Especial para o Autos Segredos
Quando chegou ao mercado, em 2012, a atual geração da Chevrolet S10 impressionou. Totalmente reprojetada, em nada lembrava a antecessora, que então estava bastante defasada. Porém, inacreditavelmente, a atualização havia deixado de fora o motor das versões flex, que mantiveram o velho 2.4 de oito válvulas. Sob o capô, apenas as configurações a diesel traziam um novo 2.8 turbo. No ano passado, entretanto, a marca norte-americana enfim completou a renovação de sua picape, equipando-a com um novo 2.5 da família Ecotec (o antigo 2.4 permanece nas versões LS, destinadas a frotistas). Graças à sua boa dose de tecnologia, o propulsor fez com que a caminhonete da GM se tornasse referência no segmento.
Quem dirige a S10 logo percebe os ganhos que o novo conjunto mecânico proporciona. Para uma picape média, ela ficou bastante ágil. Para uma picape média, que fique claro. Na cidade, não espere o mesmo comportamento de um automóvel: em algumas situações, como em subidas e retomadas, é preciso trabalhar o câmbio e dar giro no motor para não perder velocidade. Isso, aliás, não chega a ser surpresa, afinal, o propulsor tem a ingrata missão de empurrar os elevados 1.979 kg de massa corporal do modelo. É muito peso, mesmo para um motor atual e com curva de torque plana como o 2.5 Ecotec. Mas não se preocupe: essa tarefa é simplificada pelo câmbio de engates macios (ainda que o curso longo demais da alavanca prejudique a precisão) e pela suavidade com a qual o propulsor trabalha, mesmo em altas rotações. A docilidade, aliás, é uma das características que mais agradam na picape da Chevrolet: o pedal de embreagem é macio, o nível de ruídos interno se mantém baixo e a direção é leve em manobras, mas capaz de entregar o peso correto também em alta velocidade.
Em estradas de terra, a S10 flex encontra seu habitat natural, mesmo calçada com pneus para asfalto. A picape enfrentou vários quilômetros de vias sem pavimentação, que incluíram uma subida com terra fofa e trechos com pedras, impossíveis para veículos com tração 4×2, sem apresentar qualquer dificuldade, mostrando que o sistema 4×4 com reduzida casou muito bem com o novo propulsor. Méritos também para a altura em relação ao solo, de 22,8 cm, e para os ângulos de ataque (32º) e saída (18º). A ressalva ficou para as alterações na suspensão: apesar de elas terem melhorado o comportamento da caminhonete, ainda há sensação de “pula-pula” quando se trafega em pisos irregulares. Além do mais, a carroceria permanece inclinando bastante em curvas em alta velocidade no asfalto, exigindo cuidado por parte do motorista.
Segundo a Chevrolet, a S10 equipada com motor 2.5 ficou 6% mais econômica que a antecessora 2.4. Pode até ser, mas, ainda assim, o consumo está longe de ser baixo. Durante a avaliação do Autos Segredos, as médias da picape giraram em torno de 7,3 km/l na cidade e de 8,4 km/l na estrada, com gasolina. Ponto positivo é a capacidade do tanque de combustível: com 80 litros, ele proporciona autonomia de até 672 km à picape. Como sempre, vale lembrar que o consumo de combustível é influenciado por uma série de variáveis, como o etilo de condução do motorista, as condições das vias e as características do tráfego, entre outras.
Além do novo motor, a S10 exibe também novidades pontuais no habitáculo. A melhor delas foi o acréscimo de um econômetro digital, que inclui luz indicadora de mudança de marchas. Recurso útil em uma caminhonete com propulsor de alta cilindrada, ainda mais em tempos de combustíveis caros. Mas o painel não mudou, o que significa que os instrumentos continuam pequenos, o que prejudica um pouco a leitura. Ao menos o cluster é completo, com direito a termômetro do fluido de abastecimento, que na linha Chevrolet só não foi suprimido da picape média e de sua “irmã” Trailblazer, além da linha Cruze. No mais, o fabricante aplicou peças plásticas em preto brilhante no centro do painel e em parte das forrações das portas. Mas a predominância ainda é de materiais rígidos, o que nem chega a ser um grande problema em picapes médias ainda são, a grosso modo, veículos cargueiros. Criticável mesmo é a imperfeição nos encaixes das peças em alguns locais, como no console central. O couro dos bancos, por outro lado, agrada bastante: ele é natural nas porções centrais (que têm maior contato com o corpo) e sintético apenas nas abas, proporcionando ótimo toque; algo raro de se ver mesmo em veículos mais caros, que têm adotado revestimentos sintéticos com cada vez mais frequência.
