Lançada há quatro anos, a trail de baixa cilindrada tem uma trajetória de sucesso no mercado brasileiro. Razões não faltam

Por Roberto Dutra

A Versys-X 300 foi uma aposta estratégica da Kawasaki no Brasil. Em 2017, a linha da marca no país tinha apenas modelos de média e alta cilindrada, com preços relativamente altos e volumes de venda naturalmente limitados. A marca precisava de algo mais acessível, com mais saída, e que pudesse também dar uma certa “popularizada” em seu nome – que, apesar dos produtos de alta qualidade, ficou meio queimado pelas trapalhadas do antigo representante, um importador.

A escolhida para a missão foi a Versys-X 300, que chegaria tentando herdar a boa fama das então já existentes Versys 650 e Versys 1.000, e que jogaria em um segmento mais aquecido – e, ao mesmo tempo, sem tanta concorrência. Deu certo: mesmo comum certo jeito de “produto premium” e preço nem tão acessível, a Versys-X 300 conquistou uma legião de fãs. As vendas sempre se mantiveram estáveis e hoje a moto é uma daquelas com público cativo e direito a dedicados grupos nas redes sociais, que debatem suas características, dicas de manutenção e opções de acessórios.

Claro que as rivais Honda XRE 300 e Yamaha XTZ 250 Lander vendem mais. Até porque são mais baratas: a Versys-X 300 custa atualmente R$ 30.490 na versão standard e R$ 33.490 na versão Tourer, enquanto a XRE 300 começa em R$ 20.390 e a Lander parte de R$ 19.990. No mesmo segmento está a BMW G 310 GS, também mais “premium”, de R$ 35.900 – é com ela que a Versys-X 300 briga de fato, tanto por preço quanto por especificações técnicas – XRE e Lander ficam um degrau abaixo.

Briga e ganha, por entregar mais por menos. Para começar, a Versys-X 300 é a única do segmento com motor bicilíndrico e refrigerado a água. O da G 310 GS também tem refrigeração líquida, mas é monocilíndrico (na Honda e na Yamaha, mono a ar). São 296cm³, 40cv de potência a 11.500rpm e 2,6kgfm de torque a 10.000rpm. Na rival alemã (que é fabricada na Índia), são 313cm³, 34cv a 9.250rpm e 2,8kgfm a 7.500rpm.

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Esse superioridade mecânica não é a única razão do sucesso da Versys-X 300. A moto da Kawasaki tem outros bons argumentos: embreagem assistida e deslizante (ou seja, é muitíssimo macia e a roda traseira não trava nas reduções severas), para-brisa, bagageiro traseiro e guidom, banco e pedais ajustáveis. E tudo isso na versão standard.

Quem escolher a versão Tourer ainda leva para casa, de fábrica, cavalete central, baús laterais para 17 litros ou 3kg cada, faróis auxiliares, tomada 12V no painel e protetores de carenagens, de manetes e do motor. Ou seja, além de ser mais potente, a Versys-X 300 é mais equipada que as rivais. Assim, sua relação custo/benefício é superior.

Que mais? O painel de instrumentos é bem completinho: tem relógio e indicadores de marcha, de consumo médio, de temperaturas externa e do líquido de refrigeração, de pilotagem econômica (um modo “Eco”), de nível de combustível e de autonomia.

Como nem tudo é perfeito, o design, com sua mistura de velocímetro digital e conta-giros analógico, já ficou datado. Outros senões, ambos na Tourer, são o botão que aciona os faróis auxiliares, tão simplório que parece improvisado, e o material dos baús, um plástico que deveria ser melhor.

São aspectos que provavelmente serão aprimorados quando a Versys-X 300 virar “400”, seguindo os passos da naked Z400 e da esportiva Ninja 400, com as quais compartilha motor e muitos outros componentes. Se o preço não subir demais, vai arrebentar (e a Kawasaki gosta de aumentar os preços: quando chegou, quatro anos atrás, a Kawasaki Versys-X 300 custava entre R$ 23.000 e R$ 27.000).

Por fim, há mais um motivo para a tanta simpatia pela Versys-X 300: o desempenho coerente com sua proposta. Vamos dar um passeio?

