Alexandre Soares
Especial para o Autos Segredos
Quando o Autos Segredos avaliou a Renault Duster Oroch com motor 1.6 16V, há cerca de um mês e meio, salientamos que se tratava de uma picape interessante, mas que deveria se comportar bem melhor com o motor 2.0 16V. É verdade que não é difícil chegar a essa conclusão, afinal, um veículo com peso na casa de 1,3 tonelada naturalmente exige doses extras de potência e torque. Todavia, só havia uma maneira de saber se a vantagem prática das versões equipadas com propulsor maior era realmente tão significativa: dirigindo-a. Assim, chegado o momento de tirar o assunto a limpo, foi bom constatar que a picape correspondeu muito bem às nossas expectativas.
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Acoplado ao motor maior, há o câmbio manual de seis marchas também já conhecido de outros modelos Renault, que tem manuseio bem melhor que o de cinco velocidades utilizado pela marca. O escalonamento é curto, tanto que, a 120 km/h, em sexta, o conta-giros registra 3.100 rpm, valor alto para a cilindrada. Provavelmente, a intensão do fabricante foi privilegiar as retomadas, mas a impressão é a de que as relações da transmissão poderiam ser um pouco mais longas. Mesmo assim, a Oroch 2.0 se mostrou bastante gostosa de guiar, bem mais que a similar 1.6: as respostas são ágeis em todas as faixas de rotação, facilitando ultrapassagens na estrada e mudanças de faixa na cidade. Não que o desempenho seja esportivo, mas é convincente, superior que o de qualquer picape compacta, mesmo com o peso de 1.346 kg. É verdade que o propulsor apresenta algumas asperezas em rotações mais elevadas, mas ainda em patamares aceitáveis. Por sua vez, a caixa de marchas também contribui para o prazer ao dirigir, curso da alavanca é mais curto, e os engates, bastante precisos.
Os demais sistemas do conjunto mecânico, que não mudam, repetiram a boa impressão deixada pela Oroch 1.6. A suspensão totalmente independente (dos tipos McPherson na dianteira e multilink na traseira) tem calibragem que se sai bem tanto em conforto quanto em estabilidade, algo raro em picapes, que costumam ter maior carga nas molas e nos amortecedores sob a caçamba, para melhorar a capacidade de carga. O comportamento, claro, não é igual ao de um automóvel: apesar da rolagem contida da carroceria em curvas, em determinadas situações é possível notar sobre-esterço, mesmo que a tendência predominante seja ao subesterço. E o eixo dianteiro filtra ligeiramente melhor as irregularidades do piso que o traseiro. Ainda assim, o conjunto entrega ótimo compromisso para uma caminhonete. Já a direção tem o peso correto em alta velocidade, mas poderia ser mais leve em manobras. E os freios bem que poderiam trazer discos nas quatro rodas: apesar dos resultados satisfatórios em distância de frenagem e em modularidade do pedal, seria desejável maior eficiência nesse quesito, afinal, trata-se de um veículo de carga, que pode circular transportando até 650 kg de peso.
O consumo, como era de se esperar, foi pior que o da Oroch 1.6 16V avaliada anteriormente, mas a diferença foi pequena, de aproximadamente 5%: com gasolina, ela cravou 8,6 km/l na cidade e 11,3 km/l na estrada (ante 9,1 km/l e 12 km/l da versão com motor de menor cilindrada). Desta vez, fizemos aferições também com etanol no tanque, com o qual a picape obteve médias de 6,9 km/l em ciclo urbano e de 9,5 km/l em percursos rodoviários. Os resultados, considerando o peso e o porte do modelo, são satisfatórios. Mais uma vez, lembramos que o gasto de combustível é diretamente influenciado por vários fatores, como as características do trânsito e das vias, o relevo e o comportamento do motorista.
A habitabilidade da picape da Renault já é conhecida. A maior qualidade do interior é o amplo espaço interno, que sobra para quatro adultos e ainda se mostra razoável para cinco. Nesse sentido, ela se assemelha bastante ao SUV que lhe deu origem. A diferença mais significativa entre ambos é o encosto um pouco mais vertical no banco traseiro. Mas ali há cintos de três pontos e encostos de cabeça para todos, como deveria ocorrer em qualquer veículo. O aspecto mais criticável é o acabamento simples, que, se por um lado, não chega a fazer feio frente ao das picapes compactas, por outro é incapaz de se destacar no segmento. O problema nem está tanto no material empregado (plástico comum), mas sim pela presença de parafusos à mostra nos porta-copos dianteiros e nas maçanetas das portas e devido à existência de rebarbas plásticas em algumas peças, como nas chaves de seta. Na unidade avaliada, uma das extremidades do console central, sob o painel, estava desencaixada, falha que não ocorreu na Oroch 1.6 avaliada anteriormente; esperamos que seja um problema pontual.
