Na dúvida de como escolher o óleo para o motor do seu possante? Seus problemas terminam aqui!

Por Renato Passos (*)

Ei, você! Sim, você mesmo! Responda rápido e ligeiro: sabe, sem hesitar, qual o lubrificante ideal para o motor do seu carro? Não se espante com o dado a seguir mas, enquanto pesquisava pelo mundo para confecção desta pauta, não eram mais de 2 em cada 10 pessoas que respondiam essa pergunta com segurança e de forma correta.

Um item simples, mas de enorme importância para a manutenção automotiva, a correta lubrificação dos sistemas que compõem o automóvel é crucial para a durabilidade e desempenho. Dessa forma, a equipe do Autos Segredos pretende fazer um guia completo e descomplicado para que você sane suas dúvidas de uma vez por todas — e, de quebra, não caia em mitos e achismos que envolvem esta parte da manutenção veicular.

Para que você acompanhe de forma correta todas as partes deste material, tenha em mãos o manual do proprietário do seu automóvel. Não possui e precisa de ajuda? Deixe sua dúvida nos comentários mais abaixo que tentaremos te ajudar. Um lápis ou lapiseira, borracha e régua também será interessante para que você faça uma mágica em breve.

Tudo pronto por aí? Então aperte os cintos que lá vamos nós.

Como escolher o óleo para seu motor

No manual do veículo ou em qualquer outra especificação do fabricante, a especificação do óleo vem sempre da mesma forma — seja aqui ou em Vladivostok. Dessa forma peguemos como mero exemplo a informação repassada pelo fabricante para o Fiat Argo 1.3 2018:

Foco na coluna da direita. Observe como pegaremos essa sopa de letrinhas e números e faremos uma divisão das informações contidas. Acompanhe a segregação pela cor da linha sublinhando correspondente ao número próximo à informação destacada:

Assim, temos quatro itens distintos a serem OBRIGATORIAMENTE observados e obedecidos na hora de escolher o óleo para seu motor. São eles, conforme a ordem acima demonstrada:

  1. Tipo de óleo básico;
  2. Norma SAE requisitada;
  3. Norma API requisitada;
  4. Normas adicionais requisitados.

Não se desespere: te explicaremos como ler um a um. Por ora, utilize a régua e o lápis que indicamos e faça o mesmo no manual do seu carro. Estando feito, vamos lá!

  1. Tipo de óleo básico:

Os lubrificantes automotivos são uma composição de óleos básicos com aditivos. Levando em conta o tipo de óleo básico utilizado para a sua formulação, os lubrificantes podem ser classificados como de óleo de base mineral, sintética ou semissintética caso seja fruto de uma mistura entre base mineral e sintética.

“Beleza, Renato. E como escolher o correto?”. Bom, voltemos ao exemplo do manual do Argo:

Neste caso, não restam dúvidas. E se o manual não citar o tipo de óleo básico necessário, como demonstrado abaixo no manual do Chevrolet Onix Joy?

Não tendo especificado o tipo de óleo básico, você deverá apenas atender às outras três classificações exibidas. Outra pergunta extremamente comum, que ocorre tanto de um lado quanto para outro, é a famosa “posso substituir óleo mineral por sintético” ou “posso substituir óleo semissintético por mineral?”. Basicamente, você deve sempre seguir a evolução tecnológica e NUNCA regredir em relação a ela.

Ou, de forma mais simples:

Et jamais ne revient – “E jamais retorne”, em bom e claro francês. A teoria da não-regressão será utilizada em diversos pontos deste guia. Portanto, fique atento! Partindo do pressuposto de que há o entendimento até aqui, partimos agora para o próximo ponto de análise: a norma SAE requisitada.

2 – Norma SAE requisitada

A palavra-chave aqui é “viscosidade” — a propriedade física que caracteriza a resistência de um fluido ao seu escoamento. Ou seja, quanto maior a viscosidade, menor será a velocidade com que o fluido se movimenta — e a impressão de ser mais “grosso” também é proporcional à viscosidade.

Visando a padronização da viscosidade dos óleos aplicados ao automóvel, a SAE International (organização norte-americana intimamente ligada ao desenvolvimento automotivo) criou uma nomenclatura e estratificou a viscosidade dos óleos a serem utilizados nos motores e partes da transmissão.

