Equipe do Autos Segredos inicia teste especial com a nova Fiat Strada Volcano 2021 em viagem pela Estrada Real. Serão cerca de 1.000 quilômetros rodados. Confira o diário do primeiro dia

Por Renato Passos
Especial para o Autos Segredos

Toca o despertador: são sete horas da manhã. Um dos maiores defeitos do ser humano é justamente a sobreposição de sentimentos que terminam por bagunçar o que seria uma boa noite de sono. São sete horas da manhã e, ao contrário de outros dias no mês de setembro, eu já estava acordado.

Tudo por causa de duas “estradas”: Será que a Fiat Strada 2021 manteria seu trono no cenário de vendas estando inteiramente revista para o mercado? E mais do que isso: será que aguentaria as diversas facetas da Estrada Real que nos acompanhariam por mais de 800 quilômetros que se seguiriam?

Só o tempo – e a vida na estrada – iria me dizer. Sem mais enrolações, era hora de pegar a BR 040 com destino a Conselheiro Lafaiete onde a vida árdua realmente se iniciaria. Por fora, um misto de beleza – vide a frente bela e marcante, acentuada pelos faróis full-LED da versão topo de linha – e estranheza por um teórico desajeito da porção posterior.

Ainda assim, a aprovação é existente – como confirmada pelos manobristas do hotel em que estava e que fizeram fila para vê-la. Fé em Deus e pé na tábua, a primeira sensação é: “Que carro é esse? Onde está a Strada de outrora?”. Mas não por um mau motivo, e sim pela notável evolução do modelo.

Sim, o câmbio ainda encontra-se baixo exigindo movimentos adicionais para engate da quinta marcha. E o painel bem que poderia ser o do Argo ao invés do oriundo do Uno, embora muito bem equipado. Mas, fora isso e fatores mínimos, que sensação excelente! De cara, uma evolução de rodagem: a suspensão com capacidade de carga de 650 kg não faz milagres, mas não saltita como sua antecessora em pequenas imperfeições do solo. Ponto positivo, logo de cara.

A primeira briga veio com a central multimídia UConnect: a despeito de aceitar a conexão com Android Auto sem cabo, a interface por vezes é confusa e demanda uma série de acessos para questões simplórias, perdendo para sistemas como o Sync da Ford ou o MyLink da Chevrolet.

Depois de vencer a barreira tecnológica, um ponto positivo logo notado é a presença de porta USB entre os bancos dianteiros para os passageiros do banco de trás.

Seguindo viagem, outro ponto positivo é o posicionamento de botões que comandam controles como pisca-alerta e o sistema TC+ (que abordaremos com calma!). Posicionados no alto do painel, possuem fácil acesso e visual agradável. Entretanto, cadê o botão do sistema Start-Stop? O gato comeu. E sem desculpas, uma vez que o sistema está disponível já no Uno Way 1.3 com o mesmo propulsor.

A Strada Volcano avança pela rodovia rumo ao Rio. De forma alegre, o motor Firefly 1.3 vence os morros e serras mineiras como gente grande, surpreendendo positivamente. Entretanto, por mais de uma vez me vi buscando uma sobremarcha para além da quinta velocidade.

Portanto, não somente cabe – como seria extremamente bem-vinda – uma sexta marcha para a Strada 1.3, jogando os giros para baixo em velocidade de cruzeiro e auxiliando o consumo e o conforto acústico da agradável picape.

Agradável também foi a surpresa em conhecer Queluz de Minas. Ou Conselheiro Lafaiete nos dias atuais. Após cruzar a cidade para buscar o fotógrafo que nos acompanharia nesta jornada e que também aprenderia o ofício de navegador nos próximos quilómetros, iniciamos a nossa jornada na terra. E, novamente, a robustez histórica da suspensão da Strada não se traduz na sensação de estar em um touro mecânico.

Nessas horas, ponto positivo para o encosto dos bancos: são sensacionais e me fizeram lembrar um Kadett GSi com suas poltronas Recaro que já habitou minha garagem. Por outro lado, o fotógrafo reclamou dos assentos curtos para suas pernas de um homem de 1,83 metro de altura e nenhum biótipo de vedete. Se ganha ali, se perde aqui.

