Pequenos hábitos, como não ficar com a mão na alavanca e não arrancar de segunda, farão sua transmissão (e seu bolso) mais felizes

Por Fernando Miragaya

A transmissão é parte vital do conjunto mecânico do seu carro. Em um resumo bem coloquial, é a encarregada por distribuir a potência do motor para as rodas – da frente, de trás, nas quatro ou sob demanda, conforme o tipo de tração do veículo. Só que ela faz parte de um sistema bem complexo, que forma o chamado trem de força do veículo.

Toda vez que você engata a primeira marcha em um automóvel, você aciona um conjunto no qual motor, embreagem, caixa de mudança de marcha, diferencial e eixo cardan vão trabalhar juntos. Por esta razão, é importante ter hábitos e cuidados ao volante para fazer o câmbio durar mais. 

Aquela mão…

Sim, aquela mão boba que descansa sobre a alavanca do câmbio, não parece, mas pode causar uma série de desgastes no sistema de transmissão. A prática força alguns componentes internos, como os patins dos garfos de engate. Com o tempo, isso pode provocar o escape (pular marcha) e também a raspagem, que se chama aquela arranhada ao passar a marcha.

Pise fundo…

…. no pedal da embreagem, se o seu carro for com caixa manual. Acione o pedal até o fim, de forma suave, antes de fazer a troca. Isso contribui para que a marcha seja engatada de forma correta e precisa, e vai fazer o câmbio durar mais ao preservar o sistema de transmissão.

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“Quando não acionamos corretamente o pedal de embreagem, o torque residual continua passando para o eixo de entrada da transmissão e o sistema de sincronizadores será sobrecarregado, Isso causa um desgaste excessivo no cone e, no futuro, raspagem de marchas”, adverte o engenheiro Almiro Moraes, da Comissão Técnica de Transmissões da SAE Brasil.

… mas não o tempo todo

Também não é para abusar do pedal da esquerda. Ficar com o carro engrenado e o pé na embreagem em longos períodos, como em semáforos ou no anda-e-para do trânsito, é outro pecado contra o sistema de transmissão.

“Quando deixamos a embreagem acionada por longos períodos ocorrerá o desgaste do rolamento da embreagem, que, com o passar do tempo, pode danificar o rolamento por completo”, explica Moraes.

Pedal não é apoio

Por falar nisso, também não descanse o pé no pedal da embreagem. Isso causa o lixamento do disco e um superaquecimento do sistema. Ou seja: semáforo vermelho? Câmbio em ponto morto e pé no assoalho.

Ao dirigir

Não arranque com o automóvel em segunda marcha. No trânsito ou na estrada, aumente a marcha ou reduza de acordo com a rotação do motor, sem esticar os giros. Evite acelerar demais antes de passar a marcha não solte o pedal da embreagem por completo. Isso superaquece o sistema, força o desgaste das peças, faz com que o veículo perca desempenho e aumenta o consumo do combustível.

Nada de carro engrenado

Quem teve carro velho, como esse que vos escreve (antigo, não; velho mesmo), tem esse hábito que, por si só, mal não faz. O problema é se algum barbeiro bate no seu carro estacionado e com a primeira marcha engatada. O deslocamento causado pela colisão pode provocar danos e até a quebra em engrenagens e nos eixos da transmissão. Portanto, para fazer o câmbio durar mais, nada de carro engrenado.

Nada de banguela

Descer uma ladeira ou serra em ponto morto é mais uma prática que sobrecarrega a transmissão e vai afetar especialmente os sincronizadores. “A banguela ocasiona deficiência de lubrificação e alto nível de estresse no sistema, causando desgaste excessivo nos sincronizadores”, diz o engenheiro da SAE Brasil. 

Nos automáticos

Faça as mudanças de posição (D, N, R etc) de forma suave e pausadamente. E mais importante: fique atento se o veículo está em movimento em algumas trocas (para R ou N, por exemplo). Isso causa impacto e tranco que forçam os componentes internos. A boa notícia é que as transmissões automáticas atuais têm dispositivos de segurança que bloqueiam ou protegem o sistema dessas mudanças abruptas.

Libere a borboleta

Sabe aquelas aletas para trocas sequenciais no volante? Ou mesmo a opção de mudanças de marchas na manopla em carros automáticos ou automatizados? Deixe-as para lá e curta o conforto. Acredite, isso pode fazer o câmbio durar mais.

“Para transmissões automáticas e automatizadas, dê preferência ao modo de automação completo, deixando assim o sistema definir as trocas de marcha. Neste modo de operação, o sistema está protegido de esforços excessivos, roda na temperatura certa e proporciona até melhor consumo de combustível”, orienta Moraes.

Lubrificante

Câmbio tem óleo próprio e as regras aqui são iguais à lubrificação do motor. O fluido da transmissão deve ser checado regularmente a cada 10.000 km para ver se não há vazamentos e se está no nível correto. 

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Além disso, o lubrificante deve ser trocado conforme recomendação da montadora, e os prazos de substituição constam no Manual do Proprietário. O produto também deve seguir as especificações dadas pelo fabricante – está lá no “livrinho” também. 

“Para cada transmissão temos um fluido correto e o dono do veículo não deve utilizar uma especificação diferente, pois isso causa danos ao sistema”, avisa o engenheiro. Entre as consequências, aquecimento excessivo e maior atrito entre as peças. 

Manutenção

Além da troca de óleo periódica, leve o carro à concessionária ou oficina de sua confiança para checar a transmissão a cada 40.000 km – se o carro estiver na garantia, essa checagem geralmente faz parte das revisões obrigatórias. Alguns engenheiros e especialistas sugerem uma regulagem do sistema em intervalos de 60.000 km. 

Para carros mais rodados, esses prazos de revisões devem ser mais curtos, de 20.000 km. E nas “vistorias”, peça para o mecânico amigo dar atenção especial a sincronizadores, retentores e, eventualmente, rolamentos.

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