Relembre marcas, carros e lançamentos que frustraram nossas expectativas neste louco ano de 2021
Por Fernando Miragaya
Mais um ano atípico que contaremos para os nossos netos. Sem dúvida que a “segunda temporada” da pandemia do novo coronavírus foi bem “menos ruim” que a primeira. Tivemos vacina, o recuo nos casos e mortes da doença e, no campo automotivo, muitos lançamentos. Mesmo assim, 2021 foi marcado por fatos e carros na indústria que geraram grande frustração.
Teve marca tradicional que começou o ano se transformando em importadora (quase de luxo). SUV que gerou muita expectativa, mas que, na prática, decepciona em sua proposta. E o grande campeão de vendas que não tinha carro para vender na concessionária. Veja as sete maiores decepções de 2021.
Não tem como abrir uma lista com as sete maiores decepções de 2021 sem ser com a Ford. Na segunda semana do ano, a marca, que em 2019 comemorou o centenário de atuação no Brasil, soltou a bomba: não produziria mais nada no país. Isso mesmo, todas as atividades industriais do fabricante foram encerradas.
Isso significou que Camaçari (BA) e Taubaté (SP) fechavam as portas – além de, posteriormente, a unidade da Troller em Horizonte (CE) – com um saldo de mais de 10 mil desempregados da noite para o dia. Com isso, as linhas Ka hatch (terceiro modelo mais vendido do país), Ka sedan e EcoSport também chegaram ao fim.
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Uma das “quatro grandes” de um passado próximo, a Ford virou um rascunho da marca centenária no Brasil. Hoje é uma mera importadora e seu modelo mais barato, a Ranger XL cabine simples, custa R$ 203 mil. Até lançou o Bronco Sport e o Mustang Mach 1 em 2021, mas praticamente são produtos de nicho.
No ranking de vendas por marca com base nos emplacamentos da Fenabrave, a Ford amarga um 13º lugar no mercado de automóveis de passeio de janeiro a novembro, com 16.895 unidades e 1,21% de participação – atrás de Caoa Chery, Peugeot e Citroën. Em comerciais leves, a Ranger até dá uma salvada, mas, mesmo assim, foram pouco mais de 16 mil unidades, 4% de market share e uma sexta colocação.
Em fevereiro, a Toyota apresentou sua aguardada ofensiva para o segmento de SUVs médios. E não pensou duas vezes em usar o nome famoso do sedã para tentar emplacar seu crossover para rivalizar com o Jeep Compass. Só que o modelo decepcionou nas duas “frentes”.
Não há como negar que, no desempenho, o Corolla Cross pareça muito com o sedã, até porque os conjuntos mecânicos (a combustão e híbrido) são os mesmos, assim como a plataforma TNGA. Acontece que, para reduzir custos, o SUV veio com algumas soluções frustrantes.
Além do espaço no banco traseiro mais acanhado que no Corolla, o utilitário esportivo adotou um acabamento bastante simples e decepcionante para um modelo desta faixa de preço. Materiais que aparentam baixa qualidade são encontrados no painel e no revestimento das portas.
Ao mesmo tempo, no lugar da muito bem acertada suspensão traseira independente multibraço do sedã, o Corolla Cross foi por outro caminho. Optou por um robusto, mas previsível, eixo de torção, o que altera um pouco o comportamento dinâmico.
Tudo indicava que o Onix ia celebrar o hexacampeonato como carro mais vendido do país. Mas a General Motors esqueceu de combinar com os russos, ou melhor, com os chineses e com sua matriz. A produção do compacto em Gravataí (RS) ficou paralisada por quatro meses devido à falta de semicondutores.
Entrar em uma revenda Chevrolet em 2021 foi um misto de decepção e depressão. Com outras linhas afetadas também (como do Tracker e da Spin), o showroom das revendas se tornou um grande espaço vazio.
O Onix e o Onix Plus até foram os carros de passeio mais emplacados de novembro, mas despencaram no acumulado das vendas do ano. O hatch deve fechar 2021 apenas como o quinto veículo mais vendido do país.
Outra marca que se movimentou para tentar a sorte no segmento dominado pelo Jeep Compass foi a Volkswagen. Sua cartada é o Taos, um SUV com porte robusto e os consagrados motores TSI 1.4 de 150 cv. Só que o jipão se mostrou mais do mesmo…
Não bastasse o desenho previsível – apesar da bossa de filete de LEDs integrado à grade -, o acabamento do Taos decepciona. Os elementos retilíneos carecem de personalidade e os materiais aparentam simplicidade, com excesso de plástico rígido em diversas partes. Não fossem alguns detalhes, seria uma cópia do padrão (fraco) já adotado no T-Cross.
No desempenho, parece um Volkswagen como outro qualquer. Comportamento dinâmico firme, desempenho forte, mas tudo muito pasteurizado.
A marca francesa está entre as maiores decepções de 2021 porque por quase todo o ano continuou com só um carro de passeio disponível nas concessionárias. O C4 Cactus foi o representante solitário da Citroën durante todo o ano, e a expectativa de que o novo C3 fosse lançado no último trimestre virou frustração.
Em outubro, a montadora acabou apenas apresentando a terceira geração do hatch junto com seus planos para esta nova plataforma de compactos – uma versão simplificada da CMP que dará origem a um SUV e a um sedã. Dizem que o Grupo Stellantis adiou a estreia para valer para fevereiro/março de 2022 para fazer melhorias no projeto…
A marca francesa está devagar em sua estratégia no Brasil. Bem devagar, diga-se de passagem. Sandero e Logan perderam competitividade, versões e desidrataram nas vendas. O Duster, por sua vez, ainda não ganhou o motor 1.3 turboflex que estreou no (caro) Captur – por sinal, o SUV, ao lado do elétrico Zoe, foram as principais mudanças para valer de 2021.
Fato é que só o Kwid garante volume de vendas para a Renault no Brasil – além da Master na parte de comerciais leves. Porém, o alto comando da fabricante já avisou que as operações por aqui vão focar em valor agregado, o que não é o caso do subcompacto, o carro mais barato do país atualmente.
Ou seja, Sandero e Logan estão no corredor da morte e não devem vingar em 2024. O Kwid vai mudar agora em janeiro, mas seu posicionamento terá de ser revisto. Resta à Renault correr para lançar uma nova geração para o Duster e o Kiger, o crossover derivado do Kwid.
Até lá, as vendas encolhem. No acumulado do ano, a Renault, que já chegou a ser a quinta marca mais vendida entre os carros de passeio até bem pouco tempo atrás, agora figura em sétimo, com 6,7% no acumulado dos 11 meses de 2021
Dizem que quem vê cara, não vê coração. E achar algo bonito ou feio é muito subjetivo. Mas o desenho do novo Creta é para lá de controverso e decepcionou bastante gente. Considerado ousado demais, acaba por desviar a atenção das virtudes do utilitário esportivo compacto.
É que o modelo adotou, nesta nova fase, o motor 1.0 turbo Kapppa de até 120 cv da gama HB20. O conjunto deixou as versões mais baratas do Creta bem mais espertas no desempenho e mais eficientes no consumo do que o antigo 1.6 aspirado Gamma. Mas a decepção extra foi este propulsor continuar em linha em uma versão Action do Creta, que mantém o desenho antigo…