Desempenho e rodar são os destaques do Volkswagen T-Cross, mesmo nas versões com motor menos potente. Acabamento deixa a desejar e o custo/benefício ainda tem seus poréns
Por Fernando Miragaya
Do Rio de Janeiro (RJ)
Existe aquele parque de diversão quase circense, que de vez em quando aparece no descampado perto da sua casa e é opção barata para levar a criançada no sabadão à tarde. Existe também aquela overdose de atrações em Orlando, que te obriga a sofrer a cada conversão do dólar. Mas ainda existem parques nacionais, como Hopi Hari e Beto Carrero World, que não são a Disney, mas te garantem empolgação maior que os brinquedos itinerantes na vizinhança. E, obviamente, cobram a mais por isso.
Não é barato
É mais ou menos onde se encaixa o T-Cross nas versões 200 TSI. Depois de lançar o modelo topo de linha do seu novo utilitário esportivo compacto – a Highline 250 TSI com motor 1.4 de surreais R$ 126 mil -, a Volkswagen agora apresenta as versões com o 1.0 TSI. Os preços a partir de R$ 84.900 estão longe de serem baratos, mas devem pouco – ou quase nada – em empolgação.
Primeiro contato
O primeiro contato foi com a Comfortline 200 TSI, em 100 km entre a Barra da Tijuca, na zona oeste carioca, e Mangaratiba, lugar de praias paradisíacas, mansões e lanchas de ricaços na Costa Verde do litoral fluminense. Trata-se da versão mais cara com o menor motor: R$ 99.990, sem opcionais.
Acabamento é simples
Só que isso não se reflete no acabamento. Apesar dos detalhes no painel – muitos apliques disponíveis em kits de opcionais – e do revestimento do banco em outro padrão, há muito plástico de aparência simples e algumas falhas no acabamento das portas e do teto.
Motor agrada
O desempenho do SUV faz até você esquecer desses pecados. O sempre cultuado TSI mais uma vez não decepciona, mesmo neste SUV de 1.252 kg. Girador, o 1.0 e seus 128/116 cv se mostram dispostos desde as primeiras acelerações, com respostas rápidas ao pedal, sem pestanejar. O conhecido câmbio automático de seis marchas é o coadjuvante ideal, com mudanças precisas na maior parte do tempo.
A caixa Tiptronic (AQ-250) manteve as mesmas relações da transmissão que equipa o Virtus 200 TSI. Verdade que a diferença de peso é quase irrisória entre o jipinho e o sedã – exatos 60 kg. Mesmo assim, a engenharia mexeu no conversor de torque, para entregar mais força, e na abertura do acelerador, mais rápida. O que explica a boa agilidade do conjunto, especialmente na estrada.
Respostas ligeiras
É na Rio-Santos que o T-Cross comprova essa disposição. O SUV vence o asfalto com destreza, passagens suaves e ágeis, enquanto o ponteiro do velocímetro evolui até os 80 km/h. Segundo a VW, o 0-100 km/h é cumprido em satisfatórios 10,4 segundos. As ultrapassagens também não decepcionam. O turbo entra em ação e o motor cheio antes das 2.000 rpm garante as retomadas – pelos números da marca, são 7,6 s para o 80-120 km/h.
A dirigibilidade de outros modelos da plataforma modular MQB (Polo, Virtus…) se repete no SUV. Mesmo a altura maior do T-Cross não compromete seu comportamento dinâmico. Você já deve estar cansado de ler elogios sobre essa arquitetura MQB, mas não tem muito como fugir. Além de aços de alta resistência, o T-Cross tem em 18% de sua construção os chamados aços de ultra-resistência. E ainda 9%, principalmente nas colunas, de aços estampados a quente, moldados e formados a uma temperatura de 1 mil graus Celsius que garantem chapas mais precisas e resistentes.
Isso se reflete no rodar. Não chegamos a pegar as famosas curvas da estrada de Santos, imortalizadas por Roberto Carlos, mas nas poucas que encaramos no trajeto constatamos uma carroceria bem firme, que oscila pouco, e uma direção com assistência elétrica com firmeza normal para altas velocidades.
Latin NCAP
A VW, inclusive, aproveitou para fazer festa para as cinco estrelas máximas do Latin NCAP para o SUV, tanto na proteção a adultos, como para crianças. Para completar, toda a linha sai de fábrica com controles de estabilidade e tração e bloqueio do diferencial, mas falaremos do recheio do T-Cross mais adiante.
Bebe com moderação
O rodar suave é corroborado pelo baixo consumo – o computador de bordo marcou médias de 15,2 km/l no test drive – e pelo acerto da suspensão, com o trivial McPherson na frente e eixo de torção na traseira. Porém, a calibragem merecia melhor filtragem dos buracos, principalmente na dianteira. Em trechos mais esburacados e de paralelepípedos os reflexos no volante na versão avaliada incomodaram – os pneus, a princípio, estavam com a calibragem ok.
O isolamento acústico está dentro do esperado. Os bancos são mais baixinhos do que a maioria dos SUVs do mercado, mas a posição de dirigir agrada. Motorista tem boa visão lateral e traseira, há poucos pontos cegos e a ergonomia é funcional para os comandos mais usados, além do volante com pegada correta.
