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| em 7 anos ago

Ao Volante: Nissan Kicks tem bons atributos para enfrentar os rivais

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Alexandre Soares

O Kicks preencheu, de uma só vez, duas lacunas na gama da Nissan. Uma delas era entre os modelos de entrada  (March e Versa) e o médio Sentra, mas a empresa precisava também um SUV. Com o lançamento, a marca não só ocupou o degrau que estava vazio, mas também passou a ter um utilitário, ainda por cima um do segmento compacto, que, atualmente, é a bola da vez do mercado. Seguindo a receita que vem sendo adotada por praticamente todos os fabricantes, une-se plataforma e conjunto mecânico de veículos acessíveis a equipamentos e um padrão de construção um pouco superiores, com um preço também maior. No caso do Kicks, a versão top de linha SL, que até pouquíssimo tempo era a única oferecida, custa R$ 89.990; é justamente ela a avaliada pelo Autos Segredos. Durante o Salão do Automóvel de São Paulo, foi lançada a SV, por R$ 84.990, que ainda não tivemos a oportunidade de experimentar.

Apesar de ainda ser novidade, o Kicks tem um conjunto mecânico bem conhecido. O motor  1.6 16V, designado internamente pela Nissan como HR16DE, é o mesmo que equipa os irmãos March e Versa. Porém, graças à calibragem exclusiva, ele desenvolve um pouco mais de potência e de torque: tanto com gasolina quanto com etanol, são 114 cv a 5.600 rpm e 15,5 kgfm a 4.000 rpm (segundo o fabricante, 90% desse valor está disponível já a 2.400 rpm). Sua concepção, com bloco e cabeçote confeccionados em alumínio, comando de válvulas de admissão com variador de fase, sincronização por corrente metálica e sistema de partida a frio por meio de aquecimento dos bicos injetores (que dispensa o tanquinho de gasolina) ainda é bem atual. Acoplado a ele, há unicamente um câmbio automático continuamente variável (CVT), que também equipa o hatch e o sedã de entrada da marca. As demais soluções arquitetônicas, como direção eletricamente assistida e suspensão independente do tipo McPherson na dianteira e semi-independente por eixo de torção na traseira são igualmente comuns aos “irmãos” de plataforma.

Vai bem na cidade, mas nem tanto na estrada

Confesso que eu estava pessimista quanto ao desempenho d o Kicks antes de dirigi-lo. Afinal,  ele é 14% mais pesado que um March com o mesmo conjunto mecânico. Minha  desconfiança, contudo, se desfez logo nas primeiras voltas com  modelo. No trânsito urbano, ele é bem ágil, inclusive em uma cidade de relevo acidentado como Belo Horizonte. Isso porque, mesmo com o ganho de massa corporal em relação ao hatch, ele ainda é, disparado, o SUV compacto mais leve da categoria, com moderados 1.142 kg. Na prática, nem é preciso colocar a alavanca na posição Low, que faz a transmissão operar com relações mais curtas.  Além do mais, a programação eletrônica eficiente faz com que as variações se alternem entre seis relações definidas, atenuando a sensação de monotonia que costuma ser inerente a esse tipo de câmbio.

Na estrada, minha previsão sobre a performance do utilitário se confirmou: é preciso usar bastante o pé direito, principalmente em subidas, o que resulta em maior nível de ruído proveniente do propulsor. Para obter melhor performance,  é possível pressionar a tecla Sport, para eliminar o overdrive, diminuindo a relação final. Isso, porém, eleva ainda mais os giros, e, consequentemente, o barulho a bordo. Por outro lado, sem esse recurso acionado, com o pé leve no acelerador, é possível andar a 120 km/h com o motor girando a apenas 2.800 rpm.

No mais, em termos dinâmicos, o Kicks agrada. A suspensão tem um acerto um pouco mais firme que o do March e do Versa, para conter a rolagem da carroceria de altura elevada em curvas. Funciona: a estabilidade do utilitário é boa, e só ocorre subesterço se a tocada estiver sendo bastante entusiasmada. A vantagem é que não há dureza excessiva, de modo que, em pisos irregulares, o rodar não é desconfortável. Já a direção, como já foi observado em avaliações com outros modelos da Nissan, poderia ser mais progressiva, pois em alta velocidade o volante fica mais leve que o desejável, sensação que é acentuada pelas relações bastante diretas do sistema. Já os freios, mesmo com e tambores na traseira (há discos ventilados só na dianteira), estancam o veículo em distâncias adequadas, o que pode ser creditado, mais uma vez, ao peso contido para um SUV.

