Mercado brasileiro testemunhou mais êxitos comerciais entre veículos do que fracassos, felizmente. Lembre os principais
Fernando Miragaya
Outro dia você leu aqui no Autos Segredos sobre os maiores micos automotivos do país. Mas para não dizer que jornalista só gosta de falar mal dos outros e abordar coisa negativa, vamos mostrar o outro lado da moeda. Os grandes sucessos automotivos. E não são poucos.
Selecionamos 10 modelos emblemáticos que foram não só sucesso de vendas, mas como também ditaram rumos dentro de seus segmentos – e até inauguraram categorias. Confira alguns exemplos recentes de grandes sucessos automotivos.
Volkswagen Gol
1980 – até hoje
Ao falar de grandes sucessos automotivos a presença do Gol é certa. Em pouco mais de quatro décadas e três gerações, o hatch é um fenômeno. São cerca de 6,5 milhões de carros entregues no Brasil e aproximadamente 8 milhões de unidades produzidas.
Lançado em 1980, o compacto chegou com a missão de repetir o sucesso comercial do Fusca. Não só conseguiu, como foi por 26 anos seguidos o carro mais vendido do país. Depois de perder a majestade e ficar longe do pódio dos emplacamentos, no ano passado ainda voltou a se destacar e ficou no top 5.
O atual Gol data de 2008 e usa plataforma do Fox, de 2002. Nesses 13 anos, foram três reestilizações e a perspectiva é que o modelo ganhe uma quarta geração em 2023 – atrasada pela Covid-19 – com a arquitetura modular MQB.
Sucessos automotivos: Chevrolet Onix
2012 – até hoje
O compacto já virou cinco anos como o líder absoluto do mercado brasileiro. O carro surgiu em 2012 para substituir o Celta e foi um dos primeiros de uma leva de renovações da linha da General Motors no Brasil – no embalo, vieram Spin e Cobalt, além do novo Prisma. E o hatch chegou na hora certa.
Com o lançamento do Up dividindo atenções com o Gol na gama Volks, e outras marcas ainda preparando as renovações ou estreias de compactos, o Onix arrematou a liderança em 2015 e não largou mais.
No fim de 2019 ganhou nova geração, ficou maior e mais equipado, com seis airbags, controles de estabilidade e tração e assistente de partida em rampas em todas as versões; além da estreia de novos motores tricilíndricos aspirado e turbo. Com bom custo/benefício, manteve a ponta em 2020. A geração antiga se manteve como Joy, mas já não representa nem 15% das vendas do compacto.
Porém, em 2021, com a produção parada devido à falta de semicondutores, o Onix deve perder o posto de primeirão. Mesmo assim, seu lugar no hall de grandes sucessos automotivos já está garantido.
Fiat Uno
1984 – até hoje
Nos anos 1980 a marca italiana precisava de um produto forte no segmento de compactos. A Volks estava dando as cartas com o Gol e a Chevrolet botava banca com o Chevette, enquanto a Ford já preparava o Escort.
Mas a marca italiana tinha uma ótima carta na manga na Europa. Era o Uno, um compacto revolucionário para a época, com ótimo coeficiente aerodinâmico, espaço interno superior aos concorrentes e uma ergonomia intuitiva.
O Uno, desde então, foi um sucesso e logo disputou emplacamentos com o Gol, também graças a uma mecânica simples e barata. Foi um dos primeiros carros ditos “populares” nos anos 1990, ao adotar o sobrenome Mille e motor 1.0 para se beneficiar do IPI mais baixo.
Depois da chegada do Palio, se perpetuou em linha justamente como Mille. Ainda mais depois da chegada da segunda geração. Sim, em 2010 o Brasil passou a ter um Uno próprio, com estilo quadradinho e diferente.
O Mille ainda continuou em poucas versões até se despedir em 2014, com direito a uma série especial Grazie Mille. E o Uno manteve boas vendas, apesar de não ter o volume proporcional da primeira geração.
Porém, o compacto está com os dias contados. Recentemente passou a ser vendido em versão única e deve sair de linha em breve. Até hoje, são mais de 3,5 milhões de unidades comercializadas. Sua existência pode estar nas mãos da plataforma do próximo Citroën C3, já que há estudos em fazer um novo compacto Fiat via Stellantis.
Ford EcoSport
2003 – 2021
O que se comenta é que, não fosse o Projeto Amazon, a Ford teria batido as asas do país 20 anos atrás. Fato é que dessa ação nasceu um dos grandes sucessos automotivos de todos os tempos.
O Projeto Amazon foi o que deu origem ao Fiesta brasileiro de segunda geração. Mas da plataforma do compacto nasceu o SUV que mudou os rumos da marca e inaugurou um segmento.
A matriz da Ford nem levava muita fé. Afinal, a ideia soava tupiniquim: fazer um SUV genuinamente urbano. Um carro alto, com porte de jipinho, para levar as criancas na escola ou ir ao shopping. Sem qualquer pretensão fora de estrada e sequer com tração 4×4.
