Ao volante: Nissan Frontier agrada mesmo é em movimento

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Comportamento suave para uma picape é o maior trunfo da nova geração da Nissan Frontier; porém deveriam ser oferecidos mais equipamentos de segurança

Por Alexandre Soares

Estética é algo pessoal, mas eu achei a nova geração da Nissan Frontier tímida perto das anteriores. Não que ela seja feia, pelo contrário, mas não causou, ao menos em mim, o impacto dos modelos anteriores à época de seus lançamentos. A primeira geração (conhecida pelo código D22) tinha estilo ousado quando foi nacionalizada, graças a uma reestilização frontal inspirada em uma luva de boxe. Já a segunda (D40) mantém ainda hoje um design característico, que mescla linhas quadradas e circulares. A atual e última (D23) é mais contemporânea, porém não tem tanta ousadia. Se você tem o gosto parecido com o meu, a boa notícia é que, ao se deixar os aspectos emocionais de lado e analisar itens mais técnicos, a picape da Nissan agrada em cheio. Isso porque as maiores qualidades dela são as dinâmicas: para notá-las, não basta olhar o veículo, é preciso dirigi-lo.

Motor

O segredo está nos componentes mecânicos, que estão entre os mais avançados do segmento. A começar pelo motor, um 2.3 a diesel de quatro cilindros e 16 válvulas, sobrealimentado por dois turbocompressores e dotado de injeção direta. Os números de potência e torque não são dos maiores da categoria, mas estão na média: são 190 cv a 3.750 rpm e 45,9 kgfm entre 1.500 rpm e 2.500 rpm. Se, por um lado, os valores máximos não impressionam (são exatamente os mesmos da geração anterior), por outro é admirável a linearidade com a qual eles são entregues: as respostas ao acelerador são instantâneas em todas as faixas de rotação, inclusive nas mais baixas. O propulsor tem funcionamento bastante suave em marcha-lenta e baixos giros, mas notam-se algumas vibrações em alta, o que não chega a ser incomum em unidades a diesel.

Também atual, o câmbio conta com sete velocidades e opção de trocas sequenciaiss por meio de toques na alavanca. Como há muitas marchas, elas são curtas, fazendo o propulsor ganhar giro mais rapidamente. Desse modo, não há qualquer esforço para deslocar os 1.985 kg do modelo. Ainda por cima, é possível trafegar a 120 km/h com o tacômetro registrando apenas 2.200 rpm. Quando é preciso, o câmbio faz reduções em momentos certeiros, mas as trocas ascendentes às vezes demoram mais que o necessário para ocorrer. O funcionamento da transmissão se mostrou bastante suave, sem trancos.

Menos rústica

Sabe aquela sensação de pula-pula que as picapes médias apresentam em pisos irregulares? Pois é, ela é bem menos sentida a bordo da Frontier. Não que os solavancos tenham sumido completamente, pois ainda são notados em algumas situações. Porém, me arriscaria a dizer que a picape da Nissan é a que possui rodar mais suave do mercado entre as caminhonetes com construção sobre chassi. Mérito da suspensão traseira com molas helicoidais, em vez das do tipo parabólico tradicionalmente aplicadas a esse tipo de veículo.

A estabilidade também é boa dentro da categoria, embora ainda esteja muito longe de um carro de passeio: como é comum nesse tipo de veículo, a carroceria inclina bastante e nota-se tendência ao sobresterço em curvas mais fechadas. Não por acaso, o controle de estabilidade é bem intrusivo e atua a qualquer sinal de ousadia do motorista. Já os freios mantêm a arquitetura com discos ventilados na dianteira e tambores na traseira, comum no segmento. O resultado são frenagens corretas, mas sem brilho.

Já a direção manteve a assistência hidráulica, em vez de adotar um sistema elétrico, que é tendência em todos os segmentos. Apesar de essa opção acarretar perdas energéticas, não há do que reclamar em termos operacionais, pois há muita progressividade, de modo que o volante é leve em manobras (para uma picape, vale ressaltar) e suficientemente firme em alta velocidade. A única ressalva vai para a velocidade de retorno da direção, mais baixa que o ideal.

Consumo

O consumo também foi bom, considerando o porte da Frontier. Nossas aferições apontaram médias de 9,3 km/l na cidade e 12 km/l na estrada. São números bem melhores que os obtidos pela antiga geração, que foi testada pelo Autos Segredos há cerca de dois anos e não passou de 8,4 km/l no ciclo urbano e de 10,5 km/l no rodoviário. Ademais, graças ao tanque de 80 litros, a autonomia chega a 960 km. Nada mau!

