Chevrolet Cruze Sport6
Foto | Marlos Ney Vidal/Autos Segredos
Turbinado e dotado de muitos itens de série, em especial de segurança, o Chevrolet Cruze Sport6 tem boas credenciais, mas alguns pontos merecem correção
Chevrolet Cruze Sport6
Foto | Marlos Ney Vidal/Autos Segredos

Por Alexandre Soares

Nos últimos tempos, a Chevrolet tem dado sobrenomes esportivos a seus hatches médios no Brasil. Começou o Vectra GT e GT-X (que, na verdade, era o Astra europeu rebatizado) e continua com o Cruze, que, por aqui, sempre foi chamado de Sport6. A atual geração desse último modelo é a que parece fazer mais jus a esse complemento: de todos os citados, ele é o único a ter alguns traços de esportividade um pouco mais latentes.

Chevrolet Cruze Sport6
Foto | Marlos Ney Vidal/Autos Segredos

Duvida? Pois o atual Cruze tem o motor mais potente que o de todos os demais carros citados. O 1.4 turbo de quatro cilindros e 16 válvulas, com injeção direta, desenvolve 153 cv a 5.200 rpm com etanol e 150 cv a 5.600 rpm com gasolina. Ok, esses valores não impressionam muito atualmente, mas o torque é dos maiores da classe: são 24,5 kgfm a apenas a 2.000 rpm com o combustível vegetal e 24 kgfm com o derivado do petróleo  a 2.100 rpm, respectivamente. A unidade traz ainda duplo comando de válvulas variável e construção de bloco e cabeçote em alumínio. Graças ao sistema de alimentação de alta pressão, não é necessário nenhum dispositivo auxiliar de partida a frio.

Personalidade própria

É verdade que o motor é exatamente idêntico ao da configuração sedã. Porém, a suspensão recebeu um ajuste específico: o conjunto traseiro ficou 10% mais rígido, para reduzir a rolagem da carroceria em curvas. A arquitetura básica é a mesma, com sistemas independente do tipo McPherson na frente e semi-independente por eixo de torção atrás. A direção com assistência elétrica também foi recalibrada, para proporcionar mais firmeza em alta velocidade.

Chevrolet Cruze Sport6
Foto | Marlos Ney Vidal/Autos Segredos

A soma desses fatores faz do Cruze Sport6 um carro muito gostoso de dirigir. O motor é o ponto alto: empurra com disposição e tem funcionamento muito suave. Em qualquer faixa de rotação, basta acelerar para sentir o turbo entrando em ação. A estabilidade em curvas está no mesmo nível do desempenho em linha reta, transmitindo confiança ao motorista em curvas de diferentes raios. Além do mais, o controle de estabilidade não é intrusivo. O hatch realmente proporciona ainda mais equilíbrio que o sedã, que já um modelo “na mão”, ao preço de permitir que algumas imperfeições sejam sentidas a bordo, devido ao rodar mais firme e aos pneus de perfil baixo. Apesar disso, o rodar não chega a ser desconfortável.

Chevrolet Cruze Sport6
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Melhoramentos cairiam bem

Na verdade, o Cruze não é, nem se propõe a ser, um esportivo: é hatch médio cômodo com toques de esportividade. Poderia ser ainda mais estimulante se a Chevrolet aprimorasse a direção e o câmbio. A primeira, embora seja muito progressiva e permita bom controle, tem respostas um tanto artificiais. Já à transmissão, faltam paddle-shifts no volante; como em quase todos os automóveis da marca, o motorista precisa manusear botões na alavanca para trocar as marchas sequencialmente. Tais itens são desejáveis em qualquer carro automático, mas principalmente em um modelo como o Sport6, que, de acordo com que o próprio fabricante afirmou durante o lançamento, é voltado para um público entusiasta do prazer ao dirigir.

Pelo menos, o câmbio agrada em outros aspectos. Seu funcionamento é suave e, embora as trocas não sejam lá tão rápidas, ocorrem em momentos desejáveis. O escalonamento das seis velocidades – que é longo, mas correto, sem buracos entre elas – faz o motor trabalhar em baixa rotação em viagens. A 120 km/h, em sexta, o tacômetro marca apenas 2.100 rpm. Se quiser manter o giro alto, o motorista ainda gozará de baixo nível de ruído a bordo pois a insonorização da cabine é muito boa. Esse ponto, inclusive, é um dos quais o Cruze mais evoluiu em relação à antiga geração. Os freios, com discos ventilados na dianteira e discos sólidos na traseira, também são muito eficientes e imobilizam o veículo em espaços curtos.