Limitações

Também experimentei o utilitário em alguns percursos de terra batida (afinal, mesmo com proposta urbana, um veículo com altura elevada deve se comportar minimamente bem nesse tipo de situação). Nas vias rurais, o Kicks voltou a mostrar que sua vocação é realmente urbana: a suspensão tem curso curto para rodar fora do asfalto, e “dá batente” com facilidade, enquanto os pneus on-road fazem o carro derrapar em subidas e arrancadas. Mas o generoso vão em relação ao solo, de 20 cm, fez com que não houvesse esbarrão algum contra valetas e outros pequenos obstáculos.

Em consumo de combustível, a união entre motor de baixa cilindrada, carroceria leve e câmbio CVT mostrou resultado. Abastecido com etanol, o Kicks rodou, em média, 8,3 km/l na cidade e 10,4 km/l na estrada durante nossas aferições. A ressalva nesse quesito vai para a autonomia, prejudicada pelo tanque bastante pequeno, de apenas 41 litros (a mesma capacidade do irmão March). Assim, o alcance do veículo em uma viagem, quando abastecido com o derivado da cana, fica limitado a 426 km.

No meio-termo

A posição intermediária que o Kicks passou a ocupar dentro da linha Nissan fica evidente no habitáculo. A ambientação traz alguns elementos que remetem ao Sentra, como os bancos encorpados e construídos com excelentes espumas, que apoiam muito bem as pernas e a coluna, sendo o do motorista regulável em atura, e o volante com desenho algo esportivo e de boa pegada, ajustável em altura e em profundidade. A ergonomia é muito boa, com todos os comandos acessíveis e posição correta para dirigir (mais verticalizada, como é de praxe na categoria); faz falta apenas um apoio de braço no console central. A visibilidade é boa, menos para trás, em função das colunas C muito largas e do vidro vigia pequeno demais. Mas a configuração SL conta com câmeras laterais e de ré, que dão uma visão de 360° ao redor do veículo.

Os materiais de revestimento, entretanto, estão mais para o March e o Versa, com plásticos rígidos, embora sem falhas de montagem. O toque de sofisticação fica por conta de uma faixa estofada que atravessa o painel, exclusiva da versão SL (na unidade SV exibida no Salão do Automóvel de São Paulo, essa peça era dura). Um deslize que salta aos olhos é a falta de iluminação no porta-luvas. A unidade avaliada tinhas as peças da carroceria muito bem-alinhadas, mas apresentou infiltração de água em um dos faróis de neblina (esperamos que seja um caso pontual). Ou seja, a Nissan ainda tem pontos a melhorar. Já o cluster configurável, uma das novidades do Kicks, é um dos recursos mais interessantes a bordo: com exceção do velocímetro, que é analógico, todos os instrumentos são mostrados em uma tela de LCD de sete polegadas e alta resolução. Ela tem 12 modos de visualização, que mostram informações como estação do rádio, conta-giros, temperatura do motor, dados de consumo, etc. A central multimídia, por sua vez, é simples de operar e relativamente completa, com tela touch colorida de 7 polegadas, rádio, CD e MP3 Player, entrada auxiliar para iPod, USB, Bluetooth e navegador GPS, mas não há conexão Wi-Fi à internet pela plataforma Android, como em outros modelos da marca.

Foto | Marlos Ney Vidal/Auto Segredos

O espaço interno é bom para a categoria, equiparável ao do Honda HR-V e pouco superior ao do Jeep Renegade. Quatro ocupantes altos conseguem se acomodar confortavelmente, com alguma folga para cabeça e joelhos. A situação só fica mais complicada com lotação máxima, pois o habitáculo não tem largura suficiente para que três adultos se sentem no banco traseiro sem acotovelarem-se. Mas todos têm cintos de segurança de três pontos e encostos de cabeça à disposição. O porta-malas também está entre os mais amplos da classe, com 432 litros, e sua modularidade é garantida pelo banco traseiro bipartido. Um detalhe que denota capricho do fabricante é o estepe com roda de liga leve, posicionado abaixo do assoalho do compartimento, embora esse recurso, infelizmente, tenda a despertar maior cobiça de arrombadores.