Em termos de habitualidade, nada mudou. A S10 continua recebendo bem quem se senta nos bancos dianteiros, que oferecem boas acomodações para pernas e coluna, mas nem tanto os do banco traseiro, que tem assento muito baixo, fazendo com que os passageiros fiquem com os joelhos mais altos que os quadris, e encosto muito vertical, que cansa as costas. Outra falha é a ausência de encosto de cabeça para o quinto ocupante. Ao menos ninguém vai se queixar de espaço, pois os vãos para cabeças e pernas são suficientes mesmo com lotação máxima no habitáculo. E há muitos porta-objetos, para alojar miudezas. Objetos maiores, entretanto, devem ir para a caçamba (que tem 1.570 litros de capacidade), pois como é comum ocorrer em picapes cabine dupla, não há onde guardar pequenos volumes a bordo. O motorista conta com uma boa posição para dirigir, atrapalhada apenas pela ausência da regulagem em profundidade da direção: ela é ajustável apenas em altura, assim como o banco. Este, inclusive, dispõe de comandos elétricos na versão LTZ, avaliada. A visibilidade é boa para a frente e para os lados, mas ruim para trás. Felizmente, há uma câmera de ré, que mostra-se bastante útil na hora de manobrar os 5,347 metros de comprimento da picape.
Não há dúvida que a atualização mecânica fez da S10 a referência entre as picapes flex. Dona de um bom desempenho (dentro de suas possibilidades, é claro) e de um funcionamento suave, a picape da Chevrolet expõe as rugas dos propulsores de suas rivais Ranger e Hilux: com motorizações flex, elas não conseguem entregar o mesmo comportamento. O preço, que para a versão LTZ 4×4, é sugerido em R$ 104.030, está longe de ser barato, mas não foge à média do segmento (vale lembrar que a versão avaliada é a top de linha; uma LT 4×2 cabine dupla, por exemplo, vale R$ 85.780). Porém, apesar da consistente evolução pela qual passou, a caminhonete da Chevrolet ainda tem que evoluir em dois quesitos. Primeiro, na oferta de equipamentos de segurança, que ainda é bastante limitada. Segundo, na disponibilização apenas da transmissão manual; deveria existir a opção também de câmbio automático para o propulsor 2.5 flex.
NOTAS
AVALIAÇÃO | Alexandre | Marlos |
Desempenho (acelerações e retomadas) | 8 | 7 |
Consumo (cidade e estrada) | 6 | 6 |
Estabilidade | 6 | 6 |
Freios | 7 | 7 |
Posição de dirigir/ergonomia | 8 | 8 |
Espaço interno | 7 | 8 |
Caçamba (espaço) | 9 | 9 |
Acabamento | 7 | 8 |
Itens de segurança (de série e opcionais) | 7 | 7 |
Itens de conveniência (de série e opcionais) | 8 | 7 |
Conjunto mecânico (acerto de motor, câmbio, suspensão e direção) | 8 | 8 |
Relação custo/benefício | 7 | 7 |
FICHA TÉCNICA
MOTOR
Dianteiro, longitudinal, quatro cilindros em linha, 16 válvulas, gasolina e etanol, 2.457 cm³ de cilindrada, com injeção direta; potências máximas de 197 cv a 6.300 rpm (g) e 206 cv a 6.000 rpm (e); torques máximos de 26,3 mkgf a 4.400 rpm (g) e 27,3 mkgf a 4.400 rpm (e)
TRANSMISSÃO
Tração integral e reduzida com acionamento eletrônico, câmbio manual de seis marchas
ACELERAÇÃO até 100 km/h (dado de fábrica)
9s5 com gasolina e 9s1 com etanol
VELOCIDADE MÁXIMA (dado de fábrica)
163 km/h (limitada eletronicamente)
DIREÇÃO
Pinhão e cremalheira, com assistência hidráulica
FREIOS
Discos ventilados na dianteira e tambores na traseira, com ABS e EBD
SUSPENSÃO
Dianteira, independente, com braços articulados; traseira, feixe de molas semi-elípticas
RODAS E PNEUS
Rodas em liga de alumínio, 7 x 17 polegadas, pneus 255/65 R17
DIMENSÕES (metros)
Comprimento, 5,347; largura, 1882; altura, 1,908; distância entre-eixos, 3,096
CAPACIDADES
Tanque de combustível: 80 litros; caçamba: 1.570 litros; capacidade de carga(incluindo passageiros): 771 quilos; peso: 1.979 quilos
Fotos | Marlos Ney Vidal/Autos Segredos