Ram 3500 é picape para quem quer força e não se preocupa com espaço

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Dirigimos a nova picapona de mais de seis metros de comprimento em situações diferentes. Puxamos até trator com ela!

Por Fernando Miragaya

Falar da Ram 3500 é como pensar naqueles superlativos da aula de português. Ao se deparar com a picape gigante da marca norte-americana em uma manhã de sol forte em um haras no interior de São Paulo, não há como fugir de termos como “maior” ou “mais alguma coisa”. Ainda mais depois de pôr à prova suas capacidades em situações diferentes de terreno.

O cenário não poderia ser mais apropriado para o lançamento da terceira – e maior – picape da linha Ram no país. Estamos no Haras NSG, ao lado da pista de testes da Bridgestone em Águas de São Pedro, estância hidromineral paulista. Pode-se dizer que é o habitat natural para uma picape que mira especialmente no público ligado ao campo, desde grandes criadores de gado e cavalos até o alto escalão do agronegócio.

Até porque falamos de preços que colocam a Ram como um produto premium e de nicho. A própria empresa se coloca como rival de marcas de luxo, como Mercedes-Benz, Audi, Porsche e cia. Não é para menos, a 3500 chega do México para ser a mais cara do portfólio da montadora de comerciais leves, com três versões e preços entre R$ 484.990 a R$ 529.990.

A promessa é de entrega de requinte e equipamentos, mas falaremos disso mais para baixo. Primeiro vamos tratar do poder que a maior picape “civil” do mercado também proporciona. E para constatar isso, a marca – que faz parte do Grupo Stellantis – aproveitou a pista de provas da Bridgestone – ao lado do supracitado haras – para “atividades” que corroboram os superlativos.

Dinâmica surpreendente

A pista fechada para o primeiro contato com o modelo tem um motivo que vai além dos exercícios. Devido às dimensões e pesos, a Ram 3500 é daquelas picapes que você chora só de pensar em andar por metrópoles – e que exige CNH categoria C para ser guiada. 

A grandalhona tem peso bruto total superior a 3,6 toneladas e tamanho de mais de um Fiat Mobi “e meio”. São 6,06 metros de um para-choque ao outro e com 2,12 m de largura. Daquelas que, em shoppings ou supermercados, não tem jeito: você vai matar metade de uma vaga ao lado – isso se os 2,03 m de altura permitirem entrar nas áreas cobertas….

Só que o mais bacana disso é que tamanha imponência não resulta em uma picape destrambelhada. A Ram, ciente disso, fez um circuito dentro do campo de provas para evidenciar essa virtude de sua picapona. E preparou “atividades” como se fossemos fazer exercícios com um sedã.

Não é um sedã, nem nunca terá comportamento de tal. Mas, acredite, a 3500 tem uma direção mais direta que muito carro de passeio. Isso fica claro na primeira curva. Depois de uma acelerada forte, entro na curva inclinada e a picape segue obediente para onde o volante aponta.

Um circuito estreito na sequência faz a picape testar toda a sorte de asfalto. Os cones nos guiam por trechos apertados com ondulações, paralelepípedos, buracos e irregularidades das mais variadas possíveis.

A velocidades de 30 km/h, você vai se esgueirando com a 3500, primeiro em uma sequência de retas curtas e viradas acentuadas para a esquerda. Depois, ao contrário. Tudo delimitado pelos cones, que não permitem muitas folgas nem vacilos.

Qualquer virada a mais no volante pode vitimar um cone. Mas, surpreendentemente, não é tarefa difícil manobrar a picapona nessas situações. A 3500 obedece aos comandos e ainda mostra como a suspensão trabalha bem nos mais diferentes pisos.

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Com um robusto jogo de eixo rígido com feixe de molas e amortecedores Heavy Duty, a picape absorve bem as vibrações na frente. Não chega a ser um carro de passeio, mas a cabine sacode menos que muita picape média por aí. Além disso, na frente a suspensão com  braço triplo e barra Panhard garante boa dose de conforto e vibração minimizada no volante.