Foi uma sacada e tanto. O EcoSport vendeu horrores desde o lançamento, em 2003. Custava quase metade do que seu rival mais próximo, o Mitsubishi Pajero TR4, e sua faceta urbana era tão forte que a versão 4WD – feita dois anos depois, mais por pressão da matriz – não representou 2% dos emplacamentos.
Ficou sem rivais de fato praticamente até a chegada da segunda geração, em 2012 – só a Renault se aventurou no segmento, um ano antes. Continuou liderando o mercado com folgas até 2015, quando uma leva de SUVs quis – e conseguiu – surfar na sua onda.
Curiosamente, o EcoSport geração 2 se tornou global e passou a ser produzido e vendido na Europa. Por aqui, ficou defasado e pequeno em relação aos concorrentes. Mesmo assim, manteve uma média de vendas interessante até a Ford fazer as malas e encerrar toda e qualquer produção por aqui, no início deste ano. No total, mais de 1,2 milhão de unidades do modelo foram vendidas.
Sucessos automotivos: Fiat Strada
1999 – até hoje
A Fiat foi uma das precursoras das picapes derivadas de carros de passeio com o 147 Pick-up nos anos 1970. E manteve essa pegada ao longo dos anos. Uma tradição que deu origem a um dos grandes sucessos automotivos, a Strada.
Lançada em 1999, a receita era a mesma de décadas anteriores. Pegava-se a base de um automóvel de passeio e desenvolvia-se um veículo para uso lazer e comercial ao mesmo tempo. No caso, a Strada era uma derivação do Palio – hatch global da Fiat lançado em 1996.
Logo se tornou um sucesso. A Strada é a picape é o comercial leve mais vendido do país nas últimas duas décadas. Méritos não só de sua robustez e custo benefício, como também de suas ideias pioneiras.
Ao longo dessa trajetória, a linha foi a primeira a ter cabine estendida na categoria de compactas. Depois, teve configuração cabine dupla, opção de bloqueio eletrônico do diferencial e até terceira porta.
Detalhe é que essa liderança perdurou sempre na mesma geração, à base, logicamente, de muitas reestilizações. Uma segunda era para a Strada começou só em 2020, agora com quatro portas para a versão cabine dupla.
Havia até uma expectativa de que a nova Strada espantasse os clientes mais tradicionais da linha, pelo preço e pelo design. Tanto que a velha picape foi mantida na gama como opção de entrada… Por pouco tempo.
A nova Strada continuou vendendo aos montes. Sem espaço na fábrica em Betim (MG), o jeito foi sacrificar a velha – cujo mix não chegava nem a 20%. Hoje, a picape já contabiliza mais de 1,6 milhão de unidades.
Hyundai HB20
2013 – até hoje
Em 2012 o mercado brasileiro crescia de vento em popa. A Hyundai global, então, viu que era hora de aproveitar o bom momento e o caminho asfaltado já pelo Grupo Caoa, que consolidou a marca por aqui com marketing agressivo no país.
E a sul-coreana acertou o alvo. A ideia era fazer uma linha de compactos para ser um meio termo entre a robustez do Gol e a maciez do Palio. Foi assim que nasceu o HB20, em 2013.
A plataforma, então inédita, deu origem ao hatch e ao sedã desenvolvidos especialmente para o Brasil e exportado para alguns mercados latino-americanos. Desde então, se tornou um dos grandes sucessos automotivos brasileiros – a arquitetura depois foi usada para o novo i20 na Europa e na Ásia.
O HB20 foi mais ou menos uma quebra de paradigmas dentro do segmento de compactos – mais ou menos o que foi o Peugeot 206 nos anos 2000. Com desenho diferente e arrojado, acabamento acima da média da categoria e bons motores, logo conquistou o mercado.
O hatch figura sempre entre os três carros mais vendidos do Brasil. Em alguns meses, inclusive, belisca a liderança. Isso mesmo depois da nova geração, lançada quase que simultaneamente com o novo Onix (2019) e com o design controverso, batizado de bagre…
Sucessos automotivos: Fiat Palio
1996 – 2017
Nos anos 1990 a Fiat queria repetir o sucesso do Uno no segmento de compactos. E recorreu mais uma vez a um projeto europeu, desta vez o Palio.
Lançado no Brasil em 1996, o hatch logo se tornou um dos grandes sucessos automotivos. Com custo benefício agressivo, boa ergonomia e suspensão mais macia, foi o principal rival do Gol durante quase duas décadas, embora sempre fosse o vice.
E foi na mesma estratégia do concorrente da Volks. Passou por diferentes remodelações – algumas assinadas por Giorgetto Giugiaro – ao longo do tempo, e mantinha sempre uma versão com desenho antigo para ser a opção de entrada da marca.
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Também deu origem a outras carrocerias, que igualmente viraram grandes sucessos automotivos do nosso mercado. Teve o sedã Siena, a perua Weekend (com suas opções Adventure) e a picape Strada. Ainda sobrou espaço da plataforma para a multivan Doblò e para o monovolume Idea.
