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10 erros estratégicos da Volkswagen no Brasil

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Pecados cometidos pela marca alemã no nosso mercado passam por carros não lançados e posicionamento equivocado de outros produtos

Por Fernando Miragaya

A Volkswagen sempre teve uma imagem inquestionável de durabilidade e confiabilidade no mercado brasileiro. Muito graças ao fato de ter emplacado dois dos maiores sucessos da indústria automotiva nacional. Porém, a marca alemã também tropeçou várias vezes ao longo de sua trajetória.

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Muitos dos percalços pelo caminho custaram, inclusive, a outrora liderança absoluta do mercado. Hoje, a Volks luta – e geralmente perde – pela segunda posição no market share total com a General Motors. 

Além disso, deixou de ter o carro mais emplacado do Brasil há algum tempo, um dos erros que abordaremos aqui. O Gol até ficou como carro de passeio mais vendido dois meses este ano, mas o modelo já está em vias de sair de linha.

Fato que é visto como outro equívoco por parte da Volks, já que o hatch compacto, após mais de 40 anos de sucesso, será substituído pelo Polo Track para ser o carro mais barato da marca no país. E também dará lugar a uma nova linha de SUVs pequenos de entrada, que só chegam em 2024.

Gol chaleira

O Gol é um sucesso inquestionável da Volks e da indústria, mas um dos vacilos mais famosos da Volks diz respeito à primeira geração do hatch. O começo de vida do compacto, em 1980, foi tenso – especialmente pelo conjunto mecânico. 

No primeiro ano de existência a marca alemã optou por equipar o Gol com o motor 1.3 do Fusca. Tudo bem que o intuito era fazer do hatch o substituto do Besouro, só que o propulsor boxer resfriado a ar era barulhento e conferia desempenho pífio ao novo modelo, que logo recebeu o apelido de Chaleira.

Em 1981 a marca trocou o 1.3 pelo 1.6 com dupla carburação e também refrigerado a ar. Melhorou a performance, mas continuou a render reclamações e problemas. O Gol só foi fazer as pazes com os mecânicos a partir de 1984, com a chegada dos motores refrigerados a água.

Kombi a diesel

Essas versões da Kombi valem uma grana hoje, contudo seu projeto se mostrou um erro de engenharia da Volkswagen. Lançado em 1981, o furgão a diesel usava o 1.5 refrigerado a água que equipava o Passat exportado para o Iraque. 

O desempenho do modelo comercial deixava a desejar e no ano seguinte a Kombi a diesel passou a ser movida pelo 1.6. No embalo, a Volks fez a variante picape com o mesmo conjunto mecânico.

O carro, contudo, fracassou por problemas e queixas sem fim sobre superaquecimento. Em especial porque o motor ficava na traseira, enquanto o radiador foi colocado na parte dianteira. Desta forma, a troca da água do sistema de arrefecimento não resfriava como deveria.

Volkswagen e Ford no Brasil: Autolatina

A holding mais famosa que a indústria automotiva brasileira conheceu se revelou um erro estratégico para a Volkswagen e também para a sua parceira, a Ford. Em 1987, as duas fabricantes anunciaram o acordo que previa compartilhamento de plataformas e conjuntos mecânicos, porém, com marcas separadas.

Foi aquela época de carros clones entre as duas montadoras. De um lado, Ford Versailles e Royale e VW Santana e Quantum usavam base VW; do outro, Escort, Verona, Apollo, Logus e Pointer se valiam de arquitetura Ford.

O caldo começou a entornar logo após o início da parceria começar para valer, em 1990. A Volks já planejava o lançamento da segunda geração do Gol, de quem o Escort era um dos rivais. Ao mesmo tempo, a Ford queria lançar o seu compacto para brigar na base do mercado, no mesmo segmento do já carro mais vendido do país, o que teria sido vetado pelos alemães.

Para completar, a linha de compactos se mostrou um verdadeiro fracasso, em especial o trio da Volks: Logus, Apollo e Pointer. Já na parte de cima do mercado, o Versailles vendia ⅓ do que o Santana emplacava. Em 1994, as duas partes anunciaram o fim da parceria, que se deu formalmente em 1996.

O saldo foi perda de participação de mercado para ambas. Na década de 1980, a marca alemã era a líder absoluta, com 34% de market share. A norte-americana era a segunda colocada, com 21%. Seis anos após o fim do casamento, a VW caiu para terceiro (22%), enquanto a Ford aparecia (ainda) em quarto, com 10%.

Volkswagen trocou o Voyage bolinha…

Em 1994 a Volks lançou o Gol Bolinha, a segunda geração que ganhou esse apelido pelas linhas arredondadas que foram seguidas pela Parati e pela Saveiro. Só quem não acompanhou o cortejo foi o Voyage, o que revelou, mais tarde, que a Volkswagen perdeu literalmente o bonde da história.

Curiosamente, o Voyage Bolinha estava bem encaminhado. Recentemente, Luiz Veiga, chefe de Design da marca no Brasil naquela época, publicou em seu perfil no Instagram a apresentação para a matriz da segunda geração do Gol, na Alemanha, onde é possível avistar o Voyage, com duas portas e formas arredondadas que lembravam bastante as linhas do Logus que já citamos aqui.

…pelo Polo Classic

Alguém inspirado dentro da marca alemã vetou o Voyage de segunda geração naquela ocasião. Pior: o sedã saiu de linha em 1996 e no seu lugar acharam que o Polo Classic (espécie de Seat Cordoba com emblema VW) importado da Argentina cobriria a lacuna. Mais um equívoco da Volks.

