Nem parece, mas já se passaram quase oito meses desde o começo das operações da JAC no Brasil. Nesse período, as vendas do único hatch trazido pela empresa até o momento estabeleceram-se entre 1.000 e 2.000 unidades mensais. São números bastante significativos para um automóvel de uma marca estreante. À medida que os veículos chineses proliferam-se pelas ruas do país, aumentam as perguntas sobre eles. Ao fim de nossa avaliação, concluímos que o J3 tem bom potencial, mas precisa melhorar.
SOB O CAPÔ O motor é outro destaque do J3. Apresentado como 1.4, está mais para 1.3, com 1.332 cm³ de cilindrada. Porém, apesar da menor capacidade cúbica, consegue ser mais potente que os concorrentes nacionais, equipados com propulsores, de fato, 1.4. O chinesinho entrega 108 cv de potência a 6.000rpm e 14,1 mkgf de torque a 4.500rpm. A vantagem é facilmente explicável pelo uso de recursos como quatro válvulas por cilindro e comando de válvulas variável (VVT). Abaixo de 2.000 rpm, há pouca oferta de força e o desempenho é ruim. Porém, a partir daí, a performance melhora da água para o vinho: em médias e altas rotações, as respostas agradam. Além do mais, o bloco tem funcionamento suave, mesmo em regimes elevados, e utiliza corrente no lugar da correia dentada.
Apesar da vantagem teórica em relação ao conjunto de suspensão da maioria dos rivais nacionais, o hatch não chega a ser referência em conforto ou estabilidade. Mesmo com sistemas mais simples, alguns automóveis conseguem entregar resultados melhores. Ainda assim, o modelo consegue conciliar os dois aspectos com competência, transmitindo boa absorção das irregularidades do piso e firmeza em curvas. O equilíbrio é um pouco prejudicado pela direção, mais leve do que o desejável em alta velocidade. O J3 teve a altura do solo elevada para comercialização no Brasil, o que deixou um vazio desagradável aos olhos nas caixas de roda. Porém, as vantagens da alteração são percebidas durante a circulação pelas precárias vias brasileiras, onde não há esbarrões contra o solo.
MARCHAS O câmbio, como já dissemos em outros posts, depõe contra a competência do motor e o equilíbrio da suspensão. Os engates são muito imprecisos, o curso da alavanca é longo e, por fim, o trambulador é bastante barulhento. Quanto às relações da transmissão, não temos muito a reclamar. São mais longas do que nos concorrentes, o que acaba acentuando a falta de ânimo do motor em baixas rotações. Por outro lado, contribuem para reduzir os giros em velocidades elevadas, com benefícios ao consumo e ao nível de ruído. A 120 km/h, em quinta marcha, são 3.700 rpm, regime contido para a cilindrada do propulsor.
Por falar em consumo, o J3 obteve boas marcas. Registramos 10,2 km/l na cidade e 13 km/l na estrada, com o carro vazio e o ar-condicionado ligado a maior parte do tempo. As marcas poderiam ter sido ainda melhores se o modelo fosse mais leve. Os 1.060 kg estão longe da classificação de peso-pesado, mas outros carros com dimensões externas semelhantes conseguem números um pouco mais favoráveis. O tanque comporta 48 litros, o que faz com que a autonomia seja de aproximadamente 624 km. Vale lembrar que o hatch consome apenas gasolina.
POR DENTRO A situação começa a piorar para o chinês quando o assunto é acabamento interno. Painel e revestimentos das portas até que fazem bem aos olhos, com apliques cromados e forrações bicolores, de texturas diferentes. Os bancos, com tecido aveludado, também são agradáveis. Mas o tato denuncia que os plásticos são rígidos e ásperos, como se costuma ver nos populares nacionais. A montagem das peças chega a fazer feio até mesmo entre modelos mais simples, pois os encaixes apresentam folgas e irregularidades. Em alguns locais, existem parafusos à mostra. A unidade avaliada pelo Autos Segredos
ainda apresentava borrachas de guarnição das portas rasgadas e descoladas, além da tampa do bagagito com cordas arrebentadas. Por fim, o puxador interno da porta do passageiro da frente soltou-se de um dos pontos de fixação durante o teste. O acabamento externo também deixa a desejar, com vãos irregulares diferenças de tonalidade bastante perceptíveis entre a pintura das peças plásticas e das metálicas.DE SÉRIE A oferta de itens de segurança é uma das maiores qualidades do J3. Há air-bags dianteiros e freios ABS, que infelizmente ainda não fazem parte da vida da maioria dos motoristas brasileiros. A atuação do sistema anti-travamento foi bastante sentida durante nossa avaliação, feita em grande parte sob chuva e em pistas molhadas. Porém, o pedal é meio borrachudo e não transmite muita firmeza, característica que não tem relação com o ABS. Luzes de neblina, na frente e atrás, também fazem parte do pacote. O que depõe contra a cesta de proteção aos ocupantes é a inexistência de encosto de cabeça, cinto de três pontos para o passageiro que viaja no centro do banco traseiro e isofix. Chega a ser contraditória a ausência desses itens, bem mais baratos para o fabricante que outros citados aqui.