Acelerando

A pequena trail da Kawasaki tem porte de moto maior e desenho simpático – embora, assim como o painel, já datado. Você sobe e tem a impressão de que está em uma moto média, de 500cm³. É alta, mas amigável para pilotos de baixa estatura: eu, com meus enxutos 1,70m de altura, não tenho dificuldades.

É que o chassi é mais estreito onde o piloto se encaixa, e aí ganha uns bons centímetros de pernas esticadas em vez de dobradas. Ligo a moto e vem o conhecido ruído áspero do bicilíndrico, que gosta de trabalhar em giros altos. Partimos para um trecho de asfalto na capital paulista.

Logo nos primeiros metros a embreagem incrivelmente macia é uma ótima surpresa. Você pode pegar o pior dos engarrafamentos com essa moto que a mão esquerda não vai cansar. O motor é esperto e responde sempre bem ao acelerador. Até certo ponto não é preciso trocar as marchas com frequência: o motor permanece cheinho e anda na sexta marcha sem soluçar até mesmo ali pelos 40km/h. Bom para o consumo, também.

Já quem gosta de pilotagem com emoção terá que mantê-lo cheio e trocar as marchas com mais frequência. Isso tudo acontece porque a relação é curta, com coroa de 46 dentes e pinhão com 14. Tanto que você bota a sexta em pistas livres e o motor continua trabalhando “lá em cima”. Ruídos e vibrações poderiam ser menores, mas são aceitáveis diante do desempenho entregue. Já o calor que sai do motor e vem para as pernas merece um retrabalho nas aletas das carenagens.

O conforto a bordo passa mais pela ergonomia do que pelo banco: a posição de condução é ótima, com as costas retas e as pernas dobradas sem exagero, com os pés apoiados em ótimas pedaleiras que ficam quase na reta do quadril. Mas o banco, embora anatômico, é bem mais duro que o desejável.

Isso é uma pena, pois a Kawasaki Versys-X 300, por suas características, especificações e porte, permite até viagens com boas margens de tranquilidade e segurança. O tanque, por exemplo, leva 17 litros e garante uma autonomia de quase 400 quilômetros.

O câmbio tem engates justos, mas não exatamente macios – coerente com a aspereza do motor. Da mesma forma a moto é obediente nas curvas e nas frenagens, mas só impressiona no segundo quesito. Definitivamente é uma moto para se pilotar civilizadamente.

A Versys-X 300 também tem lá alguma versatilidade. Com pneus Pirelli MT 60 de uso misto 60% “on” e 40% “off” e perfil alto, aro 19 na frente e 17 atrás, vão livre de 18cm e cursos apenas razoáveis nas suspensões (13cm na frente e 14,8cm atrás), até encara estradinhas de terra e afins com alguma disposição – mas não é indicada para trilhas mais radicais. No asfalto, vai muito bem, embora o para-brisa proteja apenas parcialmente do vento (há turbulência no capacete acima dos 100km/h).

Dona de muitas virtudes e alguns senões, no conjunto da obra a Kawasaki Versys-X 300 é, de fato, a opção mais interessante em seu segmento para quem pode pagar mais caro por um modelo superior. É eficiente e divertida, como uma trail pequena ou média de deve ser. E melhor: se mantém valorizada no mercado de usadas – pelo menos até a nova geração chegar.

Ficha técnica da Kawasaki Versys-X 300

  • Preços: R$ 30.490 (standard) e R$ 33.490 (Tourer)
  • Motor: dois cilindros em linha, oito válvulas, comando duplo no cabeçote, refrigeração líquida, injeção, 296cm³, potência de 40cv a 11.500rpm e torque de 2,6kgfm a 10.000rpm.
  • Transmissão: câmbio de seis marchas, secundária por corrente e embreagem assistida e deslizante
  • Suspensões: garfos na frete, com 13 cm de curso, e monochoque atrás, com 14,8 cm de curso
  • Pneus: 100/90 R19 na frente e 130/80 R17. Rodas raiadas
  • Freios: a disco nas duas rodas, com ABS
  • Dimensões: 2,17 m de comprimento, 1,45 m de entre-eixos, 94 cm de largura, 1,39 m de altura, 18 cm de vão livre e altura do banco de 81,5 cm
  • Peso: 184 kg (ordem de marcha)
  • Tanque: 17 litros
  • Consumo médio: 21,8 km/l

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