Robustez da nova Strada foi colocada à prova no terceiro dia da viagem pela Estrada Real

Por Renato Passos

Em qualquer lugar desse planeta esférico, o desenrolar de uma vida a dois é inerente às novas descobertas de peculiaridades do lado oposto, independente de raça, sexo, credo ou qualquer outra variável. Não seria diferente comigo e com a Nova Strada 2021, em uma relação curta, extremamente profunda e ardente, com uma pitada latina ítalo-mineira.

VEJA TAMBÉM:

E foi justamente na terra do amor bucólico entre Dirceu e Marília, a antiga Vila Rica de Tomás Gonzaga, que a nossa aventura se iniciou. Na gélida Ouro Preto, optei por retomar a jornada como passageiro, deixando o fotógrafo Eduardo Rodrigues na condução da picape. Assim teria mais tempo para se entender (ou se decepcionar) com minha companheira nessa aventura.

Ainda na porta do hotel, uma abordagem que se repetiu diversas vezes nesses dias: “É a Toro? Ela está diferente!”. Ou “Que carro é esse?”. Em todos os casos, quando dizíamos que era a nova Strada, um espanto era o comportamento geral, acompanhados por elogios dizendo a quão renovada estava a veterana das ruas. Arrebatar corações de forma intensa pode ser, portanto, uma virtude da picape Fiat.

Com o carro abastecido, nos encaminhamos para Glaura como retomada da Estrada Real. O belo e calmo distrito ouro-pretano era o primeiro ponto de referência em nossa jornada através de vias asfaltadas.

Observando o viés urbano da Strada, cabe uma pergunta que começa a surgir em meios diversos: quando a picape receberá uma transmissão automática? Claro, há o risco de canibalismo interno com a Toro, mas a irmã menor pede pela opção ao menos em sua versão topo de linha.

Neste percurso, vendo os motociclistas das mais diversas tribos que andavam pelas estradas da região, também foi possível notar a má visibilidade traseira provinda de uma vigia pequena – esta, por sua vez, imposta pela caçamba com laterais elevadas como meio de aumentar sua volumetria e valorizar o desenho. Entretanto, quem vê cara não vê coração: eis um ponto negativo que descobri como consequência da vida a dois entre eu e a Strada.

Deixando Glaura pra trás, seguimos por um longo trecho de estradas com pedras soltas, terreno e piso irregular até Rio Acima. Ver a caminhonete por outro ponto de vista demonstrou virtudes tais como a indicação no painel para mudança de marcha como instrumento positivo para a busca de maior eficiência energética do motor e, como consequência, melhor economia.

Ah, e outra coisa: definitivamente, não falta motor na Strada Volcano equipada com o Firefly 1.3. O motor GSE N4 é torcudo em baixas e médias rotações e empurra bem a picape mesmo em situações críticas com demanda definitiva de força.

Entretanto, tal impressão é majorada de forma desagradável com a calibração do acelerador: pouco curso leva a uma abertura grande em demasia da borboleta da admissão, fazendo com que o carro comumente dê um pulo à frente e mesmo cante pneus em saídas com motoristas menos experientes com esta situação.

De Rio Acima, fomos por um trecho de mata fechada e abafada em um dia quente até o distrito de Honório Bicalho. Vendo alguns Argo e Cronos, passei a desejar ainda mais o painel destes carros na Strada. Claro, o atual é bem equipado, com muitas informações e também com sistema de averiguação da pressão dos pneus. Mas aquele conta-giros subindo no sentido anti-horário e com tamanho reduzido não condiz com o perfil excelente que a picape tem cultivado. Deslizes aceitáveis em qualquer relação, não é mesmo?

De Honório Bicalho, seguimos por vias pavimentadas até Raposos. Como ambos os locais demonstravam ruas cheias no final de semana, observar o que se passava ao redor era fator crucial. Ponto positivo para o tamanho dos retrovisores externos, com fácil ajuste elétrico situado na porta do motorista. Mas a câmera de ré se mostra suja com grande facilidade, a despeito da boa vontade da companheira sobre rodas nessa jornada interiorana.

Saímos de Raposos com destino a Sabará pelo leito desativado da linha de centro da Rede Ferroviária Federal. Pedaços de trilhos escondidos sobre a poeira e pontes de bitola mínima sem guarda-corpos colocaram emoção ainda maior nesse percurso, que quase termina de forma triste para a Strada e seus dois amasiados tais como Dona Flor e seus dois Maridos: uma pedra não observada foi atropelada de forma acintosa pela roda dianteira esquerda da picape, com um grande estrondo e preocupação do condutor e do navegador.

Paramos para analisar e, depois de caçar o que não queríamos, não achamos nada de errado: robustez é característica inata da picape. A propósito, muitos não acreditariam tamanho trecho vencido com um veículo desprovido de tração nas quatro rodas e outras características de gente grande: Golias nos ensina, entretanto, a não duvidar de Davi. Bem como vemos aqui.

Almoço, descanso e sessão de fotos se seguiram em Sabará. A prova de que certos defeitos podem se tornar virtudes está no forro das portas observado nesse momento: sem acabamento mais refinado, é de fácil limpeza para um veículo que tem parte de sua fama baseadas na robustez como força de trabalho. Fiel como um cachorro, muitos diriam de forma segura.

Saímos de Sabará rumo a Caeté, viajando sob os viadutos altos e infindáveis das linhas férreas que transportam o minério das minas (e das Minas).  A tentativa de se parear outro telefone com a central UConnect demonstra, de uma vez por todas, que o equipamento multimídia pode constar como causador de divórcio para muitos: coração quente nessa hora faz com que palavras impublicáveis saiam da boca de utilizadores, no plural.

Em Caeté, tomamos uma surra homérica da arrogância humana que julgava saber a estrada indicada pelo Road-Book. E outra surra do Road-Book, com informações vagas e que despertavam o sexto sentido nos viajantes. Com a bússola apontada para o distrito de Cocais em uma longa jornada pelas montanhas, um ruído incômodo passou a ser notado em estradas não pavimentadas provindo da parte traseira da Strada.

Após análise, conclusão rápida em mãos: uma das barras que protegem o vigia traseiro apresentou folga. Carly Simon dizia que há mais espaço em um coração partido, mas não ficaremos assim com a valente picape: poucos aguentariam com tamanha coragem e força o trajeto que até o momento já totaliza 862 quilômetros acumulados, com média de consumo de 9,5 quilômetros por litro.

Ainda sobre valentia, o trecho entre Cocais e Barão de Cocais é a prova cabal da capacidade do veículo. Claro que se um dos dois amantes não sabe dançar, não há valsa que salve a noite. Mas, com motorista capaz e veículo corajoso, pedaços de pedras imensas soltas em aclives consideráveis colocaram a prova a robustez da transmissão e suspensão da Fiat Strada. Ajuda providencial, mais uma vez, do sistema TC+ nessa hora.

Por fim, totalizando 263 quilômetros no dia de hoje com um consumo de 10,2 quilômetros por litro de gasolina, chegamos a Santa Bárbara. Amanhã seguiremos para o último dia de nossa aventura – e temo que, assim como os peixinhos do lançamento da Palio Weekend em 1997, também corram lágrimas abastecidas pela separação provindas dos olhos (ou faróis) de um dos três amantes.

O amor é uma variável temporal: aguardemos o próximo capítulo!

Fique por dentro das novidades.

Não fazemos spam! Leia nossa política de privacidade para mais informações.