Com projeto dos anos 1990, Fiat Strada tem na vocação cargueira seu maior apelo comercial; mesmo assim, preço de compra é alto diante do conteúdo e da mecânica datada
Por Alexandre Soares
Que a Fiat Strada está ultrapassada, todo mundo já sabe: único veículo derivado da primeira geração do Palio que ainda está no mercado, a picape completa, em 2018, nada menos que 20 anos. Não por acaso, atualmente as vendas estão concentradas nas versões de trabalho, voltadas para consumidores interessados na função utilitária propriamente dita, e em praticamente nada mais. Tanto que a última novidade da gama é a opção Strada Hard Working, que não se propõe ao lazer, e sim a pegar no pesado.
Mecânica sem atualizações
Sob o capô, a Fiat Strada Hard Working traz o velho motor 1.4 Fire, que já foi banido dos carros de passeio da Fiat, mas segue firme sob o capô dos utilitários leves da marca: além da picape, ele equipa ainda o furgão Fiorino. O propulsor, que traz bloco em ferro fundido, cabeçote em alumínio, quatro cilindros e oito válvulas com variação no tempo de abertura e comando único, movimentado por correia dentada, desenvolve 85 cv de potência com gasolina e 88 cv com etanol, a 5.750 rpm, além de 12,4 kgfm de torque com o primeiro combustível e 12,5 kgfm com o segundo, a 3.500 rpm. O sistema de partida a frio utiliza subtanque. Tecnicamente, o powertrain é bastante ultrapassado, mas goza de boa reputação e manutenção fácil. O câmbio é sempre manual de cinco marchas.
Verdade seja dita, esse conjunto mecânico consegue movimentar a Strada com alguma agilidade. A picape é bem-disposta na cidade, graças a seu baixo peso de 1.113 kg, ao câmbio de relações próximas e à boa disposição do motor em baixas rotações. Pena, porém, que o 1.4 não tenha o mesmo brilho em todas as faixas de giro: em alta, além de perder rendimento, ele se torna um tanto áspero, o que se fica mais evidente devido à transmissão de relações mais curtas, que faz o 1.4 trabalhar a 3.700 rpm em quinta marcha a 120 km/h. No fim das contas, dirigir o modelo não é empolgante, mas tampouco é desagradável; a sensação é de familiaridade, pois, com exceção das dimensões da carroceria, lembra bastante qualquer membro da antiga linha Palio, da qual a picape herdou qualidades e defeitos.
Consumo é bom na cidade, mas só regular na estrada
Em consumo, a Fiat Strada Hard Working obteve resultados razoáveis. Na cidade, mesmo ultrapassado, o motor Fire até fez a picape obter boa média, de exatos 10,5 km/l com gasolina. Na estrada, porém, o câmbio curto cobra, literalmente, seu preço, e os números ficaram em 12,8 km/l, também com o combustível derivado do petróleo, Ficou abaixo do que se espera de um veículo leve (o peso em ordem de marcha é de 1.113 kg) equipado com propulsor de baixa cilindrada. Ao menos a autonomia não chega a ser prejudicada, já que o tanque de combustível de 58 l permite rodar até 742 km sem abastecer.
Dinâmica conhecida
Entre os pontos positivos, além da agilidade, está a calibração do sistema hidráulico de assistência da direção, que é leve em manobras e suficientemente progressivo para transmitir confiança em alta velocidade. Nesse aspecto, inclusive, a modesta versão Hard Working chega a apresentar até algumas vantagens em relação à top de linha Adventure, cujos pneus maiores tornam o volante mais pesado e limitam o raio de giro (devido à falta de espaço para eles dentro das caixas de roda). Entre os pontos negativos, estão os engates imprecisos da transmissão, cuja alavanca tem curso muito longo, e o pedal de embreagem com pouca modulação (dois inconvenientes conhecidos da linha Palio).
