Os carros no Brasil realmente são caros. Um dos motivos principais para isso são os impostos elevados – mesmo que algumas montadoras contem com incentivos fiscais. Em algumas cidades, onda há isenção de alguns impostos, taxistas compram seus carros quase que pela metade do preço. Mas creio que o maior problema está na grande margem de lucro das montadoras associado a um mercado pouco exigente.
Usemos como exemplo o mercado norte-americano. Seu setor automotivo nasceu praticamente na década de 30 e veio amadurecendo constantemente até hoje. Por lá, um Toyota Corolla não é considerado médio, e sim um sedã pequeno. Médio para eles é o Toyota Camry. Nisso, por lá o Corolla nem é um carro caro, seria o nosso Siena.
No Brasil, nosso mercado automotivo ainda é uma criança. Pode-se dizer que ele só nasceu em meados da década de 80. Essa diferença de 50 anos é catastrófica para nosso mercado, pois ele ainda não amadureceu a ponto de deixar de considerar Airbag e ABS um luxo, e sim como algo indispensável. O melhor caminho para a melhora da qualidade de nossos carros é a conscientização do consumidor.
Vejam que no Brasil Corolla é considerado um sedã médio, mas o “top” dos médios. Existem praticamente 3 subcategorias de médios: os menores e recentes, onde estão Linea e Cerato; o dos sem muita tradição, onde figuram o C4 Pallas e o Focus; e o dos japoneses Civic e Corolla, que fazem a festa em cima da tradição conquistada em outros tempos, e em cima do status que o consumidor busca. Nesta última, os preços margeiam a categoria dos médio-grandes, onde Fusion e Jetta se mostram carros maiores e mais potentes.
Raciocinando em cima disso, percebe-se que há vários modelos com os preços elevados de forma artificial, por conta da atitude do consumidor. Assim criam-se nichos no mercado. Um ótimo exemplo disso é o famigerado segmento dos “compactos premium”. A maior explicação para a existência dele é o sucesso de carros como o Celta e o Mille até hoje. Como ocupam a faixa de preço onde estariam os mais modernos, além das montadoras reduzirem o preço dos mais antigos, aumentam os dos mais novos, que ficam um degrau acima.
Ou seja: as fabricantes sabem que vão vender seu carro mesmo que seu preço seja mais alto que os concorrentes e que os para-choques não sejam pintados. Marca, tamanho, status e falta de exigência do mercado são agravantes. Se ao menos equipassem mais os carros os preços seriam mais adequados… Assim, enquanto as montadoras sofreram com retração do mercado e tiveram que lidar com prejuízo nos países desenvolvidos, a alta lucratividade nos países do BRIC puxaram as marcas pra cima, e até o mercado mundial se estabilizar continuará assim…
A culpa é de todos: do governo que não facilita nada e só presta atenção no etanol, das montadoras que exploram o consumidor, e também do consumidor que ainda não chegou ao nível de exigência necessário, ele ainda não tem maturidade. É uma reação em cadeia que só vai ser solucionada se o consumidor deixar de ser conivente e passar a discutir sobre o assunto, ou ele ficar mais exigente na hora da compra.
Após comprar um produto ruim, ou que não atende a suas expectativas, todo mundo aprende. Volte alguns anos e lembre-se de como era na década de 90 o mercado de eletrônicos. Todo mundo que comprou produtos de marcas desconhecidas se arrependeu e, hoje, as marcas famosas, mesmo sendo mais caras são as que mais vendem. Se o consumidor agir desse jeito o mercado irá mudar, ou você acha que o governo e as montadoras irão se mexer para isso acontecer?
Fotos | Divulgação
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