Câmbio de seis marchas agrada e coloca o Fiat Argo em pé de igualdade com a concorrência; pena que ela é oferecida unicamente com o motor 1.8 E.torQ
Por Alexandre Soares
Quem busca um hatch compacto com apenas dois pedais encontra na gama do Fiat Argo opções distintas: motor 1.3 com caixa automatizada GSR (ex-Dualogic), com uma só embreagem e cinco marchas, ou 1.8 com transmissão automática epicíclica. O Autos Segredos já avaliou a versão Drive 1.3 e constatou o desequilíbrio do conjunto mecânico, pois enquanto o propulsor é disposto e eficiente, o câmbio apresenta as limitações de sempre, como trancos e mudanças indesejadas. Agora, chegou a vez do Argo Precision 1.8 automática, que mostrou ter um powertrain bem-casado: o motor, apesar de não ser brilhante, sobra para o veículo, ao passo que a transmissão opera de modo suave e ágil. É verdade que há uma variação de preço bastante significativa de R$ 8.900 de uma configuração para a outra. Todavia, as diferenças comportamentais entre ambas são igualmente notáveis.
Igual ao do Jeep Renegade
O câmbio automático do Fiat Argo é o mesmo que equipa Jeep Renegade e Fiat Toro, com seis velocidades e opção de trocas sequenciais por meio de paddle-shifts. Na verdade, todo o conjunto mecânico é compartilhado com o SUV e a picape, uma vez que o hatch é movido pela versão atualizada do motor 1.8 E.torQ (que, na verdade, tem 1.747 cm³), com variação no tempo de abertura das válvulas, coletor de admissão variável e sistema de partida a frio com bicos injetores aquecidos, que dispensa o tanquinho. Vale lembrar a utilização de corrente para sincronizar as 16 válvulas, cuja vida útil é equiparável à do propulsor como um todo, e a confecção do bloco em ferro fundido, enquanto o cabeçote é de alumínio.
Motor e câmbio
O Fiat Argo desenvolve 135 cv de potência com gasolina e 139 cv com etanol, a 5.750 rpm, além de 18,7 kgfm de torque com o primeiro combustível e 19,3 kgfm com o segundo, a 3.750 rpm. Segundo o fabricante, 85% dessa força está disponível já a 2.000 rpm. Não há motivo para duvidar da Fiat: o veículo responde bem em faixas de rotação mais baixas. O propulsor entrega bom rendimento também em giros altos, e tem funcionamento suave. Desse modo, o desempenho é bom, tanto na cidade quanto na estrada.
Foto | Marlos Ney Vidal/Autos Segredos
Foto | Marlos Ney Vidal/Autos Segredos
Foto | Marlos Ney Vidal
Foto | Marlos Ney Vidal/Autos Segredos
Foto | Marlos Ney Vidal/Autos Segredos
Poderia ser até um pouco melhor se o câmbio automático tivesse uma calibragem mais agressiva: em vez disso, a central eletrônica troca as marchas ao mínimo alívio do acelerador, o que indica que o fabricante priorizou a economia de combustível. Isso não chega a ser um defeito, afinal, trata-se de um veículo sem pretensões esportivas, especialmente na versão Precision, que não tem visual agressivo (como a HGT, equipada com powertrain similar). Além do mais, a transmissão opera sem trancos e tem escalonamento correto. A sexta marcha faz o motor girar baixo em estradas, beneficiando nível de ruído e consumo: são cerca de 2.500 rpm a 120 km/h. Trata-se de um sistema muitíssimo mais eficiente que o GSR.
Os esforços da Fiat para obter bons índices de consumo de combustível, que incluem ainda o sistema start-stop, desligável por meio de um botão no painel, não foram suficientes, contudo, para fazer o Argo se destacar nesse quesito. Os resultados são razoáveis e coerentes com o porte e a motorização do modelo, mas não impressionam: a reportagem aferiu 9 km/l na cidade e 11,5 na estrada, com gasolina. Com apenas 48 litros, o tanque de combustível limita a autonomia a 552 km.
