Subcompacto proporciona ótima dirigibilidade, graças à mecânica atual e ao projeto eficiente; quanto ao bolso, modelo mostrou-se muito econômico, mas entrega poucos equipamentos de série mesmo na versão intermediária move up!, avaliada
Especial para o Autos Segredos
Ocorreu algo inusitado no último lançamento de carro do qual participei: o modelo que estava sendo apresentado à imprensa, que por sinal nem era da Volkswagen, foi pouco comentado pelos colegas nos bastidores. A maioria dos jornalistas (inclusive eu) trocou figurinhas sobre o up!. Quase todos já havíamos dirigido o carrinho e tiramos conclusões consensuais sobre dois aspectos: primeiramente, concordávamos que o hatch de origem alemã era ótimo como produto, graças ao projeto atual e ao conjunto mecânico moderno para o segmento de entrada (falaremos mais detalhadamente sobre isso adiante). “Ele é muito esperto. Provavelmente é o 1.0 mais ágil que já dirigi, e olha que já dirigi vários”, elogiou um dos colegas. Outro respondeu: “e ele é espaçoso em relação às dimensões externas, né? Apesar de ser bem menor que o Gol, a diferença entre o espaço interno dos dois é mínima”. Todos nós, porém, também ponderamos que os preços cobrados pela linha haviam ficado mais altos que o esperado (também retomaremos esse tópico à frente). “Até não acharia caro se ele fosse mais recheado. Ar condicionado de série só nas versões topo não dá”, criticou um repórter. Na sequencia, outro profissional emendou: “pois é, e a versão básica não tem nem conta-giros. São umas coisinhas que custam mixaria pro fabricante, mas que são muito notadas pelo consumidor. A maioria dos caras que entram na concessionária pra trocar de carro nem sabe da existência dos aços de alta resistência da estrutura ou da superioridade do motor de três cilindros em relação ao de quatro do Gol, mas logo nota a simplicidade dos instrumentos no painel do take up!”.
TRÊS SÃO DEMAIS Se você é desses que torce o nariz para o motor do up!, convido-o a se desarmar dos preconceitos. É verdade que, quanto à durabilidade, esse propulsor ainda tem uma reputação a construir. No mais, podemos afirmar sem medo: ele é ótimo. Para começar, é o 1.0 aspirado mais potente do mercado brasileiro, com 82/75 cv de potência a 6.250 rpm e 10,4/9,7 kgfm de torque a 3.000 rpm, com etanol e gasolina, na ordem. Os ótimos números são fruto da tecnologia embarcada: há 12 válvulas (quatro por cilindro) e comando de admissão variável. Além do mais, bloco e cabeçote são confeccionados em alumínio, não há tanquinho de partida a frio e o acionamento dos comandos é correia dentada. Além de forte, ele também é suave, sem asperezas durante o funcionamento, e ao contrário do que ocorre em outros tricilíndricos, não provoca vibrações em excesso.
BEM-APROVEITADO Apesar das dimensões externas bastante compactas, o subcompacto da Volkswagen oferece espaço suficiente para quatro pessoas de estatura média. As duas da frente viajarão folgadas. As de trás não terão sobras de espaço, mas tampouco ficarão espremidas. O panorama é outro, contudo, se ideia for transportar três adultos no banco traseiro, que é pequeno. Nesse caso, haverá considerável aperto. Duas pessoas mais altas atrás também podem ter problemas para acomodar as pernas, mas ainda não rasparão a cabeça no teto. É bem como o jornalista citado no primeiro parágrafo falou: a diferença das medidas internas em relação ao irmão Gol é mínima. O porta-malas está na média da categoria, com 285 litros de capacidade. A desvantagem é que, no up!, o compartimento é curto e bastante verticalizado, fazendo com que os volumes viagem uns sobre os outros. Mas o fabricante tentou amenizar um pouco esse problema, instalando uma espécie de divisória móvel dentro do bagageiro: o nome oficial dessa solução é s.a.v.e (sistema de ajuste variável de espaço). Solução simples, mas que se mostrou bastante útil. O vão de entrada é amplo e a base, não muito alta, o que facilita as operações de carga e descarga, enquanto o banco traseiro rebatível permite transportar objetos maiores. Pena que o batente da tampa não traga proteção plástica e exponha a lataria a danos.
