InícioMarcasFord1 ano depois do encerramento da produção, o que é a Ford...

1 ano depois do encerramento da produção, o que é a Ford no Brasil?

- publicidade -
- publicidade -

Tradicional marca, que já foi uma das quatro grandes no país, hoje é uma importadora com baixa participação de mercado

Por Fernando Miragaya

A notícia caiu como uma bomba na segunda semana do ano, ainda na ressaca da pandemia de Covid-19. A Ford avisou que iria encerrar toda e qualquer atividade industrial em solo brasileiro. Ou seja, nada de produção de carros, motores ou qualquer parafuso ou outro componente automotivo – além de mais de cinco mil funcionários no olho da rua.

Uma bomba porque não se tratava de uma marca qualquer, desconhecida ou que tinha se aventurado no Brasil depois dos anos 1990. A Ford havia acabado de completar 100 anos de atividade no país e, por décadas, foi uma das três grandes montadoras instaladas aqui. 

Perdeu participação de mercado depois da Autolatina, é verdade, mas sempre manteve um volume de vendas alto, uma rede de concessionárias bem estruturada e uma imagem de marca confiável. Além de ter produtos de referência ou pioneiros, como Corcel, Ranger, EcoSport, Focus e a linha de motores Zetec.

Hoje, contudo, a Ford é um rascunho do passado de glórias. Despencou em vendas, está na rabeira dos fabricantes no que diz respeito à participação de mercado e tem uma rede de distribuidores que pouco passa de uma centena. 

A fábrica de São Bernardo do Campo (SP) foi vendida para uma construtora, enquanto as unidades de Camaçari (BA) e Taubaté (SP) – além da linha de montagem da Troller em Horizonte (CE) estão à espera de um comprador. Só restou o Campo de Provas de Tatuí (SP), com menos de 300 funcionários, além da meia dúzia de modelos importados – e caros – para vender em suas lojas.

Por isso, reunimos 10 fatos sobre a Ford um ano após sua debandada. O que restou da gigante?

Ford virou importadora no Brasil

Sem fábrica no Brasil, obviamente a Ford hoje só importa os veículos que vende no Brasil. A picape Ranger é trazida da Argentina, enquanto a Transit vem do Uruguai. Entre os SUVs, o Territory tem origem chinesa e o Bronco Sport chega do México. Já o Mustang Mach 1 é importado dos Estados Unidos.

Portfólio de nicho

Com exceção da Ranger, a Ford hoje é quase um revendedor de carros de nicho. O Mustang é um esportivo clássico, mas que custa R$ 545 mil. O Bronco Sport não sai por menos de R$ 272 mil. O Territory, que nem parece um Ford no design, aumentou mais de 40% de preço em pouco mais de um ano, e hoje tem preço de R$ 220 mil. 

O mais barato custa R$ 200 mil

Isso mesmo, o veículo mais barato da Ford hoje no país custa exatos R$ 203.190. Mas esse é o preço da Ranger com cabine simples e câmbio manual, praticamente um exemplar de vendas diretas. A XLS cabine dupla é quase R$ 10 mil mais cara. 

Vendas da Ford despencaram no Brasil

Com o fim da produção da linha Ka e do EcoSport, e só com veículos caros no portfólio, não teve jeito. A Ford despencou em vendas no Brasil. Também pudera, só o Ka tinha sido o quinto carro mais vendido no Brasil em 2020, com mais de 60 mil unidades em um ano marcado pelo impacto da pandemia.

Naquele ano, a Ford emplacou quase 140 mil unidades no país, segundo a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave). Porém, em 2021, esse número caiu para 37.778 veículos, uma queda de quase 73% nas vendas.

Atrás da Citroën

Causa e efeito: a participação de mercado da Ford desmanchou em um ano. Em 2020, a montadora foi a quinta em market share na venda de automóveis de passeio e comerciais leves, com 7,14%. No ano passado, a fatia da marca foi de pífio 1,91%. 

No geral de participação, segundo a Fenabrave, em 2021, ficou na 11a colocação, atrás da Caoa Chery (que tem apenas quatro anos de mercado). Mas quem sustentou isso foi a Ranger, com suas 20.500 unidades entregues, o que assegurou os 5% de mix entre os comerciais leves e uma sexta colocação nesta categoria.

VEJA A HISTÓRIA DA MONTADORA NORTE-AMERICANA EM NOSSO PAÍS:

Porém, no recorte de automóveis de passeio (sedãs, hatches, SUVs e afins), o desempenho da Ford é ainda mais decepcionante Apenas 1,11% e um 13o lugar, atrás da Peugeot e da Citroën. Detalhe que essa última passou o ano todo com apenas um carro para vender, praticamente: o crossover C4 Cactus. 

Concessionárias da Ford no Brasil

Sem carro de volume, a rede de lojas desidratou no mesmo ritmo que as vendas despencaram. Em janeiro de 2021, a Ford tinha 283 concessionárias em todo o país. Caiu para menos da metade. Atualmente, são 110 pontos de venda. 

Sim, é pouco para o tamanho que já teve, mas condizente com o volume de vendas atual. Além do mais, para uma importadora, não deixa de ser uma rede significativa.

