[Primeiras impressões] Renault Zoe: dores e delícias de ser o que é

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Tivemos um breve contato com o elétrico reestilizado e constatamos que, embora seja um um veículo cheio de predicados, ainda faltam algumas coisas para que caia nas graças do povo

Por Marcus Celestino

O Renault Zoe sabe muito bem do que é capaz. É daqueles que sabem seduzir como ninguém. É um verdadeiro chamariz aos torcicolos. A reportagem deste Autos Segredos fez tal constatação durante breve contato que teve com o modelo, reestilizado, pelas ruas de São Paulo. O hatch repaginado, vale frisar, começou a ser vendido em abril. Ante ao predecessor, ficou mais moderno e potente. Antes, contudo, de elencar seus predicados, falemos de suas vulnerabilidades.

Guiamos a versão Intense, que tem preço sugerido de R$ 219.990. Além dela, há também a configuração Zen, vendida por R$ 204.990. Se os preços assustaram a você, caríssimo leitor, não se preocupe: as cifras também causaram sobressaltos no coração deste repórter. Evidente que as propostas são (perdão pela cacofonia) diametralmente opostas, mas, por R$ 45 mil a mais, dá para levar para casa um Mercedes GLB.

O preço, como deu para notar, é um ponto fraco do Renault Zoe. Outro dos problemas encara o condutor a todo o momento, sem dó, tampouco piedade: a autonomia. Falaremos dela mais à frente em tom elogioso. No entanto, aqui não rola nem uma crítica direta ao carro, mas sim à infraestrutura para recarga no país, quase que inexistente. Justamente por isso, paga-se mais de R$ 200 mil num veículo incapaz de percorrer longas distâncias sem quaisquer contratempos ou dores de cabeça.

Renault Zoe: Ao volante

Agora que já tiramos os elefantes da sala, vamos, enfim, aos predicados do Renault Zoe. E não são poucos. Ao volante, por exemplo, o hatch vai muito bem, obrigado. O modelo agora é empurrado por motor elétrico que entrega 125 cv de potência e 25 kgfm de torque. Antes, o compacto tinha propulsor que gerava 92 cv e 22 kgfm.

Assim como em todos os elétricos, a oferta de torque é um deleite. É só pisar no pedal do acelerador que o bichinho prontamente responde. Chega a empolgar mesmo, dá uma vontade absurda de sair rabiscando pelas vias, evitando o tráfego. Todavia, vale dizer que toda essa animação é contida, serve mais para dar aquela ajuda nas ultrapassagens que para brincar de Autobahn. E o próprio Zoe mostra isso limitando a velocidade na casa dos 150 km/h, a fim de primar pela autonomia.

Autonomia, aliás, que cobra o preço a cada pisada com mais vontade no acelerador. Quando pegamos o carro, o gráfico indicava que poderíamos rodar 392 km sem nenhum tipo de inconveniente. Número acima do divulgado oficialmente pela fabricante, inclusive, que é de 385 km. Aqui, cabe dizer que houve ganho significativo ante ao predecessor, graças à nova bateria Z.E. 50 de 52 kWh. O modelo antigo usava a Z.E. 40 de 41 kWh, que lhe garantia apenas 300 km de alcance.

Os 392 km mostrados no cluster de 10” dedicado aos instrumentos, porém, se esvaem com alguma pressa. Mesmo com o ar-condicionado desligado e pé direito comedido no acelerador nos 20 primeiros quilômetros, a autonomia foi aos 315 km com facilidade. Em ciclo rodoviário, quando se fez necessária mais velocidade, a ânsia de abandono do alcance se tornou ainda maior.

Para recuperar essa energia perdida, o Zoe passou a ter suporte de recarga em corrente contínua de até 50 kWh. Com plugue na tomada, escondida atrás do losango da Renault, o veículo “recebe de volta” 150 km de autonomia, segundo a fabricante, em 30 minutos. Em um wallbox de 7,4 kWh, recupera-se 100 km em duas horas. Já num de 22 kWh, os mesmos 100 km são obtidos em cerca de 20 minutos. Tudo isso no padrão WLTP.

Além do ganho em autonomia, o Zoe agora, vale frisar, tem modo de condução com um único pedal. Assim, basta tirar o pé do pedal do acelerador que o carro reduz a velocidade. Para completar, o hatch nesta versão tem itens extremamente úteis para o condutor. Ele dispõe de assistente de frenagem de emergência, monitor de ponto cego e sensores de obstáculos tanto na dianteira quanto na traseira.

Interior do Renault Zoe

Logo que entramos no habitáculo do novo Zoe podemos notar que a Renault trabalhou com mais esmero no interior do elétrico. Há bom número de materiais de qualidade no acabamento. O painel tem soft touch e revestimento em tecido, que também se faz presente nas portas. Os bancos são parcialmente forrados em imitação de couro, bem como volante e pomo do e-shifter. Se comparada à antiga cabine, esta é, de fato, muito superior.

Além disso, há também central multimídia de 7” e conectividade com Android Auto e Apple CarPlay. Ela, assim que você liga o carro, de forma simpática, o saúda. Tem interface amigável e sua disposição confere ainda mais elegância ao supracitado painel de boa qualidade.

Exterior

O Zoe repaginado ficou mais interessante visualmente e conta com novas entradas de ar. Seu capô também foi redesenhado. Curtinho, dá ao carro, de fato, fluidez e dinamismo em termos de design. Também lhe dá um ar mais, digamos, pacato. O para-choque dianteiro também tem uma carinha diferente, e recebe faróis de neblina que, por sua vez, são evidenciados por moldura cromada. A versão Intense do Renault Zoe dispõe ainda de rodas com desenho exclusivo de 16”.

Todas as duas configurações têm faróis com tecnologia full LED. Além disso, as lanternas agora também são full LED. Por fim, o carro guiado pela reportagem vem na nova cor azul Céladon. Juntam-se a ela vermelho Flamme e branco Quartz. As antigas cores, cinza Highland, cinza Titanium e preto Etóile, seguem como opções.

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Conclusão

O Renault Zoe é um bom produto. Especialmente este modelo repaginado, superior ao predecessor em praticamente todos os aspectos. Preço e infraestrutura de recarga inadequada no país, porém, são empecilhos no ato da compra. No entanto, o hatch elétrico é um carro que sabe bem quais são seus pontos fortes e fracos. Parafraseando Caetano Veloso, ele é um veículo que sabe “a dor e a delícia de ser o que é”.

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