| em 2 anos ago

9 erros estratégicos da General Motors no Brasil

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Montadora é a segunda em participação de mercado, mas vive uma balança de bons e maus momentos no Brasil

Por Fernando Miragaya

A vida da matriz da General Motors sempre foi feita de altos e baixos, e isso se reflete na filial brasileira. A montadora tem histórico de sucesso aqui com seus carros, coleciona no currículo inúmeros best sellers e é a segunda que mais vende no Brasil. Mas isso não significa que tudo são flores para a fabricante.

A General Motors do Brasil vive aquela balança financeira. Já registrou operações rentáveis por vários anos, mandou bastante dividendos para a matriz quando essa passava apuros e nunca esmoreceu nas vendas.

Ao mesmo tempo, tendo como única marca a Chevrolet por aqui, a fabricante também se encontra em um momento delicado. Pressionada pelo grupo por melhores resultados, a GM do Brasil briga com a falta de semicondutores, mantém altos volumes de emplacamentos, só que em carros com margens mais singelas de lucro.

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Em 2019, a empresa chegou a questionar a viabilidade de continuar no país, o que soou como uma ameaça não muito bem digerida por setores da economia do país. A GM continuou por aqui, ao contrário de sua rival Ford, com suas três fábricas e um centro de desenvolvimento dos mais completos do país, além de um pacote de investimentos anunciado em 2021 e a palavra de que o Brasil é um mercado importante.

Mesmo assim, é evidente que a empresa precisa de uma reestruturação. E fica no ar qual será o futuro da GM no Brasil. Mas quais foram os erros da montadora para chegar nesta encruzilhada agora? Autos Segredos destrincha alguns pecados cometidos pela fabricante nos últimos anos.

Chevette Jr

Foto | Chevrolet/Divulgação

Em 1992 a GM viu que precisava investir no tal segmento de populares. A montadora pegou seu carro de maior sucesso, o Chevette, batizou com sobrenome Junior e transformou o motor 1.4 em 1.0 para se enquadrar no IPI mais reduzido.

O problema do Chevette Junior não foi nem o alívio nos equipamentos, estratégia também usada pelos rivais, como Fiat Uno Mille e Volkswagen Gol 1000. A questão era que o motor de 52 cv penava num carro mais pesado que os concorrentes e ainda com tração traseira.

Avaliações da época apontam que o Chevette Junior levava quase 22 segundos para cumprir o 0 a 100 km/h. Se tornou um popular mal visto e a GM só foi limpar a sua barra nesta base do mercado com o Corsa, em 1994.

Agile

Foto | Chevrolet/Divulgação

Na metade da década de 2000 a GM começou a desenhar uma nova linha de produtos. Porém, os modelos da Opel se mostravam caros para serem feitos aqui, então a ideia foi aproveitar a base consagrada do primeiro Corsa, lançado em 1994.

Era o chamado Projeto Viva, que previa quatro novos carros. Mas o primeiro deles já se mostrou um equívoco. Em 2007 a GM lançou o Chevrolet Agile, um hatch compacto altinho.

Não bastasse o desenho controverso, tinha acabamento ruim e comportamento dinâmico decepcionante. Logo foi apelidado de Fragile e se revelou um carro bem menos interessante que o Corsa de segunda geração e até mesmo que o popularzaço Celta. 

O Agile não durou muito. Em 2012 teve a produção encerrada em Rosario, na Argentina.

Easytronic é mais um erro da General Motors no Brasil

Foto | Chevrolet/Divulgação

Depois do Agile ainda veio um tipo de câmbio que não deixou qualquer saudade. E que não foi só a GM que tentou emplacar. 

Em 2010 a GM passou a oferecer como opção o câmbio Easytronic para a Meriva. A transmissão automatizada de embreagem simples era uma tentativa da Chevrolet (e também da Volks, da Fiat, da Renault…) de vender o conforto de um sistema sem pedal de embreagem.

Mas o câmbio era ruim demais. O que devia em precisão, sobrava em trancos. Recebeu a alcunha de Easytranco e não durou muito na GM. As marcas rivais ainda insistiram por mais tempo…

General Motors no Brasil: Montana

Foto | Marlos Ney Vidal/Autos Segredos

Apesar de tudo, o Agile teve uma cria que durou bem mais, porém se mostrou um retrocesso em termos de arquitetura. Vale lembrar que a Montana, lançada em 2003, usava como base o Corsa 2 e tinha um design bacana, além de boa capacidade de carga e dinâmica bem resolvida.