Muitos equipamentos de segurança

O Kicks SL vem de série com chave presencial e botão de partida, bancos e volante multifuncional revestidos em couro, ar-condicionado digital (mas com apenas uma zona de temperatura), vidros travas e retrovisores elétricos, faróis de neblina, alarme, acendimento automático dos faróis (eles têm assinatura em LED, que não cumpre o papel de luz diurna), sensor de estacionamento, assistente de partida em rampa, sensores de ré e rodas de liga leve de 17 polegadas. Há ainda os itens já citados ao longo da reportagem, como o cluster com tela configurável, que cumpre o papel de computador de bordo, a central multimídia e as câmeras com visão de 360°. Porém, faltam alguns itens disponíveis em carros mais simples, como controlador de velocidade, teto solar, retrovisor eletrocrômico e paddle-shifts no volante para permitir que o motorista troque as “marchas virtuais” do câmbio CVT.

O pacote de segurança, por outro lado, é campeão, com seis airbags (frontais, laterais e do tipo cortina), ganchos Isofix para fixação de cadeirinhas, controles eletrônicos de estabilidade e tração, controle dinâmico do chassi, que engloba o controle dinâmico em curvas (que regula a rolagem sobre os eixos), o estabilizador ativo de carroceria (que contém os movimentos do monobloco em vias onduladas) e o controle dinâmico de freio motor (que reduz a velocidade em descidas quando o motorista tira o pé do acelerador). O plano de manutenção prevê revisões a cada 10.000 km, com preços alternados de R$ 419 e R$ 579 até os 60.000 km. Os únicos opcionais são as opções de pintura: tonalidades metálicas acrescentam R$ 1.350 ao preço de R$ 89.990, enquanto a combinação bicolor, com teto em tom diferente do restante do veículo, adiciona R$ 3.850.

Opção a ser considerada

O convívio com o Kicks mostrou que a Nissan entrou no segmento dos SUVs compactos com um produto de peso. Em espaço e equipamentos, ele está entre os melhores da classe. Há alguns deslizes, mas o maior problema é a oferta única do motor 1.6, que apesar de ter se mostrado econômico, limitou do desempenho do veículo na estrada. Seria interessante se ao menos a versão top de linha dispusesse do 2.0 da marca, pois, embora muitos compradores circulem apenas em vias urbanas – e, nesse caso, o modelo se mostra uma opção bem interessante -, há também os que apreciam um veículo familiar com características mais estradeiras. Além disso, se a ideia é ter um veículo entre as linhas March/Versa e Sentra, seria mais que justificável as configurações que se aproximam do sedã médio em preço se equipararem a ele também em performance.

AVALIAÇÃO Alexandre Marlos
Desempenho (acelerações e retomadas) 7 7
Consumo (cidade e estrada) 9 8
Estabilidade 8 8
Freios 7 8
Posição de dirigir/ergonomia 8 9
Espaço interno 8 8
Porta-malas (espaço, acessibilidade e versatilidade) 9 9
Acabamento 7 8
Itens de segurança (de série e opcionais) 9 9
Itens de conveniência (de série e opcionais) 8 9
Conjunto mecânico (acerto de motor, câmbio, suspensão e direção) 8 8
Relação custo/benefício 8 9
FICHA TÉCNICA

MOTOR
Dianteiro, transversal, 1.598cm³ de cilindrada,quatro cilindros em linha, com 78 mm de diâmetro e 83,6 mm de curso, 16 válvulas, gasolina/etanol,  114 cv de potência máxima a 5.600  rpm, 15,5 kgfm de torque máximo a 4.000  rpm

TRANSMISSÃO
Tração dianteira, câmbio automático do tipo CVT

ACELERAÇÃO  ATÉ 100 km/h 
12 segundos (dado de fábrica)

VELOCIDADE MÁXIMA 
175 km/h (dado de fábrica)

DIREÇÃO
Pinhão e cremalheira, com assistência elétrica

FREIOS
Discos ventilados na dianteira, tambores na traseira, com ABS e EBD

SUSPENSÃO
Dianteira, independente, McPherson, com barra estabilizadora; traseira, semi-independente, eixo de torção, com barra estabilizadora

RODAS E PNEUS
Rodas em liga leve de 17 polegadas, pneus 205/55 R17

DIMENSÕES (metros)
Comprimento, 4,295; largura, 1,760; altura, 1,590; distância entre-eixos, 2,610

CAPACIDADES

Tanque de combustível: 41 litros; porta malas: 432 litros; carga útil (passageiros e bagagem): 427 quilos; peso: 1.142 quilos; altura em relação ao solo, 20 cm

Fotos | Marlos Ney Vidal/Autos Segredos

Redação

Redator do Autos Segredos.