Com o novo propulsor 1.6 16V, hatch aventureiro ficou mais rápido e econômico; evolução mecânica, apesar de muito consistente, ainda não justifica preço do modelo
Alexandre Soares
Especial para o Autos Segredos
Não é novidade que havia passado da hora de o motor 1.6 da Volkswagen passar por um up-grade tecnológico. Nós, aqui do Autos Segredos, inclusive, sempre citávamos a defasagem do propulsor em questão, até então com oito válvulas, frente à concorrência, sempre que avaliávamos algum carro equipado com ele. Demorou, mas a marca alemã finalmente se mexeu, adotando um novo trem de força, dotado de 16 válvulas e outras melhorias (vamos enumerá-las logo à frente). Porém, talvez com receio da rejeição de parte dos consumidores, que ainda mantêm grande preconceito com cabeçotes multiválvulas, a atualização é oferecida, por enquanto, apenas na Saveiro Cross e no Gol Rallye, mas em breve chegará também à linha Fox, junto com a reestilização aguardada para os próximos meses. Experimentamos o hatch aventureiro equipado com o novo conjunto. Entretanto, como o Gol Rallye não passou por outras mudanças, e nós já havíamos avaliado o modelo há menos de um ano, ainda com o antigo propulsor, trazemos agora um texto mais sucinto, focado no conjunto mecânico. Mais detalhes sobre a versão podem ser vistos em nosso primeiro teste (veja aqui).
Engana-se quem pensa que a Volkswagen trocou apenas o cabeçote e manteve o bloco sem alterações. Na verdade, estamos tratando de um motor bastante diferente do antigo 1.6 de oito válvulas, conhecido pelo código de EA-111. O novo, que adota o codinome de EA-211, manteve o diâmetro e o curso dos pistões, e consequentemente, a cilindrada, de 1.598 cm³, mas é integralmente feito de alumínio; no anterior, o bloco era de ferro fundido. Bielas e virabrequins ficaram mais leves e passaram a trabalhar com menos atrito, o que colabora tanto para a redução de consumo quanto para a suavidade de funcionamento. O coletor de admissão é confeccionado em material plástico, enquanto o de escape foi integrado ao cabeçote. A ignição passou a ser feita com uma bobina para cada cilindro. As 16 válvulas são acionadas por duplo comando, sendo o de admissão variável (o de escape é fixo), movimentados por correia dentada, com troca prevista a cada 120 mil km, valor que já não impressiona nos dias de hoje, dada a existência de correntes e de correias imersas em óleo, que duram o dobro dessa quilometragem. Por fim, o sistema flex dispensa o tanquinho de partida a frio, o que não chega a ser exatamente uma novidade (lembra-se do Polo E-Flex?), mas que é bem vindo. Trata-se de um motor que, se não chega a ser exatamente de última geração (faltam-lhe, por exemplo, injeção direta e sobrealimentação), consegue se destacar positivamente no segmento, ficando à frente, em termos tecnológicos, de vários concorrentes.
ANDOU MAIS E BEBEU MENOS O 1.6 16V da Volkswagen entrega 110 cv de potência com gasolina e 120 cv com etanol, a 5.750 rpm, enquanto o torque é de 15,8 kgfm com o derivado do petróleo e de 16,8 kgfm com o combustível vegetal, a 4.000 rpm. Os números não chegam a impressionar, mas o fato é que o novo motor deu uma injeção de ânimo ao Gol Rallye. Em altas rotações, nas quais o modelo anterior apresentava nítida queda de rendimento, o atual mostra-se muito animado, fazendo com que as acelerações sejam bastante lineares. Esse ganho, contudo, era mais do que esperado; o que impressiona mesmo é a disposição do hatch em baixas rotações. Alguns propulsores multiválvulas mostram certa anemia nesses regimes, mas não é o caso do EA-211. Segundo a Volkswagen, 85% do valor máxio está disponível já a 2.000 rpm. Nós, do Autos Segredos, que já dirigimos vários modelos equipados com o EA-111 (entre os quais Gol, Voyage, Fox e SpaceCross), não notamos qualquer perda com a adoção da nova mecânica. Os outros componentes, que foram mantidos, continuam agradando: o câmbio manual de cinco velocidades (MQ200) continua se destacando por oferecer engates curtos, macios e precisos. O escalonamento é correto, sem buracos entre as marchas, e a 120 km/h, o tacômetro marca 3.300 rpm. A direção, hidráulica, tem progressividade adequada, m as não consegue ser leve como os sistemas elétricos em manobras. Os freios também mostraram-se bem-dimensionados, imobilizando o veículo com segurança.
