Eu, particularmente, tenho lembranças bem vivas daquele episódio, apesar de ser um garoto de 11 anos na época. Os brasileiros haviam acabado de ter acesso os importados e os consumiam com entusiasmo. Veículos de marcas desconhecidas por aqui até então, como Suzuki, Lada e Kia, se multiplicavam pelas ruas. O sucesso era tanto que o Fiat Tipo, produzido na Itália, chegou a ser o carro mais vendido do Brasil por um mês de 1994, superando o VW Gol. No resto do ano, o hatch da marca germânica ficou na frente, mas ainda assim, não me lembro de outro carro estrangeiro a ocupar o topo do ranking no mercado nacional, mesmo que por um período breve.
Apesar da recordação negativa, acredito que a situação agora seja um pouco mais favorável ao consumidor. Primeiro, porque aumento de impostos foi menor (de 30%, ante 50% na década de 1990), e não deve ser suficiente para fazer com que as empresas deixem o país. Segundo, porque mercado nacional cresceu bastante e está muito mais importante para as montadoras que há 16 anos. Terceiro, porque algumas das marcas que atualmente são importadas, como JAC e Chery, já anunciaram a construção de fábricas no Brasil, o que deverá garantir a assistência técnica e estimular outros consumidores na hora da revenda. E quarto, porque na primeira metade dos anos de 1990, existiam só quatro montadoras instalas no país: Chevrolet, Ford, Volkswagen e Fiat. Agora há Peugeot, Renault, Citroën, Honda, Toyota, Nissan… Sem contar a Mitsubishi e a Hyundai, que produzem aqui em parceria com grupos importadores, sendo que o fabricante sul-coreano já ergue uma planta própria.
Ainda é cedo para dizer o quanto os modelos importados ficarão mais caros. Mas o reajuste para cima é certo, a menos que o governo volte a mudar as regras do jogo. A JAC Motors já anunciou que não aumentará os preços enquanto durarem os estoques. Porém, sabemos que os veículos que já estão armazenados no Brasil não durarão para sempre… E cabe lembrar que o aumento do IPI não vale somente para os automóveis: peças de reposição importadas também ficarão mais caras, o que surtirá efeito sobre a manutenção dos veículos provenientes de outros países. A boa notícia é que, muito provavelmente, a elevação não será integralmente repassada ao consumidor. As importadoras deverão absorver parte dos 30%, diminuindo um pouco suas margens de lucro e repassando uma alta menor aos compradores.
No mais, resta apenas esperar pelas novas reações de montadoras, importadoras, consumidores e do próprio poder público ao déjà-vu fiscal. Interesses empresariais e governamentais existem, mas o comportamento da economia é o fator mais determinante para a escrita dos futuros rumos da cobrança do IPI.
Fotos | Appa (Administração dos portos de Paranaguá e Antonina) e Hyundai/Divulgação