Nova versão top de linha agrega bom pacote de equipamentos por preço competitivo dentro do segmento; comportamento dinâmico pouco mudou, tanto para bem quanto para mal

Alexandre Soares
Especial para o Autos Segredos

Interior revestido em couro, ar-condicionado digital, sistema multimídia com navegador GPS e câmera de ré… A presença desses equipamentos pode sugerir um produto mais sofisticado, mas, na verdade, o veículo em questão é o Versa Unique. Trata-se da versão top de linha de um sedã popular, que tem, inclusive, configurações básicas equipadas com motor 1.0 12V (veja o teste da configuração S 1.0 aqui). A ideia é aproveitar o porte mais avantajado e bom espaço interno do modelo para oferecê-lo por um preço mais baixo que o dos carros médios (recentemente, a Chevrolet adotou a mesma estratégia com o Cobalt Graphite): o valor sugerido pela Nissan é de R$ 56.190.

Além dos equipamentos citados, o Versa Unique traz vidros, travas e retrovisores elétricos, direção com assistência elétrica, e faróis de neblina, entre outros  . Visualmente, para se distinguir das demais versões, a top vem com apliques cromados na grade frontal, nas maçanetas e na régua traseira, além de rodas de liga leve aro 16”.  Entre os itens de segurança, além dos obrigatórios freios ABS e airbags frontais, o modelo oferece ganchos Isofix para fixação de cadeirinhas infantis. Seguindo a política que a Nissan costuma aplicar a seus produtos, o pacote de equipamentos é fechado, sem a possibilidade de adquirir mais itens como opcionais.

Origem simples

Se entre os equipamentos o modelo consegue até transmitir certo luxo, no acabamento interno há poucas diferenças. Há um quadro de instrumentos exclusivo, com velocímetro e conta-giros destacados e termômetro do fluido de arrefecimento, além de apliques cromados e de plásticos em preto brilhante. Mas é só: não espere por revestimentos emborrachados ou acolchoados no painel, tampouco com mimos como iluminação nos quebra-sóis ou nos porta-objetos. Isso não chega a ser demérito, pois, apesar da versão Unique ser a top, o Versa continua sendo um sedã de origem simples. Tendo isso em mente, até que a qualidade dos encaixes das peças plásticas agrada.  O volante é revestido em couro e traz botões para comandar o sistema de áudio e a telefonia, mas seu aro é muito fino, o que prejudica a pegada. Além do mais, ele não é regulável em profundidade, apenas em altura. Já o banco do motorista, que também conta com ajuste de altura, desagrada pelo tamanho do assento: curto demais, não proporciona boa acomodação para as coxas.

O espaço interno chega a ser quase comparável ao de sedãs de segmentos superiores. Os vãos para as pernas de quem viaja atrás até surpreendem, pois são bem grandes. Mas nem tudo é folga a bordo do Versa: a caída suave da capota, que é uma dos traços mais característicos de  seu design, rouba área da cabeça dos passageiros do banco traseiro. Por isso, pessoas mais altas certamente não ficarão bem-acomodadas ali. Também haverá algum aperto se três adultos se sentarem no banco traseiro, pois a plataforma compacta da Nissan não pôde ser espichada na largura. Além disso, quem estiver no meio do banco não contará com a proteção do encosto de cabeça, ainda que, pelo menos, tenha a disposição um cinto de três pontos. Com 460 l, o porta-malas tem bom tamanho. Diferentemente das versões mais simples, a Unique permite que o banco traseiro seja rebatido, o que aumenta a capacidade do compartimento. Trata-se de um recurso bem-vindo e que deveria estar presente em toda a linha, ainda que caiba uma ressalva para o fato de o encosto ser inteiriço, e não bipartido.

Levada leve

Sob o capô, nenhuma novidade. Está lá o competente 1.6 16V que equipa o Versa desde o lançamento, capaz de desenvolver, tanto com gasolina quanto com etanol, 111 cv de potência a 5.600 rpm e 15,1 kgfm a 4.000 rpm (segundo o fabricante, 90% desse valor está disponível já a 2.400 rpm). Sua concepção, com bloco e cabeçote confeccionados em alumínio, comando de válvulas com variação na admissão e sincronização por corrente metálica, é atual, e desde a nacionalização, o sistema de partida a frio aboliu o arcaico tanquinho de gasolina. O câmbio é manual de cinco marchas, a suspensão segue o tradicionalíssimo esquema independente do tipo McPherson na frente e semi-independente por barra de torção atrás e a direção tem assistência elétrica.