No mais, a versão Precision, assim como o restante da linha, demonstrou comportamento dinâmico agradável. Nela, a calibragem da suspensão, formada por sistemas independente do tipo McPherson na dianteira e semi-independente por eixo de torção na traseira, é a mesma das configurações Drive, ao passo que a HGT tem um acerto mais rígido. Esse conjunto dá ao Argo um ótimo compromisso entre conforto e estabilidade: o hatch é “na mão” e transmite segurança em curvas, mas nem por isso deixa de filtrar as imperfeições do solo. O rodar lembra o do Punto, tanto pelo equilíbrio quanto pela solidez. A direção com assistência elétrica é que poderia ter maior progressividade, pois o volante é um pouco leve em alta velocidade, embora entregue muita leveza em manobras. Já os freios, com discos ventilados na dianteira e tambores na traseira, são suficientes para os 1.264 kg do veículo e atuam com eficiência.
Interior vistoso
O interior do Fiat Argo Precision é agradável, como nas demais versões. O acabamento é dos melhores na categoria, com componentes sem rebarbas e muito bem-encaixados. Os plásticos de revestimento são rígidos, mas apresentam boa-qualidade, sem a aspereza e o brilho observados em outros modelos do segmento. Além do mais, apliques cromados e a utilização de diferentes texturas quebram a monotonia e afastam o aspecto de simplicidade. Encosto de braço entre os bancos dianteiros e a presença de boa quantidade de porta-copos e porta-objetos aumentam a comodidade aos ocupantes.
O espaço interno é bom em relação às dimensões externas do modelo. No banco traseiro, até os passageiros mais altos conseguem se sentar sem esbarrar os joelhos nos bancos da frente, embora não escapem de raspar a cabeça no forro do teto. Além disso, a largura do assento faz com que haja aperto com cinco ocupante a bordo, algo que, contudo, é comum em veículos compactos. Pelo menos todos contam com a proteção de cintos de segurança de três pontos e encostos de cabeça. O porta-malas tem 300 litros, bom volume para a categoria, mas há uma ressalva: o compartimento é verticalizado e entrega pouco espaço longitudinal, o que dificulta a acomodação de volumes maiores. O banco bipartido em 60/40 aumenta as possibilidades de rebatimento.
Ergonomia correta, com ressalvas
O posto de comando é, no geral, correto. O painel do Argo permite acesso fácil aos instrumentos, e o volante tem boa pegada. Ao contrário das configurações Drive, nas quais a coluna de direção é ajustável apenas em altura, a Precision traz ainda a regulagem telescópica. A visibilidade é boa, inclusive para as laterais, uma vez que, dentro dos padrões atuais, nem a linha de cintura nem as colunas C são excessivamente volumosas. O conjunto óptico do tipo bi-parabólico está entre os melhores do segmento, e, nas versões 1.8, são complementados de série por faróis de neblina, embora falte luz traseira para tal finalidade. Lavador e limpadores de para-brisa cobrem boa área.
Os instrumentos permitem leitura direta, e o cluster é completo, com direito a termômetro analógico do fluido de arrefecimento do motor e a mostradores digitais da carga da bateria e da temperatura do óleo lubrificante, exibidas em uma tela TFT de 3,5 polegadas. As versões automáticas disfarçam uma falha de ergonomia da linha Argo: os pedais mal-posicionados, que causam mais incômodo nas configurações manuais, pois o motorista precisa deslocar o pé para a direita para acionar a embreagem. Outros inconvenientes, como o puxador de porta saliente, que esbarra no joelho do condutor, e os bancos dianteiros com assentos curtos, insuficientes para acomodar bem as coxas, permanecem. Esses últimos, todavia, têm encosto anatômico, capaz de apoiar a coluna com conforto, e o do condutor é regulável em altura.
Preço e conteúdo
O Fiat Argo Precision com câmbio automático tem preço sugerido de R$ 67.800 (com transmissão manual, são exatos R$ 6.000 a menos). A lista de equipamentos de série é quase igual à da versão HGT – as duas se diferenciam por itens estéticos e alguns pormenores –, e contempla ar-condicionado manual, direção elétrica, chave canivete com telecomando, alarme, computador de bordo, retrovisores elétricos (o direito tem função tiltt-down), travas elétricas, vidros elétricos nas portas dianteiras e traseiras com sistema one-touch, cruise-control, monitoramento da pressão dos pneus, central multimídia com tela touch de 7 polegadas, com Android Auto e Apple Car Play, Bluetooth, duas entradas USB e sistema de reconhecimento de voz, volante revestido em couro, rodas de liga leve de 15 polegadas e spoiler traseiro. Entre os itens de segurança, há controles eletrônicos de tração e de estabilidade, ganchos Isofix para fixação de cadeirinhas e sinalização de frenagem de emergência, além de airbags frontais e freios ABS.
