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Plataforma: você não vê, mas faz toda a diferença

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Lataria do Pontiac Fiero, lançado na década de 1980. À direita, detalhes da plataforma e outros elementos estruturais do monobloco

No último post sobre a avaliação do Volkswagen Voyage (veja aqui), alguns leitores levantaram questionamentos sobre a plataforma do modelo. É que o sedã utiliza um assoalho de porta-malas diferente do que equipa o irmão Polo. Não é a primeira vez que surgem perguntas ou dúvidas sobre plataformas entre o público do Autos Segredos: vira e mexe, o assunto é citado no campo de comentários, às vezes de modo inflamado. Diante do interesse pelo tema e as consequentes dúvidas que o mesmo desencadeia, decidimos ampliar o foco e fazer uma matéria destinada à compreensão do conceito de plataforma. Obviamente, também lançamos luz sobre o caso do Voyage.

Entender o que é plataforma nem sempre é fácil. Ocorre que ela não é visível, pois fica encoberta por peças de acabamento e de lataria. Ao mesmo tempo, trata-se de um elemento de grande importância para os veículos, o que acaba gerando muitas dúvidas sobre sua aplicação. Para ratar de um tema tão complexo, decidimos entrevistar  um profissional especializado. Quem nos falou com propriedade sobre o assunto foi Osmano Valente,  que coordena o curso de pós-graduação em Engenharia Automotiva do Instituto de Educação Continuada (IEC) da PUC Minas. Graduado em engenharia mecânica, Osmano atualmente se dedica à área acadêmica e não tem vínculos empregatícios com a indústria automotiva, mas trabalhou por 23 anos na Fiat e por três anos em empresas fornecedoras de autopeças.

Para explicar o conceito de plataforma, Osmano relembra a indústria automobilística de 50 anos atrás, lá pelos idos anos de 1960, quando a maioria dos automóveis nascia a partir de um chassi, separado da carroceria. Ônibus, caminhões e veículos pesados de modo geral ainda são produzidos assim. Esse tipo de construção caiu em desuso com o advento das carrocerias do tipo monobloco, que são autoestruturantes. O recurso permitiu o desenvolvimento de carros mais leves e mais eficientes em termos de dirigibilidade.

Chassi OF 1722 da Mercedes-Benz, para ônibus urbanos: veículos pesados mantêm a construção com chassi separado da carroceria

Osmano destaca que plataforma é o nome que se dá à parte inferior do monobloco, composta por longarinas, painel central e assoalhos, além de outros componentes. Ele explica que uma plataforma é formada por três seções estruturais: frontal, intermediária e posterior. “Geralmente, em plataformas, a parte posterior é a que mais sofre alterações de um veículo para o outro, enquanto a frontal é a menos mutável”, explica o engenheiro.

Segundo Osmano, a alteração de uma ou outra peça estrutural em veículos que são desenvolvidos sobre a mesma plataforma, principalmente na traseira, é uma prática comum entre os fabricantes e, de modo geral, não chega a comprometer o resultado. “O que vale é o conjunto como um todo. Se a maior parte das peças é comum, há compartilhamento de plataforma”, diz.

O compartilhamento de peças estruturais ocorre por questões financeiras. “Desenvolver assoalhos do zero, por exemplo, gera despesas que podem ir de alguns milhões a até dezenas de milhões. Além do projeto, os custos envolvem principalmente a concepção do ferramental para produzir as peças. Sendo assim, não é demérito algum compartilhar esses componentes, pelo contrário, é uma vantagem e um grande desafio do ponto de vista tecnológico“, explica Osmano.

Plataforma Fiat: componentes estruturais são compartilhados por diversos veículos do grupo

Contudo, o compartilhamento não deve implicar na utilização de plataformas obsoletas. O engenheiro explica que a estrutura do veículo tem que ser rígida, para suportar as torções às quais é submetida durante o movimento do veículo e impactos em caso de acidente, mas não pode ser rígida demais, senão há prejuízo ao conforto. “Os projetos mais recentes são mais seguros e confortáveis. A tecnologia avança”, conclui Osmano.