Vejamos a imagem abaixo extraída do manual do Argo:

SAE 0W-20
Foto | Reprodução

Novamente, o que essa sopa de letrinhas quer dizer? Os números antes e depois da letra “W” referem-se, respectivamente, à viscosidade do óleo enquanto frio e enquanto quente. A letra “W”, por sua vez, refere-se a winter (‘inverno’, em inglês). De forma generalista, temos:

Evidentemente, vem a pergunta: “Renato, e quando é que eu mudo a viscosidade do óleo do motor do meu carro?”. A resposta é: NUNCA. Ou quase nunca. Primeiramente, alguns veículos permitem o uso de mais de uma viscosidade de óleo, como demonstrado abaixo no excerto retirado do manual de um Toyota Corolla:

Desta forma, fica a cargo do proprietário escolher qual óleo será usado. Neste caso, por exemplo, um óleo SAE 10W40 também poderia ser utilizado por ser uma viscosidade intermediária entre o SAE 10W30 e o 15W40 ambos permitidos pelo fabricante.

Com várias opções, o que fazer? Quanto menos viscoso o óleo, mais econômico e com melhor desempenho tende a ser o motor. Entretanto, também é mais sensível a fatores externos como combustível de má qualidade ou uso abusivo, bem como menos tolerante a falhas de manutenção.

O clima de utilização do veículo também influencia o óleo a ser escolhido. Para climas mais frios, o óleo mais viscoso dificulta a partida a baixas temperaturas sobrecarregando motor de partida e bateria. Isso ocorre uma vez que a maior viscosidade imputa em maior resistência ao movimento entre as partes móveis e as fixas.

Por outro lado, para climas mais quentes o óleo menos viscoso pode escoar de maneira mais rápida e perigosa para o propulsor. É uma questão de se analisar. Por fim, mesmo para veículos com só uma viscosidade homologada, um óleo mais viscoso pode ser utilizado para motores com maior tempo de uso.

Nestes casos, o motor consome mais óleo que o previsto, como se não conseguisse parar nas paredes dos cilindros entre as camisas e os pistões. Sendo assim, com o acompanhamento de mão-de-obra especializada, a viscosidade poderá ser aumentada de forma ponderada para que o motor tenha uma sobrevida antes da necessidade de uma reconstrução.

Tudo certo até aqui? Vamos para o próximo item: norma API requisitada.

3 – Norma API requisitada

Na embalagem de todo óleo lubrificante de motor é possível encontrar informações sobre a classificação API do produto, referindo-se ao nível de qualidade e evolução do produto em questão.

API é a sigla em inglês para American Petroleum Institute, ou Instituto Americano de Petróleo na língua de Camões. Esta organização criou uma escala que define os níveis de desempenho aos quais os óleos lubrificantes devem atender.

Sendo assim, peguemos a parte correspondente no nosso manual submetido a análise:

Para o Argo, a Fiat requisita que o óleo atenda à classe SN da especificação API. Mas que diabos é isso? De antemão, a classificação API divide-se em três partes, e elas estão correlacionadas à primeira letra das duas demonstradas. A evolução do lubrificante, por sua vez, corresponde à segunda letra do par, como abaixo demonstrado:

“Beleza. E aí?”, diriam muitos. Expliquemos, inicialmente, a primeira letra — a da esquerda do par. São três classes de aplicação dos lubrificantes conforme a API, demonstradas abaixo:

Sabendo que o Argo, bem como o Onix e o Corolla que tiveram os manuais aqui expostos, não é motivo a óleo diesel e falamos por ora de lubrificação de motores, nada mais natural que a primeira letra da classe API para o óleo do motor desses carros. Na letra da esquerda, é basicamente isto.

Já na letra da direita, peguemos um exemplo real. O primeiro óleo destinado para motores a gasolina ou etanol ganhou a classificação SA. Sua evolução, SB. O SB, por sua vez, foi substituído pelo SC. Que foi substituído pelo SD e assim por diante. Simples, né? E hoje já estamos no SN!

