Assim como a maioria dos carros chineses, o SUV traz ampla lista de itens de série já na versão Talent, de entrada; construção e dirigibilidade, contudo, precisam evoluir
Nilo Soares
Especial para o Autos Segredos
Entrei na concessionária da Lifan em Belo Horizonte e expliquei ao atendente que eu era jornalista estava ali para buscar um X60 de frota de imprensa (a unidade que aparece nas fotos) para teste do Autos Segredos. O rapaz me encaminha a um consultor, que me convida a sentar enquanto acaba de conversar com um cliente ao telefone. Durante os minutos de espera, não resisti em ouvir a conversa dele: “Olha, a gente não vende mais com o 320 (aquele subcompacto que imita o Mini Cooper). Nosso único produto agora é o X60”. Segue um silêncio de alguns minutos, enquanto o consultor ouvia a pessoa que estava do outro lado da linha, até que ele volta a falar. “Então, esses problemas de falta de peças ficaram para trás. É que antes nossa marca era representada pelo Grupo Effa, e agora a Lifan assumiu diretamente as operações no Brasil. É uma nova fase, sem as falhas do passado”. Quando saí da revenda, ao volante do carro de teste, fiquei pensando que, por um lado, a Lifan realmente deu um passo importante para se firmar no Brasil ao tomar as rédeas dos negócios por aqui. Por outro lado, a empresa ainda engatinha por aqui e há muito o que provar ao consumidor. A concessionária em que retirei o carro, por exemplo, é a única da marca em Minas Gerais.
MELHOR NA TEORIA QUE NA PRÁTICA A ficha técnica até revela detalhes interessantes, como o motor com comandos de válvulas variáveis e suspensão independente nas quatro rodas, mas o comportamento dinâmico do X60 ficou aquém do esperado. Em baixa rotação, o modelo demonstra pouco fôlego, o que implica em arrancadas e retomadas ruins. Muitos podem responsabilizar o cabeçote multiválvulas por essa característica, mas há pelo menos outros dois culpados: o elevado peso de 1.330 kg do X60 e o câmbio mal-escalonado, com buracos entre algumas marchas, como da segunda para a terceira. A 120 km/h, o conta-giros registra cerca de 3.500 rpm. Para extrair bom desempenho, é preciso reduzir as marchas e fazer o propulsor trabalhar em rotações mais elevadas. O problema é que os engates não estimulam muito a utilização da caixa de cinco velocidades, pois são imprecisos e barulhentos, enquanto o pedal da embreagem é pesado. Outro ponto criticável é que o propulsor tem funcionamento um tanto áspero e seu ronco invade sem cerimônia o habitáculo. É possível ouvir até a aspiração do ar! Diante de todo o desconforto, talvez seja menos cansativo andar sem pressa que tentar extrair desempenho máximo do 1.8 16V… A direção também induz a uma tocada tranquila, pois é bastante indireta torna-se leve demais em alta velocidade. Ao menos o SUV se redime parcialmente no quesito estabilidade: para um veículo de carroceria elevada, ele se sai bem nas curvas, sem inclinar demais a carroceria ou subesterçar exageradamente. Mas esse comportamento é conseguido à base de um acerto rígido da suspensão, de modo que as irregularidades do piso são bastante sentidas pelos ocupantes.
GENEROSIDADE CHINESA É mais que conhecida a estratégia das marcas chinesas de oferecer muitos equipamentos de série. O X60 não foge à regra: traz, de série, travas e retrovisores elétricos, faróis com acendimento automático, bancos revestidos em couro, sensores de estacionamento, volante multifuncional e ar-condicionado. Os vidros também são elétricos, nas quatro portas, com sistema um-toque, mas a unidade avaliada apresentou um problema, provavelmente devido a um curto-circuito: iluminados, os interruptores de todas as portas ficavam piscando. O veículo, aliás, apresentou também uma falha no marcador de combustível, que se movia apenas entre as marcações de ¾ e ¼, mesmo quando o tanque totalmente cheio ou praticamente vazio. Equipamento que funcionou a contento e acabou se mostrando o mais interessante do SUV foi a central multimídia, com grande variedade de funções, entre as quais navegador GPS, Bluetooth, CD/Player e DVD Player. O sistema mostra não só o consumo, mas também a quantidade de monóxido de carbono expelida na atmosfera e calcula o custo do quilômetro rodado, exigindo apenas que o motorista lance o valor cobrado pela gasolina. Há até joguinhos na interface! A única ressalva fica para a câmera de ré, pois há um delay de vários segundos do momento em que a marcha é engatada até a visualização das imagens na tela. Por mais de uma vez, eu já estava quase concluindo a manobra, usando os infalíveis retrovisores e o vidro traseiro, quando o equipamento, enfim, mostrou a área atrás do veículo.
Quanto ao consumo, o modelo se saiu pior que o esperado, com médias de 7,8 km/l na cidade e 10,2 km/l na estrada. As marcas foram obtidas com e ar-condicionado ligado durante a maior parte do tempo e com gasolina no tanque, até porque esse é o único combustível que o X60 bebe (não há sistema flex). Vale sempre lembrar que vários fatores influenciam diretamente no gasto de combustível de um automóvel, como relevo, estilo de condução do motorista e condições das vias, entre outros.
AVALIAÇÃO | Nilo | Marlos |
Desempenho (acelerações e retomadas) | 7 | 6 |
Consumo (cidade e estrada) | 5 | 5 |
Estabilidade | 6 | 5 |
Freios | 7 | 6 |
Posição de dirigir/ergonomia | 6 | 6 |
Espaço interno | 9 | 8 |
Porta-malas (espaço, acessibilidade e versatilidade) | 8 | 8 |
Acabamento | 7 | 6 |
Itens de segurança (de série e opcionais) | 7 | 7 |
Itens de conveniência (de série e opcionais) | 8 | 6 |
Conjunto mecânico (acerto de motor, câmbio, suspensão e direção) | 6 | 6 |
Relação custo/benefício | 6 | 5 |
FICHA TÉCNICA
MOTOR
Dianteiro, transversal, quatro cilindros em linha, 16 válvulas, gasolina, 1.794cm³ cm³ de cilindrada, 128 cv de potência máxima a 6.000 rpm, 16,8 mkgf de torque máximo a 4.200 rpm
TRANSMISSÃO
Tração dianteira, câmbio manual de cinco marchas
ACELERAÇÃO ATÉ 100 km/h (dado de fábrica)
11,2 segundos
VELOCIDADE MÁXIMA (dado de fábrica)
170 km/h
DIREÇÃO
Pinhão e cremalheira, com assistência hidráulica
FREIOS
Discos ventilados na dianteira e discos sólidos na traseira, com ABS e EBD
SUSPENSÃO
Dianteira, independente, McPherson; traseira, independente, braço arrastado
RODAS E PNEUS
Rodas em liga de alumínio, 7 x 16 polegadas, pneus 215/65 R16
DIMENSÕES (metros)
Comprimento, 4,325; largura, 1,790; altura, 1,690; distância entre-eixos, 2,600
CAPACIDADES
Tanque de combustível: 55 litros; porta malas: 405 litros; carga útil (passageiros e bagagem): 370 quilos; peso: 1.330 quilos
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Fotos | Marlos Ney Vidal