O comportamento do Versa não mudou: ele continua instigando a uma condução pacata. Não pelo motor, que até sobra para ele, pois responde bem em todas as faixas de rotação e gira suave, mas pelo ajuste dos demais componentes. Macia, a suspensão deixa a carroceria rolar nas curvas, enquanto a direção, mesmo após passar por uma recalibração durante a nacionalização do sedã, ainda é mais leve que o desejável em alta velocidade. Nesse sentido, os pneus mais largos e de perfil mais baixo adotados na Versão Unique, em decorrência do uso de rodas maiores, de aro 16”, fazem pouca diferença, indicando que essa mudança é mais estética que técnica. É verdade que o foco do modelo é o conforto ao rodar, mas a Nissan poderia ter feito um acerto de modo a deixar o modelo um pouco mais na mão sem comprometer esse quesito. Já o câmbio tem marchas bem-escalonadas, mas os engates não são precisos. Os freios, com discos nas rodas dianteiras e tambores nas traseiras, imobilizam o veículo com segurança.

O motor eficiente, aliado ao câmbio bem-escalonado e ao baixo peso da carroceria, de apenas 1088,4 kg, rendeu boas médias de consumo. Abastecido com gasolina, o sedã cravou 10 km/l em ciclo urbano e 14,2 km/l em percursos rodoviários. Como sempre, vale ressaltar que o consumo de combustível é influenciado por uma série de fatores, como as condições do tráfego, da pista e do relevo, além do estilo de condução do motorista.

Sem romper a barreira dos 60

O Versa Unique mostrou-se espaçoso, ágil e moderado em termos de consumo, ainda que fique devendo um acerto dinâmico um pouco melhor e alguns equipamentos de segurança, como controle eletrônico de estabilidade. O ponto chave pode ser sua relação custo-benefício interessante: o preço de R$ 56.190 pode não ser exatamente barato, mas é competitivo dentro do segmento, uma vez que outros sedãs derivados de compactos, às vezes até menos equipados, já romperam a barreira dos R$ 60 mil.

AVALIAÇÃO	Alexandre	Marlos
Desempenho(acelerações e retomadas)	8	9
Consumo(cidade e estrada)	8	8
Estabilidade	7	7
Freios	7	7
Posição de dirigir/ergonomia	7	8
Espaço interno	9	10
Porta-malas(espaço, acessibilidade e versatilidade)	8	8
Acabamento	7	7
Itens de segurança(de série e opcionais)	7	7
Itens de conveniência(de série e opcionais)	9	8
Conjunto mecânico (acerto de motor, câmbio, suspensão e direção)	7	8
Relação custo/benefício	8	8

FICHA TÉCNICA

MOTOR
Dianteiro, transversal, quatro cilindros em linha, 16 válvulas, gasolina/etanol, 1.598cm³ de cilindrada, 111 cv de potência máxima a 5.600  rpm, 15,1 kgfm de torque máximo a 4.000  rpm

TRANSMISSÃO
Tração dianteira, câmbio manual de cinco marchas

ACELERAÇÃO ATÉ 100 km/h
10,4 segundos (dado de fábrica)

VELOCIDADE MÁXIMA
187 km/h (dado de fábrica)

DIREÇÃO
Pinhão e cremalheira, com assistência elétrica

FREIOS
Discos ventilados na dianteira, tambores na traseira, com ABS e EBD

SUSPENSÃO
Dianteira, independente, McPherson, com barra estabilizadora; traseira, semi-independente, eixo de torção, com barra estabilizadora

RODAS E PNEUS
Rodas em liga leve aro 16, pneus 195/55 R16

DIMENSÕES (metros)
Comprimento, 4,492; largura, 1,695; altura, 1,506; distância entre-eixos, 2,600

CAPACIDADES
Tanque de combustível: 41 litros; porta malas: 460 litros; carga útil (passageiros e bagagem): 390 quilos; peso: 1.088,4 quilos

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Fotos | Marlos Ney Vidal/Autos Segredos