Em 2011 o Palio ganhou uma segunda geração, mas o velho hatch se manteve no mercado como versão Fire. A linha (no total) chegou a ser a primeira a roubar a liderança de mais de duas décadas do Gol, em 2014, mas logo foi superada pelo Onix no ano seguinte.
O Palio deixou se ser produzido em 2017. Em mais de 20 anos de mercado, foram quase 3 milhões de unidades negociadas.
Jeep Renegade
2015 – até hoje
Em um espaço de menos de três meses no ano de 2015 o mercado foi invadido por três novos SUVs compactos. Um deles foi o Renegade, o mais jipinho dos pretensos jipinhos. E essa foi uma das razões para o modelo se tornar um dos grandes sucessos automotivos.
O design do Renegade é um dos grandes diferenciais. Respeita as tradições da Jeep e ainda oferece um dos melhores vãos livres da categoria. Além da posição de dirigir elevada, o Renegade se destaca pelo bom acabamento, ergonomia interessante, espaço interno condizente e ótimo acerto de suspensão.
Virtudes que superam até o conjunto Flex com o 1.8 E.torQ beberrão e o porta-malas cenográfico. Pelo menos, é o único da categoria realmente com capacidade off-road, com opção de motor turbodiesel com uma afinadíssima caixa automática de nove marchas e tração 4×4 com reduzida.
O fato é que, desde seu lançamento, o SUV vende muito bem, obrigado. Produzido na fábrica da então FCA – Fiat Chrysler Automóveis – em Goiana (PE) ao lado de outros dois grandes sucessos automotivos (Compass e Toro), já anota mais de 350 mil emplacamentos.
Sucessos automotivos: Chevrolet Chevette
1973 – 1994
Em abril de 1973 a Chevrolet apresentou o seu primeiro compacto no mercado Brasileiro. Derivado da quarta geração do Opel Kadett europeu, o Chevette iniciou sua trajetória de sucesso inicialmente com carroceria sedã duas portas e em duas versões de acabamento.
Logo caiu nas graças do público. Com tração traseira e um câmbio com alavanca das mais macias e suaves que já se teve notícia na história da indústria, o modelo da General Motors era confortável no rodar e um projeto bem mais moderno que os Volks da época.
Em 1983 o Chevette ganhou sua segunda geração, mais conhecida como Tubarão, com um estilo arrojado e com vários elementos visuais que remetiam ao Monza, o modelo médio lançado um ano antes. A propósito, naquele 1983, o Chevette foi o carro mais vendido do país.
Ao longo dos anos o carro teve variantes hatch, além da station-wagon Marajó e da picape Chevy 500, diferentes motores e versões, e sempre manteve as vendas em alta. Só o Chevette assinalou mais de 1,2 milhão de unidades comercializadas.
Fiat Toro
2016 – até hoje
Animada com a liderança entre as picapes compactas com a Strada, a Fiat queria alçar voos maiores na década de 2010. Mas se aventurar na briga de gente grande das médias, com casca grossas como Chevrolet S10, Toyota Hilux e Ford Ranger, era arriscado.
A ótima sacada foi criar um segmento intermediário. Uma picape médio-compacta, maior que as pequenas e com porte das primeiras S10 para ficar abaixo justamente das médias. Feita sobre monobloco a partir da base do Renegade, se mostrou versátil e confortável, com uso para o lazer e boa capacidade de carga para o trabalho.
Lançada logo depois da Renault Oroch – que foi a que criou a categoria, de fato -, a Toro ainda se vale de um design infinitamente mais moderno. E que ainda foge do lugar-comum da maioria das picapes.
Tem mais: oferece uma variedade de versões e também a opção turbodiesel 4×4 presente no Renegade. Ou seja, uma combinação perfeita.
Tanto que a Toro vende muito desde sua estreia. Até hoje soma mais de 300 mil unidades. Recentemente, ganhou um facelift, novos equipamentos e motor turboflex moderno para se preparar para o contra-ataque das rivais. Ford, Volkswagen e General Motors já preparam suas anti-Toro.
Hors-concours: Volkswagen Fusca
1959 – 1986 e 1993 – 1996
Achou que a gente ia deixar o Fusca de fora dos grandes sucessos automotivos? É que o velho besouro é quase um outro patamar nesse sentido. O carro é um fenômeno mundial.
No Brasil, começou a ser produzido em 1959 e a imagem do Fusca se confundia com a paisagem das ruas do pais nos anos 1960 e 1970. Foi o carro mais vendido do pais por décadas e se aposentou em 1986, depois da ascensão do Gol.
Ainda voltou como um agrado político entre 1993 e 1996, quando ficou conhecido como Fusca Itamar. O carro mais querido dos brasileiros teve mais de 3 milhões de unidades vendidas só no nosso mercado e até hoje é justamente reverenciado.
