Baixos peso e consumo, airbags laterais, porta-malas, preço e altura do solo são atrativos do Renault Kwid. Porém, falta de isolamento acústico e falhas em ergonomia incomodam

Por Paulo Eduardo

A Renault exagera ao denominar de SUV o hatch subcompacto. Porém, o menor carro da marca fabricado no Brasil tem atributos até melhores que alguns SUVs pela grande altura do solo (18 centímetros) e os excelentes ângulos de ataque (24) e saída (40). O Kwid não esbarra em quebra-molas, rampas nas saídas de garagem, imperfeições na estrada de terra e encara caminhos ruins. O desenho da carroceria também evoca SUV com pouca área envidraçada, principalmente na traseira, e para-lamas largos. A linha de cintura alta é ascendente no sentido da traseira, onde janela traseira tem pouco vidro. Mais lata dá a sensação de robustez.

Plataforma

Se visual vende carro, o Kwid está fadado ao sucesso com linhas chamativas. Construído sobre a nova plataforma CMF-A da aliança Renault-Nissan, o Kwid pesa menos de 800 quilos, são 786 kg na versão Intense, a topo de linha. Depois de o carro vendido na Índia ter sido reprovado no teste de impacto, foram acrescentados cerca de 100 quilos de reforços estruturais, além de airbags laterais dianteiros. Esses últimos contribuem para nota melhor no crash test lateral com e sem poste. A Renault informa estar confiante na prova do Latin NCap, órgão que faz os crash tests, pelos resultados obtidos em testes idênticos na fábrica com a nova plataforma, que tem apenas 20% da indiana.

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A boa impressão do lado de fora não é a mesma no habitáculo de espaço suficiente para quatro adultos. O plástico do painel central e da forração das portas não tem aparência desejável. Mesmo em um carro cuja versão de entrada custa R$ 30 mil -, a testada com ar-condicionado, direção elétrica e kit multimídia ronda os R$ 40 mil -, poderia ter acabamento de melhor aspecto. Entrar e sair do banco traseiro exige abaixar bem para não bater a cabeça. Entretanto, assentado, a altura para cabeça é muito boa atrás. Incômodo é o acesso. Falha em ergonomia.

Posição elevada

Posição de dirigir é bem elevada, como no SUV, mas assento é curto e o banco do motorista não tem regulagens assim como a coluna de direção. Por isso não se encontra logo a melhor posição de dirigir. E em viagens longas, sente-se o cansaço por causa da anatomia dos bancos. Volante tem boa pega e material rugoso de revestimento evita deslizamento acidental das mãos. O quadro de instrumentos é bem legível. Outra falha em ergonomia são os comandos elétricos dos vidros deslocados para o painel. Economia de chicote elétrico em projeto de baixo custo como esse. Portas travam automaticamente a partir de 7 km/h, mas não destravam pela maçaneta interna sem que antes seja acionadoo comando central no painel, mesmo com a ignição desligada. Pouco prático.

Segurança

Retrovisores têm comandos elétricos e estão bem dimensionados. Além dos airbags laterais, o Kwid tem dispositivo de segurança para incentivar o uso do cinto: alertas visual e sonoro durante dois minutos, caso motorista e passageiro da frente não afivelem o cinto a partir de 20 km/h. Só não usa quem não quer, por que o aviso sonoro incomoda muito. Ótima estratégia. Cintos dianteiros têm regulagem de altura e há dois pontos de Isofix para fixação de cadeiras infantis atrás. No banco traseiro, apenas o central é abdominal e há três apoios de cabeça.

O porta-malas é bom para as dimensões do carro. A tampa fecha fácil assim como todas as portas. Faltam apenas pegas internas para o fechamento. Nesta versão, a tampa do porta-malas pode ser por meio de comando elétrico interno ou na chave. O local do tambor da fechadura está coberto por uma tampa metálica. Nas outras versões pode ser aberta com chave.

Troca de pneu

Para facilitar a troca de pneu, há um pino adaptador que ajuda na centralização dos três parafusos. O Kwid tem apenas três parafusos no cubo de cada roda. Estamos habituados a quatro. Outra redução de custo, a exemplo do limpador com uma palheta, como no Uno.