Obviamente estamos a velocidades moderadas de 30 km/h no exercício, mas não se esqueça das dimensões dessa carreta. A 3500 merece atenção devido às dimensões e peso, mas mesmo no slalom a maior das Ram vendidas no Brasil é um brinquedão dinamicamente responsável. 

No balé da pista, a carroceria não rola em excesso e em nenhum momento você tem qualquer sensação de que vai perder o controle. Mesmo assim, é uma performance interessante para uma picape larga, alta e com mais de 3,70 metros de entre-eixos.

O  legal é que o motorista tem a noção exata do tamanho que conduz, especialmente pela posição mais que elevada de dirigir e às proporções da carroceria, às quais se fica de olho pelos generosos espelhos retrovisores bipartidos.

Puxadora de peso

O genial, saudoso e mal humorado Jamelão falava que puxador de samba não existia, só intérprete. “Puxador é puxador de corda, puxador de fumo, puxa-saco”, costumava retrucar o cantor, que defendeu a Mangueira por carnavais a fio. Mas o puxador puxa trator também, no caso puxadora: a RAM 3500.

Isso aí: em um outro exercício a tarefa foi dirigir a picape por alguns metros puxando um trator de mais de sete toneladas. Tiras especiais devidamente enganchadas no reboque traseiro da RAM 3500, basta colocar a alavanca do câmbio na coluna de direção em drive e acelerar devagar.

Pelo sistema de câmeras da central multimídia Uconnect de 12 polegadas é possível acompanhar o que se passa atrás do veículo ou na caçamba, sob diferentes ângulos. Piso leve no acelerador para não dar aquela esticada brusca no gancho e trago o veículo agrícola. A uma velocidade pouco abaixo de 10 km/h e constante, a 3500 puxa o trator como se estivesse trazendo uma inocente carretinha vazia.

E se você achou que a Ram 3500 já era brincalhona para dirigir, imagine com um puxadinho? Hora de puxar, ou melhor, de usar o poder de reboque para engatar e movimentar um motor home híbrido – com espaço para um casal e também um  ambiente para levar dois cavalos – com 14 cm de comprimento e mais de 8 toneladas. 

Impossível transitar com um monstro desse numa cidade, claro, mas em rodovias principais e grandes latifúndios, é mais uma realidade possível que a 3500 desempenha bem. Acelero devagar na pista e o câmbio ZF de seis marchas dá pequenos trancos sequenciais e engasgadas, como se estivesse estranhando o peso extra.

Mesmo assim e devagar, a Ram traz o motor home com carinho e percebe-se que o controle de oscilação funciona bem, sem que a casa sobre rodas passe vibrações para a picape. Com os retrovisores mudados para a posição vertical, se tem visão do que acontece lá na rabeira do trailer. E tome de fazer as curvas bem abertas para não arrastar nenhum cone desavisado.

Em determinado momento, nosso companheiro e instrutor da TSO no carona sugere acionar a função reboque no painel. O sistema de tração e câmbio, então, entendem que estão levando um peso extra. O limitador de marchas e o controle eletrônico do freio

do reboque ajudam a 3500 a desenvolver de maneira bem mais suave, sem aqueles trancos e imprecisões de outrora. 

Picapona bruta de luxo

Infelizmente, não havia trechos para acelerar mais a picape. Porém, as curtas esticadas permitidas nas retas foram suficientes para que o motor Cummins mostrasse suas credenciais para ratificar os superlativos. Com seis cilindros e 6,7 litros, o turbodiesel gera 377 cv de potência e 117 kgfm de torque. 

Isso tudo com sobras em baixas rotações. Ao pisar no pedal do acelerador, você sente aquele capô altíssimo dar uma leve empinada e um discreto tranco no seu corpo. Chegar a 100 km/h nem exige esforços, assim como a Ram 3500 pareceu não fazer muitos esforços para provar sua força nos exercícios de pista..