Pois mesmo assim a GM optou por fazer uma Montana inspirada no Agile, com aquele desenho controverso e tudo – o maldoso apelido de Monstrana já diz tudo. Só que a plataforma era do Corsa 1. Apesar da caçamba volumosa, a nova Montana nunca teve dias felizes e sempre ficou bem atrás da Fiat Strada até sair de linha, em 2021.

Ainda bem que parou por aí. A ideia do Projeto Viva era ter ainda um sedã e um monovolume. A GM mudou os planos e passou a investir numa nova família de compactos com base nas plataformas coreanas GSV, de onde saiu o Onix, e Gamma II, de Cobalt e Spin.

Volume alto, lucro baixo

Foto | Chevrolet/Divulgação – Novo Chevrolet Onix RS é a unidade de 500 mil produzida em Gravataí (RS)

Justiça seja feita, a GM foi uma das montadoras no Brasil a renovar bastante sua linha no início dos anos 2010. Teve Onix, Cobalt, Spin, S10, Cruze…

Porém, esta virada dos projetos da então subsidiária europeia Opel (vendida para a PSA e hoje parte do Grupo Stellantis) para plataformas da GM Korea (ex-Daweoo) – tirando a S10, derivada da americana Colorado -, apesar de trazer custos mais baixos, não representou margens atraentes. 

O Onix foi o carro mais vendido do pais por cinco anos seguidos. O Onix Plus foi o sedã mais emplacado por quase o mesmo periodo. Só que esse foco em compactos acaba resultando em muito volume, porém baixa rentabilidade. 

General Motors no Brasil: venda direta

Foto | Marlos Ney Vidal/Autos Segredos

A GM sabe trabalhar como poucas o segmento de vendas diretas. São aquelas negociações para empresas, frotistas, locadoras, governo e taxistas. Porém, é mais um mercado onde as receitas ficam ainda mais apertadas.

Para conseguir esses contratos, as montadoras têm de cortar as margens para entregar boas quantidades. Às vezes os descontos chegam a 30%. Em um Onix cuja metade das vendas é direta, os ganhos por carro ficam ainda menores.

Esqueceu dos SUVs

Foto | Chevrolet/Divulgação

A terceira geração do Tracker está aí disputando o segmento de compactos pau a pau com o VW T-Cross. Bacana, mas a Chevrolet não tem outro exemplar forte no segmento que todo mundo quer, e cujas margens são bem melhores.

Em vez de apostar em um crossover de entrada para ficar abaixo do Tracker e em um SUV médio mais competitivo que o Equinox para brigar com o Jeep Compass, a GM optou por investirno Cruze. Legal ter um hatch e um sedã médios para fugir da mesmice, mas pensando racionalmente trata-se de um segmento em vias de extinção – o de hatches, inclusive, só tem o exemplar da montadora. 

Crise dos chips

Foto | Reprodução da Internet

A crise dos semicondutores afetou toda a indústria automotiva, mas pegou em cheio a GM do Brasil. Com alta carga de chips, a linha Onix foi a mais prejudicada. A matriz priorizou produtos globais e de maior valor agregado e a filial brasileira ficou na rabeira no recebimento de insumos.

Desta forma, a fábrica de Gravataí (RS) chegou a ficar quatro meses parada e o hatch e o sedã perderam a posição de mais emplacados do país.

Rotatividade de presidentes

Foto | General Motors/Divulgação

Presidente da General Motors no Brasil parece treinador de time de futebol na zona de rebaixamento. Não dura muito tempo. Nós últimos 20 anos a fabricante teve diferentes presidentes diferentes.

Só no espaço de oito anos foram quatro. O canadense Ray Young assumiu o cargo em 2004 e arrumou a casa por aqui. Em 2007 foi designado para cuidar das finanças globais e deixou a presidência, assumida pelo colombiano Jaime Ardila.

Outro que fez um bom trabalho e logo foi puxado para funções mais abrangentes dentro do conglomerado. Em 2010, Ardila assumiu a presidência da América do Sul da GM.

Sua substituta no Brasil foi Denise Johnson, a primeira mulher a presidir uma montadora no país. Durou pouco. Em fevereiro de 2011, a executiva pediu demissão alegando motivos pessoais. No seu lugar veio Grace Lieblein, que permaneceu dois anos na função.

Depois foi a vez de Santiago Chamorro ser o presidente da filial brasileira. Ele ficou de 2013 a 2016 e retomou o posto recentemente, em 2021, depois que Carlos Zarlenga pediu o boné do cargo que ocupava desde 2016, com a justificativa de buscar novas oportunidades profissionais.

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Redação

Redator do Autos Segredos.