Foto: Marcos Santos/Fotos públicas (20/1/2015)

Por Marcus Celestino

Nos meses que antecederam o nascimento do Autos Segredos, o petróleo chegou a perder mais da metade do seu valor. Em julho de 2008, o preço do barril atingiu um pico e, de acordo com dados do World Bank Group, foi negociado a 132,83 dólares. No entanto, em março do ano seguinte, sofreu queda brusca e passou a ser vendido a 46,65 dólares. Mas o que isso significou, na prática, para o bolso do motorista brasileiro?

A princípio, um reajuste de 0,76% no preço da gasolina e de 0,85% no valor do diesel. Segundo o relatório de defesa da concorrência, elaborado pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), em março de 2009 a gasolina comum custava na bomba, em média, R$ 2,514. O litro do gasóleo era comercializado a R$ 2,125. Nas refinarias da Petrobras, contudo, o reajuste foi ligeiramente menor. O diesel ficou 0,78% mais caro, custando, em março, R$ 1,923. Já a gasolina teve aumento de 0,69%, sendo vendida a R$ 2,176. Nessa época, vale ressaltar, a estatal de capital aberto ainda não havia adotado sua atual política de preços, que atrela os preços dos combustíveis derivados do petróleo às flutuações dos mercados internacionais.

Em março deste ano, a gasolina na bomba, segundo a ANP, era comercializada a um valor médio de R$ 4,305, podendo chegar a um preço máximo de módicos R$ 5,988 o litro. Nas refinarias a média para o combustível é de R$ 3,872. O máximo? R$ 4,740. O diesel foi vendido nos postos por um preço médio de R$ 3,530. Já o valor médio de distribuição do gasóleo ficou a R$ 3,165. No ano passado houve recuo nos preços de gasolina e diesel para as distribuidoras, mas a retração não foi repassada para o consumidor final.

GNV

O preço médio do Gás Natural Veicular nos postos em março 2009 era de R$ 1,715/m³. Já no mesmo período deste ano, o preço médio de repasse ao consumidor foi de R$ 3,154. Nas distribuidoras, a média ficou na casa de R$ 2,402. Assim como gasolina e diesel, o GNV também passou a ser afetado pela política de preços da Petrobras, que entrou em vigor em julho de 2017, durante o governo Michel Temer. A diferença é que os reajustes do insumo são trimestrais, definidos em contrato com as distribuidoras de gás natural de todos os estados da federação.

Etanol

O etanol foge um pouco à regra. Suas oscilações de preço levam em consideração, além da sua competitividade ante os combustíveis concorrentes, outros fatores. Os custos de produção, a sazonalidade e o valor do açúcar são três pontos cruciais na definição dos preços de distribuição para os postos. A indústria, inclusive, passou por apertos em 2014, quando o governo Dilma Rousseff decidiu congelar os preços da gasolina para conter a inflação. Empresários do setor tiveram de segurar seus preços de forma a acompanhar os movimentos do concorrente. Por conseguinte, de acordo com a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), 44 usinas — de 384 — fecharam ao longo de cinco safras no período. Todavia, favorecido pela política adotada pela Petrobras, que fez com que diesel e gasolina fechassem 2018 em alta, acima da inflação, o valor médio do litro do etanol teve queda anual de 3,05%.

Em março de 2009, o litro do álcool custava R$ 1,478 na bomba. O insumo era distribuído a R$ 1,118. Já em março deste ano, seu preço médio de comercialização nos postos foi de R$ 2,950. Nas distribuidoras, o valor ficou em R$ 2,613.

A conta

Um novo salário mínimo passou a vigorar em fevereiro de 2009. O governo Lula fez um reajuste de 12% no antigo valor, passando o mínimo para R$ 465. Em março daquele ano, um proprietário de um Gol G5 1.0 manual gastava cerca de R$ 138,27 para encher o tanque de combustível do seu automóvel com gasolina. Com etanol, o motorista desembolsava R$ 81,29. Agora, se o proprietário tivesse um Gol G5 equipado com kit GNV de terceira geração com um cilindro de 10m³, ele tiraria do bolso R$ 17,15. Digamos que esta mesma pessoa também fosse dona de uma Chevrolet S10 Tornado 2.8. Para encher o tanque da picape, ela gastaria R$ 142,37.

Se corrigirmos o valor do salário mínimo da época com base no Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) para a atualidade*, teremos um mínimo, segundo o Banco Central do Brasil, de R$ 814,85. Já os litros da gasolina e do diesel, também devidamente corrigidos, teriam preços médios de cerca de R$ 4,40 e R$ 3,72 respectivamente. O etanol fica com valor de R$ 2,58, enquanto o GNV tem preço corrigido de R$ 3,00. Se quisesse, então, abastecer o seu Gol G5 com gasolina, o motorista gastaria R$ 242. Com etanol ele teria de desembolsar R$ 141,90 e, com GNV, R$ 30,00. Para encher o tanque da picape, o proprietário deixaria na mão do dono do posto R$ 249,24.

Cerca de 30,7% do salário do proprietário ficaria comprometido caso ele optasse por encher o tanque com gasolina. O equivalente a 17,4% do mínimo seria usado para abastecer com etanol, 3,7% se optasse pelo GNV e 30,65% para o diesel.

Salário mínimo

Com salário mínimo e valores dos combustíveis atuais a conta é, evidentemente, outra. O governo Jair Bolsonaro fixou o mínimo a R$ 998,00. Com o preço da gasolina referente ao último mês, o dono do Gol teria de pagar ao posto R$ 236,78 para encher o tanque. Para abastecer com etanol gastaria R$ 162,25 e no GNV R$ 31,54. Quanto ao diesel para o utilitário, teria de pagar R$ 236,51.

Gasolina
Foto | Tomaz Silva/Agência Brasil

No atual cenário, 23,3% do salário mínimo é utilizado para encher o tanque do automóvel com gasolina e 16,3% com etanol. No caso do GNV, 3,2%. Se o proprietário quisesse encher o tanque da S10 desembolsaria 23,7% do seu salário.

(*) As correções foram calculadas com base na última atualização do INPC até o fechamento desta matéria, no dia 3 de abril

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