Na frieza dos números, a 3500 é a picape com as maiores capacidades do pedaço. Com um chassi com mais de 98% composto de aços de alta resistência e a suspensão exclusiva, com molas longitudinais, o modelo tem carga útil de até 1.752 kg e pode rebocar até 9.021 kg.

A caçamba da RAM 3500 é outro espetáculo à parte. Com 1,93 metro de comprimento e quase 1,30m de largura (entre as caixas de roda), oferece capacidade de 1.628 litros. Com as RamBox (acessório incluso no preço e que serve como um organizador de espaço, com 122 litros, cada), esse volume cai para ainda bons 1.280 litros. A caçamba ainda traz revestimento especial e iluminação de LED.

Requinte, a propósito, é o que não falta na linha Ram. Desde a versão de entrada Laramie (R$ 484.990) vem com bancos de couro Alcantara, assentos dianteiros e volante aquecidos, faróis full LED, central Uconnect de 12” e conexão Android Auto e Apple CarPlay sem fio, som premium Alpine, câmera 360 e câmera na caçamba e retrovisor eletrocrômico.

Ausência sentida para mais itens de auxílio à condução. Nesta opção “básica”, a 3500 oferece apenas sensor de ponto cego e comutação automática dos faróis. A Ram garante que não fez uma versão mais barata para empurrar para o consumidor e que atendeu à demanda da clientela. 

Mas vamos combinar que itens como controle de cruzeiro adaptativo e frenagem autônoma de emergência são usuais entre as marcas que se dizem premium e estão disponíveis até em compactos de menos R$ 120 mil em nosso mercado…

Enfim, cabe à intermediária com nome de série limitada receber os itens de condução semi-autônoma. A 3500 Laramie Night Edition custa R$ 509.990 e recebe o ACC, alerta de colisão frontal com frenagem automática de emergência e sistema ativo de permanência em faixa. 

Também ganha retrovisor interno digital (que reproduz imagens de uma câmera), som Harman Kardon com 16 alto-falantes, faróis com máscara escurecida, luzes no teto da caçamba (cab lights), bancos traseiros aquecidos e interior com acabamento escuro. E ainda o bacana estribo escamoteável, que é acionado toda vez que as portas são abertas e se recolhe automaticamente quando as mesmas são fechadas.

A topo de linha LongHorn chama a atenção pelo acabamento “diferenciado” – e nada ecologicamente correto. Recebe couro claro natural e detalhes do acabamento de madeira de verdade. Além disso, recebe um banho de cromados na grade frontal, nos ganchos de reboque e nas molduras das janelas, rodas exclusivas e faróis full LED com tecnologia Matrix.

O único opcional na linha é a pintura bicolor, que segue as cifras elevadas da linha. Esse tipo de acabamento externo custa R$ 10 mil.

Latifúndio a bordo

A vida a bordo, além dos equipamentos, é muito boa para os cinco passageiros da Ram 3500. Nem dava para ser diferente. Há espaço de sobra para motorista e passageiro e os bancos dianteiros têm ajustes elétricos. O console central modular tem espaço para até 39 litros e uma base que acomoda um notebook de 15 polegadas numa boa.

Atrás, é o sofá de casa. Pessoas com 1,75 m de altura conseguem até cruzar as pernas. Há ainda nove tomadas USB e tomada de 115 V. A fila do assento traseiro, a propósito, esconde um porta-objetos e também pode ser removida e dar lugar a um assoalho plano para carregar coisas ou mesmo estender um colchão de solteiro com até dois metros de comprimento.

O habitáculo ainda se destaca pelo baixo nível de ruído. Mesmo para uma picape grandalhona e quadradona, e com motor potente turbodiesel, o isolamento acústico filtra bem ruídos do conjunto mecânico ou mesmo de rodagens. Não dá para dizer que é o veículo mais silencioso do mundo, mas que o pessoal que viaja na Ram 3500 tem outro superlativo, tem: vai melhor de conforto que em muito carro de passeio metido a espaçoso…

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