Dirigindo

 Os engates do câmbio são leves e precisos, mas ouve-se o barulho do trambulador. Dependendo da maneira como o carro é colocado em movimento ocorre vibração no painel. Não é sempre. O motor 1.0 de três cilindros está mais leve em relação ao do Sandero pela retirada do comando variável de válvulas. Para um carro de baixo peso, o motor dá conta do recado sem precisar dessa tecnologia, segundo o fabricante. E usa corrente em vez de correia dentada. Se por um lado facilita a manutenção, por outro incomoda o ruído metálico. Além disso, o tanquinho de partida a frio divide parede de plástico com o reservatório de água do lavador do para-brisa. A Renault ainda insiste no tanquinho em motor moderno.

Um dos principais incômodos do Kwid é a ausência de insonorização. São muitos os ruídos no habitáculo, principalmente aqueles vindos do painel central e forros de porta sobre calçamento e pisos irregulares de terra ou asfalto. O desconforto acústico é evidente.

Acelerações

Acelerações não são rápidas. O carro leva mais de 15 segundos para chegar a 100 km/h com gasolina. Nas retomadas é preciso pisar fundo. O torque máximo se dá numa faixa de rotação elevada (4.250 rpm). O motor acorda a partir de 2.500 rpm. Mesmo com quatro ocupantes a bordo e ar ligado, o Kwid se comporta dentro do esperado na cidade e na estrada. Acima de 120 km/h, a força do vento provoca ligeira sensação de instabilidade pela leveza da carroceria.

Faróis iluminam bem e contam com auxiliares de neblina. Limpador único dianteiro e lavador do vidro são eficientes.

A grande altura em relação ao solo não combina com curvas arrojadas. A carroceria inclina bastante nas curvas acentuadas de baixa. A suspensão sacrifica o conforto em piso irregular.  A direção com assistência elétrica é leve, facilita manobrar, e um pouco sensível em alta. O diâmetro de giro de apenas 10 metros torna o Kwid bom de manobra, característica bem urbana.

Consumo

O consumo é baixo: computador de bordo registrou de 10 km/l a 12,8 km/l na cidade e de 15,4 km/l a 17,8 km/l. Sempre com gasolina. A avaliação foi feita com gasolina, que é o pior desempenho do carro. Com álcool, a potência sobe 4 cv, indo para 70 cv e o torque passa de 9,4 kgfm para 9,8 kgfm. É significativo para um carro de baixa potência. A garantia é de 3 anos ou 100 mil quilômetros.

Preços

O Kwid é um carro mais indicado ao uso urbano, mas não decepciona na estrada com carga útil próxima do limite. O baixo consumo de combustível e o preço da versão intermediária tornam boa a relação custo/benefício, mas lembrando que se trata de projeto com acabamento mais simples. A versão topo de linha Intense tem preço sugerido de R$ 39.990; a intermediária Zen, R$ 34.990 e a de entrada Life, R$ 29.990. Além dos quatro airbags e ABS, a versão Intense vem com ar, direção, trava e vidros dianteiros com acionamento elétrico, computador e central multimídia com tela de 7 polegadas, GPS, Bluetooth, ligações e câmera de ré, entre outros.

Ficha técnica

Motor
De três cilindros em linha, 999cm³ de cilindrada, flex, de 70 cv (álcool)/66 cv (gasolina) de potências máximas a 5.500 rpm e torques máximos de 9,8  kgfm (a) e 9,4 kgfm (g) a 4.250 rpm

Transmissão
Tração dianteira e câmbio manual de cinco marchas

Direção
Tipo pinhão e cremalheira com assistência elétrica

Freios
Disco ventilado na dianteira e a tambor na traseira

Suspensão
Dianteira, do tipo McPherson, com barra estabilizadora; traseira, eixo rígido

Rodas/pneus
5×14”de aço/165/70R14

Peso
786 kg

Carga útil (passageiros+ bagagem)
375 kg

Dimensões (metro)
Comprimento, 3,68; largura, 1,58; altura, 1,47; distância entre-eixos, 2,42

Porta-malas
290 litros

Desempenho
Aceleração até 100 km/h: 14,7 segundos (a)/15,5 s (g); velocidade máxima,  não divulgada

Consumo (km/l)
Cidade, 10,3 (a)/14,9 (g); estrada, 10,8 (a)/15,6 (g)

Fotos | Marlos Ney Vidal/Autos Segredos

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