Up!. O turbo T200 passa a ser T170, mas a perda não é só no torque que embasa os números nos nomes das configurações.
O 1.0 três cilindros agora gera 116 cv com etanol e 109 cv com gasolina, bem menos que os respectivos 128 e 116 cv que o VW Polo TSI proporcionava até a linha 2022. Já o torque despencou de 20,4 kgfm a para 16,8 kgfm.
Obviamente o consumo foi beneficiado. As médias (pelos padrões definidos pelo Inmetro) do Polo TSI agora são de 9,6 km/l na cidade e 11,6 km/l na estrada, com etanol, e de 13,8 km/l (ciclo urbano) e 16,5 km/l (ciclo rodoviário). Mas atenção que tais números se referem à nova versão de motor turbo com câmbio manual, até então inexistente.
Porém, o desempenho também foi comprometido. O Polo ficou mais barato porque acelera mais devagar e também tem retomadas mais lentas. Confira a comparação entre as versões automáticas linhas 2023 e 2022, com etanol no tanque, segundo dados da própria Volks.
2023 vs. 2022
Esse é um item lamentável porque diz respeito ao poder de frenagem. Não que um jogo a tambor não vá parar o carro, mas claro que não tem a mesma eficiência que um sistema com disco.
O Polo, que era um dos poucos da categoria a ter freios a disco nas quatro rodas, agora tem tambores na traseira para poder ficar mais barato.
Pois é, o Polo também se diferenciava no segmento por oferecer um item que parece simples, mas que é funcional para quem tem família grande. Os vidros elétricos traseiros da versão de entrada 1.0 MPI do hatch sumiram, não são oferecidos nem como opcionais.
Por falar em comandos elétricos, o dono do Polo mais em conta não pode nem ter direito à retrovisor elétrico. A Volks limou os pacotes de opcionais que incluíam o comando elétrico dos espelhos externos, além de outros itens, como sensor de ré, repetidores de setas, rodas de liga-leve e som (neste caso, é preciso instalar o sistema como acessório de concessionária).
O passageiro de trás do Polo mais barato foi para o abate mesmo. A opção de entrada perdeu até a luz traseira ali no teto. Se você precisar procurar algo que tenha caído no chão ou no assoalho, recorra à lanterna do celular.
Outro item que parece dispensável, mas que é útil e que serviu para a Volkswagen economizar. A configuração intermediária Comfortline não tem mais encosto bipartido – só rebatível. Ou seja, se você tem de levar uma pessoa no banco de trás e precisa colocar um objeto comprido, que não caiba totalmente no porta-malas de 300 litros do Polo, já era.
A economia nas luzes chegou ao porta-malas do Polo. A Volks tirou a iluminação do compartimento de bagagem do compacto sem dó nas versões Comfortline.
A opção intermediária do novo Polo também ficou mais barata porque abriu mão de uma penca de opcionais. E falamos de equipamentos interessantes, como câmera e sensor de ré, retrovisor eletrocrômico, ar automático, indicador de fadiga, piloto automático, paddle-shift, revestimento de couro, sensores de luminosidade e de chuva, chave presencial e até o porta-luvas com luz e climatizador.
Chegamos à topo de linha, que também foi aliviada em equipamentos. O Polo Highline ficou quase 6% mais barato porque perdeu, entre outras coisas, o rebatimento elétrico dos espelhos externos, item que pode ser bastante funcional em garagens apertadas.
Tudo bem que não é uma geladeira, mas a saída do ar-condicionado para o porta-luvas é uma alternativa para quem quer deixar uma água em temperatura mais fresca no compartimento. Pois bem, o Polo topo de linha perdeu isso também.
Sabe aquele símbolo de uma xícara de café para sugerir uma parada do motorista para descanso em longas viagens? O Polo Highline também deixou de oferecer em sua lista de itens de série. O sistema entende se o condutor está dirigindo há muito tempo sem pausas ou sempre em um mesmo padrão, e indica uma parada para evitar sonolência ao volante.
Aqui mudou o tamanho dos aros, mas também é preciso alertar aos futuros donos do Polo. A opção Highline vinha de série com rodas de 17 polegadas e pneus 205/50. Agora, na linha 2023, elas continuam de liga-leve, mas são aro 16”, com pneus 195/55.
Ausência sentida no lançamento do novo Polo foi de um pacote mais generoso de itens de segurança. No entanto, ele recebeu frenagem automática pós-colisão. O hatch compacto continua a sair de fábrica apenas com quatro airbags – enquanto Chevrolet Onix, Hyundai HB20, Toyota Yaris e Honda City oferecem seis bolsas. O hatch da VW também é dotado de controles de estabilidade, de tração e de subidas.
Os quatro concorrentes citados oferecem, seja como opcional ou nas versões topo de linha, algum item mais expressivo de auxílio ao motorista. Pois bem, nem o Polo Highline pode receber qualquer equipamento do chamado sistema Adas, como controle de cruzeiro adaptativo, frenagem autônoma de emergência, assistente de faixa ou sensor de ponto cego.
A expectativa é que a versão esportiva GTS do remodelado hatch, aguardada para 2023, venha com algum desses dispositivos.
A gente nem destacou a ausência de faróis de neblina da linha porque, justiça seja feita, o VW Polo 2023 ganhou um sistema modernoso de iluminação. O equipamento full-LED promete fluxo luminoso de mais de 700 lúmens (quantidade de luz irradiada) e capacidade de iluminação de mais de 130 metros – 50% superior se comparado ao halógeno da linha anterior.