Uma vez escolhida ou desenvolvida a plataforma de um veículo, serão adotados ou projetados os demais componentes. Osmano explica que os projetos automobilísticos passam por quatro grandes grupos de engenharia: a plataforma faz parte do grupo chamado de chassi (não confunda com o conceito de chassi citado no início do texto; aqui ele diz respeito  a estrutura, suspensão, rodas, eixos, etc). Os outros três são carroceria (peças de acabamento, lataria, etc), motopropulsor (motor e câmbio) e eletro-eletrônica (chips, centrais, etc).

O VOYAGE E A PLATAFORMA PQ24

Assoalho posterior do Voyage, formado por duas chapas

Voltemos ao Voyage, que serviu de gancho para esta matéria. Fotografamos os assoalhos traseiros do sedã e do irmão Gol, assim como os de Fox, Polo Sedan e Polo hatch (veja todas as imagens abaixo, na galeria). As imagens mostram que, no Gol atual, o componente assemelha-se com o do antecessor (conhecido informalmente como G4), mas não chega a ser exatamente igual nos dois modelos. A cuba do estepe parece idêntica, o que indica um molde em comum. No mais, notam-se algumas diferenças, como nos relevos da chapa e também na largura da peça, ligeiramente maior no modelo mais novo. Já Fox e Polo compartilham exatamente o mesmo elemento.

Ainda sobre o Voyage, nota-se que o sedã utiliza o mesmo assoalho posterior do irmão Gol, acrescido de um prolongamento, o que não ocorre com o Polo Sedan, dotado de um componente próprio, mais longo que o da versão hatch. A solução mais utilizada pela indústria automotiva é justamente a aplicação de assoalhos de porta-malas diferentes para hatches e sedãs. No caso do Voyage, a adoção do mesmo elemento nas duas carrocerias gera ao menos um inconveniente: a dificuldade em acessar o estepe, que fica muito ao fundo do compartimento. Por outro lado, a Volkswagen diz que há vantagem se houver uma colisão na traseira do veículo: dependendo da intensidade da batida, é possível substituir apenas a chapa mais à frente, ao invés do assoalho como um todo, o que gera economia ao reparo.

No mais, na época do lançamento do chamado Gol G5, em 2008, a Volkswagen informou à imprensa que o modelo compartilhava o eixo traseiro com o antecessor, G4. Vale ressaltar que ambos utilizam o mesmo tipo de suspensão, do tipo semi-independente, por barra de torção. Em compensação, a suspensão dianteira seria mais nova, compartilhada com o atual Polo Europeu ( quando o modelo chegou ao mercado, o conjunto havia acabado de estrear no Seat Ibiza). Novamente,  é válido salientar que os dois conjuntos são do mesmo tipo, Mc Pherson, independente. Os assoalhos centrais são os mesmos dos irmãos mais caros. Quanto à carroceria propriamente dita, montada sobre a estrutura, o Polo nacional utiliza soldas a laser na montagem, o que não ocorre no Gol.

No fim das contas, observa-se que alguns dos componentes estruturais a dupla Gol/Voyage Gol sofreram alterações em relação aos irmãos Fox e Polo. Contudo, como o que vale é o conjunto como um todo, comum às três famílias de veículos, não é errado dizer que todos foram desenvolvidos sobre a mesma plataforma, denominada internamente pela Volkswagen de PQ24.

Agradecimentos: Daniel Carneiro, Denise Miranda, Fernanda Penna, Letícia Orlandi, Patrícia Almada e Thiago Perez

Imagens: Marlos Ney Vidal e Alexandre Soares/Autos Segredos, Mercedes-Benz/Divulgação, Fiat/Divulgação e www.marcotraverso.it/Reprodução

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