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Protótipos de argila: por que eles ainda são usados?

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Tecnologias atuais ajudam a diminuir tempo de desenvolvimento de um automóvel, mas protótipos de argila ainda estão presentes

Por Dalmo Hernandes
Especial para o Autos Segredos

É bem comum a opinião de que os carros mais bonitos do mundo têm seus 60, 70 anos – geralmente são figuras da década de 60, como a Ferrari 250 GTO, o Jaguar E-Type e, para citar um americano, o Ford Mustang fastback original, que figuram nas listas.

São carros de um tempo diferente, com designers considerados visionários que eram tratados (e agiam) como celebridades, cheios de excentricidades e caprichos, cuja visão muitas vezes saía da prancheta de desenho e chegava quase inalterada à linha de produção.

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Décadas depois, o design de automóveis ainda passa pela fase do sketch no papel, claro. Mas a tecnologia trouxe novas ferramentas e processos muito mais complexos: as detalhadas (e belíssimas) ilustrações em “raio-x” foram substituídas por projeções hiper-realistas, por exemplo, e as criações de um homem só deram lugar a sessões de brainstorming com dezenas de pessoas.

Aliás, com cada vez mais gente envolvida no processo de buscar harmonia entre forma, função, usabilidade e normas de segurança, é mesmo impressionante que as fabricantes ainda consigam criar automóveis que nos encantam não só quando aceleram, mas também parados, com a luz certa batendo na carroceria. Claro, não é sempre que elas acertam em cheio – mas, quando acertam, somos alegremente lembramos de uma das razões de gostarmos tanto assim de carros.

Só que todo esse devaneio foi para lembrar que uma coisa não mudou em todos esses anos: o processo de design de um carro ainda envolve, em algum ponto, a criação de uma maquete de argila, muitas vezes em tamanho real: são os famosos protótipos de argila, ou clay.

Mesmo com tantas formas de visualizar o carro pronto, perfeito, na tela do computador, essa tarefa aparentemente arcaica é levada muito a sério por todas as marcas – que continuam investindo dezenas de milhares de dólares nessas esculturas. Parece contraproducente, não?

Acontece que há pelo menos um bom motivo, e ele é bem simples: os designers garantem que a única maneira de ter certeza de que seu novo carro ficou mesmo bonito e bem proporcionado é vê-lo ao vivo, na sua frente, e poder tocar nele.

Quem conta são James Gillies e Robert Fallon, ambos envolvidos na criação dos protótipos de argila da fabricante de elétricos Lucid. Conforme o que eles disseram ao Car Insider, não importa o quão sofisticado seja um modelo tridimensional na tela do computador: em essência, aquilo ainda é uma imagem 2D, e determinados ângulos fatalmente enganam os olhos na hora de julgar as proporções.

Sabe quando dizem que um carro é mais bonito de perto do que nas fotos? Pois o contrário também pode ser verdade. Os protótipos de argila ajudam a evitar essa surpresa desagradável.

Os protótipos também permitem que os designers examinem a forma exata como a luz natural é recebida pelas formas do veículo: a equipe leva o modelo de argila para fora do estúdio e pode observá-lo por todos os ângulos ao longo do dia.

É um teste para o qual a sensibilidade humana ainda não pode ser substituída mesmo pela melhor das simulações computadorizadas de iluminação. Um software pode até imitar com precisão as condições de iluminação reais, mas não consegue saber se ficou bonito ou não. 

Na prática, um protótipo de argila é uma escultura. E também é produto de uma prática de quase um século: é atribuída ao lendário projetista americano Harley Earl a popularização do método, que era usado regularmente por sua equipe no centro de design da GM na década de 1930 e hoje é empregado em pelo menos 95% dos projetos que chegam às ruas.

Não por acaso, Earl hoje é considerado um dos designers mais influentes do planeta, e foi um dos que ajudaram a General Motors a criar alguns dos designs mais emblemáticos da indústria na primeira metade do século 20.

O processo começa igual para todo protótipo: com uma estrutura de metal cuja única semelhança com um carro de verdade são os cubos de roda. “Por cima desta estrutura vão blocos de espuma, e a partir daí colocamos 2,5 a 5 cm de argila, que primeiro é esculpida por uma máquina, e depois começamos a detalhar o design”, conta Gillies.

O nível de refinamento do protótipo depende de sua função. Geralmente o primeiro protótipo é feito em escala 1:3, e serve como uma primeira forma de visualizar as proporções daquele carro em três dimensões. Uma vez que eventuais correções são feitas e o design é aprovado, parte-se para o protótipo em escala real, 1:1.

Novamente, possíveis alterações podem ser realizadas imediatamente graças à flexibilidade da argila, que permite que se retire material de onde sobra e que se acrescente volume onde falta. O material usado, apesar do nome, não é “barro”, e sim uma argila plástica concebida exatamente para a criação de protótipos. 

O aspecto fosco e terroso não prejudica a percepção das proporções, e de todo modo a ideia é justamente poder realizar incontáveis mudanças sutis nas linhas do carro, até chegar o mais perto possível da perfeição (ou pelo menos até que o chefe da equipe de design fique satisfeito). Em alguns casos, porém chega-se a aplicar pintura, verniz e peças de iluminação a um protótipo de argila – é assim que nascem vários conceitos estáticos, daquele sem interior, que são (ou costumavam ser) revelados em Salões mundo afora.

De todo modo, é um processo longo e dispendioso: da concepção das linhas até a conclusão de um protótipo bem detalhado, podem-se passar mais de dois anos e ser gastos mais de US$ 20.000, o que dá pouco mais de R$ 100.000 em conversão direta (outubro de 2022).

Para abater parte dos custos, as fabricantes aproveitam para usar os protótipos de argila em testes aerodinâmicos no túnel de vento – outra atividade que também pode ser realizada com simulações virtuais mas, novamente, nada como algo palpável e real.

Para colocar em perspectiva, porém, algumas dezenas de milhares de dólares são meros trocados perto dos milhões que alguns carros custam no desenvolvimento, e podem fazer a diferença entre o bonito e o feio, ou mesmo entre o sucesso e o fracasso de um automóvel.

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