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Ao Volante: Chevrolet Cruze 2017 e a odisseia terrestre de HAL9000

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Uma jornada de 1.200 quilômetros para melhor conhecer a tecnologia embarcada que o renovado Chevrolet Cruze tem para oferecer

teste_chevrolet_cruze_2017_40Renato Passos (*)

Você sabe o que é HAL9000? Caso o leitor tenha mais de 60 anos e gostava de cinema em sua juventude; ou mesmo fã de ficção científica na telona, eventualmente a resposta é positiva. Mas, caso não saiba, o HAL 9000 (Heuristically Programmed Algorithmic Computer – ou Computador Algorítmico Heuristicamente Programado, em tradução livre) é um personagem ficcional da série 2001: Uma Odisseia no Espaço, de Arthur C. Clarke, e foi imortalizado pela adaptação cinematográfica feita por Stanley Kubrick em 1968.

teste_chevrolet_cruze_2017_38Na trama, HAL é um computador com avançada inteligência artificial, instalado a bordo da nave espacial Discovery e responsável por todo seu funcionamento. No filme, HAL tornou-se operacional na usina HAL situada em Urbana, Illinois no dia 12 de janeiro de 1992 (no romance de Clarke, entretanto, é mencionado o ano de 1997) e foi criado pelo indiano Dr. Chandra (no filme o cientista que o cria é o Dr. Langley). HAL é ilustrado como sendo capaz de falar naturalmente, realizar reconhecimento facial e vocálico, fazer leitura labial, apreciar manifestações artísticas, interpretar emoções, raciocinar, expressar emoções (inclusive medo) e jogar xadrez.

48 anos após a estreia de 2001, computadores com tamanha capacidade de processamento não são raridade. Pelo contrário, estão presentes 24 horas por dia ao nosso redor, para todos os lados que olharmos. Dessa forma, não nos espanta tamanha tecnologia aplicada aos automóveis, ainda mais com os humanos cada vez mais dependentes das máquinas inteligentes. E foi pensando nesse público que a nova geração do Chevrolet Cruze chega às ruas, não deixando de lado o que é acima de tudo: um automóvel.

teste_chevrolet_cruze_2017_28No lançamento do sedã, trouxemos detalhes como dimensões, pacotes de equipamentos e impressões gerais. Desta vez, a bordo da versão LTZ2 com todos os opcionais possíveis, percorremos mais de mil quilômetros para saber: temos um computador como HAL, de inteligência surpreendente, e dotado de rodas; ou um automóvel em sua essência com uma generosa dose de tecnologia embarcada? É o que veremos

Olhos de robô

Talvez a única semelhança visual externa entre o Cruze de geração anterior e o modelo 2017 seja a tradicional gravata da Chevrolet – Bow Tie, para os iniciados.  As inéditas linhas da carroceria chamam a atenção nas ruas, mais pelo ineditismo do modelo do que por qualquer item revolucionário. Se a traseira adota linhas modernas, mas sem grandes efeitos visuais, a porção dianteira é um imã de olhares.

Ajudam nessa impressão tanto os DRL em LED aliado aos faróis por projetores, que iluminam excepcionalmente em jornadas noturnas e carregam consigo um visual chamativo, como os olhos de um robô ou algo do gênero. Poderiam ser por gás xenônio, mas sua eficácia é suficiente para esquecermos tal ausência. Aliás, basta deixa-los na posição Auto na chave de seta e esquecer: o sensor crespular ativa-o ou o apaga de acordo com a necessidade. Ajuste de altura do facho está presente, bem como farol e lanterna de neblina em nome da segurança em situações de visibilidade reduzida.

teste_chevrolet_cruze_2017_17 Por outro lado, a presença de comutador automático entre facho alto e baixo não é garantia de esquecimento nesse aspecto: a despeito de captar bem os motoristas vindouros no sentido oposto, por vezes o facho alto não retornava à ação na ausência de outros carros ao seu redor, cabendo ao condutor realizar tal alteração – abandonando, assim, o automatismo oferecido. Ainda no campo das luzes, o ambiente a bordo é extremamente agradável, com couro de tonalidade clara contrastando com materiais bem adotados na grande maioria das regiões.

