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Ao Volante: Toyota Etios, um indiano filho de japoneses que se naturalizou no Brasil

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 O hatch de entrada oscila entre altos e baixos: cativa pela ótima dirigibilidade e pela economia de combustível, mas decepciona na construção simplória e na oferta limitada de equipamentos

Várias das marcas estabelecidas no Brasil seguem uma fórmula controversa para desenvolver novos veículos compactos: desenvolvem uma carroceria nova, às vezes com traços bastante agradáveis, porém reaproveitam componentes mecânicos antigos, como propulsores e plataformas com vários anos de estrada. O Toyota Etios é provavelmente o único veículo nacional que trilhou o caminho contrário: embora tenha sido lançado mundialmente há pouco menos de dois anos, sua carroceria já aparenta carregar idade, com visual que remete à década de 1990, contrastando com a parte mecânica, que está entre as mais avançadas do mercado. Fica a sensação que a Toyota fez a parte mais difícil e ignorou a mais fácil, ao caprichar na engenharia e menosprezar o design e os mimos aos ocupantes…

Nos últimos anos, o mercado nacional presenciou a chegada de vários veículos que apelam para o lado racional. O Etios faz o mesmo, mas ao que parece levou a fórmula muito ao extremo. Simplório tanto por fora quanto por dentro, acabou não despertando atenção do consumidor, que muitas vezes não se guia unicamente por aspectos técnicos. Mesmo na Índia, sua terra natal, o pequeno Toyota não vende tanto quanto o fabricante desejava, embora seu desempenho comercial por lá seja substancialmente melhor que por aqui. Seria injusto, porém, ignorar as qualidades do modelo, que são consistentes, formando uma personalidade de altos e baixos.

CORAÇÃO VALENTE Uma frase muito citada no meio automobilístico diz que o motor é o coração do carro. Se o dito popular estiver certo, o que pulsa sob o capô do Etios dá sinais de juventude. Não tem nada de revolucionário, mas traz recursos ainda desconhecidos para a maioria dos proprietários de carros populares, como confecção integral em alumínio (bloco e cabeçote) e corrente de sincronização (ao invés da temida correia dentada). As 16 válvulas, movimentadas por comando duplo, também são raras no segmento de entrada, porém não há variação na abertura e no de fechamento. A versão 1.3 avaliada pelo Autos Segredos entrega 84/90 cv a 5.600 rpm e 11,9/12,8 kgfm a 3.100 rpm, com gasolina e etanol, na ordem. Não são valores ruins, mas passam longe de merecer destaque frente à concorrência. Contudo, o fato é que o conjunto mecânico consegue proporcionar boa desenvoltura ao modelo. O torque é bem distribuído e a potência vai surgindo de forma linear, resultando em boas respostas tanto em baixa quanto em alta rotação. Além do mais, o funcionamento é suave mesmo perto do limite de corte do giro. Para comandar o propulsor, há um câmbio manual de cinco marchas igualmente competente, com engates macios e precisos, além de escalonamento correto.

A Toyota não ousou na suspensão e seguiu a fórmula da maioria dos modelos nacionais, com sistemas MC Pherson na frente e de eixo de torção atrás. A calibragem dá ênfase ao conforto, com ótima absorção de impactos e funcionamento silencioso. Porém, o acerto mais macio não prejudicou a estabilidade, pelo contrário: na estrada, o Etios encara curvas com muita disposição, com comportamento neutro, sem tendência a sair da trajetória. Trata-se de um compromisso muito bem ajustado, que consegue entregar prazer ao motorista sem cansar os passageiros em pisos irregulares. A direção com assistência elétrica é outro item raro entre os populares. A do Etios é muito suave em manobras, mas poderia oferecer mais progressividade, pois mostra-se menos firme que o desejável em alta velocidade.

