Entre os anos de 2004 e 2005, eu dirigia um sedã sobrealimentado em meus deslocamentos diários. O veículo em questão era um Marea Turbo. Quando assumi o volante do 408 THP, foi impossível não lembrar do Fiat. Uma comparação pura e simples não seria justa, mas a ideia aqui não é apontar qual o melhor, e sim tornar mais fácil a compreensão do conjunto mecânico do Peugeot e de seu comportamento em ciclo urbano. Claro, também serve como curiosidade.
O Marea Turbo ao qual me refiro aqui não havia sofrido qualquer modificação mecânica. Dispunha de 182 cv e 27 mkgf, extraídos de um motor 2.0 de cinco cilindros e 20 válvulas. O 408 THP, dono de um propulsor 1.6 16V de quatro cilindros, entrega 165 cv e 24,5 mkgf. Apesar dos valores absolutos menores, o Peugeot é bem mais ágil em trânsito urbano, pois o torque chega integralmente a baixos 1.700 rpm. No Fiat, a força máxima só aparecia a 2.750 rpm.
Em estradas e vias desimpedidas, o comportamento do Marea era empolgante. Quando o turbocompressor entrava em ação, o carro dava um salto para a frente, lançando o corpo dos ocupantes contra os bancos. Porém, em meio ao trânsito problemático das grandes cidades, a coisa mudava de figura, pois o motor demorava a encher (efeito conhecido como turbo-lag) e as respostas eram lentas. Além do mais, o câmbio manual de cinco marchas tinha relações longas, característica que fazia as rotações caírem muito nas trocas (embora trouxesse vantagens em outras situações). Era preciso trabalhar bastante a transmissão para manter o giro alto, tarefa cansativa em tráfego lento.
O 408 não tem o mesmo vigor com pista livre pela frente, mas apresenta comportamento mais agradável na cidade, com respostas imediatas desde os baixos regimes. Ele acelera de forma linear e constante, sem sobressaltos, revelando reações mais adequadas a vias de média velocidade. Embora operacionalmente não faça sentido falar sobre as transmissões dos dois veículos, devido à diferença conceitual de um sistema manual para um automático, a do Peugeot tem a vantagem de fazer o giro cair menos nas trocas, pois a adoção da sexta marcha tornou as relações mais curtas, favorecendo ainda mais as reações em ciclo urbano.
A explicação óbvia para as diferenças de comportamento entre os dois motores turbo citados aqui se deve à proposta de ambos. Enquanto o Marea Turbo era um veículo esportivo, com ênfase no desempenho, o 408 THP segue por uma linha mais eclética: ele anda rápido, mas não faz da performance uma prioridade absoluta, se comprometendo também a beber e a poluir pouco, de acordo com a filosofia conhecido como downsizing. Seguindo tal receita, a Peugeot conseguiu desenvolver um veículo eficiente do ponto de vista da versatilidade de utilização.
Deixando meu ex-Marea Turbo de lado, o Peugeot 408 THP realmente parece estar sempre disposto a atender ao comando do pé direito. Ele não vira uma besta quando o acelerador é acionado, mas responde com prontidão e rapidez em praticamente todas as faixas de rotação. O câmbio funciona em um ritmo um pouco mais lento e às vezes demora para fazer reduções ou passagens de marcha. Ainda assim, a transmissão não chega a comprometer e, de modo geral, mostra bom entrosamento com o propulsor.
O que parece estar em desacordo com o uso em cidades é o tamanho do 408. Ele é um dos maiores sedãs médios do país, com 4,69 metros de comprimento. Embora a carroceria graúda permita grande espaço no habitáculo e no porta-malas, acaba atrapalhando na hora de fazer manobras em locais apertados. Encontrar um lugar para ele na rua, então, é missão bem difícil. Outro dia, o sedã não coube em uma vaga da qual havia saído um Vectra B, que mede 4,45 metros. Pois é, no exíguo espaço urbano, 24 cm podem fazer toda a diferença.
Continue acompanhando nossas impressões sobre o 408. Ao final, publicaremos a avaliação completa do modelo.
Fotos | Marlos Ney Vidal/Autos Segredos
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