Para motores diesel, a questão é quase igual. Quase. Peguemos, como exemplo, o manual de uma Nissan Frontier:

Imagino que, neste exato momento, você está me xingando em algum lugar deste planeta esférico. Mas não se espante: a lógica dos óleos do tipo “C da classe API segue a mesmíssima dinâmica dos da classe “S”. Apenas se assegure que, depois da segunda letra, tenha o número 4: ele indica que o lubrificante é para aplicação em motores diesel em ciclos de quatro tempos, como habitual em 99,99% dos motores de veículos leves e caminhões em nosso País.

Para motores dois tempos, como os Detroit Diesel que equiparam caminhões Chevrolet e Ford, basta ter o sufixo “2” no lugar do “4”. E com a clássica pergunta “ah, mas eu posso trocar a classe API do meu óleo”, a resposta é: sim! Mas nunca regrida. Nunca!

Ah, e um dado importante: lubrificantes mais modernos podem atender tanto à classe de aplicação “S” como a “C” da API! Compreendido? Vamos agora para algo que pode deixar de cabelo em pé em um primeiro momento, mas sem motivo de tanto pânico: as classificações adicionais.

4 – Normas adicionais requisitadas

Agora é que são elas. Observe o excerto tirado do manual do Fiat Argo anteriormente destacado:

Vejam que este tipo de indicação também aparece no manual do Onix, do Corolla e da Frontier até então utilizados:

Nissan
Foto | Reprodução

Este tanto de informação refere-se a classificações e normas adicionais exigidas por cada fabricante. Algumas delas são da própria marca, ao passo que outras são compartilhadas entre todas as montadoras.

Nesta segunda parte, podemos citar como exemplo as classificações ACEA e ILSAC. O sistema de classificação de lubrificantes da ACEA combina letras e números que indicam, respectivamente, o tipo de motor e o propósito ou performance do lubrificante, bem como o ano em que a norma foi estabelecida.

As letras da classificação ACEA indicam o tipo de motor para o qual o lubrificante é indicado, conforme mostrado abaixo:

A = Motores à gasolina, álcool ou GNV de veículos leves e de passeio.

B = Motores diesel que operem em regime leve, como os de caminhonetes, vans etc.

C = Motores diesel equipados com catalizador (pouco comuns no Brasil).

E = Motores diesel que operam em regime pesado (caminhões, carretas, tratores etc).

Se tratando de um lubrificante para motores à diesel (B, C ou E), o número que acompanham essas letras indicam o nível de desempenho do lubrificante. Quanto maior for esse número, maior o desempenho do lubrificante nas suas diversas propriedades, como pode ser visto no gráfico a seguir:

Diferentemente do que ocorre com os lubrificantes para motor a Diesel, os números da classificação ACEA para motores no ciclo Otto ou derivados (letra A) não indicam exatamente o nível de desempenho, mas os benefícios específicos do óleo lubrificante. Um mesmo lubrificante com ACEA de classe A, desse modo, pode atender a mais de uma classificação:

ACEA A1: óleo lubrificante indicado para uso em veículos à gasolina especialmente projetados para serem capazes de operarem com óleos de baixa fricção/viscosidade mesmo em altas temperaturas. A utilização desse tipo de lubrificante nesses veículos proporciona uma redução de até 5% no consumo de combustível. Esse tipo de óleo, entretanto, não é compatível com todo tipo de veículo de passeio. Sempre consulte o manual do fabricante em caso de dúvida.

ACEA A2: é a especificação padrão da ACEA, aceita pela maioria dos motores à gasolina fabricados na Europa  

ACEA A3: óleo adequado para motores de alto desempenho ou para motores comuns, mas com um maior intervalo de troca e baixo consumo de lubrificante.                 

ACEA A4: lubrificante focado para veículos cujo motor seja equipado com injeção direta de gasolina.

ACEA A5: O lubrificante com esta aprovação é economizador de combustível, assim como A1, porém com maior capacidade de intervalos de troca, característica do A3. Além disso, proporciona um menor índice de emissão de poluentes. Essa especificação requer necessariamente a utilização de óleos básicos sintéticos.

Já classificação ILSAC está intimamente ligada à classificação API sendo mais exigente no campo da economia de combustível e, tal como a API, vai aumentando a sua classificação consoante a melhoria de qualidade do óleo. Todas as especificações são para motores a gasolina, não sendo aplicável para motores diesel:

ILSAC GF-1: especificação obsoleta introduzida em 1990 e atualizada em 1992, similar à API SH com um requerimento adicional de economia de combustível.

