Cobalt
Foto | Marlos Ney Vidal/Autos Segredos
Quer saber o que o Chevrolet Cobalt oferece de melhor? Então relaxe e curta a viagem

Por Renato Passos

“É um Corolla de quem não tem cem mil reais em caixa para comprar um zero-quilômetro”. Se, para alguns, tal afirmação pode soar de forma negativa, para o Chevrolet Cobalt Elite isso é uma virtude. Já oferecido no ano-modelo 2018, o Cobalt da marca americana trás como novidades apenas a luz de neblina no para-choque traseiro e o sistema de fixação Top Tether para cadeiras de uso infantil no assento de trás.

De resto, é o mesmo Cobalt avaliado pelo Autos Segredos em janeiro de 2017. A falta de novidades, entretanto, é jogada ensaiada: com virtudes bem visíveis, o sedã confia no seu taco para auxiliar na manutenção da marca da General Motors no topo no ranking de vendas do mercado doméstico.

Viagem

Procurando entender de forma mais profunda a “filosofia de vida” do sedã, não nos aprofundamos nos números frios e nos dados engessados – estes estão muito bem dispostos na avaliação do Cobalt ’17, acessível pelo link acima. Fomos, então, para uma jornada de quase 500 quilômetros de estrada pelo interior de Minas Gerais e buscamos o que o modelo tem de melhor. Eventualmente, seus pontos fracos também foram aparecendo aos poucos.

Seja feliz andando tranquilo

Nossos primeiros quilômetros a bordo transmitiram, logo de cara, aquela que seria uma sensação pertinente durante toda a avaliação: se você procura um carro para andar rápido, com dinâmica cortante e reações apimentadas, eis aqui uma opção equivocada. A palavra de ordem aqui é “suavidade”.

O câmbio automático de seis velocidades, conhecido pelo código GF6 e de série na versão topo de linha, troca as marchas com suavidade e com lógica adequada. Não tem a rapidez de trocas de uma caixa automatizada de dupla embreagem e nem sequer precisa, já que cumpre seu papel com extremo louvor.

O item só não leva nota 10 graças ao comando manual de mudanças de velocidades: os botões na alavanca passam longe da ergonomia ideal e desestimulam o uso da opção em uma subida de serra, por exemplo.

Motor

O motor de 1,8 litro e código N18XFH é de um anacronismo sensível, mas que luta contra sua concepção antiga. Uma das muitas evoluções do propulsor que, desde 2003, equipou produtos Chevrolet e Fiat, a unidade de força chegou ao seu ápice na redução de vibrações, ruído e aspereza.

Os anos fizeram bem para o veterano Família I. Sua relação r/l (ângulo entre biela e pistão, ideal que seja menor que 0,3 para mais suavidade de funcionamento) de 0,33 trazia uma vibração e ruídos desagradáveis nas primeiras versões desse motor. Entretanto, o trabalho de isolamento mecânico realizado pela engenharia da GM é digno de aplausos: o motor não é intromissivo em excesso no habitáculo, seja por meio de vibrações ou barulhos.

Torque

Se junta a isso uma artimanha inteligente pela equipe de desenvolvimento do fabricante: com um torque aprazível oferecido a baixas rotações (17,7mkgf a 2.600rpm com etanol, 16,8/2.800 com gasolina), o câmbio troca as marchas em baixos regimes: mudanças de velocidades ascendentes em altas rotações só mesmo quando o pedal do acelerador é pressionado próximo ao fim do curso.

Potência

Uma vez que potência não é o forte do Cobalt (111/106cv a 5.200rpm, com etanol e gasolina respectivamente), a tônica de sua rodagem é esta: deixe que o câmbio mantenha os giros no mais baixo regime possível, sem ter um carro de respostas lerdas, e aproveite o conforto acústico proporcionado pelo baixo regime de funcionamento.

A 110km/h e pouco curso de acelerador, o câmbio está em sexta marcha e o motor opera pouco acima das 2.000rpm. Com um silêncio superior ao encontrado no Nissan Versa Unique, que é um de seus concorrentes diretos, por exemplo. O controle de velocidade de cruzeiro, equipamento de série nesta versão, é um auxílio digno para este estilo de vida tranquilão e sem pressa.

Para ir e vir sem sobressaltos

Nas curvas, novamente o Cobalt demonstra que seu foco é o conforto dos passageiros e não devorar as curvas de forma seguida. Equipado com pneus Michelin 195/65 R15 de composto macio para um pneu “verde”, o Cobalt se segura bem nas curvas e é comunicativo através da direção elétrica de ótima assistência.

Entretanto, o limite não é dos mais altos: o aviso de que o limite da aderência é claro, mas em velocidades nada astronômicas. Se forçado para além, sua tendência de sobreesterço vem à tona, com recuperação da rota de forma segura e intuitiva. Mesmo copiando em demasia algumas imperfeições de nosso solo lunar, o Cobalt oferece conforto de rodagem a seus ocupantes como se fosse em um carro maior.

Visando o bem-estar de motorista e ocupantes, despretensioso frente ao tempo de trajeto, é mais que digna a comparação com o Toyota Corolla feita por alguns dos interlocutores ouvidos ao longo do teste. Como um bom “people mover”, a tranquilidade e o conforte se sobressaem a qualquer demanda de desempenho ou de capacidade dinâmica assombrosa.