O Autos Segredos submeteu a Nissan Frontier a um percurso de aproximadamente 40 km por estradas de terra; a maior parte estava em estado de conservação razoável, mas alguns trechos eram impossíveis para veículos com apenas duas rodas motrizes. A caminhonete não teve dificuldade para enfrentar nenhum dos obstáculos aos quais foi submetida, incluindo uma subida com areia mais fofa e um platô com afloramento de pedras. Resultado natural em um veículo equipado com tração 4×4 e reduzida (acionadas por meio de um seletor no painel), além de diferencial traseiro autoblocante. A expressiva altura em relação ao solo, de 29,2 cm, associada aos ângulos de ataque e saída de 27,2º e 31,6º, respectivamente, também foram muito úteis nessas situações.

Interior evoluiu

Se o comportamento dinâmico da Nissan Frontier agrada, o interior mostra que deixou alguns detalhes fora da evolução. Não me entendam mal: perto da geração anterior, o habitáculo da picape deu um verdadeiro salto, principalmente em termos de acabamento: os plásticos do painel, apesar de rígidos, são de boa qualidade, ao passo que os forros de portas trazem muito estofamento. Tudo com uma montagem correta e alinhada. Porém, ainda há pontos que pedem melhorias: só o vidro elétrico do motorista tem função um-toque – e, mesmo assim, apenas para descer – e tecla com iluminação, e o comando da trava elétrica também não é identificável no escuro. O descansa-braço central não tem regulagem longitudinal e, desse modo, se torna inútil para motoristas mais baixos, que precisam deixar o banco próximo à direção.

Por falar no motorista, o volante tem aro muito fino e, devido à proximidade dele com o botão da buzina, é preciso tomar cuidado para não buzinar em manobras de estacionamento. Já a coluna é regulável em altura, mas não em profundidade. Por outro lado, o painel completo, com direito a marcador de temperatura do motor, e os instrumentos têm grafia simples e clara, típica da Nissan. No centro do cluster, uma tela TFT de cinco polegadas mostra nove funções. Os retrovisores também têm dimensionamento correto, o que ajuda na hora de manobrar a picape. Essa tarefa ainda é facilitada pelos sensores e a câmera de ré, mas, considerando que a versão em questão é a top de linha, poderiam ser oferecidos também sensores na dianteira. Os bancos dianteiros são confortáveis e apoiam muito bem o corpo, sendo que o do motorista tem regulagens elétricas.

Banco traseiro

No banco traseiro, todavia, a Nissan Frontier não se livra de um mal que costuma assolar as caminhonetes médias: o assento muito baixo, que faz com que os passageiros viagem em posição desconfortável, com os joelhos mais altos que os quadris. Além disso, a inclinação do encosto para a coluna é mais vertical que o desejável. Porém, ali, a falta mais grave é a ausência de cinto de três pontos e apoio de cabeça para o quinto ocupante, itens de segurança fundamentais em qualquer veículo. Entretanto, nem tudo é sofrimento para a turma do fundão, pois há dois difusores de ar dedicados (recurso ainda incomum em picapes), além de um par de porta-copos retráteis e de porta-objetos nas portas.

Carga na caçamba

Caçamba é item fundamental em qualquer picape, certo? Pois a Nissan Frontier tem um compartimento de carga respeitável, com 1.054 litros de volume. O peso máximo admitido é de 1.050 kg, na média da categoria e praticamente igual ao da geração anterior. Há três soluções interessantes ali: os ganchos que correm por trilhos, a tomada 12V com vedação e a proteção da superfície, que em vez de revestimento plástico, é feita com uma tinta emborrachada. É possível trancar a tampa do compartimento, mas só por meio de uma fechadura. Esse detalhe destoa em um veículo equipado com sistema presencial, cujo objetivo é justamente para que o motorista precise inserir a lingueta dentada da chave em tambores. Que tal adotar uma trava elétrica na tampa, Nissan?

Durante a avaliação da picape, um amigo comentou que precisava transportar alguns móveis: além da possibilidade de ajudá-lo, era uma oportunidade imperdível de submeter a caminhonete da Nissan a uma prova prática. Prontifiquei-me e não tive arrependimentos, pois sobrou espaço para o carregamento, formado por uma cama e uma cômoda. Todavia, teria sido mais fácil acomodar o mobiliário se houvesse uma proteção para parte superior da capota, como um santantônio ou um porta-escada. Como não há, foi preciso firmar as laterais da cama na tampa da caçamba, o que fez com que o objeto ultrapassasse o comprimento do veículo e exigiu, para cumprir a legislação brasileira, uma sinalização com pano vermelho.

