Pouco comentado nas redes sociais e até entre os motociclistas, o modelo parece correr por fora no segmento – mas tem predicados para encarar rivais de Honda, BMW e Triumph
Por Roberto Dutra
A primeira vez em que pilotei a Ducati Multistrada 950 S foi no ano passado, em um evento realizado em pista fechada. E foram apenas duas voltinhas – mal deu pra sentir a moto. Agora, porém, veio a oportunidade de experimentar a exótica big trail em uma experiência mais intensa: uma viagem até a cidade de Penedo, quase na divisa do Rio com São Paulo. Cerca de 360km de ida e volta sobre bom asfalto, com retas, curvas abertas e fechadas e subida e descida de serra. Isso, sim, é um test-ride!
Antes de sair, me familiarizo com a moto. Prendo minha pequena bagagem sobre o banco do garupa com a redinha – a moto tem práticos ganchos para amarração sob a rabeta -, memorizo os botões nos dois punhos e aproveito para fazer o setup do modo de condução. São três – urban, touring e sport. Escolho o touring, escaldado pela experiência que tive com a irmã maior Multistrada 1.260 S: naquela, optei pela sport e foi difícil me acostumar às respostas muito nervosas da moto.
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Os comandos e os botões nos punhos seguem o padrão mundial e não trazem surpresas nem dificuldades. O próprio setup é fácil de fazer e não exige um cursinho de TI como acontece em algumas outras motos.
Subo na Multistrada 950 S e logo vejo que não é uma moto para pilotos de baixa estatura: eu, com meus enxutos 1,70m de altura, fico na ponta dos pés. Mas felizmente não é muito difícil botar a moto de 230kg em pé e tirá-la do descanso lateral. Primeira engrenada e vamos ao passeio.
O primeiro trecho é urbano, ainda com pouco trânsito mas com muitos semáforos. Me surpreendo com a boa distribuição de pesos e massas e não encontro dificuldades para transitar – inclusive nos corredores, entre os carros. A Multistrada 950 S é ágil e muito maneável. É o tipo de moto à qual você se acostuma rapidamente, com tudo ao alcance das mãos e dos pés, sem precisar se esticar ou se curvar. Parece que somos amigos há tempos.
A posição de pilotagem é extremamente satisfatória. Fico com os braços levemente dobrados, o tronco reto e as pernas dobradas em 90 graus. Os pés vão apoiados em pedaleiras posicionadas quase na reta do quadril. Cômodo, muito cômodo.
Logo chego às vias expressas Linha Amarela e Linha Vermelha e posso acelerar mais. E ali, ao experimentar reduções de velocidades sem reduções de marcha, conheço as retomadas dessa moto. O motor é um dois cilindros em L de longo curso, configuração que costuma trabalhar melhor quando mantida sempre “cheia”. Em baixos giros e na marcha errada, os L2 costumam soluçar e pedir a troca da marcha – e aqui não é diferente, embora os 937cm³ forneçam 113cv de potência a 9.000rpm e 9,7kgfm de torque a 7.750 rpm. É preciso estar sempre na marcha mais adequada.
No anda e para urbano, as trocas são constantes. Na pista expressa, mais sob provocação. De resto, não há muito trabalho a fazer além de dosar o acelerador. Ao chegar na Via Dutra, confirmo essa impressão: a italiana não deixa a peteca cair e fico apenas entre a quinta e a sexta marchas a maior parte do tempo.
É na estrada, aliás, que a diversão ganha intensidade e a Multistrada 950 S mostra seu potencial. Manter uma velocidade de cruzeiro de 100km/h a 110km/h é absurdamente fácil e há um mundo de força sobrando. As curvas abertas são feitas sem reduções e nas fechadas, jogo no máximo uma para baixo. As acelerações são convincentes e as ultrapassagens, feitas com absoluta segurança. As frenagens são igualmente tranquilas e jamais dão sustos – na verdade é preciso até tomar certo cuidado, pois o conjunto Brembo com disco duplo na frente e disco simples atrás, mais ABS, segura a moto em distâncias menores do que as esperadas.
Tudo isso é fruto de um conjunto com especificações de altíssimo nível. Além dos freios Brembo, temos suspensões controladas eletronicamente (dianteira invertida e traseira monochoque) e controle de tração que atua também nas curvas. Para completar, o câmbio de seis marchas tem engates fáceis e a embreagem é macia com algodão.
