InícioAvaliaçãoAo volante: Renault Duster Dynamique 1.6 16V circula em área perigosa

Ao volante: Renault Duster Dynamique 1.6 16V circula em área perigosa

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Ofuscado pelo lançamento de concorrentes mais sofisticados e atuais, modelo ainda mostra qualidades, como o espaço interno amplo, mas preço mais competitivo é essencial para que ele se torne uma opção mais interessante 

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Alexandre Soares
Especial para o Autos Segredos

“O problema não sou eu; o inferno são os outros”. Esse trecho do refrão da música O inferno são os outros, dos Titãs (do álbum MTV ao Vivo, de 2005), expressa muito bem a atual situação do Duster. Lançado mundialmente no fim de 2009 e dois anos depois no Brasil, o SUV acaba de passar por um face-lift, que o deixou novamente alinhado com o similar (da marca Dacia) vendido na Europa. Desde que chegou ao país, o modelo vinha obtendo boas vendas, estabelecendo-se como vice-líder de seu segmento e, vez ou outra, até ultrapassando o então best-seller EcoSport. O caso é que, neste ano, a paz acabou para o Renault, que viu seus rivais se multiplicarem. HR-V, Renegade e 2008 não só deram mais opções ao consumidor, como também “envelheceram” a concorrência: apesar de não estar exatamente ultrapassado, é impossível para o Duster esconder as primeiras rugas frente aos competidores mais novos. Quando lançou a linha 2016 de seu SUV, parecia que a Renault fugiria do embate direto e apostaria nas versões de entrada, que estavam mais em conta que a dos novos competidores. Porém, de lá para cá, o modelo franco-romeno já sofreu um aumento: a configuração básica Expression subiu de  R$ 62,9 mil para R$ 64.590. Esse valor já começa a ficar perigosamente próximo do praticado pelos adversários das marcas Honda, Jeep e Peugeot, que beiram os R$ 70 mil inicialmente.

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O Autos Segredos avaliou a segunda versão da linha Duster, a Dynamique 1.6 16V. Tabelada em R$ 69.590 (antes do reajuste, o preço sugerido era de R$ 67.990), ela está situada, portanto, no mesmo patamar dos concorrentes mais novos. É verdade que o pacote de itens de série é completinho. Há ar-condicionado (manual), direção hidráulica, vidros, travas e retrovisores elétricos, rodas de liga leve aro 16, alarme e central multimídia com tela sensível ao toque, denominada Media NAV, que traz GPS, Bluetooth, rádio, entrada USB, conectividade com iPhone e acesso às redes sociais. Seu manuseio, aliás, se mostrou fácil e intuitivo. Entretanto, entre os equipamentos destinados à segurança, o SUV vai muito pouco além dos obrigatórios airbags frontais e freios ABS: digno de nota, há apenas o terceiro encosto de cabeça no banco traseiro. Dispositivos como controle de estabilidade, mais airbags e ganchos Isofix para fixação de cadeirinhas simplesmente estão indisponíveis para toda a linha.

Junto com o face-lift que estreou neste ano, o Duster adotou alguns aperfeiçoamentos mecânicos. A arquitetura do motor 1.6 16V não mudou: ele continua sendo composto por bloco de ferro fundido, cabeçote de alumínio e duplo comando de válvulas no cabeçote, sem variação, movimentado por correia dentada. A diferença é que a Renault o reprogramou eletronicamente, para aplainar a curva de torque, beneficiando as repostas em baixas rotações. Agora, a 2.500 rpm, já há 14,6 kgfm com etanol e 14,1 kgfm com gasolina, respectivamente 1,0 kgfm e 0,6 kgfm a mais que antes. Os valores máximos tampouco foram alterados: são 15,9 kgfm/15,1 kgfm, a 3.750 rpm. A potência máxima, de 115 cv com o combustível vegetal e de 110 cv com o derivado do petróleo, também foi mantida. São números condizentes com a cilindrada, mas nada impressionantes.