SEM SOCIEDADE COM O POSTO De todos os automóveis de concepção tradicional já testados pelo Autos Segredos, o Toyota Etios foi o mais econômico. O título de campeão é do irmão Prius, que é híbrido e, portanto, tem mais que a obrigação de ser referência no assunto. Abastecido com gasolina, o hatch cravou em média 11 km/l em ciclo urbano e 14,5 km/l em percursos rodoviários. A maioria das aferições foi realizada com o ar-condicionado e os bons resultados podem ser atribuídos à mecânica atual e ao baixo peso, de apenas 915 quilos. Vale destacar que inúmeras variáveis podem influir no consumo de um veículo, como o relevo, o estilo de condução do motorista e as condições das vias, entre outros.

JEITO RÚSTICO Porém, nem só de coração se faz um carro, e aí começam os problemas do Etios. O habitáculo é rústico mesmo para o segmento de entrada, com aspecto simplório e até parafusos à mostra em alguns locais. As forrações ficam por conta do plástico rígido, mais que conhecido pelos proprietários dos veículos de entrada. O Etios até apresenta diferentes texturas nas portas e no painel, mas o material é sempre o mesmo. Por fim, há vãos irregulares e algumas falhas nos encaixes, mas ao menos não notamos muitas rebarbas (leia mais sobre o interior do modelo aqui). O quadro de instrumentos centralizados, embora pouco usual, oferece boa visualização para o velocímetro e o conta-giros, mas não para o marcador de combustível, que é minúsculo. Além do mais, não há termômetro do fluido de arrefecimento. Vale lembrar que interior do hatch já foi tema de um post específico (veja-o aqui).

A posição de dirigir é correta, com bom alinhamento em relação aos pedais e a direção. O volante tem boa pega, mas pode não oferecer a posição ideal para todas as pessoas, pois é ajustável apenas em altura, não em profundidade. Os bancos jogam no mesmo time: oferecem apoio correto para as pernas e a coluna, mas o do motorista deixa de fora o ajuste de altura. A visibilidade é boa para a frente e para os lados, porém ruim para trás. A culpa é dos encostos de cabeça posteriores, que deveriam ser do tipo vírgula. Ao menos os retrovisores estão bem dimensionados e cobrem boa área. O limpador de para-brisa, apesar de único, dá conta do recado e varre praticamente todo o vidro, com funcionamento silencioso. Pena que não se pode dizer o mesmo dos faróis, que deixam a desejar com a luz alta acionada, embora os fachos baixos apresentem iluminação adequada. Merece destaque a presença de repetidores de seta laterais, nos para-lamas dianteiros, que muitas vezes são ignorados pelos fabricantes.

O habitáculo é amplo na mesma medida em que é simples: o Etios tem espaço interno muito bem aproveitado, bem maior que o comprimento total de 3,777 metros faz pressupor. Quatro adultos de estatura elevada sentam-se sem aperto algum no habitáculo do hatch. Um quinto ocupante não encontrará folgas, mas ainda assim desfrutará de acomodação acima da média dos compactos, mérito que vai, em parte, para o túnel central rebaixado. Segundo a Toyota, o porta-malas comporta 270 litros, valor que nos parece um tanto otimista, pois o compartimento é bastante curto. O vão de entrada é bem amplo e há carpete na parte interna da tampa, nas laterais e na parte posterior dos encostos do banco, que é rebatível, mas não bi-partido. Faltou revestimento no batente, que exibe lataria vulnerável a danos causados por malas e outros objetos.

BASICÃO A lista de equipamentos inclui apenas o essencial, em um pacote único, sem opcionais. Há ar condicionado, travas e vidros elétricos em todas as janelas, porém sem sistema um-toque ou teclas iluminadas. A versão XS, avaliada pelo Autos Segredos, traz um bom aparelho de rádio/cd player com entrada USB e leitor MP3, mas há apenas dois alto-falantes na cabine. No mais, há apenas pormenores, como abertura interna do tanque e do porta-malas, spoiler traseiro e alarme de advertência de portas abertas. Itens comuns em configurações intermediárias, como rodas de liga leve, alarme e chave com comandos por radiofrequência, são indisponíveis para os Etios movidos por motor 1.3. Quem os quiser, deverá levar o XLS 1.5 ou instalá-los na concessionária… Computador de bordo, sensores de estacionamento, retrovisores elétricos e viva-voz por Bluetooth não estão disponíveis sequer para a configuração top.

