Propulsor reprogramado para render 200 cv de potência e 44,9 kgfm de torque é a grande novidade da picape para 2014; apesar do salto evolutivo trazido pela atual geração, modelo ainda tem faceta rústica
Especial para o Autos Segredos
Minha primeira experiência ao volante e uma caminhonete a diesel foi com uma D20, há uns 15 anos. Na verdade, a experiência em questão não envolveu exatamente o ato de dirigir. Permitam-me explicar: a picape, na verdade, apareceu um dia em minha casa, conduzida por meu irmão (nove anos mais velho), que a pegou emprestada do sogro (não me lembro mais das circunstâncias desse empréstimo, mas convenhamos, era um sogro generoso). Eu, que nem tinha idade para dirigir legalmente ainda, fui pedir para dar uma volta no quarteirão, obviamente sentado no posto de comando. No fundo, eu sabia que meu ato não passaria de uma investida vã, pois tinha consciência que as chances daquele veículo enorme, que sequer era de propriedade da família, ser concedido a mim, ainda que rapidamente, eram mínimas. Porém, para minha surpresa, ao invés de responder com um “não”, meu irmão rebateu com um desafio: “se você conseguir engatar a terceira (com a caminhonete estacionada e desligada), pode ir”. E lá fui eu, confiante, tentar andar de D20. Porém, mesmo depois de várias tentativas, não consegui achar a marcha. Após me dar por vencido, meu irmão sorriu maroto e contou o macete: “você tem que mirar a alavanca na quina do painel”. Segui a instrução e, voilà, a terceira entrou. Porém, àquela altura, a voltinha já não estava mais a prêmio. Para finalizar, meu mano me deu a lição: “dirigir esses carros a diesel não é como dirigir automóvel. Você tem que cambiar na hora certa, do jeito certo… Ainda não é pra você.”
Bem, deixemos minhas memórias de lado e vamos ao teste. Já que falávamos sobre câmbio, que tal começar por ele? A caixa manual que acompanha o motor a diesel da S10 tem seis marchas. Os engates, ainda que guardem um abismo de distância com os das antepassadas, têm curso longo demais e ficam devendo boa dose de precisão. Algumas concorrentes, como a Amarok e a Ranger, têm transmissões de melhor operação. O escalonamento, contudo, é correto, sem buracos entre as marchas. A embreagem também é pesada. É, dirigir uma picape ainda exige certo grau de rusticidade… Mas tudo bem, pois não será preciso fazer trocas o tempo todo. O motor 2.8 de quatro cilindros, com turbocompressor e injeção direta, tem muito, mas muito torque: são 44,9 kgfm a 2.000 rpm. Até as 1.500 rpm, há um lag bastante perceptível. A partir daí, há sempre força de sobra: segundo a Chevrolet, 90% do valor máximo está disponível a 1.700rpm Também há muita potência, mais precisamente 200 cv a 3.600 rpm. Porém, vale lembrar que a picape é pra lá de pesada, com 1.994 kg. Ela arranca e retoma velocidade com muita vitalidade, mas não espere acelerações vigorosas, com aquelas esticadas que fazem o velocímetro torcer. O funcionamento é até suave para um propulsor a diesel… Para um propulsor a diesel, que fique claro! O nível de ruído também é aceitável para esse tipo de motor. O assobio da turbina é alto e às vezes incomoda. Em algumas situações, entretanto, é até divertido ouvir o sopro forte do caracol.
No posto de comando, há pelo menos uma coisa em que a S10 poderia ter copiado a antepassada D20: o tamanho do velocímetro e do conta-giros. Pequenos, os dois instrumentos não têm visualização das mais fáceis. Ao menos, além do marcador de combustível, há termômetro do fluido de arrefecimento do motor, detalhe negligenciado em vários modelos atuais da Chevrolet. Outro deslize fica por conta da coluna de direção, regulável apenas em altura. No mais, não há o que reclamar da posição de dirigir da picape. O banco do motorista conta com ajustes em todas as direções e é ergonômico. O volante tem boa pegada e está alinhado com pedais e alavanca de marchas. Os demais comandos do painel também são facilmente acessíveis. Atrás, porém, os passageiros não desfrutam do mesmo conforto. O encosto para a coluna é muito vertical, ao passo que o assento é baixo, fazendo com que as pernas, que por sinal ficam sem apoio, fiquem em posição muito mais alta que o quadril, o que causa desconforto em longas viagens. Apesar desses desconfortos, o espaço para as cabeças e as pernas de todos os cinco ocupantes é suficiente. O passageiro central conta com cinto de três pontos, mas não com encosto de cabeça. Ausência quase inacreditável em um veículo de projeto tão atual e preço tão salgado.