Enfim, iniciamos nossa loucura moderada com a nova Strada pelo Caminho Novo da Estrada Real. Queluzito de Minas, Carandaí, Ressaca e Ressaquinha: muitos quilômetros por estradas belas, mas não pavimentadas, como regra. Mas com pisos que variavam desde um cenário ideal para um estágio de rali até pontos em que eu falava comigo mesmo: “É, Renato. Deu ruim”.

O anjo da guarda nessas horas, para além de uma dose de prudência, era o sistema TC+ de bloqueio inteligente do diferencial aliado ao controle de tração: as rodas dianteiras pouco patinavam em aclives críticos e, de forma surpreendente, a Strada ia vencendo pontos complicados.

Talvez maior altura do solo fosse interessante (ou talvez eu seja demasiadamente acostumado com o rinoceronte 4×4 que uso para este tipo de aventura furada), mas também a Fiat embelezou em demasia o valente utilitário e como consequência sempre pensava com dor e medo no coração quanto às partes plásticas alocadas por toda a carroceria. Talvez menos seja mais, não é mesmo?

Passado da metade do dia, a fome apareceu – e com ela uma parada estratégica para recarregar as energias em Ressaquinha, para além do calor do lado de fora: a despeito do revestimento do teto inteiramente preto, o ar-condicionado da picape deu show de eficiência.

Estando com a barriga cheia, logo alcançamos Alfredo Vasconcelos e Barbacena. A boa ergonomia da Strada se mostrou também na quantidade de vezes até aquele momento em que o fotógrafo também exerceu a função de “Zequinha” abrindo e fechando porteiras: as saídas e retornos do veículo eram sempre fáceis.

Ponto positivo também para o viés da segurança: o sensor de presença e colocação do cinto de segurança também no banco do passageiro é ferramenta atuante e insistente para que ninguém se locomova sem a devida seguridade. Side bags também equipam a versão de topo e transmitem segurança aos passageiros contra os infortúnios da vida.

Chegando a Barbacena, demos adeus por ora ao Caminho Novo e tomamos a BR 256 com destino a São Sebastião da Vitória e o início de nossa jornada no Caminho Velho da história rota. O trecho de quase 90 km em pista simples e terreno montanhoso demonstram, de forma irrestrita, duas virtudes da Strada: a boa aplicação do motor Firefly nas retomadas, em parte auxiliado pelo câmbio curto; e o desempenho agradável para uma picape nas curvas.

Caso algo dê errado, não se deve preocupar: o controle de estabilidade está ali para auxiliar. Para além disso, o volante com botões para funções diversas e com a base plana tem revestimento em couro e apresenta diâmetro e espessuras adequadas: manobras evasivas ou mesmo a condução tranquila são conduzidas com boas mãos.

Em São Sebastião da Vitória, o início de uma etapa “osso duro de roer”. Daquelas que muitos duvidariam que algo sem 4×4 e com altura de gente grande daria conta de vencer. Mas a Strada, bravamente – e com algumas poucas raspadas de fundo – deu conta de forma heroica, daquelas de bater no peito e pedir a faixa de capitão.

O gran finale do dia? Estávamos atrasados para ir ao Museu de Automóveis da Estrada Real, em Tiradentes. Novamente, era hora de confiar no desempenho do utilitário ítalo-brasileiro. E não é que, tal qual em momentos de desvio abrupto nas estradas de terra, a picape se mantém firme de forma exemplar?

Para quem tem como referencial uma simples Fiat Strada básica de meados dos anos 2000, a dica é: esqueça. Mas de forma real, uma vez que eis aqui outro carro totalmente distinto. Por fim, desligamos as máquinas em Tiradentes após 334 km, com um consumo de 9,4 quilômetros rodados por litro de combustível em uma proporção de 30% de gasolina e 70% de etanol.

A primeira impressão é a que fica? Não sei. Pois, se for, estamos indo muito bem: a Strada 2021 encanta de forma definitiva. Por hoje é só – amanhã teremos muito mais por mais caminhos pela Estrada Real!

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