Especial para o Autos Segredos
A Oroch chegou ao mercado com um público-alvo muito bem definido: aquele que deseja uma picape com espaço para levar toda a família, mas não tem condições de ir muito além da barreira dos R$ 70 mil. Até a chegada dela, esse tipo de comprador tinha basicamente duas opções: uma caminhonete compacta nova, com banco traseiro limitado (esse mal acomete tanto a Fiat Strada quanto a Volkwagen Saveiro, as únicas compactas que têm essa opção de carroceria) ou uma de maior porte, mas de segunda mão, o que implica em custos de operação maiores, tanto àqueles que vêm junto com qualquer caminhonete grande (seguro e peças mais caras) quanto à maior necessidade de manutenção, normalmente vinculada a veículos com maior quilometragem. Agora, a Renault tem um produto com porte entre os dois segmentos citados, mas com preço mais perto do primeiro, para conquistar esses consumidores.
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As semelhanças entre a Oroch e o Duster não acontecem por acaso.Os dois compartilham não só a plataforma e a estrutura do tipo monobloco, mas também muitas peças de estamparia: só a partir das portas traseiras é que surgem diferenças entre eles. Uma dessas diferenças é o tamanho, pois a picape é maior em todos os sentidos. A distância entre eixos cresceu 16 cm, chegando a 2,83 m, ao passo que o comprimento aumentou 36 cm, chegando a 4,693 m. Por dentro, os pontos em comum dos dois utilitários da Renault são ainda mais evidentes. Painel e forrações são exatamente os mesmos, e, portanto, o padrão de acabamento não muda entre ambos, com predominância de plásticos duros. A montagem, todavia, é boa, com encaixes bem-arrematados e sem rebarbas, e a adoção de apliques cromados e em preto brilhante ajudam a quebrar a monotonia visual. Pena que há parafusos aparentes nas maçanetas internas e no console central, denotando simplicidade.
Como as mudanças surgem, basicamente, em decorrência da criação da caçamba, não é de se espantar que os dois modelos guardem tantas semelhanças. A posição de dirigir da Oroch, por exemplo, é idêntica à do Duster, com as mesmas qualidades, como os bancos que apoiam bem o corpo (o do condutor tem regulagem de altura), o volante de boa empunhadura e os instrumentos de fácil visualização (com luzes indicadoras de troca de marcha), e também os mesmos defeitos, entre os quais a coluna de direção ajustável apenas em altura (e não em profundidade), a inexistência de termômetro do fluido de arrefecimento no painel e algumas falhas de ergonomia (comando dos retrovisores elétricos de difícil acesso, abaixo da alavanca do freio de mão, teclas dos vidros elétricos parcialmente obstruídos pelos puxadores das portas e botão Eco distante das mãos, à frente da alavanca de câmbio). Para a frente e para os lados, a visibilidade da picape é tão boa quanto a do SUV. Para trás, todavia, houve redução significativa do campo visual do motorista. Felizmente, há retrovisores bem-dimensionados e sensores de ré; porém, diante desse inconveniente e do comprimento avantajado, bem que a Renault poderia oferecer também uma câmera de ré. No mais, os faróis biparabólicos iluminam bem, e os limpadores varrem boa área.
Nada mais natural que dois veículos que compartilham tantos componentes tenham em comum também a parte mecânica. A Oroch avaliada pelo Autos Segredos estava equipada com o motor menos potente da linha, o 1.6 16V de origem Renault herdado do Duster. Já bem conhecido pelo mercado, ele tem bloco confeccionado em ferro fundido, cabeçote em alumínio e duplo comando de válvulas no cabeçote, sem qualquer tecnologia de variação, movimentado por correia dentada. No primeiro semestre deste ano, porém, esse propulsor passou por uma remapeamento, para aplainar a curva de torque, cujos valores máximos são de 15,9 kgfm com etanol e de 15,1 kgfm com gasolina, sempre a 3.750 rpm. Pena que a atualização não envolveu o sistema de partida a frio, que mantém o incômodo tanquinho auxiliar. Já a potência máxima é de 115 cv com o primeiro combustível e de 110 cv com o segundo, a 5.750 rpm. Assim como no SUV, esse propulsor é associado unicamente a um câmbio manual de cinco marchas.
A dirigibilidade inclui ainda boa estabilidade, que permite manter o embalo em trechos sinuosos, sem ter de reduzir demais antes de curvas. É claro que a altura elevada da carroceria faz com que o equilíbrio não seja tão bom quanto o de um hatch ou de um sedã, mas o resultado pode ser considerado acima da média dentro da proposta. Aliás, todo o acerto da suspensão se mostrou bem-resolvido, pois, além de estável, o veículo também é relativamente confortável em pisos desnivelados. Como ocorre em toda picape, a maior carga nas molas e nos amortecedores posicionados sob a caçamba torna o eixo traseiro menos capaz de filtrar as imperfeições do solo que o dianteiro, porém, ainda assim, a absorção dos impactos do piso é muito boa para um veículo de carga. Essa característica, aliada à altura livre em relação ao solo de 20,6 cm e aos bons ângulos de ataque e de saída, de 26° e de 19,9°, respectivamente, faz com que a Oroch encare estradas de terra e vias malconservadas com muita desenvoltura (desde que não haja trechos radicais, pois, ao menos por enquanto, toda a linha tem tração dianteira). Mérito do conjunto suspensivo traseiro, que é independente do tipo multibraço, com molas helicoidais (o dianteiro segue a tradicional arquitetura McPherson). Em tese, um sistema com feixes de molas é mais apropriado para suportar peso, sob a condição de prejudicar o comportamento dinâmico, mas há no mercado exemplos de utilitários bem-sucedidos comercialmente que não adotaram essa solução. Todavia, só o tempo dirá se a caminhonete da Renault irá figurar entre eles ou não.