O veículo avaliado estava equipado com todos os opcionais disponíveis. E eles são muitos, distribuídos em quatro pacotes. Pelo menos um desses conteúdos extras deveria vir de série: o chamado Kit Parking, composto por sensores de estacionamento traseiro com visualizador gráfico e câmera de ré, que adiciona R$ 1.400 ao preço final. Bancos revestidos em couro e rodas de liga leve de 16 polegadas vêm juntos no Kit Style, por R$ 2.200. Outro kit, batizado de Tech, reúne chave presencial com botão de partida, ar-condicionado digital, retrovisores externos rebatíveis eletricamente, sensores de chuva e crepuscular, retrovisor interno eletrocrômico e quadro de instrumentos com tela de sete polegadas, por R$ 3.500. Por fim, os airbags laterais dianteiros somam mais R$ 2.500. Completo, com tudo a que se tem direito, inclusive pintura metálica, um Fiat Argo Precision automático chega a proibitivos R$ 79 mil.
Câmbio aprovado
Câmbios automáticos não são novidade em carros compactos: o Fiat Argo, primeiro modelo da marca italiana desse segmento a oferece-lo, chegou depois que a maioria dos concorrentes já estava municiada com tal recurso. Se, por um lado, a marca italiana demorou, por outro, ao menos disponibilizou um mecanismo alinhado com os melhores do segmento. Porém, vale lembrar, apenas para as versões mais caras, pois a intermediária segue com o sistema GSR. O teste não deixa dúvidas: o fabricante deveria associar logo a caixa com conversor de torque à configuração Drive 1.3. Acreditamos que a empresa só não fez isso ainda por uma questionável questão de corte de custos, pois limitação técnica não há: Toyota Etios 1.3, Chevrolet Onix 1.4 e até o 500 nas extintas configurações Sport Air, todos com motores de baixa cilindrada acoplados a transmissões automáticas, estão aí para provar.
AVALIAÇÃO
Alexandre
Marlos
Desempenho (acelerações e retomadas)
8
8
Consumo (cidade e estrada)
7
6
Estabilidade
8
7
Freios
7
8
Posição de dirigir/ergonomia
8
9
Espaço interno
8
7
Porta-malas (espaço, acessibilidade e versatilidade)
7
8
Acabamento
8
9
Itens de segurança (de série e opcionais)
8
7
Itens de conveniência (de série e opcionais)
8
7
Conjunto mecânico (acerto de motor, câmbio, suspensão e direção)
8
7
Relação custo/benefício
7
7
Ficha técnica do Fiat Argo
»MOTOR
Dianteiro, transversal, quatro cilindros em linha, com 80 mm de diâmetro e 85,8 mm de curso, 16 válvulas, gasolina/etanol, 1.7479 cm³ de cilindrada, 135 cv (g)/139 cv (e) de potência máxima a 5.750, 18,8 kgfm (g)/19,3 kgfm (e) de torque máximo a 3.750 rpm
»TRANSMISSÃO
Tração dianteira, câmbio automático de seis marchas
»ACELERAÇÃO ATÉ 100 km/h (dado de fábrica)
11,1 segundos com gasolina e 10,4 segundos com etanol
»VELOCIDADE MÁXIMA (dado de fábrica)
189 km/h com gasolina e 191 km/h com etanol
»DIREÇÃO
Pinhão e cremalheira, com assistência elétrica
»FREIOS
Discos ventilados na dianteira e tambores na traseira, com ABS
»SUSPENSÃO
Dianteira, independente, McPherson; traseira, traseira, semi-independente, barra de torção
»RODAS E PNEUS
Rodas em liga leve, 6,0 x 16 polegadas, pneus 195/55 R16 (opcionais)
»DIMENSÕES
Comprimento, 3,998 m; largura, 1,724 m; altura, 1,507 m; distância entre-eixos, 2,521 m; altura livre do solo, 157 mm; peso: 1.264 quilos
»CAPACIDADES
Tanque de combustível: 48 litros; porta-malas: 300 litros; carga útil (passageiros e carga): 400 quilos
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