ILSAC GF-2: especificação obsoleta que substituiu a GF-1 em 1996, similar à API SJ com um requerimento adicional de economia de combustível. A GF-2 exigia lubrificantes SAE 0W30, 0W40, 5W20, 5W30, 5W40, 5W50, 10W30, 10W40, 10W50 de forma a ir de encontro a uma maior exigência na temperatura de arranque a frio, maior tolerância em temperatura mais alta e maior controle de fuligem.

ILSAC GF-3: especificação obsoleta que substituiu a GF-2 em 2001, similar à API SL com um requerimento adicional de economia de combustível. Esta especificação era mais restritiva em relação às emissões poluentes e exigia uma melhor resistência ao envelhecimento do óleo.

ILSAC GF-4: especificação obsoleta que substituiu a GF-3 em 2004, similar à API SM com um requerimento adicional de economia de combustível. Neste momento, os testes passaram a ser mais exigentes fruto de uma nova metodologia (ASTM D6837).

ILSAC GF-5: especificação ativa que substituiu a GF-4 em 2010, similar à API SN e desenvolvida para cumprir padrões mais exigentes de controlo dos depósitos de fuligem no interior do motor. Maior economia de combustível, menor número de emissões de poluentes e ainda maior compatibilidade com elementos vedantes.

LEIA TAMBÉM:

“Ah, que beleza Renato. E para as outras especificações?”. Minha dica: siga-as sempre que possível. A grande maioria dos fabricantes de lubrificantes coloca em seus sites fichas técnicas de seus produtos, onde normalmente consta o atendimento às homologações de cada fabricante. Como exemplo, seguem três excertos retirados de fichas técnicas emitidas por marcas famosas de lubrificantes:

Não tenha preguiça: pesquise antes de colocar qualquer coisa inadequada no motor do seu carro. E nunca misture tipos de óleos que não sejam absolutamente idênticos nas quatro classes. Não sabe qual óleo está no motor? Drene, aplique um produto apropriado e guarde a informação sobre o mesmo caso precise fazer algum acréscimo posterior.

 E não se esqueça: em caso de dúvidas, utilize os comentários abaixo para que possamos sanar dúvidas.

Como conferir o óleo no motor do seu carro:

Começaremos aqui com uma proibição: você NUNCA mais irá verificar o nível do óleo do motor do seu carro no posto de gasolina. Isso mesmo: nunca! A única exceção é se ele dormir por lá e em piso plano.

Por que desse radicalismo? Simples: a aferição do nível do lubrificante parte de algumas premissas invariáveis para a correta leitura. A mais importante delas é que o motor esteja o mais frio possível. Com o motor já após um tempo em uso, logo com temperatura mais próxima daquela ideal para seu funcionamento, há óleo circulante pelo propulsor, incorrendo em menor volume depositado no reservatório de óleo do motor, chamado de cárter.

Entretanto, a leitura somente é correta com o máximo de óleo possível depositado no cárter. Para que isso ocorra, portanto, é necessário que o motor esteja frio. Isso evita que haja falsa leitura de baixo nível, sabendo que o excesso de lubrificante no sistema eleva a pressão do sistema em questão e causa danos no motor.

O carro também deve estar em plano, uma vez que aclives e declives jogarão o óleo para os lados do cárter e poderão falsear a medida aferida na vareta — seja para mais ou para menos. E eis um serviço extremamente simples de ser realizado: na grande maioria dos casos, basta retirar a vareta de medição, limpá-la e reintroduzi-la. Ao tirar novamente, eis a medição correta do nível de óleo lubrificante no cárter do seu motor.

De qualquer forma, leia sempre o manual do proprietário de seu veículo para que você possa realizar o procedimento correto. Por fim, fica uma dica pessoal: uma luva de serviços mecânicos gerais, das mais finas, torna tudo mais limpo e rápido.

Gostou? Em breve vem aí a segunda parte: os óleos aplicados em câmbio e diferencial. Até lá!

(*) É engenheiro mecânico formado pelo Cefet-MG

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