Suspensão
A suspensão mantém a antiga, embora robusta, arquitetura com sistemas do tipo McPherson na dianteira e com eixo rígido com molas parabólicas na traseira. Em desuso mesmo em veículos de proposta estritamente utilitária, essa solução faz a caçamba da Fiat Strada pular em ondulações, valetas e quebra-molas. Porém, é verdade que, apesar do desconforto, a picape supera esses obstáculos urbanos sem raspões, graças à sua altura livre de 170 mm em relação ao solo. Por outro lado, a estabilidade também deixa um pouco a desejar: em uma tocada prudente, sem abusos, não há sustos, mas tentar buscar o limite em curvas ocasionará em perdas de aderência tanto das rodas dianteiras quanto das traseiras, dependendo da situação. Os freios utilizam o simples esquema de discos ventilados na dianteira e tambores na traseira: funcionam bem quando o veículo está vazio, mas, considerando que a capacidade de carga é de 705 kg, um conjunto de discos nas quatro rodas cairia muito melhor.
Interior da Strada Hard Working é despojado
Por dentro, a Fiat Strada Hard Working mescla materiais simples com visual datado. O habitáculo é tão voltado para o trabalho que os revestimentos são todos em preto e cinza escuro, para disfarçar melhor a sujeira. Com exceção desse arranjo de cores, a atmosfera é conhecida, com painel e forrações de portas compartilhados com toda a linha Palio. Esses componentes são integralmente confeccionados em plástico rígido, e é possível notar alguns parafusos expostos. Nenhuma dessas características, é verdade, chega a ser imperdoável em uma picape de proposta majoritariamente utilitária. Não se pode dizer o mesmo, porém, do revestimento plástico da coluna dianteira direita que, na unidade avaliada, estava com a extremidade superior desencaixada: desleixo que salta aos olhos em qualquer tipo de veículo.
Ergonomia
A posição de dirigir é, de modo geral, boa, como em qualquer derivado do Palio. Mesmo sem ajuste telescópico da coluna de direção, que pode ser movimentada apenas em altura, é fácil encontrar a postura ideal para conduzir, para o qual ajuda a regulagem de altura do banco do motorista. O volante de ótima pegada também colabora para a ergonomia do posto de comando, que só não é perfeita devido aos pedais deslocados para a direita, que exigem um movimento desconfortável e anti-natural da perna esquerda na hora de pisar na embreagem; trata-se de outra característica típica dos modelos compactos da Fiat, presentes inclusive nos recentes Mobi e Argo.
Ocupantes e carga
O painel, apesar do visual cansado, tem comandos de fácil acesso. O quadro de instrumentos é completo, com direito a termômetro do fluido de arrefecimento do motor, mas o conta-giros pequeno prejudica a leitura. Os bancos têm conformação anatômica para a coluna, mas as espumas de baixa densidade são mais macias que o ideal, o que causa cansaço em períodos mais longos. Ademais, o assento muito curto não apoia bem as pernas. Quanto à visibilidade, tudo vai bem, menos na hora de olhar para trás, pois a caçamba muito alta (adotada na linha 2014) forma uma barreira considerável. Pelo menos, isso é amenizado pelos retrovisores bem-dimensionados. Os faróis do tipo monoparabólicos apresentam iluminação razoável, ao passo que os limpadores de para-brisa cobrem boa área.
Carrocerias
A Fiat Strada Hard Working é comercializada com carrocerias de cabine simples, estendida e dupla. Na segunda opção, que é alvo da avaliação, há boa área para bagagem e pequenos objetos dentro do carro, mas a caçamba é menor, com 910 litros de volume. Ainda assim, trata-se de um número coerente para a proposta. A capacidade de carga, incluindo o peso dos dois ocupantes, é de bons, para a categoria, 705 kg, e o compartimento traz ganchos para amarração de volumes, protetor de caçamba e porta-escada.