Passageiros

Os passageiros do banco de trás contam com bom espaço para as pernas, enquanto os bancos dianteiros oferecem acomodação adequada para o corpo – seguram bem em curvas, mas o assento é curto para as coxas de motoristas e passageiros de estatura mediana e para além. Exclusivo desta versão, o revestimento marrom-escuro chama a atenção de quem vê e trás uma sensação de bem estar ao interior do veículo.

Em sua segunda geração, a central multimídia MyLink é sucesso de alcance no mercado brasileiro e mantém sua boa forma oferecendo, dentre outras opções, pareamento com Android Auto e Apple CarPlay. O interessante recurso OnStar, de auxílio remoto por comando de voz e atendimento telefônico via satélite, também é item de série na versão Elite, bem como sensor de chuva, de acendimento de faróis e monitoramento de pressão dos pneus.

Acabamento

Os acabamentos são adequados e condizentes com um carro dessa categoria, e o painel com funções digitais oferece uma benvinda regulagem de intensidade para melhor adequação visual em deslocamentos noturnos. Ainda se tratando de escuridão, os faróis biparabólicos cumprem bem sua função, com manuseio simplificado. O mesmo vale para os comandos de som e Cruise Control no volante, ar condicionado e central multimídia no console central.

Espaço, de uma forma geral, é uma virtude do Cobalt: o já indicado bom espaço para os passageiros é complementado por diversos porta-objetos e por um vasto porta-malas de 563 litros. Com rebatimento do encosto do banco traseiro na proporção de 1/3 ou 2/3, o Cobalt foi capaz de transportar um contra-baixo em uma caixa de acomodação especial sem grandes esforços.

Brilho ofuscado

De resto, é o bom e velho Cobalt. Com preço sugerido de R$ 71.490, ele vale a pena? Em um primeiro momento, não: baseado na plataforma GSV, de veículos compactos do grupo GM, e com um motor ultrapassado apesar dos esforços, é um valor alto a se pagar quando se tem em mente que é um veículo de concepção simples por mais de setenta mil reais.

Entretanto, qualquer sedã médio em sua configuração básica ultrapassa os R$ 80 mil nos dias atuais. Não obstante, o Cobalt oferece um vasto pacote de equipamentos de série, manutenção a bons preços e é bem quisto pelo mercado de usados pela robustez e por não oferecer problemas crônicos. Coincidentemente, as virtudes encontradas no…Corolla!

Concorrentes

O problema volta a aparecer quando se compara o Cobalt com dois de seus concorrentes diretos. Sabe esse papo de ser um mini-Corolla, carro tranquilo de se lidar e tudo mais? Os japoneses Nissan Versa Unique (R$ 68.840) e Toyota Etios Platinum (R$ 69.430) oferecem as mesmas virtudes nesse aspecto com melhor desempenho.

Eventualmente, a falta de um equipamento ou virtude exclusiva do sedã da fabricante norte-americada pode ser compensada com pontos positivos dos concorrentes orientais. Não obstante, o Ford Fiesta Sedan SEL 1.6 AT é um forte candidato a ocultar o brilho do Cobalt. Por R$ 72.290, é uma opção válida desde que o câmbio PowerShift demonstre ser confiável e o pós-venda da Ford se recomponha da queda sem fim da qualidade de seus serviços.

Eis o golpe de misericórdia do Cobalt: um bom carro, sem dúvidas. Mas como explicá-lo frente a concorrentes tão bons quanto e a preços mais baixos – ou frente a carros mais bem construídos pelo mesmo preço? O custo-benefício, aparentemente, é o grande Calcanhar de Aquiles do modelo avaliado. Por menos R$ 5.000 o jogo mudaria a seu favor.

Ok, dinheiro não compra tranquilidade. Mas não há tranquilidade que justifique pagar por um custo-benefício tão desvantajoso.

Ficha técnica

MOTOR

Dianteiro, transversal, a gasolina e etanol, com quatro cilindros em linha, com diâmetro de 80,5 mm e curso de 88,2 mm, 1.796 cm³ de cilindrada, 8 válvulas, potência máxima de 106cv (g)/111cv (e) a 5.200  rpm, torque máximo de 16,8 kgfm a 2.800 rpm (g)/17,7 kgfm a 2.600 rpm (e)

TRANSMISSÃO
Tração dianteira, câmbio automático de seis marchas

ACELERAÇÃO  ATÉ 100 km/h
Não informada pelo fabricante

VELOCIDADE MÁXIMA
Não informada pelo fabricante

DIREÇÃO
Pinhão e cremalheira, com assistência elétrica.

FREIOS
Discos ventilados na dianteira, tambores na traseira, com ABS e EBD

SUSPENSÃO
Dianteira, independente, McPherson; traseira, semi-independente, eixo de torção

RODAS E PNEUS
Rodas em liga de alumínio 6×15, pneus 195/65 R15

DIMENSÕES
Comprimento: 4,481; largura, 1,735; altura: 1,508; distância entre-eixos: 2,620; altura em relação ao solo: 124,9 mm; peso: 1.129 quilos.

CAPACIDADES
Tanque de combustível: 54 litros; porta malas: 563 litros; carga útil (passageiros e bagagem): 385 quilos.

Fotos | Marlos Ney Vidal/Autos Segredos

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