“A Ford virou um importador, mas um importador parrudo, com uma penetração muito grande. Será que outra importadora pura e simplesmente tem tudo isso de estrutura, potencial e tradição no mercado como a Ford?”, pondera Milad Kalume Neto, diretor da consultoria Jato Dynamics.

Porém, nem tudo são flores. Muitos distribuidores entraram na justiça contra o fabricante pelo encerramento na produção de carros de volumes. Segundo coluna do jornal Correio, da Bahia, um grupo de revendedores, inclusive, teria acionado meios legais nos Estados Unidos e estaria movendo uma ação contra a matriz da empresa.

Usados

Apesar do desespero inicial, o fechamento das fábricas da Ford não promoveu um apocalipse zumbi para os donos de carros da marca. Claro que a desvalorização – que é comum a qualquer carro com tempo de uso – tende a ser um pouco maior em modelos que acabaram de sair de linha. 

Mas tudo dentro de uma normalidade. Nessa loucura de aumento de preços de carros novos e seminovos, então, o Ka até valorizou. Levantamento da KBB Brasil mostra que o hatch ficou 1,29% mais caro na comparação com o preço do modelo – quando 0 km – em janeiro de 2021 com o Preço Médio de Revendedor, em dezembro passado.

Para se ter ideia, o Ka valorizou mais que outro carro, que também saiu de linha em 2021 e que goza de uma aura de reputação mecânica que parece inabalável: o Toyota Etios. O modelo da marca japonesa teve valorização de 0,82% no mesmo período.

No mesmo estudo, o Ka Sedan registrou depreciação de 0,77%. Já o EcoSport valorizou 1,30% entre janeiro e dezembro de 2021. 

Maverick pode mudar o rumo da Ford no Brasil?

Esse ano parece ser um ano de prosseguimento à reestruturação do portfólio da marca. O lançamento mais importante de 2022 dentro dessa estratégia será a Maverick. A picape será lançada em fevereiro – mas nós já a conhecemos – e ficará abaixo da Ranger para ser o modelo mais acessível da marca no Brasil. 

O modelo importado do México tentará brigar com as versões mais caras da Fiat Toro com o mesmo conjunto do Bronco Sport: o 2.0 turbo a gasolina, de 240 cv e 38 kgfm, e câmbio automático de oito marchas. O drama será conseguir preço para essa missão. Hoje, o valor estimado para a versão topo de linha Lariat – por enquanto, a única prevista neste início – ficaria na casa dos R$ 190 mil. 

Eletrificação

Um dos caminhos da Ford no Brasil é dar um passo grande no que diz respeito à eletrificação antes das demais marcas “genéricas”. Este ano, a marca vai trazer o Mustang Mach-E, o SUV 100% elétrico, que custará acima dos R$ 450 mil em sua versão mais completa, com 294 cv e tração 4×4.

O Mach-E, contudo, será uma vitrine tecnológica e espécie de “começo dos trabalhos” da Ford no segmento de eletrificados no país. A marca também prepara a importação do SUV Escape em uma versão híbrida, com motor a gasolina 2.5 iVCT aliado a outro elétrico, com potência combinada de 203 cv e 21,4 kgfm de torque. O câmbio é do tipo CVT e a tração, integral.

Neste caso, o Escape Hybrid custaria na faixa dos R$ 300 mil e ficaria acima do Bronco Sport. O objetivo é colocar o SUV para brigar com o Toyota RAV4 e o Honda CR-V, além dos futuros crossovers híbridos médios que chegarão ao mercado: Jeep Compass 4Xe, Kia Sportage, Hyundai Tucson e VW Tiguan.

Até o fim de 2023 são aguardados mais modelos “ecologicamente responsáveis”, entre eles a variante híbrida da própria Maverick. Outra picape prevista nesta estratégia é a F-150 Lightning, a versão elétrica da tradicional picapona ianque. Bom lembrar que a F-150, em sua versão puramente a combustão, chega por aqui antes, em meados deste ano.

A Ford voltará a fabricar carros no Brasil?

Dentro da estratégia global da Ford, dificilmente o Brasil volta a abrigar uma linha de produção da marca a médio prazo. A empresa já avisou que vai focar em SUVs, picapes e eletrificados, e que não quer saber de produto de baixo valor agregado – nada de hatches e sedãs compactos, por exemplo.

Porém, conforme os planos de eletrificação dos grandes grupos automotivos avançam, não é impossível que a Ford volte a produzir por aqui em um futuro – nem tão distante, nem tão próximo. “A Ford não deixou definitivamente o mercado brasleiro e é possível, sim, que volte a ter produção no mercado. Tradicionalmente, é uma marca com grande penetração e potencial, mas precisa de produto para o mercado brasileiro, em termos de posicionamento de preço e volume”, acredita.

Siga nossas redes sociais para muito mais informações

Fique por dentro das novidades.

Não fazemos spam! Leia nossa política de privacidade para mais informações.

- publicidade -
- publicidade -

ARTIGOS RELACIONADOS

- publicidade -

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

SEGREDOS

- publicidade -