Especial para o Autos Segredos
Não é todo dia que um carro se torna líder de seu segmento logo após ser lançado. Esse é o caso do Honda HR-V, que tem fila de espera nas concessionárias, enquanto a maioria dos demais modelos encalha devido à crise pela qual o setor está passando. Mas afinal, o que esse carro tem? Confira o que o teste do Autos Segredos, com a versão top de linha EXL, revela sobre ele.
O HR-V é fruto de um projeto inédito da Honda, que o criou para ser um modelo menor e mais acessível que o CR-V. Se, em termos de proposta, ele é pioneiro dentro da marca, em termos mecânicos ele reúne muita coisa que já estava na prateleira. A plataforma é a mesma do Fit e do City, assim como o conjunto de suspensões, independente do tipo McPherson na dianteira e semi-independente por barra de torção atrás. Assim como os irmãos, ele é equipado com um câmbio automático do tipo CVT, que traz paddle-shifts no volante, com sete marchas simuladas. O motor, todavia, vem de um modelo maior, o Civic, mas traz uma calibração específica, que o faz desenvolver 140 cv de potência a 6.500 rpm com etanol e 139 cv e 6.300 rpm com gasolina, além de 17,3 kgfm de torque a 4.800 rpm e 17,4 kgfm a 5.000 rpm com os dois combustíveis, na ordem (sim, leitor, o valor com o derivado do petróleo, nesse caso, é maior que com o destilado da cana). Ainda atual, esse propulsor traz o comando de válvulas variável (que o fabricante chama de VTEC), movimentado por corrente. Bloco e cabeçote são de alumínio.
A suspensão do HR-V é um caso à parte. A calibragem é rígida, o que traz a vantagem de proporcionar uma ótima estabilidade. Em percursos sinuosos, o comportamento pouco lembra o de um SUV, e chega a ser comparável ao de alguns hatches e sedãs. Lembra daquele lance de subir serras? Então, é possível seguir morro acima ou abaixo sem perder o embalo com reduções antes das curvas. Porém, essa calibragem firme cobra seu preço quando se circula por vias mal-conservadas, onde os ocupantes certamente sentirão solavancos. Some essa característica à altura em relação ao solo de 177 mm, modesta dentro da categoria (a unidade testada chegou a raspar a frente no solo em uma via rural pela qual trafegou) e o resultado é um set-up muito mais voltado para o asfalto que para fora dele. Como a maioria dos compradores de utilitários raramente os submete a caminhos sem pavimentação, o modelo da Honda parece estar coerente com a tendência do mercado. Mas se você estiver pensando em comprar um veículo dessa categoria para enfrentar aquela estradinha de terra rumo ao sítio no fim de semana (desafios mais radicais estão fora de cogitação, pois nenhuma versão oferece tração 4×4), prepare-se para chacoalhar caso opte pelo modelo da Honda.
O câmbio CVT, aliado ao motor de concepção atual e ao peso comedido dentro da categoria, deu boas marcas de consumo ao HR-V. Abastecido com etanol, ele cravou médias de 7,7 km/l na cidade e 9,4 km/l. Coerente com a tendência de reduzir desperdícios, o modelo traz uma ferramenta que orienta o motorista a dirigir de modo ecologicamente correto: um aro, em volta do velocímetro, que muda de cor à medida que o gasto de combustível aumenta. O ideal é mantê-lo verde a maior parte do tempo, o que indica uma condução econômica. Mas há também um problema: a capacidade do tanque, que é de apenas 51 litros, o que limita a autonomia. Para manter o hábito, o Autos Segredo s pondera que o consumo de combustível está relacionado a uma série de fatores, tais como o relevo, as condições do trânsito, as características das vias e o estilo de tocada do condutor.
O HR-V traz padrão de acabamento típico dos modelos da Honda: bem feito, mas sem luxos. Os arremates e encaixes são muito bons, mas quase todos os plásticos são rígidos. Há apenas uma faixa emborrachada no painel, onde ele fica mais próximo dos ocupantes. O resultado é superior ao de Duster e EcoSport, mas parece estar aquém do Renegade e do 2008. Está, portanto, na média do segmento. O espaço interno, por outro lado, é dos mais amplos. Quatro adultos de estatura elevada se acomodam sem problema algum, e mesmo com cinco a bordo é possível manter nível razoável de conforto. Ponto para os vãos generosos para pernas e cabeças, e também para o assoalho traseiro praticamente plano. Outra vantagem é que todos contam encostos de cabeça e cintos de três pontos, ainda que o central traseiro seja ancorado no teto, solução que está em desuso. Já o porta malas, com 437 litros (431 no próprio compartimento e mais seis abaixo do forro do assoalho), tem boa capacidade, mas não chega a ser referência na categoria. O que agrada é a modularidade do habitáculo: a operação de rebatimentos dos bancos é simples e rápida, e resulta em muita área adicional destinada à carga.
O sucesso do HR-V provavelmente está em sua capacidade de compreender o gosto do consumidor brasileiro: espaçoso e com e ótima dirigibilidade on-road, ele tem uma pegada familiar e urbana, que incoerentemente, as pessoas têm procurado cada vez mais nos SUVs e em veículos com apelo (ainda que apenas visual) off-road. Seu ponto fraco é a pouca quantidade de equipamentos incompatível com o elevado valor sugerido, que é de R$ 90.700 para a versão EXL. Sob a ótica mercadológica, todavia, essa incompatibilidade parece não existir: afinal, em plena crise do setor automotivo, existem filas de espera pelo modelo nas concessionárias Honda…
AVALIAÇÃO | Alexandre | Marlos |
Desempenho(acelerações e retomadas) | 7 | 6 |
Consumo(cidade e estrada) | 8 | 7 |
Estabilidade | 8 | 8 |
Freios | 8 | 8 |
Posição de dirigir/ergonomia | 8 | 7 |
Espaço interno | 10 | 9 |
Porta-malas(espaço, acessibilidade e versatilidade) | 8 | 8 |
Acabamento | 7 | 7 |
Itens de segurança(de série e opcionais) | 8 | 7 |
Itens de conveniência(de série e opcionais) | 7 | 7 |
Conjunto mecânico (acerto de motor, câmbio, suspensão e direção) | 8 | 7 |
Relação custo/benefício | 6 |
FICHA TÉCNICA
»MOTOR
Dianteiro, transversal, quatro cilindros em linha, 16 válvulas, gasolina/etanol, 1.799 cm³ de cilindrada, 140 cv a 6.500 (g)/139 cv a 6.300 (e) de potência máxima, 17,3 kgfm a 4.800 rpm (g) / 17,4 mkgf a 5.000 rpm (e) de torque máximo.
»TRANSMISSÃO
Tração dianteira e câmbio automático CVT, com sete marchas simuladas
»ACELERAÇÃO ATÉ 100 km/h
Não informada pelo fabricante
»VELOCIDADE MÁXIMA
Não informada pelo fabricante
»DIREÇÃO
Pinhão e cremalheira, com assistência elétrica
»FREIOS
Discos ventilados na dianteira e discos sólidos na traseira, com ABS
»SUSPENSÃO
Dianteira, independente, McPherson; traseira semi-independente, por barra de torção
»RODAS E PNEUS
Rodas em liga leve aro 17, pneus 215/55 R17
»DIMENSÕES (metros)
Comprimento, 4,294; largura, 1,772; altura, 1,586; distância entre-eixos, 2,610; peso, 1.276 quilos
»CAPACIDADES
Tanque de combustível: 51 litros; porta-malas: 437 litros
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Fotos | Marlos Ney Vidal/Autos Segredos