O espaço interno é razoável: há espaço suficiente para quatro ocupantes e há uma vantagem hora de acomodar um terceiro passageiro atrás: o túnel da transmissão é baixo, proporcionando mais conforto para os pés. O porta-malas, com 350 litros declarados oficialmente, tem capacidade muito boa para a categoria. O acesso, contudo, é ruim, pois a base do vão é muito alta, dificultando a operação de acomodação e retirada da bagagem.
VEREDICTO A essa altura, você já deve ter entendido o que dissemos no começo do texto sobre o bom potencial do chinês. Contudo, apesar das qualidades, o hatch apresentou defeitos que puseram em xeque sua credibilidade. O acabamento precário, com peças que já chegaram com defeito e outra que se soltou durante o teste, é um deles. Alguns partidários do modelo podem argumentar que se trata de um caso isolado. Pode ser, mas o fato é que eu e o Marlos já andamos em carros de frota de imprensa de outras marcas (a maioria deles cedidos ao jornal onde trabalhamos) e nenhum teve problemas semelhantes. Além do mais, existe a falha de projeto que permite que o capô seja aberto pelo lado de fora, conforme mostra o vídeo produzido pelo Autos Segredos
(veja aqui). É importante lembrar, porém, de outros automóveis que apresentaram vulnerabilidade a furto, como a dupla Corsa e Celta, que tinha uma grelha plástica sobre a bateria, fácil de ser quebrada, e o Gol, cujas fechaduras podiam ser arrombadas sem esforço. Com o tempo, os problemas foram sanados. Esperamos que a JAC também promova melhorias no J3.Avaliação | Alexandre | Marlos |
Desempenho (acelerações e retomadas) | 7 | 8 |
Consumo (cidade e estrada) | 8 | 7 |
Estabilidade
| 7 | 6 |
Freios
| 7 | 7 |
Posição de dirigir
| 6 | 7 |
Espaço interno
| 6 | 7 |
Porta-malas (espaço, acessibilidade e versatilidade) | 7 | 8 |
Acabamento
| 4 | 4 |
Itens de segurança (de série e opcionais) | 9 | 8 |
Itens de conveniência (de série e opcionais) | 7 | 6 |
Conjunto mecânico (acerto de motor, câmbio, suspensão e direção) | 6 | 5 |
Relação custo/benefício
| 6 | 5
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FICHA TÉCNICA
MOTOR
Dianteiro, transversal, quatro cilindros em linha, 16 válvulas, gasolina, 1.332 cm³ de cilindrada, 108 cv de potência máxima a 6.000 rpm e 14,1 mkgf de torque máximo a 4.500rpm
TRANSMISSÃO
Tração dianteira, câmbio manual de cinco marchas
DIREÇÃO
Pinhão e cremalheira, com assistência hidráulica
FREIOS
Discos na dianteira e tambores na traseira, com ABS e EBD
SUSPENSÃO
Dianteira: independente, McPherson, com barra estabilizadora; traseira, independente, dual-link
RODAS E PNEUS
Rodas em liga de alumínio de 15 polegadas, pneus 185/60 R15
DIMENSÕES (metros)
Comprimento, 3,965; largura, 1,650; altura, 1,465; distância entre-eixos, 2,400
CAPACIDADES
Tanque de combustível: 48 litros; carga útil (passageiros e bagagem): 440 quilos; peso: 1.060 quilos
Galeria
Fotos | Marlos Ney Vidal/Autos Segredos