Ainda há poucos tens de segurança

A Nissan Frontier LE vem de série com ar-condicionado digital com duas zonas de temperatura, chave presencial com partida por botão, sensor crepuscular, revestimento em couro em bancos, volante, manopla do câmbio e alavanca do freio de mão, bancos dianteiros com aquecimento e, no do motorista, regulagem elétrica, controlador de velocidade de cruzeiro, desembaçador do vidro traseiro, retrovisores externos com ajustes e rebatimento elétrico, vidros elétricos nas quatro portas, volante multifuncional, faróis de neblina, luzes diurnas de LEDs, alarme, sensor de estacionamento traseiros, câmera de ré e central multimídia com tela de toque de 6,2 polegadas, com leitor mp3, de tocar CDs e DVDs, entradas USB e para SD Card, conexão à internet e navegador GPS.

Entre os itens de segurança, há controles eletrônicos de tração e estabilidade, controlador de velocidade em descidas, assistente de partida em rampas e freios ABS com EBD. Porém, a picape dispõe apenas dos airbags frontais. Devido à atualidade do projeto (é o mais recente do segmento no Brasil), era de se esperar, no mínimo, mais duas bolsas laterais, já oferecidas em algumas concorrentes. Isso sem falar que o modelo avaliado é o mais caro da linha.

Picape competitiva

A versão top de linha LE, única da nova geração disponível no Brasil, tem preço sugerido de R$ 166.700. É muito dinheiro, mas vale lembrar que algumas concorrentes em configuração semelhante chegam à casa dos R$ 180 mil, o que torna o valor da picape da Nissan bem-inserido no mercado. A julgar pelos resultados do teste, o modelo é competitivo também em termos dinâmicos. Do fabricante, espera-se melhorar a oferta de itens de segurança e disponibilizar mais versões da nova geração, para atuar em patamares mais baixos do mercado. Isso porque, mesmo discreta em termos visuais, a caminhonete se mostrou superior à antecessora nos itens que são realmente  palpáveis, como comportamento dinâmico, consumo e habitabilidade.

AVALIAÇÃO Alexandre Marlos
Desempenho (acelerações e retomadas) 9 9
Consumo (cidade e estrada) 8 8
Estabilidade 7 8
Freios 7 8
Posição de dirigir/ergonomia 7 7
Espaço interno 7 7
Caçamba (espaço) 9 10
Acabamento 7 8
Itens de segurança (de série e opcionais) 6 6
Itens de conveniência (de série e opcionais) 8 7
Conjunto mecânico (acerto de motor, câmbio, suspensão e direção) 8 9
Relação custo/benefício 7 7

FICHA TÉCNICA

»MOTOR
Dianteiro, longitudinal, a diesel, com quatro cilindros em linha, com diâmetro de 85 mm e curso de 101,3 mm, 2.298 cm³ de cilindrada, 16 válvulas, potência máxima de 190 cv a 3.750  rpm, torque máximo de 45,9 kgfm de 1.500 a 2.500 rpm

 »TRANSMISSÃO
Tração 4×4 com reduzida, acionada eletronicamente; câmbio automático de sete marchas

»ACELERAÇÃO  ATÉ 100 km/h (dado de fábrica)
12,5 segundos

»VELOCIDADE MÁXIMA (dado de fábrica)
180 km/h

»DIREÇÃO
Pinhão e cremalheira, com assistência hidráulica

»FREIOS
Discos ventilados na dianteira e tambores na traseira, com ABS, EBD e BAS

»SUSPENSÃO
Dianteira, independente, McPherson; traseira, semi-independente, eixo de torção

»RODAS E PNEUS
Rodas em liga de alumínio de 16 polegadas, pneus 225/70 R16

»DIMENSÕES
Comprimento: 5,250; largura, 1,850; altura: 1,855; distância entre-eixos: 3,150; altura em relação ao solo: 29,2 mm; peso: 1.985 quilos.

»CAPACIDADES
Tanque de combustível: 80 litros; caçamba: 1.054 litros; capacidade de carga (incluindo passageiros): 1.050 quilos.

Fotos | Marlos Ney Vidal/Autos Segredos

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