Turma de trás
O banco traseiro acomoda dois adultos e uma criança, com vão suficiente para joelhos e pernas – são 2,65 m de entre-eixos, 9 cm a mais que o T-Cross europeu. Nesse quesito, o VW supera em muito o espaço interno do Jeep Renegade e entrega algo parecido como o Honda HR-V e no Hyundai Creta.
Hora do pedal da embreagem
Depois foi a vez de fazer o caminho de volta por mais 100 km entre Mangaratiba e o Centro do Rio com a versão 200 TSI de entrada, com câmbio manual de seis marchas. A VW jura que esse modelo não tem a simples função de fazer o papel de chamariz da linha com o “a partir de” R$ 84.990. Segundo a marca, um em cada 10 SUVs compactos vendidos no país saem da loja com caixa manual.
Acabamento ainda mais simples
Chamariz ou não, o fato é que o T-Cross mais barato decepciona ainda mais no acabamento interno. Sem aqueles apliques da Comfortline, a simplicidade fica explícita, evidente e indefensável. O padrão usado nos bancos e no teto deixam bastante a desejar em termos de desenho e materiais.
O desempenho, porém, não deve em nada. Pelo contrário, o T-Cross manual se mostra até mais divertido. É possível imprimir mais força nas arrancadas, graças à transmissão com relações iniciais levemente curtas. A alavanca também ajuda, com engates precisos e suaves – o curso poderia ser um pouco, bem pouco, menor.
A sexta marcha, curiosamente, é mais curta neste conjunto. A 100 km/h permitidos na Rio-Santos, o T-Cross manual marca 2.100 rpm, enquanto o automático, 1.900 rpm. Mesmo assim, o consumo pode ser classificado como espetacular. Com gasolina no tanque, a 200 TSI mais simples alcançou médias de 18,6 km/l.
Equilíbrio distante
Apesar de ser a versão de entrada, o SUV da Volkswagen tenta balancear o acabamento e o preço com bom recheio (veja a lista de equipamentos principais abaixo). Mas mesmo na topo de linha Comfortline, equipamentos mais bacanas estão disponíveis em infinitos kits de opcionais, que, juntos, podem levar o preço da versão a estratosféricos R$ 116.750.
Ao mesmo tempo, o custo/benefício é compensado com um plano de manutenção com as três primeiras revisões gratuitas (de 10 mil, 20 mil e 30 mil km). As três demais até os 60 mil km ficam em cerca de R$ 2 mil. Nesse cenário, o T-Cross tenta se posicionar no meio-termo. Oferecer motor mais eficiente que o Renegade, mais espaço que o rival da Jeep e que o Nissan Kicks, e ser pouco mais barato que HR-V e Creta. O parque de diversões é caro, mas, pelo menos, tem como economizar na batata frita e no hambúrguer.
VW T-Cross – Preços e equipamentos
200 TSI – R$ 84.990
Controles eletrônicos de estabilidade e tração, bloqueio do diferencial, seis airbags, Isofix, assistente à partida em rampas, sensor de ré, luzes de direção diurnas de LED, freios a disco nas quatro rodas com sistema de limpeza automática, ar-condicionado, direção elétrica, trio elétrico, rodas de liga leve aro 16”, faróis de neblina, banco do carona rebatível, alarme, computador de bordo, suporte de celular com carregador USB e som Media PLus com Bluetooth e comandos no volante.
Opcionais: Pacote Interactive I, com tela touch, câmera de ré, app connect, sensor de estacionamento dianteiro por R$ 1.720
200 TSI Automático – R$ 94.490
Recebe a mais que a manual câmbio automático de seis marchas, grade cromada, multimíia Composition Touch com tela de 6,5”, saídas do ar-condicionado e tomadas USB para o banco traseiro, descansa-braço para o motorista e controle de cruzeiro.
Opcionais: Pacote Interactive II com câmera de ré, sensor de estacionamento dianteiro e rebatimento elétrico dos retrovisores por R$ 1.590.
Comfortline 200 TSI – R$ 99.990
Recebe a mais que a 200 TSI AT sistema de frenagem pós-colisão, sensor de estacionamento dianteiro, monitoramento da pressão dos pneus, grade e colunas centrais em preto brilhante, rodas de liga leve aro 17”, revestimento interno e dos bancos diferenciado, ar automático, banco do motorista com ajuste lombar e disposição do porta-malas com ajustes variáveis.
Pacote Exclusive & Intercative (+ R$ 3.950): sistema de som touchscreen Discover Media com tela de 8”, GPS e comandos de voz, entrada USB no console central, iluminação da cabine por LEDs, seletor de perfil de condução, chave presencial para acesso ao veículo e partida do motor, retrovisores rebatíveis eletricamente e quatro tapetes adicionais de carpete.
Pacote Design View (+ R$ 1.950): bancos de couro e detalhes em bronze no painel.
Pacote Premium (+ 6.050): Park Assist 3.0, faróis ful LEDcom DRL integradas e sistema de som premium da Beats.
Pacote Sky View (+ R$ 4.800): teto solar panorâmico, retrovisor interno eletrocrômico e sensores de chuva e de luminosidade.