Chevrolet Cruze Sport6
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Consumo adequado à proposta

Em consumo, o hatch médio também se saiu bem, embora fosse de esperar índices de consumo até melhores diante dos recursos tecnológicos aplicados ao propulsor. De qualquer modo, as médias aferidas pela reportagem são satisfatórias para a categoria: 9 km/l na cidade e 11,6 km/l na estrada, com gasolina. Desse modo, os 52 litros de capacidade do tanque de combustível proporcionam uma autonomia razoável, de aproximadamente 603 km. Vale lembrar que o modelo tem sistema start-stop, de uso quase compulsório, pois não há tecla para desligá-lo.

Interior sem diferenciações

Se, por um lado, o Cruze hatch tem dinâmica diferente de seu irmão sedã, por dentro os dois são idênticos. Isso não é, necessariamente, uma desvantagem, mas é fato que a decoração do habitáculo não tem nada de esportiva, com tons claros e muitos apliques cromados. A Chevrolet podia, pelo menos, ter adotado revestimentos exclusivos. Na geração passada, vale lembrar, o Sport6 era o único a ter o interior preto. Além do mais, considerando o segmento do modelo, o acabamento é não mais que razoável: há acolchoamento no painel e em grandes porções das quatro portas, mas os plásticos são todos rígidos.

Verdade seja dita, apesar de não ser macio, esse material demonstra qualidade bem superior ao similar aplicado nos modelos mais populares da marca: é agradável ao tato, sem asperezas, e tem baixo brilho. O problema é que isso vale apenas para o painel e para as forrações das portas dianteiras: as portas traseiras são revestidas em plástico comum (salvo, claro, na porção estofada), de toque a aparência perceptivelmente inferiores. Pelo menos, não há do que se reclamar dos encaixes. Já o couro dos bancos, por outro lado, é de bom padrão.

Grande por fora e por dentro

Em espaço, o Cruze Sport6 agrada em cheio: é o mais amplo da categoria, com muito espaço para as pernas de todos a bordo, inclusive para o ocupante do meio do banco traseiro, já que o túnel central do assoalho é baixo. A largura do assento permite que três adultos gozem de acomodações razoáveis, mas o trio terá problemas com a cabeça se tiver estatura mais elevada: é que a caída da capota, que ajuda a dar aspecto arrojado ao hatch, rouba área vertical da parte de trás do habitáculo. Outro inconveniente é que ali também não há saídas de ar-condicionado dedicadas, mas ao menos a “turma do fundão” dispõe de uma tomada 12V.

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O porta-malas tem volume declarado de 290 litros. É um valor pequeno, superado até por alguns hatches compactos. Todavia, o compartimento até aparenta ser maior, pois é largo e tem boa área longitudinal, o que permite aproveitar bem o espaço. O vão de abertura é grande, o que possibilita embarcar volumes grandes, mas falta uma alça para puxar a tampa do lado esquerdo (esse item existe apenas do lado direito).

Ergonomia correta

Quanto à ergonomia, o Cruze Sport6 é bastante correto. Todos os comandos têm boa acessibilidade, o volante proporciona pegada perfeita e sua coluna é ajustável em altura e distância. Os bancos apoiam muito bem o corpo e o do motorista tem regulagem de altura; poderiam apenas ter abas laterais um pouco mais generosas, para segurar melhor o tronco em curvas, o que seria coerente com a proposta dinâmica do modelo. O quadro de instrumentos é tradicional, mas merece elogios: além de ter leitura direta, é completíssimo, com direito não só a termômetro do fluido de arrefecimento do motor, mas até à visualização da carga da bateria e da vida útil do óleo, mostradas, entre outras informações, na janela digital central.

Chevrolet Cruze Sport6
Foto | Marlos Ney Vidal/Autos Segredos

Para os padrões atuais, o Cruze tem boa visibilidade, graças ao para-brisa amplo e à linha de cintura que não reduz demais as janelas laterais. As colunas traseiras limitam um pouco o campo de visão traseiro, mas o resultado ainda é razoável para um hatch. Retrovisores bem-dimensionados (sendo que os externos receberam, no ano passado, repetidores de seta), ótimos faróis e limpadores com grande área de varredura (com palhetas que se movimentam em sentidos opostos) também merecem elogios.

