Cada peça tem suas vantagens e aplicações: as metálicas têm maior durabilidade, enquanto as de borracha são mais em conta

Por Fernando Miragaya

Você já deve ter percebido que uma mesma marca pode usar corrente ou correia em diferentes carros de seu portfólio. Estes são os dois tipos principais das peças que são fundamentais para o sistema de distribuição. São elas que fazem a sincronia entre o virabrequim e o eixo comando de válvulas do motor. Mas uma discussão mais acalorada que papo de bar depois do clássico do futebol no domingo é: qual a melhor? A metálica ou a de borracha.

Motor 1.4 Dragon Ford usa correia dentada
Foto | Ford/Divulgação – Motor 1.5 Dragon da Ford usa correia dentada banhada a óleo

Primeiro, vale um feedback para entender essa questão de corrente e correia. Até os anos 1970, as correntes metálicas praticamente dominavam a indústria automobilística. A partir daí, as correias dentadas começaram a entrar em cena. O argumento principal era de que a peça, por ser de borracha, é mais leve e silenciosa. Mas vamos combinar que o principal motivo foi o custo. 

Corrente é muito mais cara?

Uma das grandes diferenças entre corrente e correia começa pelo preço. O componente metálico pode custar até cinco vezes mais que o seu companheiro emborrachado. Só para se ter uma ideia, comparamos os dois itens dentro de uma mesma marca em lojas e sites de autopeças. O kit corrente do novo Renault Sandero com o motor SCe 1.0 de três-cilindros tem preços entre R$ 600 e R$ 800. O kit de correia dentada do mesmo hatch com o antigo 1.0 8V custa de R$ 100 a R$ 230.

Se formos para modelos diferentes de um mesmo fabricante, esse abismo de custos aumenta. O Ford Fusion 2.5 flex, por exemplo, usava a peça metálica, cujo kit não sai por menos de R$ 1.300. O jogo de correia dentada e tensor do Ka equipado com propulsor 1.5 Dragon tricilíndrico, por sua vez, é encontrado por valores que vão de R$ 250 a R$ 350.

Em compensação…

Neste jogo de prós e contras de corrente e correia, tem a questão da vida útil. Se por um lado a peça de metal é muito mais cara, ela também pode durar muito mais. “As correntes são mais confiáveis nesse aspecto. Geralmente têm durabilidade muito grande e o dono de carro que sai de fábrica com corrente dificilmente se preocupa com manutenção e troca. Às vezes, a peça tem vida útil equivalente à do motor”, explica o engenheiro Maurício Trielli.

COMO FAZER O MOTOR DURAR MAIS

As correntes metálicas podem durar mais de 150 mil km, ou até 200 mil km, “com folgas”, segundo especialistas. Já as correias dentadas, em média, têm recomendações de trocas a cada 60 mil km. Mas estas peças também evoluíram. Hoje em dia já são aplicadas na indústria borrachas com maior qualidade e poder de resistência.

Com isso, já tem muito carro por aí com correia que promete intervalos de troca bem mais generosos. A Volkswagen pede, acredite, 120 mil km como prazo de intervalo para o kit do Up! TSI. A Ford vai (bem) além. Desde a linha 2019 o Ka usa correia imersa em óleo e a marca garante a integridade da peça até 240 mil km! 

E como é a manutenção?

Mesmo assim, mecânicos e engenheiros recomendam uma inspeção nas correias de borracha a cada 20.000 km em modelos mais novos, e a cada 10.000 km em automóveis com sete ou mais anos de uso – ou que trafeguem muito por estradas de terra. Lembre-se que elas são feitas de borracha, e que o material é mais suscetível à poeira e à sujeira, e podem ficar ressecadas antes do tempo.

E correia arrebentada vai te deixar na mão. O motor imediatamente perde rendimento, uma vez que o tempo correto de abertura e fechamento de válvulas será alterado com o rompimento da peça. E não insista em tentar acelerar. Corre-se o risco de, com a perda de sincronismo, os pistões baterem nas válvulas. Aí, meu amigo, só uma retífica salva.

Como a correia raramente dá sinais de que está perto do fim, você mesmo pode dar uma verificada nela de vez em quando – além da manutenção periódica. Observe se há indícios de ressecamento ou de rachaduras. Se for o caso, leve o carro logo ao mecânico.

“Mas não adianta levar uma correia reserva dentro do carro. Se a pessoa não souber sincronizar o comando com o virabrequim e não tiver ferramental adequado, de nada adianta. É preciso ter um mínimo de conhecimento para alinhar o sistema”, explica Trelli.

No caso das correntes, elas até podem emitir ruídos estranhos que sugiram alguma falha. Porém, são difíceis de apresentar problemas. De qualquer maneira, dê uma checada regular no componente metálico e observe se há algum roletinho (pequena engrenagem dentada onde a corrente se movimenta) trincado ou com aparência de desgaste.

  “Mas é muito raro. Esses roletinhos são tratados termicamente. Geralmente as falhas nesse tipo de distribuição ocorrem no esticador. Este tem sempre que estar regulado, tensionado da forma correta. Se estiver muito esticado, compromete a vida útil do componente. Se estiver frouxo, a corrente pode pular um dente e emitir um ruído diferente”, diz o engenheiro.

O que posso fazer para elas durarem mais?

Não há muito o que fazer para a corrente e correia terem maior vida útil. Porém, no caso das correias dentadas, evite fazer o carro pegar no tranco, pois, segundo mecânicos e engenheiros, isso faz a peça ser submetida a um esforço maior e desnecessário. Outra recomendação é fazer as trocas de marchas no tempo certo. 

Em relação às correntes, como as peças do sistema são banhadas pelo próprio óleo do motor, a principal orientação é a mesma para a saúde do conjunto mecânico do veículo: respeite os prazos de troca de lubrificante e do filtro. E use sempre os produtos com as especificações recomendadas pelo fabricante, que estão lá no Manual do Proprietário.

Quando for fazer a troca da corrente ou correia, opte por oficinas de sua confiança ou concessionárias autorizadas, e por peças originais ou de fabricantes renomados. Ao substituir a corrente, recomenda-se a troca da guia (feita de plástico rígido). Mas nos serviços que envolvam correias dentadas, a reposição do tensor (ou rolamento) só é necessária se a peça estiver desgastada.

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