O posto de comando da picape também é conhecido. A posição de dirigir é boa, facilitada pelo volante de empunhadura correta e pelos instrumentos de leitura clara, ainda que o cluster fique devendo o termômetro do fluido de arrefecimento. Os bancos acomodam bem as coxas, mas têm encosto muito plano, deixando a lombar e a dorsal com pouco apoio. O do motorista é regulável em altura, assim como a coluna de direção, embora essa não disponha do ajuste em profundidade. Há alguns comandos de difícil acesso (falha ergonômica já conhecida da linha Duster), entre os quais o dos retrovisores elétricos, posicionado sob a alavanca do freio de mão, e o dos vidros elétricos dianteiros, parcialmente obstruídos pelos puxadores das portas. Já a visibilidade é muito boa para a frente e para os lados. Para trás, como costuma ocorrer em caminhonetes, o campo visual é restrito. Os retrovisores bem-dimensionados e os sensores de ré atenuam um pouco essa característica, mas, considerando o comprimento do veículo (4,693 metros), seria desejável também uma câmera traseira.
Após avaliar a versão Dynamique 2.0 16V, não resta dúvida que ela faz valer a diferença de preço de R$ 4.000 em relação à similar 1.6 16V, devido ao maior desempenho, ao câmbio com engates melhores e à pequena diferença no consumo de combustível. Não que Oroch seja ruim com o motor 1.6 16V: ele dá conta do recado, como a avaliação anterior havia mostrado. Porém, com o 2.0 16V, ela vai além, destacando-se não só em espaço interno, mas também em dirigibilidade. Nosso conselho é ficar com as versões menos potentes apenas se o dinheiro estiver muito contato. Se houver alguma folga financeira, o investimento a mais no propulsor de maior capacidade cúbica se mostra plenamente compensador. Aliás, vale lembrar que o valor de compra (que, recapitulando, é de R$ 70.790) é competitivo inclusive diante do das picapes compactas: uma Strada Adventure Cabine Dupla parte de R$ 68.020, enquanto uma Saveiro Cross Cabine Dupla não sai por menos de R$ 69.990. Ainda que a caminhonete da Volkswagen traga alguns itens de série a mais (a da Fiat nem isso), ambas são inferiores à concorrente da Renault em performance e em área no banco traseiro.
AVALIAÇÃO | Alexandre | Marlos |
Desempenho (acelerações e retomadas) | 8 | 9 |
Consumo (cidade e estrada) | 6 | 7 |
Estabilidade | 7 | 7 |
Freios | 7 | 8 |
Posição de dirigir/ergonomia | 7 | 8 |
Espaço interno | 9 | 10 |
Caçamba (espaço) | 6 | 7 |
Acabamento | 7 | 7 |
Itens de segurança (de série e opcionais) | 7 | 7 |
Itens de conveniência (de série e opcionais) | 8 | 8 |
Conjunto mecânico (acerto de motor, câmbio, suspensão e direção) | 9 | 9 |
Relação custo/benefício | 7 | 8 |
FICHA TÉCNICA
»MOTOR
Dianteiro, transversal, quatro cilindros em linha, com diâmetro de 82,7 mm e curso de 93 mm, 16 válvulas, gasolina/etanol, 1.998 cm³ de cilindrada, 143 cv (g)/148 cv (e) de potência máxima a 5.750, 20,2 kgfm (g)/ 20,9 mkgf (e) de torque máximo a 4.000 rpm
»TRANSMISSÃO
Tração dianteira e câmbio manual de seis marchas
»ACELERAÇÃO ATÉ 100 km/h (dado de fábrica)
10,6 segundos com gasolina e 9,7 segundos com etanol
»VELOCIDADE MÁXIMA (dado de fábrica)
178 km/h com gasolina e 186 km/h com etanol
»DIREÇÃO
Pinhão e cremalheira, com assistência hidráulica variável
»FREIOS
Discos na dianteira e tambores na traseira, com ABS
»SUSPENSÃO
Dianteira: independente do tipo McPherson; traseira: independente do tipo multilink
»RODAS E PNEUS
Rodas em liga leve aro 16, pneus 215/65 R16
»DIMENSÕES
Comprimento, 4,693 m; largura, 1,821 m; altura, 1,695 m; distância entre-eixos, 2,829 m; altura em relação ao solo, 206 mm, peso, 1.346 quilos
»CAPACIDADES
Tanque de combustível: 50 litros; caçamba: 683 litros; carga útil (passageiros e bagagem), 650 quilos
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Fotos | Marlos Ney Vidal/Autos Segredos