Mercedes-Benz Arocs 8×4 é o “Classe G” dos caminhões

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O caminhão mais caro da marca alemã é um off-road de R$ 1,1 milhão feito para o trabalho pesado em mineradoras e grandes obras de construção civil

Por Hairton Ponciano Voz

Para alcançar a maçaneta da porta, é preciso erguer o braço acima da cabeça. Depois, é necessário subir quatro degraus para chegar à cabine. Lá do alto, dá quase para ver a curvatura da terra. O teto está a 3,7 m do chão. Dizer que caminhão é grande é chover no molhado. Mas o novo Arocs 8×4 (pronuncia-se árocs) impressiona. Ele nem é o maior modelo da Mercedes-Benz, mas é o mais novo e o mais caro. Custa R$ 1,1 milhão e foi desenvolvido para trabalhar em condições severas. Seu destino são mineradoras e grandes obras de construção civil. É um verdadeiro off-road, uma espécie de “Classe G” dos caminhões, com tração em dois dos quatro eixos. Os dois dianteiros são direcionais.

Diferentemente de outros modelos feitos pela Mercedes-Benz até hoje, o Arocs 8×4 não nasceu a partir de um modelo estradeiro, adaptado para o off-road, como era o caso do Actros 4844 8×4. De acordo com a marca alemã, o novo caminhão foi desenvolvido para o fora-de-estrada. Para isso, levou em conta as necessidades de cada cliente. Em mineradoras, por exemplo, os caminhões descem a profundidades de mais de 150 metros e voltam carregados sobre pisos de baixa aderência, com pedras soltas e ao lado de enormes precipícios. É um longo caminho cercado de perigos. Também podem fazer o inverso: descida carregada e subida vazia.

Pois o Mercedes-Benz Arocs 8×4 tem capacidade de trabalhar em condições como essa levando até 58 toneladas na caçamba. Essa é a capacidade nominal, mas o motorista da Mercedes que me acompanhou no test-drive (ele ao volante, eu aproveitando a visão privilegiada) confidenciou que normalmente eles levam mais que isso no dia a dia.

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O Arocs é um caminhão extrapesado que nasceu na Europa, mas a Mercedes-Benz do Brasil fez adaptações para adequá-lo às condições do País. Ele é produzido em São Bernardo do Campo, e, apesar do preço, já teve 200 unidades vendidas, que devem ser entregues ainda este ano.

Nesse tipo de operação, o caminhão é uma cara ferramenta que funciona sem interrupções. Quando vence o turno de trabalho de um motorista, outro assume o volante. E assim sucessivamente.

510 cv para andar a 20 km/h

O motor OM 460 LA tem 13 litros, seis cilindros em linha e 510 cavalos de potência a 1.800 rpm. O torque também é colossal: 2.400 Nm (244,7 mkgf) a apenas 1.100 rpm. Tudo isso serve para fazer muita força em baixa velocidade. Por isso, o Arocs sai devagarinho e vai trocando marchas sem parar. Ele pode estar na nona marcha a menos de 15 km/h, por exemplo. Em nosso passeio pela pista da Mercedes, em Iracemápolis (SP), o caminhão estava levando “apenas” 20 toneladas, praticamente ⅓ de sua capacidade. Então, a coisa estava fácil para ele. Mesmo assim, nosso passeio foi quase uma câmera lenta, e mal passamos dos 20 km/h.

De acordo com a ficha técnica, ele é capaz de alcançar 106 km/h, mas isso é mais um dado teórico do que prático. Isso porque ele foi concebido para fazer força e se deslocar sobre pisos fora de estrada, não para correr.

As relações de marcha são definidas de acordo com as necessidades do cliente. E os pneus repletos de gomos, que a Pirelli classifica expressamente como “off the road” na banda de rodagem, têm desenho e composto feitos para agarrar em pedras e barro. No asfalto, teriam vida curtíssima.

Botão de partida e volante multifuncional

A julgar pela impressão de quem está como passageiro, a tarefa do motorista não é das mais árduas. A direção hidráulica é muito leve, e o volante de grande diâmetro facilita as manobras. A coluna totalmente articulada é ajustada para cima, para baixo, para a frente e para trás. Para movimentá-la, basta acionar um botão com o pé esquerdo, no pé da coluna. O funcionamento é pneumático.

O mesmo vale para o banco do motorista, que oferece diversas opções de ajuste, incluindo apoio lateral. Você vai mexendo e escutando o “tchiii, tchiii, tchiii” típico do dispositivo a ar. O volante é do tipo multifuncional, com botões de som e de controle automático de velocidade. Quem diria!