Ressalva feita, unicamente, para os painéis de porta em sua porção superior e o plástico rugoso destoante do ambiente de requinte adotado. A luminosidade emitida pelo painel de instrumentos – com computador de bordo dotado de diversas informações, como monitoramento de pressão dos pneus, dados de consumo, vida útil do óleo lubrificante, espelhamento do GPS – bem como da central multimídia MyLink2 – uma das melhores do mercado, com interface completa e descomplicada – é ajustável, o que auxilia aos olhos do viajante noturno que busca uma visão de lince no que se passa adiante.

teste_chevrolet_cruze_2017_8Sentado no banco do condutor dotado de regulagens elétricas, pode-se colocar o assento em posição realmente baixa em relação ao carro como um todo, ajudando aos motoristas de maior estatura e que gostam de sentar mais rente ao chão a encontrarem a melhor posição de dirigir. A ergonomia é correta, com comandos bem posicionados e sem grandes malabarismos para as tarefas corriqueiras. A coluna de direção tem ajuste de altura e profundidade, o que auxilia o condutor a alcançar rapidamente o melhor posto de condução para si.

Um bom porta-malas, com 440 litros, atende perfeitamente àqueles que viajam levando até a sogra junto, com vassoura e tudo mais. Entretanto, a ausência de juntas pantográficas em prol dos tradicionais braços que roubam algum espaço no compartimento, mas nada deplorável. Soma-se a isso o ótimo espaço interno, em que quatro adultos viajam em pleno conforto e com espaço vasto para pernas e ombros.

Para a cabeça, os maiores de 1,80 metro podem se sentir desconfortáveis graças à queda do teto na porção posterior – tudo em nome do estilo. Uma falta sentida é a de alças para os passageiros, suprimidas em nome dos airbags de cortina que, somados aos laterais e frontais, contabilizam seis ao todo.

Auxiliar de WhatsApp

Você quer um carro que acelere e freie sozinho, bem como faça as curvas por você? Bom, isso é coisa para Teslas e Volvos sensivelmente mais caros. Mas o Cruze dá uma palhinha com algumas dessas tecnologias. Antes de entrar no carro, a chave já chama a atenção: Além de operar por sensor de proximidade, dispensando seu uso tanto para abrir o veículo quanto para liga-lo, a possibilidade de deixar o motor funcionando à distância – sem sequer abrir o carro – é ótimo para melhor refrigeração do habitáculo nos dias mais quentes, evitando assar ao entrar no carro quando estacionado no sol.

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O ar-condicionado peca, entretanto, ao não oferecer duas ou mais zonas de temperaturas distintas como todos seus concorrentes: só quem tem um(a) companheiro(a) com preferências térmicas distintas da sua sabe o quão importante é esse acessório. Ainda sobre a possibilidade de ligar o Cruze de maneira remota, uma outra utilidade: assustar os incautos transeuntes. É a tecnologia sendo utilizada das mais variadas maneiras…

Ao volante, em couro e de tamanho correto, o controlador de velocidade de cruzeiro é de fácil controle e manuseio com botões bem localizados, bem como o comando de ativação e regulagem do sensor de colisão com o carro imediatamente à frente. Ainda na região do volante, sente-se a falta de borboletas para trocas manuais do câmbio automático de seis marchas, cujas trocas manuais podem ser operadas apenas na manopla de seleção habitual, em canal dedicado.

Se o sensor de proximidade por vezes assusta, mas cumpre bem sua função, não se verifica a atuação ativa do mesmo na frenagem do Chevrolet. Em compensação, o aviso de evasão de faixa é um espetáculo a parte: se não é possível contornar esquinas de forma automática, curvas de raio longo são sumariamente realizadas de forma automática pelo Cruze. Para aquele fanático frenético do WhatsApp e seu mar de besteiras, basta deixar ligada tal funcionalidade no sedã que os eventuais desvios de faixa – por vezes mortais – não ocorrerão. Bônus também para a direção de assistência elétrica, de excelente calibração e com compensação de eventuais desníveis no piso.