AGRO-SEGMENTO Uma picape S10 idêntica à avaliada (LT 2.8 a diesel com câmbio manual e tração 4×4) tem preço sugerido de R$ 114.190. É muita grana para uma picape com cesta de equipamentos semelhante a um compacto premium, mas a verdade é que está na média dos valores praticados na categoria categoria. Só para efeito mercadológico, uma Hilux SR 3.0 diesel sai por R$ 114.180, uma Ranger XLS 3.2 é tabelada em R$ 112.690 e uma Amarok Trend 2.0 biturbo custa R$ 115.590. As versões equivalentes de Nissan Frontier e Mitsubishi L200 Triton custam cerca de R$ 10 mil a menos, mas têm projetos mais antigos. Entre as concorrentes, o modelo da Chevrolet se destaca pelo motor mais forte (divide o posto de mais potente com a Ranger, já que ambas têm 200 cv, mas supera a rival da Ford em torque) e pela liderança em vendas, que assegura boa liquidez na hora da revenda. Ainda assim, a verdade é que picapes médias são bastante caras. Se você é fazendeiro ou exerce alguma atividade que necessite de um veículo que ofereça, ao mesmo tempo, boa capacidade de carga, espaço para cinco e valentia off-road, a compra pode valer a pena. Se você acha esse tipo de carro legal, mas vai rodar a maior parte do tempo no asfalto e só vai usar a caçamba para levar bicicletas ou outros objetos leves, fica a dica: compre uma picape compacta ou um automóvel médio. Ou até mesmo os dois, e ainda guarde um troco.
NOTAS
AVALIAÇÃO | Nilo | Marlos |
Desempenho (acelerações e retomadas) | 9 | 8 |
Consumo (cidade e estrada) | 7 | 7 |
Estabilidade | 5 | 6 |
Freios | 7 | 7 |
Posição de dirigir/ergonomia | 8 | 9 |
Espaço interno | 7 | 7 |
Caçamba (espaço) | 9 | 10 |
Acabamento | 7 | |
Itens de segurança (de série e opcionais) | 6 | 6 |
Itens de conveniência (de série e opcionais) | 6 | 6 |
Conjunto mecânico (acerto de motor, câmbio, suspensão e direção) | 7 | 8 |
Relação custo/benefício | 6 | 7 |
FICHA TÉCNICA
MOTOR
Dianteiro, longitudinal, quatro cilindros em linha, 16 válvulas, diesel, 2.776 cm³ de cilindrada, com turbocompressor, intercooler e injeção direta; 200 cv de potência máxima a 3.600 rpm, 44,9 kgfm de torque máximo a 2.000 rpm
TRANSMISSÃO
Tração integral e reduzida com acionamento eletrônico, câmbio manual de seis marchas
ACELERAÇÃO até 100 km/h (dado de fábrica)
11s4
VELOCIDADE MÁXIMA (dado de fábrica)
180 km/h (limitada eletronicamente)
DIREÇÃO
Pinhão e cremalheira, com assistência hidráulica
FREIOS
Discos ventilados na dianteira e tambores na traseira, com ABS e EBD
SUSPENSÃO
Dianteira, independente, com braços articulados; traseira, feixe de molas semi-elípticas
RODAS E PNEUS
Rodas em liga de alumínio, 6,5 x 16 polegadas, pneus 245/70 R16
DIMENSÕES (metros)
Comprimento, 5,347; largura, 1882; altura, 1,827; distância entre-eixos, 3,096
CAPACIDADES
Tanque de combustível: 76 litros; caçamba: 1.061 litros; capacidade de carga(incluindo passageiros): 1.106 quilos; peso: 1.994 quilos
Fotos | Volkswagen/Divulgação