Quanto à segurança, o Etios tem um grande trunfo: até o momento, foi o único compacto de entrada a obter quatro estrelas nos testes de impacto realizados pelo Latin NCAP. Além do mais, o modelo apresentou frenagens muito seguras, acima da média para a categoria, mérito que vai em parte para o sistema ABS com EBD, de série na versão avaliada. Airbags frontais também estão incluídos no pacote, mas o hatch derrapa ao não disponibilizar encosto de cabeça e cintos de três pontos no centro do banco traseiro. Tampouco há sistema Isofix para fixação de cadeirinhas ou opção de mais airbags e controles eletrônicos de tração e estabilidade.

BOLETIM A impressão é de que a Toyota não enxergou muito à frente quando começou a desenvolver sua linha popular no Brasil, há alguns anos. De lá pra cá, o mercado nacional cresceu e se sofisticou, com a chegada de compactos que, embora disputem o segmento de entrada, passaram a oferecer mais conteúdo. O Etios deixa a desejar justamente onde os rivais evoluíram, ao entregar poucos equipamentos de comodidade e simplicidade franciscana em termos de acabamento. Porém, não há dúvidas de que o modelo tem trunfos muito importantes, alguns infelizmente não tão comuns por aqui, como espaço interno bem aproveitado, projeto de deformação programada eficiente e conjunto mecânico atual e afinado, que acabam tornando-o uma opção válida. A questão é que não parece difícil para o fabricante torná-lo mais competitivo ante a concorrência, pelo contrário: basta fazer um face-lift, dar uma caprichada no habitáculo e ser mais generosa com a lista de itens de série. Tais mudanças são simples para uma grande empresa automotiva promover, mas trariam benefícios consideráveis ao Etios, que como está é um carrinho competente, mas nada carismático.

AVALIAÇÃO Alexandre Marlos
Desempenho(acelerações e retomadas) 7 8
Consumo(cidade e estrada) 9 8
Estabilidade 8 7
Freios 8 8
Posição de dirigir/ergonomia 7 6
Espaço interno 8 9
Porta-malas(espaço, acessibilidade e versatilidade) 6 7
Acabamento 5 6
Itens de segurança(de série e opcionais) 7 8
Itens de conveniência(de série e opcionais) 6 7
Conjunto mecânico (acerto de motor, câmbio, suspensão e direção) 9 8
Relação custo/benefício 7 7

FICHA TÉCNICA

MOTOR
Dianteiro, transversal, quatro cilindros em linha, 16 válvulas, gasolina/etanol, 1.329 cm³ de cilindrada, 84 cv (g)/90 cv (e) de potência máxima a 5.600  rpm, 11,9 kgfm (g)/ 12,8 mkgf (e) de torque máximo a 3.100  rpm

TRANSMISSÃO
Tração dianteira, câmbio manual de cinco marchas

ACELERAÇÃO  ATÉ 100 km/h 
11s8 (dado de fábrica)

VELOCIDADE MÁXIMA 
Não informada pelo fabricante

DIREÇÃO
Pinhão e cremalheira, com assistência elétrica

FREIOS
Discos ventilados na dianteira, tambores na traseira, com ABS e EBD

SUSPENSÃO
Dianteira, independente, McPherson, com barra estabilizadora; traseira, semi-independente, eixo de torção, com barra estabilizadora

RODAS E PNEUS
Rodas em aço estampado 14×5, pneus 175/65 R14

DIMENSÕES (metros)
Comprimento, 3,777; largura, 1,695; altura, 1,510; distância entre-eixos, 2,460

CAPACIDADES
Tanque de combustível: 45 litros; porta malas: 270 litros; carga útil (passageiros e bagagem): 422 quilos; peso: 915 quilos

Fotos | Marlos Ney Vidal/Autos Segredos

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