Confira como foi o segundo dia da equipe do Autos Segredos pelas belas paisagens da Estrada Real e como a picape da Fiat se comportou ao longo de 261 quilômetros

Por Renato Passos
Especial para o Autos Segredos

Sabe-se lá o motivo, mas logo no amanhecer uma música peculiar me veio à mente. E quando é assim, caro leitor, é difícil de desgrudar aquele eco atrelado às paredes da alma. Afinal, quem em sã consciência acorda com “Totalmente Demais” do Hanói Hanói tocando em loop na memória? Seria a Strada também totalmente demais? Espera aí, alto lá. Assim a orquestra se atropela.

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Saímos da Pousada Travessias após uma boa noite de sono. Enquanto dirigíamos para Bichinho, tive a genial ideia de colocar meu celular para carregar na entrada USB entre os bancos enquanto ligava meu iPod no UConnect da Strada. Consegui fazer com que tal combinação funcionasse? Sim. Mas após minutos de guerra tecnológica e um conflito de bytes entre o iOS e o Android. Com a briga resolvida, tínhamos novamente som na caixa.

Outro ponto que chamou a atenção foi a mudança de comportamento do motor Firefly após ser abastecido com gasolina: menos aspereza sem grande perda de força no pequeno notável propulsor. Até mesmo o barulho nas (boas) retomadas se apresenta de maneira diferente. Ponto positivo também no sistema de assistência à partida em rampa, de grande valia em locais como as montanhas históricas de Minas Gerais.

De Bichinho e seus inúmeros ateliês e lojas, seguimos para Prados e fomos surpreendidos com uma cidade de arquitetura peculiar e extremamente interessante. E não é que a Strada também chama atenção por onde passa? Seguimos nossa jornada rumo a Lagoa Dourada, mas logo nos atrasaríamos com belas locações para fotos com as quais nos deparávamos ao longo do percurso pela Estrada Real.

Rock

Dali pra frente, com estradas largas e poucas irregularidades, imprimimos um ritmo abastecido por clássicos do Rock. Rock inclusive quer dizer “rocha” em inglês e também demonstra virtude da Strada: uma solidez imensa nesse momento de Stig Blomqvist em piso não pavimentado. Para incorporar pilotos suecos ouvimos Europe, ABBA e Roxette – mas isso não vem ao caso.

Também faz parte desse show os pneus Pirelli Scorpion ATR que se entende bem com os outros componentes dessa banda chamada chassi e suspensão. Também fez sua parte nessa orquestra a direção, de peso correto e comunicativa da forma adequada tanto em baixas quanto em altas velocidades.

Chegamos a Lagoa Dourada e fomos atrás da grande riqueza daquele lugar: rocambole (para presentear os familiares, devo ressaltar). Compras feitas, ficamos perdidos com chiados na comunicação fornecida pelo Road-book: éramos nau a deriva no asfalto e nas estradas que passavam por silos e granja naquela região.

Nessas horas, a ausência de marcha-a-ré sincronizada se traduzia em arranhões com seu ruído doloroso nas inúmeras manobras que foram necessárias. Bola fora nesse ponto que se repetiria outras vezes tal qual um CD arranhado. CD que, inclusive, é passado na picape da Fiat: a central de áudio lê apenas arquivos via USB, Bluetooth e cabo auxiliar P2.

Nas manobras, outro ponto negativo foi a câmera de ré, que se suja com grande facilidade. Sacudindo a poeira e com a rota reestabelecida, o ritmo acelerado continuava. E outro desafino foi notado no isolamento acústico das caixas de rodas, barulhentas em demasia com os pedregulhos lançados pelos pneus durante o movimento. Pedregulhos lançados era também um lugar comum em aclives acidentados onde o TC+ se mostrava presente. 

Logo chegaríamos a Casa Grande e apontaríamos a bússola para Entre Rios de Minas e em seguida para São Brás do Suaçuí, outra cidadezinha típica de novela das seis. Paramos para almoçar e respirar o clima de tranquilidade e com jeito mineiro de flor, como diriam Sá e Guarabyra.

Abrimos as portas do utilitário ítalo-brasileiro e uma boa observação: quilos e mais quilos de poeira nas guarnições de porta, mas nada passando para o interior da Strada ao longo dos trechos de terra da Estrada Real. Resquícios de veículo (pop)ular se mostram na ausência de alças de teto para os passageiros de trás e na singular luz do teto junto ao retrovisor dianteiro: seria a Strada, bonita e em pleno 2020, uma herdeira da Pampa pobre?

Ao menos um bom nicho na frente do passageiro dianteiro, onde antes se encontrava o airbag, está disponível e é de grande valia para o armazenamento de pequenos itens. Saímos de lá com destino a Pequeri e Congonhas com ritmo mais cadenciado e tranquilo.

Em um dado momento, o livro de bordo nos mostrava que a Estrada Real se tornava uma trilha, relegando os automóveis para um trecho da BR 383. Mas eu e o fotógrafo nos perguntávamos o quão absurdo seria adentrar nesta parte do roteiro.  Prontamente fomos aconselhados a não fazer isso por dois moradores locais.

Como eu acredito na rapaziada, logo alcançávamos de novo uma rodovia pavimentada – e novamente a Strada pedia uma marcha menos reduzida do que a quinta disponível. Em Congonhas os declives que dão frio na barriga mostrou que sim, a Strada freia bem e muito obrigado.

Bate-papo com os profetas

Após um papo rápido com os profetas de Aleijadinho, seguimos rumo a Lobo Leite e Santo Antônio do Leite. Nas estradas tomadas por grandes caminhões de mineração, uma necessidade de manobra súbita para desvio de uma cratera lunar e de um Fusca logo em seguida fez piscar no painel uma luz de forma a relembrar a época da brilhantina: o ASR, controle de estabilidade, segurou de forma heroica a pequena picape naquele momento de tensão.

Daí uma curiosidade nasceu: e como se comporta a picape sem tal sistema, confiando unicamente nos seus dotes e na afinação dos engenheiros que a desenvolveram? Deu samba: sai de frente ou traseira de forma graciosa para um veículo do porte e seguimento, sem incorrer maiores sustos, ordenado como uma ópera de Vivaldi ou composta como a Rainha de Bateria da Mangueira.

E lá se vai mais um dia: rumamos para Ouro Preto e a suspensão ajuda a não afetar as cansadas costas e membros do motorista e passageiro. Mesma clemência nessas horas não demonstrava a central multimídia, que tirava de mim os mais cabeludos impropérios que lembrariam uma letra de funk tamanha a batalha com o Android Auto e a lógica do sistema.

Completando exatos 5.000 quilômetros rodados ao desligar o motor, a Strada 2021 nos ajudou a fechar o dia com 595 km rodados até agora, dos quais 261 no percurso de hoje. A média de consumo se mantém em 9,4km/l, um dado interessante para um veículo que raramente via a última marcha e se manteve acessa em momentos diversos. De qualquer forma, o show deve continuar: amanhã seguiremos com o trio elétrico se apresentando pelas estradas de Minas.

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