Mas… sinto falta de alguma coisa. Um certo entusiasmo, aquela “pimenta” que sempre esperamos em uma Ducati. Não que isso tenha causado susto, atrapalhado uma ultrapassagem ou algo assim, mas é aquele “algo a mais” de adrenalina, de surpresa. O guia do test-ride me dá o toque:
– Passe para o modo de condução sport!
Sigo a dica e, depois de um breve almoço, é hora do retorno. Já nos primeiros quilômetros sinto uma imensa diferença. Bullseye! Ao contrário do que acontece na irmã maior Multistrada 1.260 S, o modo sport não leva a 950 S a uma performance desvairada e excessivamente nervosa. Pelo contrário: a caçula fica na medida para viajar – é o modo adequado a uma estrada boa e livre na maior parte do tempo.
A pilotagem fica mais prazerosa e emocionante, as respostas são mais imediatas e a sensação de controle da moto é ainda maior. As ultrapassagens acontecem mais facilmente, as já pouco frequentes trocas de marchas acontecem menos ainda, as reduções “enchem” mais o motor e tudo fica realmente melhor. É preciso, até, mais cuidado com limites de velocidade e radares e uma dose maior de juízo. Mas você passa a botar a moto onde quiser e a fazer curvas de forma mais instigante.
Tanto na ida quanto na volta a aerodinâmica da Multistrada 950 S foi satisfatória. O para-brisa segura bem o vento sem, no entanto, dar a impressão de estar “freando” a moto. Já o banco é mais anatômico do que confortável – poderia ser um pouco mais macio, apenas.
O painel de instrumentos, por sua vez, é um deleite: com sua bonita tela de TFT de 5 polegadas – cujo fundo muda de cor, de preto para branco, de acordo com a luz natural – é fácil de ver e de mexer. E tem todas as informações necessárias para uma viagem sossegada. Nele, vemos que nosso consumo médio no passeio foi de 18 km/l, uma boa média e praticamente o que a Ducati informa na ficha técnica da moto.
Hora de entregar a Multistrada 950 S na concessionária e de dar uma última olhada no visual algo excêntrico. A beleza sempre está nos olhos de quem vê, mas é inegável que o conjunto com carenagem frontal bicuda, três fileiras de faróis com LEDS, luz de rodagem diurna (DRL), corpo elegante e rabeta esguia jamais vai passar despercebido em qualquer lugar.
Com desempenho divertido, design exótico e bem equipada, a Ducati Multistrada 950 S é uma opção relevante nos segmento das big trails “quase médias”. O preço de R$ 94.990 pode não ajudar muito – empata com Honda CRF 1.100L Africa Twin, de R$ 96.626 (que tem motor maior e câmbio automatizado de dupla embreagem), mas fica bem acima de BMW F 750 GS Adventure, de R$ 76.500; Triumph Tiger 900, de R$ 73.990 (a versão mais cara); Kawasaki Versys Grand Tourer, de R$ 75.990, e Suzuki V-Strom 1.000 Adventure, de R$ 69.894.
No entanto, proporciona mais status que as outras e, dizem os usuários, é um modelo bem menos visado que as concorrentes. Além disso, custa R$ 25 mil a menos que a irmã maior – e te leva aos mesmos lugares com mais agilidade, versatilidade e leveza. O desempenho levemente inferior não fará diferença diante dessas vantagens e do custo bem menor. Ou seja, vale prestar bastante atenção na Multistrada 950 S!
Preço
R$ 94.990
Motor
Dois cilindros em L, quatro válvulas, refrigeração a água, 937 cm³, potência de 113 cv a 9.000 rpm e torque de 9,7 kgf.m a 7.750 rpm
Transmissão
Câmbio de seis marchas com secundária por corrente
Suspensões
Dianteira com garfos invertidos e traseira monochoque, ambas com ajustes eletrônicos e curso de 17cm
Pneus
Dianteiro 120/70 R19 e traseiro 170/60 R17
Freios
A disco duplo na frente e disco simples atrás, com ABS
Dimensões
Altura do banco de 84cm (ajuste de 82cm a 86cm opcional) e entre-eixos de 1,59m
Peso
207 quilos a seco e 230 quilos em ordem de marcha
Tanque
20 litros
Consumo
18 km/l