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O acabamento está muito longe de ser luxuoso, mas é satisfatório para um automóvel popular. Embora todo o painel e os forros de porta sejam revestidos em plásticos rígidos, os arremates são caprichados, sem desalinhamentos ou encaixes ruins. Também não notamos parafusos descobertos e rebarbas, que infelizmente são comuns em veículos de entrada. As faixas de lataria à mostra dividem opiniões, mas na prática não chegam a causar nenhum tipo de desconforto. Os faróis monoparabólicos tiveram resultado razoável em termos de iluminação e os limpadores de para-brisa mostraram-se eficientes (não faltou chuva durante nossa estadia com o up!).
Um tanto pelada em relação aos itens de conforto, a configuração move up! faz mais bonito quanto aos itens de segurança. Além dos airbags frontais e dos freios ABS, agora obrigatórios, o hatch dispõe de encostos de cabeça para todos e do importante sistema de ganchos padrão Isofix para fixação de cadeirinhas, item ainda raro no Brasil e que não é disponibilizado até em automóveis de categorias superiores. Há ainda outros pormenores raros em carros de entrada, como alerta sonoro de cintos de segurança desafivelados e acionamento automático do pisca-alerta em frenagens bruscas. Embora nossa avaliação considere apenas os equipamentos, vale lembrar ainda os ótimos resultados que o subcompacto obteve no crash-test do Latin NCAP, conquistando cinco estrelas na proteção para adultos e quatro na proteção para crianças e sagrando-se como o carro nacional mais seguro a passar pelo crivo da instituição em questão. Porém, isso não livra o up! de algumas falhas: em um modelo que tem a segurança como principal argumento de vendas, é decepcionante encontrar um cinto subabdominal para o passageiro do centro do banco traseiro. Também seria de se esperar a oferta, ainda que opcional, de airbags laterais, pelo menos nas versões top de linha. Os freios imobilizaram o veículo sem desvios de trajetória, mas o pedal poderia ter mais modularidade. O sistema atuou bem, não chegou a se destacar frente a concorrência.
AVALIAÇÃO | Alexandre | Marlos |
Desempenho (acelerações e retomadas) | 7 | 8 |
Consumo (cidade e estrada) | 10 | 9 |
Estabilidade | 8 | 8 |
Freios | 7 | 7 |
Posição de dirigir/ergonomia | 9 | 9 |
Espaço interno | 6 | 6 |
Porta-malas (espaço, acessibilidade e versatilidade) | 7 | 8 |
Acabamento | 6 | 7 |
Itens de segurança (de série e opcionais) | 7 | 7 |
Itens de conveniência (de série e opcionais) | 6 | 6 |
Conjunto mecânico (acerto de motor, câmbio, suspensão e direção) | 8 | 9 |
Relação custo/benefício | 6 | 6 |
FICHA TÉCNICA
» MOTOR
Dianteiro, transversal, três cilindros em linha, 12 válvulas, 999 cm³ de cilindrada, potência de 82cv com etanol e 75 cv com gasolina, a 6.000 rpm, e torque de 10,4 kgfm com etanol e 9,7 kgfm com gasolina, a 3.000 rpm.
» TRANSMISSÃO
Tração dianteira e câmbio manual de cinco marchas.
» ACELERAÇÃO ATÉ 100 km/h
12,4 segundos com etanol e 12,6 segundos com gasolina
» VELOCIDADE MÁXIMA (dado de fábrica)
165 km/h com etanol e 163 km/h com gasolina
» DIREÇÃO
Do tipo pinhão e cremalheira, com assistência elétrica
» FREIOS
Discos ventilados na dianteira e tambores na traseira, com ABS
» SUSPENSÃO
Dianteira, independente, do tipo McPherson; e traseira, semi-independente, do tipo barra de torção
» RODAS E PNEUS
Rodas de liga leve (opcionais) de 14 polegadas, pneus 175/70 R14
» DIMENSÕES (metros)
Comprimento, 3,605; largura, 1,645; altura, 1,500; distância entre-eixos, 2,421
» CAPACIDADES
Tanque de combustível, 50 litros; porta malas, 285 litros; carga útil (passageiros e bagagem), 412 quilos; peso, 958 quilos
Fotos | Marlos Ney Vidal/Autos Segredos