Resultado: a marca alemã ficou quase uma década sem um sedã compacto para brigar na base do mercado. Enquanto isso, General Motors e Fiat se lambuzaram no segmento com toda a sorte de modelos e variações. O Voyage só voltou em 2008, junto com a terceira geração do Gol, mas já chegou defasado em relação aos rivais mais espaçosos.

Cuidado com o dedo!

A falta de um aviso desse tipo (não obrigatoriamente desta forma) fez a Volks queimar sua imagem à toa e a do seu compacto bom de vendas. Em 2004, começaram a pipocar relatos de donos do Fox que tiveram os dedos parcialmente decepados ao tentar ativar o sistema de rebatimento do banco traseiro do hatch.

O problema estava na alça que fazia o rebatimento, posicionada no porta-malas, e que devia ser puxada para que a trava do banco corrediço fosse liberada. Porém, a peça ficava presa a uma argola que prendeu (e decepou) o dedo de pelo menos 37 pessoas.

Em vez de reconhecer o erro e fazer um mea culpa, a Volks adotou uma postura, no mínimo, arrogante. A montadora se negou a fazer um recall e o presidente da marca chegou a dizer na TV que os acidentes eram responsabilidade dos clientes.

A postura resultou em R$ 3 milhões que a Volkswagen teve de destinar a um fundo de defesa de direitos do consumidor do Ministério da Justiça. E, claro, a marca alemã ainda foi multada e teve de fazer o recall de mais de 800 mil unidades de Fox, CrossFox e SpaceFox.

Volkswagen não teve sucessor para Kombi no Brasil

Outro mercado entregue foi o de comerciais leves. A Kombi era o modelo mais barato capaz de carregar uma tonelada do pedaço e seu custo/benefício era imbatível. Porém, a Volks nunca preparou um sucessor para o famoso pão de forma – tempo, não faltou, já que o modelo só deixou de ser produzido em 2014.

Pior, a Volks não se valeu das vendas e do carisma da Kombi para ter bons representantes nos segmentos de furgões e vans. Tentou até importar alguns modelos, mas nenhum deles emplacou.

Volkswagen errou no posicionamento do Up! no Brasil

Em 2014 a Volkswagen passou a produzir no Brasil um subcompacto moderno. O up! chegou com toda a pompa da plataforma MQB, motor três-cilindros econômico e construção que lhe rendeu boas estrelas no Latin NCAP. Tudo para dar certo, não fosse seu posicionamento no mercado.

Vender um automóvel menor do que o Gol e o Fox por preços próximos ou mais caros do que os dois hatches é complicado em um país que compra carro a metro. Tanto que o Up! só vendeu no início – foram 58 mil unidades no primeiro ano e outras 54 mil, no segundo.

Só que isso pulverizou as vendas justamente nos segmentos que mais fazem volume no Brasil. Além do fogo amigo do Up!, neste ano o Gol sucumbiu perante o Fiat Palio e depois o Chevrolet Onix no ranking dos carros mais emplacados, pondo fim a uma liderança ininterrupta de 28 anos.

Apesar de todas as qualidades inquestionáveis, o Up! se despediu em 2021 com 207 mil unidades comercializadas e um gosto amargo de fracasso. Nos dois derradeiros anos, não figurou nem entre os 40 carros de passeio mais emplacados do país. E o Gol nunca mais retomou a liderança;

Volkswagen Golf no Brasil

A terceira e quarta gerações globais do hatch médio mais famoso do mundo fizeram bastante sucesso no Brasil. Ainda mais o Golf IV, ou Sapão, que foi produzido por aqui. O problema foi que a marca alemã esticou tanto a vida desse modelo que deixou um hiato inusitado do carro, que ainda foi desfigurado no fim de vida.

O hatch mudou duas gerações lá fora e o daqui, nada. Em 2007, a Volkswagen fez uma remodelação profunda no carro, que acabou sendo chamado jocosamente de Golf 4,5 e de Golfssauro.
Apesar da ótima dinâmica – e até de manter vendas boas -, o Golf IV perdeu fôlego. E parece ter atrapalhado a sétima geração, que passou a ser vendida aqui em 2014 sem conseguiu honrar o nome e suas qualidades históricas. 

Primeiro o hatch médio da Volkswagen foi importado da Alemanha e do México, mas nem quando passou a ser produzido no Brasil emplacou, ainda mais em um segmento que já dava sinais de perda de vendas para os SUVs. Em 2019, teve a fabricação encerrada.

Porões da ditadura

Aqui, um erro do passado da Volkswagen no Brasil, mas reconhecido no presente. Investigações dos Ministérios Públicos Federal, de São Paulo e do Trabalho apuraram que a montadora colaborou com os órgãos de repressão durante a ditadura militar. As ações da marca resultaram em prisão, tortura e perseguição de diversos ex-funcionários.

Em 2020 a Volks reconheceu os erros e firmou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) no qual se comprometeu a destinar mais de R$ 36 milhões a ex-trabalhadores perseguidos na ditadura. A marca tornou-se uma das primeiras empresas estrangeiras no país a reavaliar sua participação nesta fase nebulosa da história do país.

Membro do Conselho de Administração da Volkswagen AG, Hiltrud Werner chegou a declarar na ocasião: “Lamentamos as violações que ocorreram no passado. Estamos cientes de que é responsabilidade conjunta de todos os atores econômicos e da sociedade respeitar os direitos humanos e promover sua observância. Para a Volkswagen AG, é importante lidar com responsabilidade com esse capítulo negativo da história do Brasil e promover a transparência”.

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