Ainda quer dirigir e usar o celular ao mesmo tempo? Está errado, mas caso insista, não deixe de verificar o modo de estacionamento autônomo, que manobra o veículo de 4.665mm de comprimento (2.700mm de entre-eixos) e 2.042mm de largura total como um… robô! Ao condutor, resta operar o pedal do freio e do acelerador, além de mudar a posição do câmbio de (R)everse para (D)rive – e vice-versa –conforme solicitação do automóvel através de mensagem escrita no computador de bordo. Os retrovisores estão bem localizados e se dobram ao toque de um botão. Vai carregar a bateria de seu telefone? Caso o aparelho celular suporte, utilize o inédito sistema de alimentação por corrente magnética.

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Caso o motorista opte por fazer a baliza por si próprio, sensores de estacionamento na dianteira e traseira, com câmera nessa última, torna a vida do condutor sensivelmente mais fácil. Sensores de ponto cego também auxiliam o condutor a não matar o motociclista fora do campo de visão mais próximo de si. Os retrovisores externos podem ser aquecidos, ao passo que o interno é eletrocromático, evitando o ofuscamento por faróis desregulados atrás.

Caso, mesmo com todo o aparato tecnológico, o motorista do Cruze venha a se acidentar, os danos não tendem a ser grandes: além dos seis airbags, estão presentes cintos de três pontos para todos os passageiros com pré-tensionadores, sistema Isofix para fixação de cadeirinha infantil, além de controle de tração e estabilidade.

teste_chevrolet_cruze_2017_5Cruze cruzador

Com um inédito motor de 1,4 litro, dotado de turbocompressor e injeção direta de combustível, o Cruze entrega até 153 cv quando abastecido com Etanol. Leve e de linhagem modular, é um dos propulsores mais modernos da GM no mundo. Com vasto uso de alumínio em sua construção, utiliza turbo Mitsubishi Heavy Industries (MHI) de voluta simples, dispensando a tecnologia twin scroll utilizada por alguns concorrentes. Saias de pistão com deposição de composto carbônico para menor atrito, bielas forjadas, coletor de escape integrado e reforços de amarração do bloco (bed plate) também estão presentes neste propulsor, cuja massa é de apenas 98 kg pronto para o uso.

Entretanto, esqueça atacar curvas como o eventual dono de um Lancer Evolution faria: o papo aqui é outro. Com o bom torque máximo de 24,5 mkgf a baixas 2.000 rpm, o Cruze é um excelente cruzador de longas distâncias – com o perdão do trocadilho, obviamente. O câmbio GF6, de terceira geração e seis marchas, cumpre muito bem seu papel, obrigado, reduzindo e subindo marchas sem grandes erros de raciocínio lógico – como um bom robô. Câmbio de dupla embreagem? Fica para próxima, e talvez nem mesmo seja preciso dada sua natureza.

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Não espere a patada no pico de trabalho do turbo como em outros motores filhos do downsizing. O Cruze entrega a sua força – que não é pouca – de forma linear, mas decidida. Agrada mais ao velho dono de Opala com o lendário seis-em-linha 250 do que ao jovem que anda de Citroen DS3 com o 1.6 THP. Entretanto, isso se reflete na capacidade de manter altas velocidades de cruzeiro sem alarde, andando quilômetros sem pedir fôlego. O consumo, entretanto, não é dos melhores: após mais de mil quilômetros em estrada, não conseguimos passar de 13,0 quilômetros por litro de gasolina de média global.

Além de andar como gente grande, o Cruze se comporta como tal nas longas esticadas rodoviárias. Se não é uma máquina de fazer curvas fechadas e percursos sinuosos – nem mesmo se coloca como referência do segmento nesse quesito, como o Ford Focus – o Cruze alcança um venerável equilíbrio entre conforto e crueza na transmissão das sensações. Não é, portanto, um mero eletrodoméstico como alguns de seus concorrentes, demasiadamente filtrados e pasteurizados. Em curvas de raio longo e em retas, o Chevrolet se porta sólido como uma rocha, levando o segmento a outro patamar.