Além da melhora em desempenho, o 1.6 16V também mostrou bons resultados em consumo. Com gasolina, ele fez com que o Gol Rallye obtivesse médias de 11,1 km/l na cidade. Na estrada, os números não impressionaram tanto, mas ainda assim foram satisfatórios, em torno de 14,2 km/l. Sempre lembramos que o gasto de combustível é diretamente influenciado por uma série de fatores, como as características das vias, o relevo, as condições do trânsito e o estilo de direção do motorista.
A suspensão, elevada em 28 mm, tem acerto mais juntinho, como é comum nos modelos da marca alemã, provilegiando a estabilidade às custas da transmissão de parte das irregularidades do piso para o habitáculo. Essa solução faz com que o Rallye tenha boa estabilidade, mas o comportamento das demais versões do Gol, com menor altura em relação ao solo, é ainda melhor nesse sentido. Por outro lado, graças à altura extra, o hatch vai bem em estradas de terra. Rodamos por algumas dezenas de quilômetros em estradas rurais e não notamos esbarrões contra o solo. Se a ideia, contudo, for encarar vias sem pavimentação com frequência a bordo do modelo, é melhor adotar outro conjunto de pneus. Os que vêm de série são voltados para asfalto e derraparam bastante em uma subida de terra, vencida só na terceira tentativa. O conjunto original, por outro lado, é o mais indicado para quem pretende enfrentar apenas valetas, desníveis e outros obstáculos urbanos com o hatch aventureiro.
NO MAIS, NADA MAIS Por dentro (assim como por fora), o Gol Rallye é o mesmo de sempre. O acabamento apresenta boa montagem, mas utiliza quase que exclusivamente materiais rígidos. Até que não faz feio nas versões básicas, mas no top de linha, mostra-se simplório demais. A diferenciação em relação às demais configurações fica por conta apenas do teto com revestimento na cor preta, do painel bicolor e dos bancos bordados com o nome da versão. Em termos ergonômicos, aliás, esses últimos são os mesmos do restante da linha, com apoios deficientes para as pernas e a região lombar da coluna. No mais, porém, a posição de dirigir é correta, com bom alinhamento em relação a pedais, câmbio e volante. O banco do motorista é ajustável em altura, assim como a coluna de direção, que ainda acrescenta a regulagem em profundidade. O espaço interno é razoável: o hatch não é folgado, mas com quatro adultos de estatura média a bordo, tampouco haverá aperto. O porta-malas tem 285 litros de capacidade, valor razoável para o segmento.
O Gol Rallye vem de série com vidros, travas e espelhos retrovisores elétricos, direção hidráulica, ar-condicionado, alarme, retrovisor externo direito com efeito tilt-down e abertura elétrica do porta-malas, aparelho de som com bluetooth, CD player, MP3 player e entrada USB, associado ao volante multifuncional, e rodas de liga leve aro 16”. Opcionalmente, é possível adquirir o revestimento em couro sintético dos bancos e um pacote que inclui faróis com timer para desligamento, sensores de chuva, retrovisor interno eletrocrômico e controlador de velocidade.
FICHA TÉCNICA
MOTOR
Dianteiro, transversal, quatro cilindros em linha, 16 válvulas, gasolina/etanol, 1.598cm³ cm³ de cilindrada, 110cv (g)/120cv (e) de potência máxima a 5.750, 15,84 kgfm (g)/ 16,8 mkgf (e) de torque máximo a 4.000 rpm
TRANSMISSÃO
Tração dianteira, câmbio manual de cinco marchas
ACELERAÇÃO ATÉ 100 km/h (dado de fábrica)
9,9 segundos com gasolina e 9,5 segundos com etanol
VELOCIDADE MÁXIMA (dado de fábrica)
184 km/h com gasolina e 190 km/h com etanol
DIREÇÃO
Pinhão e cremalheira, com assistência hidráulica
FREIOS
Discos ventilados na dianteira e tambores na traseira, com ABS
SUSPENSÃO
Dianteira, independente, McPherson; traseira, semi-independente, eixo de torção
RODAS E PNEUS
Rodas em liga de alumínio, 6 x 16 polegadas, pneus 195/50 R16 (opcionais)
DIMENSÕES (metros)
Comprimento, 3,924; largura, 1,898; altura, 1,491; distância entre-eixos, 2,467
CAPACIDADES
Tanque de combustível: 55 litros; porta malas: 285 litros; carga útil (passageiros e bagagem): 432 quilos; peso: 1.043 quilos
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Fotos | Marlos Ney Vidal/Autos Segredos