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APERFEIÇOAMENTO SEM MILAGRE

O Autos Segredos não chegou a dirigir o Duster antes da atualização. Assim, não temos base de comparação para dizer se as respostas em baixa rotação melhoraram. Mas foi possível constatar durante a avaliação que a entrega de torque é bem linear, e não há letargia em nenhuma faixa de giro. Porém, não espere desempenho forte, afinal, por mais competente que seja, o motor 1.6 16V é incapaz de fazer milagre para empurrar os 1.202 kg do SUV. Em meio ao trânsito ou em vias de velocidade limitada, ele acompanha o fluxo sem esforço e mostra até alguma agilidade. Mas, em subidas, ele logo pede reduções de marchas para não perder o pique. Tudo bem: o funcionamento, mesmo em alta, é suave, e o câmbio manual de cinco marchas, único disponível para a versão, mostra engates macios e marchas bem-escalonadas (ao contrário de outros veículos da Renault que já dirigimos, cujos engates eram duros, o que pode indicar um aprimoramento da trambulação do sistema), mas o curso da alavanca é demasiado longo. A 120 km/h, em quinta, o propulsor funciona 3.500 rpm, valor coerente com a cilindrada do modelo.

No mais, o conjunto mecânico é composto por direção com assistência hidráulica, um pouco pesada em manobras, mas adequadamente firme em alta velocidade, e por suspensões independente do tipo McPherson na dianteira e semi-independente por eixo de torção na traseira. Sem dúvida, esse é o sistema mais acertado do Duster. Ele consegue entregar excelente estabilidade em curvas (para um SUV, é claro), e ainda por cima absorve com bastante competência as irregularidades do piso. Trata-se de um compromisso muito bem-equalizado, o que nem sempre ocorre no segmento. Ademais, a altura em relação ao solo, de 210 mm, associada ao ângulo de ataque, de 30°, e ao de saída de 34,5°, habilitam o modelo a encarar estradas de terra sem raspões contra o piso. Durante nossa avaliação, o SUV trafegou por algumas dezenas de vias sem pavimentação sem qualquer tipo de problema.  Porém, vale lembrar que as versões 1.6 só dispõem  de tração dianteira. Se a ideia for encarar caminhos mais radicais, melhor optar pela versão 2.0 4×4. Os freios, mesmo com tambores na traseira, imobilizam o utilitário com eficiência.

Teste_renautl_duster_1.6_2016_8O consumo de combustível do Duster pode ser considerado baixo para seu porte. Sempre com gasolina no tanque, ele cravou  9,5 km/l em ciclo urbano e 12,4 km/l em circuito rodoviário. Vale ressaltar que a linha 2016 do Duster traz alguns recursos que a ajudam a dirigir de modo econômico, como a tecla “Eco” (de EcoMode), que limita a potência e o torque do motor e reduz a capacidade do ar-condicionado. Segundo a Renault, essa função permite uma redução de 10% no consumo. Nossas aferições, porém, foram realizadas sem o uso desse sistema, até porque ele compromete sensivelmente o desempenho do veículo. Há ainda os aplicativos Eco-Coaching e Eco-Scoring na central multimídia, que orientam o motorista a não desperdiçar combustível. Por fim, apenas para efeito de complementar as informações, vale mencionar os resultados que o SUV obteve no Programa de Etiquetagem Veicular. Com gasolina, na cidade e na estrada, respectivamente, o modelo obteve 9,9 km/l e 11,2 km/l, o que lhe garantiu o índice A de eficiência energética. Como de praxe, lembramos que uma série de fatores interferem no gasto de combustível de um veículo, entre os quais as condições do tráfego, as características das vias e o estilo de condução do motorista.

OCUPANTES E BAGAGEM Se o preço não está mais entre os apelos do Duster, o espaço interno continua sendo um dos mais amplos da classe. Se dois adultos de estatura elevada sentarem-se na frente, ainda haverá espaço suficiente para pernas e cabeças de outros dois, igualmente altos, atrás. Com cinco a bordo, há algum aperto para os ombros, mas mesmo assim, o resultado pode ser considerado satisfatório, acima da média para o segmento. O porta-malas, que tem 475 litros de capacidade, é simplesmente o maior da categoria. O acesso também é bom, pois a tampa, quando se abre para cima, revela um grande vão. A ressalva vai só para a posição do estepe, abaixo do assoalho do compartimento, com acesso pelo lado externo do veículo, o que o deixa mais vulnerável a furtos e dificulta o manuseio.

Teste_renautl_duster_1.6_2016_3Por dentro, as novidades do Duster 2016 são discretas. A Renault apenas mudou a iluminação dos instrumentos, os tecidos dos bancos e o tratamento de alguns dos materiais de revestimento. A porção central do painel, por exemplo, agora é toda pintada em preto brilhante. A ideia é dar um ar de sofisticação, mas, apesar das melhorias, o SUV ainda tem acabamento interno simplório. Não só pelos plásticos aplicados, que são todos rígidos, mas principalmente pela presença de vários parafusos aparentes, presentes nas maçanetas das portas e no console central. Outro problema é a ausência de proteção plástica no batente e na face interna da tampa traseira. Nesse primeiro componente, inclusive, já era possível notar alguns arranhões na lataria, provenientes da colocação de algum tipo de carga; e olha que a unidade avaliada era bem nova, com pouco mais de 2.000 km registrados no hodômetro… Todavia, é verdade que a montagem é correta, sem desnivelamentos entre as peças.

