Visual do hatch ficou mais interessante, porém seus maiores trunfos continuam sendo menos emocionais, como espaço interno e economia de combustível; versão Expression 1.0 16V tem preço de compra competitivo frente à concorrência
Especial para o Autos Segredos
Espaçoso e racional são palavras que sempre definiram muito bem o Sandero. Isso não mudou na nova geração: o hatch manteve todas essas qualidades, ainda que agora ele seja capaz de mexer um pouco também com o lado emocional do comprador, com um design mais agressivo e inspirado. Quem prestar mais atenção ao carro, perceberá ainda outras melhorias, como a adoção de faróis bi-parábola e adoção de palhetas do tipo flat-blade nos limpadores do para-brisa. São itens que, embora corriqueiros, ainda não estão presentes em todos os populares, e que evidenciam evolução técnica, e não apenas estética. Mas em outros aspectos o hatch não subiu de nível. Tanto para o lado bom, considerando o preço, que continua acessível, tanto para o lado ruim, no caso das questões mecânicas. De modo geral, o que se vê é uma evolução com a manutenção das características gerais.
SEM PRESSA Na prática, o que se percebe é um conjunto mecânico competente, mas que não consegue esconder algumas rugas. O desempenho, por exemplo, deixa um pouco a desejar mesmo para um carro 1.0, em parte porque as dimensões externas generosas fazem com que o Sandero seja mais pesado que outros hatches da mesma cilindrada (o Renault soma 1.013 kg na balança), em parte também porque o propulsor mostra melhor desempenho em alta rotação, principalmente acima de 3.000 rpm (característica típica de propulsores multiválvulas mais antigos). Assim, esse Renault mostra-se um tanto preguiçoso no trânsito urbano. Ao menos não é desconfortável explorar os regimes mais altos, pois o funcionamento é suave. E o câmbio manual de cinco velocidades continua deixando a desejar em alguns aspectos, como na transmissão de vibrações para a alavanca, que ainda tem curso muito longo. Mas os engates parecem nitidamente mais macios que os da geração anterior, o que pode indicar mudanças no trambulador do sistema, embora o fabricante não tenha informado se efetuou esse aperfeiçoamento quando lançou a atual geração. Além do mais, o escalonamento é correto, sem buracos entre as marchas, e a 120 km/h o tacômetro marca 4.000 rpm, valor aceitável dentro da proposta. Já a suspensão tem calibragem voltada para o conforto. O compacto encara desníveis e buracos da pista com desenvoltura, quase sem transmitir solavancos para o habitáculo. A contra partida vem na hora de fazer curvas, que poderiam ser contornadas com mais firmeza e menos inclinação da carroceria. Não pense, porém, que há insegurança nessas situações. Em uma estrada sinuosa, o modelo não chega a empolgar, mas é suficientemente estável para não transmitir sustos. Em situações extremas, ele revelou-se obediente a correções de trajetória.
MUDANÇAS POR FORA E POR DENTRO O design do Sandero não foi melhorado apenas por fora. Por dentro, também é perceptível que o modelo ganhou visual mais cuidado, com apliques em cinza e até em preto-brilhante, no centro do painel. Essa evolução, porém, mostra-se mais estética que construtiva, pois ainda é possível encontrar algumas falhas, como rebarbas plásticas em alguns locais (na unidade avaliada, elas se fizeram notar nas maçanetas e no console entre os bancos dianteiros) e parafusos à mostra. O material predominante é o plástico rígido, ainda que com diferentes texturas. O acabamento acaba sendo apenas razoável mesmo dentro da categoria de populares, no qual a maioria dos modelos passa longe de primar pela sofisticação. Outro indício da origem simplória do modelo está na coluna de direção: ela pode ser ajustada somente em altura, e não em profundidade. Mas o banco do motorista também traz ajuste de altura. E por falar em bancos, eles são confortáveis, com apoios adequados para pernas e colunas. As abas laterais são pequenas e não seguram o tronco em curvas, mas isso não chega a comprometer em um veículo sem pretensões esportivas. O quadro de instrumentos tem leitura clara, mas não dispõe de termômetro do fluido de arrefecimento do motor, item útil que foi sendo suprimido aos poucos e que, atualmente, já está ausente na maioria dos compactos. Mas ao menos há um indicador de trocas de marchas, que ajuda a dirigir de modo mais econômico. No mais, a ergonomia é benfeita, com acesso fácil aos comandos e postura alinhada ao volante, que tem boa pegada. A visibilidade é boa para a frente e para os lados, mas apenas razoável para trás, em virtude das colunas largas e do vidro pequenos. Ao menos os retrovisores bem-dimensionados ajudam a ampliar o campo visual traseiro.