Conteúdo de série e opcional
Com cabine estendida, a Fiat Strada Hard Working tem preço de R$ 62.890. A lista de itens de série é pequena: inclui ar-condicionado, direção hidráulica, computador de bordo, além dos obrigatórios airbags frontais e freios ABS. Qualquer equipamento a mais é vendido como opcional: para ter aparelho de som a bordo, é preciso escolher entre dois kits: o de pré-disposição para rádio, que inclui 2 alto falantes e antena, por R$ 201, ou o Áudio, que adiciona um CD-Player com entrada USB e MP3/WMA com RDS, por R$ 418. Outro pacote, batizado de Pleasure, associa o já citado CD-Player a volante multifuncional revestido em couro, iluminação do porta-luvas, para-sois com espelho, porta-óculos e desivo de soleira nas portas, por R$ 634. Travas e vidros elétricos vêm junto com a abertura interna da portinhola do tanque de combustível, por R$ 1.321. Por fim, o kit Convenience agrupa janela traseira corrediça, capota marítima, maçanetas e retrovisores na cor da carroceria sensores de estacionamento traseiros, calotas, faróis de neblina e aplique na parte inferior do para-choque dianteiro, por R$ 1.206.
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Robusta, mas cara diante da idade e do pouco conteúdo
Ultrapassada, a picape concentra suas vendas, atualmente, nas versões destinadas ao trabalho, como a Strada Hard Working. Vocação cargueira, a picape da Fiat sempre teve, de modo que não chega a ser surpresa que ela ainda desempenhe bem as funções utilitárias propriamente ditas. Porém, atualmente, isso é tudo que se pode esperar do modelo, que, com quase 20 anos de mercado e sem atualizações desde 2013, já não desperta encanto algum. Se é para atuar no mercado apenas como comercial leve, e nada mais além disso, bem que o fabricante poderia ao menos estabelecer preços mais competitivos: afinal, caminhonetes pagam menos IPI, o projeto e os custos de seu desenvolvimento já se pagaram há tempos e a lista de equipamentos de série é reduzidíssima. Portanto, parece existir muita gordura no preço de tabela de R$ 62.890 estabelecido pela marca italiana.
AVALIAÇÃO | Alexandre | Marlos |
Desempenho (acelerações e retomadas) | 7 | 7 |
Consumo(cidade e estrada) | 8 | 8 |
Estabilidade | 6 | 6 |
Freios | 7 | 7 |
Posição de dirigir/ergonomia | 7 | 8 |
Espaço interno | 8 | 7 |
Caçamba (espaço, acessibilidade e versatilidade) | 8 | 7 |
Acabamento | 6 | 6 |
Itens de segurança(de série e opcionais) | 6 | 5 |
Itens de conveniência(de série e opcionais) | 6 | 5 |
Conjunto mecânico (acerto de motor, câmbio, suspensão e direção) | 7 | 6 |
Relação custo/benefício | 6 | 6 |
Ficha técnica da Fiat Strada Hard Working
»MOTOR
Dianteiro, transversal, quatro cilindros em linha com 72 mm de diâmetro e 84 mm de curso, 1.368cm³ de cilindrada, oito válvulas, a gasolina e etanol, capaz de desenvolver potências máximas de de 85 cv (g) e 88 cv (e) a 5.750rpm e torques máximos de 12,4 kgfm (g) e 12,5 kgfm (e) a 3.500 rpm
»TRANSMISSÃO
Tração dianteira e câmbio manual de cinco marchas
»ACELERAÇÃO ATÉ 100 km/h (dado de fábrica)
12,7 segundos com gasolina e 12,2 segundos com etanol
»VELOCIDADE MÁXIMA (dado de fábrica)
170 km/h com gasolina e 173 km/h com etanol
»DIREÇÃO
Do tipo pinhão e cremalheira, com assistência hidráulica
»FREIOS
Discos na dianteira e tambores na traseira, com ABS
»SUSPENSÃO
Dianteira independente McPherson, com barra estabilizadora; traseira por eixo rígido do tipo Ômega, com molas parabólicas
»RODAS E PNEUS
Rodas em aço estampado 5,5 x 14 polegadas; pneus 175/70 R14
»DIMENSÕES
Comprimento, 4,438 m; largura, 1,664 m; altura, 1,590 m; distância entre-eixos, 2,718 m; altura em relação ao solo, 170 mm; peso, 1.113 quilos
»CAPACIDADES
Tanque de combustível, 58 litros; caçamba, 910 litros; carga útil (passageiros e bagagem), 705 quilos
Fotos | Marlos Ney Vidal/Autos Segredos