Bem-recheado de equipamentos

Assim como ocorre na versão sedã, o Cruze hatch vem bem-recheado de equipamentos. A versão LTZ traz ar-condicionado digital, teto solar, sensores de estacionamento dianteiros e traseiros, vidros elétricos nas quatro portas com sistemas um-toque e antiesmagamento, travas elétricas, retrovisores com regulagem e rebatimento elétrico, chave presencial com botão de partida, partida remota do motor, volante multifuncional, sensores de chuva e crepuscular, rodas de liga leve de 17 polegadas, bancos em couro, cruise-control, câmera de ré, central multimídia com tela sensível ao toque de 8polegadas, GPS, integração com smartphones por meio de  Android Auto e Apple CarPlay, entradas USB e Aux-in, streaming e conexão Bluetooth para celular e sérvio de concierge OnStar.

Chevrolet Cruze Sport6
Foto | Marlos Ney Vidal/Autos Segredos

Há também muitos equipamentos de segurança, entre os quais controles eletrônicos de estabilidade e tração, ganchos Isofix para ancoragem de cadeirinhas no banco traseiro, seis airbags (frontais, laterais e do tipo cortina), faróis e lanterna de neblina, luzes de rodagem diurna de LEDs e assistente de partida em rampa. Se não for o bastante, há o pacote Plus, que adiciona alertas de colisão frontal e de ponto cego, farol alto adaptativo e indicador de distância do veículo à frente. De quebra, esse kit inclui ainda carregador wireless para celular, sistema de estacionamento automático e banco do motorista com regulagens elétricas.

Chevrolet Cruze Sport6
Foto | Marlos Ney Vidal/Autos Segredos

Um Cruze LTZ tem preço sugerido de R$ 110.790. Com o pacote de opcionais, o valor sobe para R$ 119.390. Os preços assustam, mas estão no mesmo patamar das versões top de linha dos rivais Golf e Focus. Além disso, é um hatch médio bem-equipado, rápido e dotado de boa dirigibilidade e de tecnologia. É, antes de mais nada, um veículo confortável, mas capaz de se manter coerente com o sobrenome Sport6. Claro, existem pontos que merecem ser melhorados, mas eles não chegam a desabonar o produto como um todo.

Segmento em extinção

Com vendas minguando ano após ano, o segmento de hatches médios parece estar fadado à extinção, repetindo um fenômeno (trágico para muitos) que já ocorreu com a categoria das peruas. No mês passado, a produção do Sport6 e de seu irmão sedã chegou a ser interrompida por uma semana, na Argentina, para que os estoques fossem escoados. É verdade que, quem se habilitar a comprar um Cruze, não deve ser prejudicado por esse efeito de modo imediato. Afinal, ele foi lançado há cerca de um ano e meio e, por isso, ainda terá, pelo menos, mais alguns anos pela frente no mercado brasileiro.

Para quem gosta desse tipo de automóvel, talvez seja a oportunidade derradeira de comprar um deles como zero-quilômetro, seja ele o Cruze ou algum concorrente. Caso ele realmente for o último hatch médio da Chevrolet, a marca se despedirá com um dos produtos da vanguarda do segmento.

Ficha técnica Chevrolet Cruze Sport6

»MOTOR
Dianteiro, transversal, a gasolina e etanol, quatro cilindros em linha, com diâmetro de 74 mm e curso de 81,3 mm, 1.399 cm³ de cilindrada, 16 válvulas, com injeção direta, turbo e resfriador de ar, potência máxima de 150 cv (g) a 5.600 rpm / 153 cv (e) a 5.200 rpm, torque máximo de 24 kgfm a 2.100 rpm (g) / 24,5 kgfm a 2.000 rpm (e)

 »TRANSMISSÃO
Tração dianteira, câmbio automático de seis marchas

»ACELERAÇÃO  ATÉ 100 km/h 
Não informada pelo fabricante

»VELOCIDADE MÁXIMA 
Não informada pelo fabricante

»DIREÇÃO
Pinhão e cremalheira, com assistência elétrica

»FREIOS
Discos ventilados na dianteira e discos sólidos na traseira, com ABS e EBD

»SUSPENSÃO
Dianteira, independente, McPherson; traseira, semi-independente, eixo de torção

»RODAS E PNEUS
Rodas em liga de alumínio de 17 polegadas, pneus 215/50 R17

»DIMENSÕES
Comprimento: 4,448 metros; largura, 1,807 m; altura: 1,484 m; distância entre-eixos: 2,700 m; peso: 1.336 quilos.

»CAPACIDADES
Tanque de combustível: 52 litros; porta malas: 290 litros; carga útil (passageiros e bagagem): 416 quilos.

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