Teste_renautl_duster_1.6_2016_1A posição de dirigir do SUV da Renault é alta, como se espera em um veículo da classe, e bastante agradável. O banco apoia bem tanto as coxas quanto a coluna e é regulável em altura. O volante, por sua vez, tem ótima pegada e também possui ajuste de altura, embora deixe de fora o de profundidade. Porém, há algumas falhas na ergonomia interna, que foram corrigidas na dupla Logan e Sandero, mas persistem no Duster: o comando dos retrovisores elétricos fica quase inacessível, abaixo da alavanca do freio de mão, ao passo que os puxadores das portas dianteiras bloqueiam parcialmente o manuseio das teclas dos vidros elétricos. O botão “Eco” também está mal-localizado: à frente da alavanca de câmbio, ele fica distante da mão direita. O painel tem boa leitura, mas deixa de fora o útil termômetro de água. Por outro lado, há luzes indicadoras de troca de marcha. A visibilidade é boa para frente e para os lados, mas os encostos de cabeça (que não são do tipo vírgula) limitam o campo visual para trás. Ao menos os retrovisores são bem-dimensionados, e a versão Expression, além de sensores, ainda traz câmera de ré. Já os faróis, embora bi-parabólicos, apresentaram iluminação apenas razoável. Os limpadores de para-brisa varrem boa área.

PAGAR PRA VER Em meio a um segmento cada vez mais concorrido, o Duster consegue manter alguns atributos para se manter como uma boa opção de compra, entre os quais o espaço interno, o conjunto mecânico bem-acertado (ainda que de concepção simples) e a boa capacidade de dar uma saidinha do asfalto, algo que, inclusive, é muito desejável em um SUV. Mas é bom a Renault não vacilar: mais antigo e com construção menos sofisticada que a dos rivais, o modelo precisa de um preço mais em conta para se tornar atraente. Afinal, se o “inferno são os outros”, é no mínimo imprudente que o fabricante reaja aos novos concorrentes como no refrão de outra canção dos Titãs, que diz “vou duvidar, eu vou pagar pra ver” (Vou duvidar, do álbum Como Estão Vocês?, de 2003).

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AVALIAÇÃO Alexandre Marlos
Desempenho (acelerações e retomadas) 7 8
Consumo (cidade e estrada) 8 8
Estabilidade 7 7
Freios 7 8
Posição de dirigir/ergonomia 7 8
Espaço interno 10 10
Porta-malas (espaço, acessibilidade e versatilidade) 9 10
Acabamento 7 8
Itens de segurança (de série e opcionais) 7 7
Itens de conveniência (de série e opcionais) 8 8
Conjunto mecânico (acerto de motor, câmbio, suspensão e direção) 8 8
Relação custo/benefício 6 7

FICHA TÉCNICA

»MOTOR
Dianteiro, transversal, quatro cilindros em linha, 16 válvulas, gasolina/etanol, 1.598 cm³ de cilindrada, 110 cv (g)/115 cv (e) de potência máxima a 5.750, 15,1 kgfm (g)/ 15,9 mkgf (e) de torque máximo a 3.750 rpm

»TRANSMISSÃO
Tração dianteira e câmbio manual de cinco marchas

»ACELERAÇÃO  ATÉ 100 km/h (dado de fábrica)
13,5 segundos com gasolina e 12,7 segundos com etanol

»VELOCIDADE MÁXIMA (dado de fábrica)
160 km/h com gasolina e 164 km/h com etanol

»DIREÇÃO
Pinhão e cremalheira, com assistência hidráulica variável

»FREIOS
Discos na dianteira e tambores na traseira, com ABS

»SUSPENSÃO
Dianteira, independente,  McPherson; traseira semi-independente, por eixo de torção

»RODAS E PNEUS
Rodas em liga leve aro 16, pneus 205/60 R16

»DIMENSÕES (metros)
Comprimento, 4,329; largura, 1,822; altura, 1,683; distância entre-eixos, 2,674; peso, 1.202 quilos

»CAPACIDADES
Tanque de combustível: 50 litros; porta-malas: 475 litros; carga útil (passageiros e bagagem), 497 quilos

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Fotos | Marlos Ney Vidal/Autos Segredos

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