Quer mais “quem diria”? Pois o modelo tem requintes como chave presencial e botão de partida, muito semelhante ao dos carros de luxo da marca.

Até o ar-condicionado é off-road

Há ainda som com porta USB, MP3 e Bluetooth, além de ar-condicionado, que, como tudo no caminhão, foi desenvolvido para operar em situações de muita poeira. O filtro, por exemplo, está em posição mais fácil para proporcionar rápida substituição. Tudo para que o bruto não fique muito tempo parado em manutenção. Segundo André Dias, analista de marketing de caminhões da Mercedes, há casos em que é preciso desmontar parcialmente o painel para trocar o filtro. Em um caminhão que não pode parar, tempo é (muito) dinheiro.

Pela mesma razão, a Mercedes oferece a possibilidade de manter mecânicos e peças nas próprias instalações do cliente (mineradora ou obra), para que o atendimento em caso de revisões ou reparos seja rápido.

Ainda sobre o tópico manutenção, o para-choque dianteiro parrudo, que garante um aspecto bravo ao Arocs, é dividido em três peças. Assim, em caso de dano parcial, não é preciso trocar o componente inteiro. Os radiadores têm uma tela para proteção contra pedras menores e insetos. Pela mesma razão, os faróis recebem grades. Há luxos como luzes diurnas de LEDs. Já as lâmpadas ainda são halógenas, mas Dias adianta que no ano que vem o modelo deverá ganhar faróis de LEDs.

Como a poeira é uma companhia constante do Mercedes-Benz Arocs 8×4, além dos filtros “off-road” até mesmo os limpadores de para-brisa ficam na vertical quando desligados, para evitar acúmulo de pó. Do lado de dentro, uma mangueira de ar comprimido facilita a limpeza.

E o que esterça esse bruto de 8,2 metros? O Mercedes-Benz Arocs 8×4 tem diâmetro de giro de 21,3 metros (de parede a parede). Para isso colaboram os dois eixos dianteiros direcionais e até a carroceria mais estreita do que a do Actros. Essa característica facilita as manobras em minas e grandes obras, onde nem sempre há muito espaço. Para auxiliar, além dos retrovisores normais, o modelo ganhou dois espelhos extras no alto do para-brisa e sobre a porta direita, ambos voltados para baixo, para que o motorista possa monitorar o solo perto do caminhão e observar algum obstáculo.

Câmbio PowerShift: esse nome lembra algo?

Para dosar tanta potência e torque, o Arocs vem com um câmbio automatizado de 12 marchas denominado… PowerShift! Aquele que deu muita dor de cabeça a donos de Ford. Mas calma: o bruto da Mercedes não vem com a problemática caixa de transmissão do Fiesta. Eles são apenas homônimos, mas com CPF diferente. No Arocs, o dispositivo tem uma embreagem de dois discos, com diâmetro de 44 cm.

A alavanca de mudanças é uma pequena peça localizada atrás do volante. As trocas são feitas automaticamente, com rapidez e suavidade. Uma logo após a outra, quase como em carros esportivos. A diferença é que na cabine a gente vai ouvindo as passagens de marcha e a velocidade sobe bem devagar (lembremos que há 20 toneladas na caçamba). Se o motorista quiser, pode movimentar manualmente a alavanca para as trocas manuais.

Como em veículos de passeio, há três modos de condução: Economy, Standard e Power Off-road. O primeiro é indicado para caçamba vazia e piso plano com boa aderência. O segundo é para situação intermediária, com caminhão carregado e rampas suaves. O último é para situações drásticas, rampas íngremes, piso de baixa aderência e carga total.

A Mercedes não informa o consumo de óleo diesel, declarando que este é um dado que varia de acordo com as especificações de cada cliente. O tanque de combustível tem capacidade para 400 litros.

Potência de 900 cv na frenagem

Mais que os 510 cv do motor, o sistema de freios fornece uma potência total de frenagem de 900 cv. Isso é garantido pelos tambores e também por um retarder, um auxiliar que pode ser acionado pelo motorista e que oferece três níveis de assistência. No mais forte deles, praticamente nem é preciso pisar no freio para o caminhão perder velocidade rapidamente, enquanto o câmbio vai fazendo reduções.

A suspensão também cumpre bem suas atribuições. Com longo curso, o sistema de feixe de molas absorve com competência as imperfeições do piso. Mesmo passando sobre buracos, tanto a cabine como a caçamba permaneceram bem estáveis durante nosso curto teste. Na prática, esse conforto garante menos cansaço para quem passa o dia ao volante, seja homem ou mulher. A propósito, André Dias informa que, embora o trabalho em minas seja severo, o setor emprega muitas mulheres como motoristas.

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