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| em 9 anos ago

Ao volante: Nissan March nacional mantém qualidades e defeitos

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Maior parte das mudanças do hatch produzido no Brasil é apenas visual; versão top de linha SL traz ótimo pacote de equipamentos de conforto, mas é básico quanto aos itens de segurança 

Alexandre Soares
Especial para o Autos Segredos

Há quase dois anos, dirigi pela primeira vez um Nissan March, mais precisamente a extinta versão SR (veja aqui). Na época, o hatch ainda era importado no México e não havia passado pela atual reestilização. Agora, já nacionalizado, de visual novo e sem roupagem esportiva, o modelo mostrou que continua com exatamente o mesmo comportamento. Isso tem um lado bom, pois mostra que o modelo fabricado no Brasil está no mesmo nível daquele que era importado. Mas também há um lado ruim:as mudanças aplicadas pelo fabricante limitaram-se quase exclusivamente à estética, sem aperfeiçoamentos do projeto no que diz respeito à usabilidade.

O comportamento idêntico ao do modelo importado se deve, a grosso modo, à manutenção do conjunto mecânico, capitaneado motor 1.6. Sobre o propulsor, em si, temos poucas críticas: a concepção é atual, com bloco e cabeçote confeccionados em alumínio, 16 válvulas com mecanismo de variação contínua , na admissão e no escape, e sincronização por corrente metálica, que dispensa manutenção. Mas é decepcionante ver que o incômodo tanquinho de gasolina para partidas a frio não foi substituído por um sistema de pré-aquecimento dos bicos injetores. Os valores de potência e torque são um tanto modestos para a cilindrada: 111 cv de potência a 5.600 rpm e 15,1 kgfm a 4.000 rpm, tanto com gasolina quanto com etanol. A grande vantagem, porém, não está nos números absolutos, e sim no modo como eles aparecem, uma vez que 90% do torque está disponível já a 2.400 rpm.

O resultado é um desempenho muito interessante, que se deve também ao baixo peso do March: são apenas 982 kg na balança. Em qualquer faixa de rotação, é só pisar no acelerador para ver o modelo ganhar velocidade sem esforço. O câmbio de relações curtinhas é outro fator que colabora para a esperteza do modelo. Mas, nesse caso, há um porém: o motor trabalha sempre acelerado em alta velocidade. A 120 km/h, em quinta marcha, o tacômetro registra 3.500 rpm, valor um pouco elevado para a cilindrada. Outro aspecto do câmbio que desagrada é a qualidade dos engates: até que eles são macios, mas ficam devendo em precisão, além de o trambulador ser barulhento. A suspensão, por sua vez, que segue o manjado esquema independente do tipo McPherson na frente e semi-independente por barra de torção atrás, tem calibragem macia, que privilegia o conforto.

RÁPIDO, MAS VOLTADO PARA O CONFORTO O comportamento do March reflete muito bem todas essas características: os demais componentes mecânicos parecem não estar à altura do desempenho do motor. Em uma subida de serra, o hatch não perde velocidade, mas aí chega uma curva e a carroceria tem que aliviar o pé, pois a suspensão mais mole faz a carroceria inclinar além da conta. O motorista acelera para equilibrar o carro, mas ocorre subesterçamento. A curva acaba e o condutor reduz para encher novamente o motor, mas o câmbio é impreciso e barulhento… A direção com assistência elétrica também não colabora, pois apresenta pouca progressividade e fica muito leve em alta velocidade. Assim, o modelo, que poderia ser um ótimo brinquedo para estradinhas sinuosas e, com alguma preparação, até para track-days, acaba sendo apenas um compacto urbano espertinho. Mas é verdade que, para quem não tem pretensões de dirigir esportivamente, o Nissanzinho agrada em cheio, com rodar bastante confortável. E os freios agradam bastante: apesar de o modelo contar com um sistema simples, formado por discos ventilados na frente e tambores atrás, estancá-lo requer pouco espaço. Mérito, mais uma vez, do baixo peso.

Outro aspecto favorável é que o bom desempenho é acompanhado de baixo consumo de combustível. Abastecido com gasolina, o hatch cravou 10,1 km/l em ciclo urbano e 14,7 km/l em trajetos rodoviários. Esses resultados foram um pouco melhores que os do March importado, avaliado pelo Autos segredos em fevereiro de 2013, que obteve exatos 10 km/l na cidade e 14 km/l na estrada. Como de praxe, lembramos que o consumo de combustível é influenciado por uma série de fatores, como as condições do tráfego, da pista e do relevo, além do estilo de condução do motorista.

POR DENTRO, PAINEL ATUALIZADO Internamente, as maiores diferenças do March reestiizado estão no centro do painel, que ganhou revestimento em plástico preto brilhante (black piano) e difusores de ar quadrados. Exclusivamente na versão top de linha SL, avaliada, há ali também uma central multimídia com tela sensível ao toque de 5,8 polegadas e a interface do ar-condicionado digital, ambos introduzidos após a nacionalização. O acabamento é bom, com encaixes precisos e sem rebarbas. Mas não espere por materiais luxuosos: o revestimento plástico, embora não seja áspero, é rígido, e há parafusos sem cobertura no console central. Um pequeno deslize: não há iluminação no porta-luvas. O habitáculo não chega a ser apertado, mas nem de longe oferece o espaço de alguns concorrentes, principalmente atrás. Ali, os vãos para as pernas são limitados, assim como a largura, que torna desconfortável o uso por três pessoas. Culpa, em grande parte, do entre-eixos curto, de 2,45 m. Ao menos o teto alto faz com que nem mesmo os mais altos esbarrem a cabeça no forro. O porta-malas, com 265 litros, também mostra-se inferior ao de alguns rivais do mesmo segmento.