De série, a versão Expression, avaliada, traz todos os equipamentos mais essenciais. O modelo inclui direção hidráulica, ar-condicionado, aberturas internas do porta-malas e reservatório de combustível, rádio/CD/MP3 player com entrada USB e Bluetooth, vidros elétricos dianteiros, travas elétricas, alarme e computador de bordo. Opcionalmente, é possível adicionar ainda central multimídia com tela de 7 polegadas e comando satélite na coluna de direção para manusear o equipamento e sensores de estacionamento. O pacote de segurança, porém, é pequeno e traz apenas os itens exigidos por lei, mais especificamente os airbags frontais e os freios ABS. Por falar em freios, os do Sandero, embora convencionais, com discos ventilados na frente e tambores atrás, mostraram-se eficiente, estancando o hatch em espaços curtos e de modo equilibrado. De qualquer modo, há pouco conteúdo voltado para a segurança. Itens como ganchos Isofix para fixação de cadeirinhas infantis ou controle eletrônico de estabilidade não estão presentes nem entre os opcionais. Nem mesmo a versão top de linha dispõe desses itens.
APOSTA NO CUSTO/BENEFÍCIO Um fator essencial para definir se um automóvel vale ou não a pena é seu preço. O do Sandero Expression 1.0 16V, apesar de ter sido reajustado recentemente, ainda é competitivo: sem opcionais, o modelo custa R$ 35.930. Completo, mas com a mesma motorização, o montante sobe para R$ 37.230. Diante dos valores dos rivais com propulsores de igual cilindrada, que às vezes superam a barreira dos R$ 40 mil, esse Renault torna-se até tentador. Não que ele seja perfeito. Seus maiores defeitos são a mecânica já um tanto defasada e a pouca oferta de equipamentos de segurança. Mas, por outro lado, suas qualidades, como a economia de combustível e o espaço interno, são bastante consistentes. O resultado é um carro que, se não chega a ser referência, consegue agradar de modo geral. Quando seus atributos como produto são analisados em conjunto com o custo de compra, então, o hatch da Renault mostra-se bastante interessante dentro de seu segmento.
AVALIAÇÃO | Alexandre | Marlos |
Desempenho (acelerações e retomadas) | 6 | 7 |
Consumo (cidade e estrada) | 9 | 8 |
Estabilidade | 7 | 7 |
Freios | 7 | 7 |
Posição de dirigir/ergonomia | 7 | 8 |
Espaço interno | 8 | 9 |
Porta-malas (espaço, acessibilidade e versatilidade) | 8 | 9 |
Acabamento | 7 | 7 |
Itens de segurança (de série e opcionais) | 6 | 7 |
Itens de conveniência (de série e opcionais) | 7 | 7 |
Conjunto mecânico (acerto de motor, câmbio, suspensão e direção) | 7 | 8 |
Relação custo/benefício | 8 | 7 |
FICHA TÉCNICA
»MOTOR
Dianteiro, transversal, quatro cilindros em linha, 16 válvulas, gasolina/etanol, 999 cm³ de cilindrada, 77 cv (g)/80 cv (e) de potência máxima a 5.750, 10,1 kgfm (g)/ 10,5 mkgf (e) de torque máximo a 4.250 rpm
»TRANSMISSÃO
Tração dianteira e câmbio manual de cinco marchas
»ACELERAÇÃO ATÉ 100 km/h (dado de fábrica)
14,1 segundos com gasolina e 14,0 segundos com etanol
»VELOCIDADE MÁXIMA (dado de fábrica)
160 km/h com gasolina e 161 km/h com etanol
»DIREÇÃO
Pinhão e cremalheira, com assistência hidráulica variável
»FREIOS
Discos na dianteira e tambores na traseira, com ABS
»SUSPENSÃO
Dianteira, independente, McPherson; traseira semi-independente, por eixo de torção
»RODAS E PNEUS
Rodas em aço estampado aro 15, pneus 185/65 R15
»DIMENSÕES (metros)
Comprimento, 4,060; largura, 1,733; altura, 1,536; distância entre-eixos, 2,590; peso, 1.013 quilos
»CAPACIDADES
Tanque de combustível: 50 litros; porta-malas: 320 litros; carga útil (passageiros e bagagem), 456 quilos
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Fotos | Marlos Ney Vidal/Autos Segredos