Talvez a adoção da suspensão traseira Multilink no lugar do eixo de torção utilizado, como oferecido em outros mercados, poderia colocar o Cruze ainda mais próximo de ser a referência de handling no segmento. Infelizmente, não foi dessa vez que isso ocorreu. Na frente, suspensão McPherson, além de eficazes freios a disco nas quatro rodas, aliados a rodas de 17 polegadas de diâmetro e pneus 215/50 que firmam o Chevrolet no chão.

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Ainda em velocidade de cruzeiro acima dos 110 km/h, a sensação de velocidade real obtida pelo chassi bem trabalhado, pela sensação de solidez e pelo conforto acústico frente aos ruídos externos é bem menor do que aquela registrada no velocímetro. Barulhos de rolagem e do próprio motor são quase inaudíveis no habitáculo. O sistema de som da americana JBL oferece qualidade e potência condizentes com a categoria e o preço cobrado pelo Cruze. Falando em preço, estamos diante de um sedã médio que atinge, na configuração avaliada, elevados R$ 109.000,00.

Caro? Sem dúvidas, mas isso é um mal de todo e qualquer carro brasileiro. Quando comparado a seus concorrentes, colocando na balança seus erros, acertos e toda a sua vastidão tecnológica, o Cruze se torna mais aprazível aos olhos. Qual sedã médio equaliza tão bem um motor competente, uma capacidade de cruzar longas distâncias sem cansar, boa qualidade construtiva e, principalmente, uma infinidade de equipamentos e itens tecnológicos?

Se você conhecia o HAL 9000 ao início desse texto – ou não conhecia, mas coloca a tecnologia como primordial nos dias atuais – e pretende comprar um veículo próximo dos 110 mil reais, não se esqueça do Cruze. Ele ainda é automóvel em sua essência. Mas a generosa dose de tecnologia embarcada pode atrair você, que quer apenas um meio de transporte moderno.

AVALIAÇÃO Renato Marlos
Desempenho(acelerações e retomadas) 8 8
Consumo(cidade e estrada) 6 6
Estabilidade 8 9
Freios 8 8
Posição de dirigir/ergonomia 9 9
Espaço interno 9 9
Porta-malas (espaço, acessibilidade e versatilidade) 9 7
Acabamento 8 9
Itens de segurança(de série e opcionais) 8 8
Itens de conveniência(de série e opcionais) 9 8
Conjunto mecânico(acerto de motor, câmbio, suspensão e direção) 9 8
Relação custo/benefício 7 8

FICHA TÉCNICA

MOTOR
Dianteiro, transversal, quatro cilindros em linha, 16 válvulas, com injeção direta na câmera de combustão, sobrealimentado por turbocompressor, bicombustível, 1.389 cm³ de cilindrada (diâmetro de 74,0mm, curso de 81,3mm), 150/153 cv (gasolina/etanol) de potência máxima a 5.600/5.200 rpm, 24,0/24,5 (g/e) mkgf de torque máximo a 2.100/2000 rpm, taxa de compressão de 10:1 (estática)

TRANSMISSÃO
Tração dianteira, com câmbio automático de 6 velocidades à frente

ACELERAÇÃO  ATÉ 100 km/h (dado de fábrica)
N/A

VELOCIDADE MÁXIMA (dado de fábrica)
N/A

DIREÇÃO
Pinhão e cremalheira, com assistência elétrica variável

FREIOS
Discos ventilados na dianteira, discos sólidos atrás, com ABS e EBD

SUSPENSÃO
Dianteira, independente, McPherson, com barra estabilizadora; traseira por eixo de torção, com barra estabilizadora

RODAS E PNEUS
Rodas em liga de alumínio, 7×15 polegadas, pneus 215/50 R17

DIMENSÕES (metros)
Comprimento, 4.665; largura, 2.042; altura, 1,484; distância entre-eixos, 2.700; peso: 1.321 quilos

CAPACIDADES
Tanque de combustível: 52 litros; porta malas: 440 litros; carga útil (passageiros e bagagem):465 quilos

teste_chevrolet_cruze_2017_23Fotos | Marlos Ney Vidal/Autos Segredos

(*) Engenheiro mecânico formado pelo Cefet-MG

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