Os bancos exibem nova padronagem, com tecido agradável ao toque, mas mantêm o mesmo formato. Portanto, permanecem com assento muito curto, que proporciona pouco apoio para as coxas, tornando longos períodos a bordo um tanto cansativos. O do motorista tem regulagem de altura, assim como o volante, que no entanto deixa de fora o ajustem em profundidade. Os instrumentos exibem grafia simples, mas de fácil leitura, como deve ser. Porém, falta o útil termômetro do fluido de arrefecimento do motor. No mais, o posto de comando agrada, com visibilidade ampla para a frente e para os lados e razoável para trás. Nesse caso, porém, há a ajuda dos retrovisores bem-dimensionados e até de uma câmera de ré, exclusiva da versão SL. Trata-se de um recurso até exagerado em um veículo tão pequeno e, consequentemente, fácil de manobrar, mas sempre bem-vindo. O acesso aos comandos é muito bom, com exceção apenas dos botões da regulagem elétrica dos retrovisores, que ficam parcialmente encobertos pelo aro do volante. Os faróis, de parábolas simples, proporcionam iluminação satisfatória, e os limpadores varrem boa área.

MUITA COMODIDADE, POUCA SEGURANÇA A versão SL é a top de linha e dispõe de um pacote de equipamentos fechado, sem opcionais, mas bastante generoso. De série, além dos já citados ar-condicionado digital, direção elétrica, retrovisores elétricos e central multimídia (com CD/MP3 Player, entradas para iPod e do tipó USB, conexão Bluetooth, navegador GPS e câmera de ré), há vidros elétricos nas quatro portas (mas com sistema one-touch só para o motorista, e mesmo assim, só para descer o vidro), computador de bordo, travas elétricas, chave com telecomando, rodas de liga leve aro 16′, volante multifuncional, faróis de neblina e alarme. Porém, se nos itens de conforto o Nissanzinho manda bem, nos de segurança ele deixa a desejar. A lista resume-se basicamente aos obrigatórios freios ABS e airbags frontais. Não é possível ter mais airbags ou controles eletrônicos de estabilidade e tração nem mesmo pagando à parte. Até mesmo os simples, porém importantes, apoio de cabeça e cinto de três pontos para o quinto passageiro foram ignorados.

Considerando a lista de itens de série, o preço sugerido da versão SL do March é bastante competitivo: a Nissan cobra por ele R$ 42.990. A garantia é de três anos. Estamos diante de um carro interessante, não há dúvida. Mas a impressão é que o hatch poderia ser muito mais entusiasmante para quem dirige, sem se tornar desconfortável, se tivesse um acerto mais caprichado de direção e suspensão, algo que seria simples para o fabricante fazer. A oferta somente dos equipamentos de segurança obrigatórios por lei em um segmento que, enfim, começa a ter concorrentes que vão além nesse quesito, também pesa contra. Ainda assim, o modelo merece ser levado a sério por quem pretende comprar um compacto.

AVALIAÇÃO Alexandre Marlos
Desempenho(acelerações e retomadas) 8 8
Consumo(cidade e estrada) 8 8
Estabilidade 7 8
Freios 7 8
Posição de dirigir/ergonomia 7 7
Espaço interno 7 8
Porta-malas(espaço, acessibilidade e versatilidade) 6 7
Acabamento 6 7
Itens de segurança(de série e opcionais) 6 7
Itens de conveniência(de série e opcionais) 8 8
Conjunto mecânico (acerto de motor, câmbio, suspensão e direção) 7 8
Relação custo/benefício 8 9

FICHA TÉCNICA

MOTOR
Dianteiro, transversal, quatro cilindros em linha, 16 válvulas, gasolina/etanol, 1.598cm³ de cilindrada, 111 cv de potência máxima a 5.600  rpm, 15,1 kgfm de torque máximo a 4.000  rpm

TRANSMISSÃO
Tração dianteira, câmbio manual de cinco marchas

ACELERAÇÃO  ATÉ 100 km/h 
9,88 segundos com gasolina e 9,49 segundos com etanol  (dados de fábrica)

VELOCIDADE MÁXIMA 
191 km/h (dado de fábrica)

DIREÇÃO
Pinhão e cremalheira, com assistência elétrica

FREIOS
Discos ventilados na dianteira, tambores na traseira, com ABS e EBD

SUSPENSÃO
Dianteira, independente, McPherson, com barra estabilizadora; traseira, semi-independente, eixo de torção, com barra estabilizadora

RODAS E PNEUS
Rodas em liga leve, 5,5 x 16, pneus 185/55 R16

DIMENSÕES (metros)
Comprimento, 3,827; largura, 1,675; altura, 1,528; distância entre-eixos, 2,450

CAPACIDADES
Tanque de combustível: 41 litros; porta malas: 265 litros; carga útil (passageiros e bagagem): 390 quilos; peso: 982 quilos

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Fotos | Marlos Ney Vidal/Autos Segredos

Redação

Redator do Autos Segredos.