Em consumo de combustível, a Oroch obteve marcas condizentes com seu porte e sua mecânica. Abastecida com gasolina, ela cravou 9,1 km/l em circuito urbano e 12 km/l em trechos rodoviários. As aferições foram realizadas sem a ativação do botão Eco; caso tovesse sido acionado, ele limitaria a potência e o torque do motor e reduziria a capacidade do ar-condicionado. Vale lembrar que vários fatores influenciam a eficiência energética dos veículos, como as condições do tráfego, as características das vias e a tocada do condutor.
A versão Dynamique 1.6 16V, avaliada, tem preço sugerido em R$ 66.790. O pacote de itens de série é bem completo: inclui ar-condicionado manual, vidros elétricos nas quatro portas com função um-toque e sistema antiesmagamento, travas elétricas com acionamento a distância e ativação automática quando o veículo atinge 6 km/h, retrovisores elétricos, computador de bordo, controlador de velocidade, alarme, faróis de neblina, rodas de liga leve aro 16″ e sistema multimídia com tela de sete polegadas sensível ao toque, entrada USB e conexão bluetooth, além de freios ABS e airbags frontais, que são obrigatórios por lei. O único item opcional é o revestimento em couro dos bancos, que acrescenta R$ 1.700.
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A avaliação não deixa dúvida: a Renault tem um bom produto para brigar no segmento de picapes. Além de ser única capaz de combinar o espaço interno dos modelos grandes com a capacidade de carga e o preço dos compactos, ela traz vantagens como a boa dirigibilidade e oferta consistente de equipamentos. O único ponto a se considerar é a motorização: o 1.6 16V até dá conta do recado, mas o mais forte 2.0 16V, acoplado a um câmbio manual de seis marchas, acrescenta apenas R$ 4.000 ao valor final da versão Dynamique. O Autos Segredos ainda não teve a oportunidade de experimentar a Oroch 2.0 – algo que deverá ocorrer em breve – mas, a julgar pelo comportamento do Duster, que é bem parecido, ela deve ser muito mais divertida de guiar.
AVALIAÇÃO | Alexandre | Marlos |
Desempenho (acelerações e retomadas) | 7 | 7 |
Consumo (cidade e estrada) | 7 | 6 |
Estabilidade | 7 | 7 |
Freios | 7 | 8 |
Posição de dirigir/ergonomia | 7 | 8 |
Espaço interno | 9 | 9 |
Caçamba (espaço) | 6 | 6 |
Acabamento | 7 | 8 |
Itens de segurança (de série e opcionais) | 7 | 7 |
Itens de conveniência (de série e opcionais) | 8 | 8 |
Conjunto mecânico (acerto de motor, câmbio, suspensão e direção) | 8 | 7 |
Relação custo/benefício | 7 | 7 |
FICHA TÉCNICA
»MOTOR
Dianteiro, transversal, quatro cilindros em linha, com diâmetro de 79,5 mm e curso de 80,5 mm, 16 válvulas, gasolina/etanol, 1.598 cm³ de cilindrada, 110 cv (g)/115 cv (e) de potência máxima a 5.750, 15,1 kgfm (g)/ 15,9 mkgf (e) de torque máximo a 3.750 rpm
»TRANSMISSÃO
Tração dianteira e câmbio manual de cinco marchas
»ACELERAÇÃO ATÉ 100 km/h (dado de fábrica)
14,3 segundos com gasolina e 13,2 segundos com etanol
»VELOCIDADE MÁXIMA (dado de fábrica)
160 km/h com gasolina e 164 km/h com etanol
»DIREÇÃO
Pinhão e cremalheira, com assistência hidráulica variável
»FREIOS
Discos na dianteira e tambores na traseira, com ABS
»SUSPENSÃO
Dianteira: independente do tipo McPherson; traseira: independente do tipo multilink
»RODAS E PNEUS
Rodas em liga leve aro 16, pneus 215/65 R16
»DIMENSÕES
Comprimento, 4,693 m; largura, 1,821 m; altura, 1,695 m; distância entre-eixos, 2,829 m; altura em relação ao solo, 206 mm, peso, 1.292 quilos
»CAPACIDADES
Tanque de combustível: 50 litros; caçamba: 683 litros; carga útil (passageiros e bagagem), 650 quilos