Volkswagen Saveiro Cross ganha melhoramentos visuais e mantém a boa dirigibilidade
de sempre; mecânica e itens de segurança agradam, mas preço é elevado

Por Alexandre Soares

A Saveiro não é nada além da variante picape do Gol. Isso não é nenhum demérito, que fique claro: todas as caminhonetes compactas derivam de hatches (a Strada é baseada no Palio, a Montana, no Agile, e outros modelos que já estiveram no mercado brasileiro seguiam a mesma fórmula). Porém, na reestilização da linha 2017, a utilitária ganhou uma dianteira diferente do irmão, para passar sensação de maior robustez, apesar de as demais novidades, como o novo painel, serem exatamente iguais às do restante da linha. Na prática, as mudanças não alteraram o comportamento do modelo: o veículo avaliado agora apresentou exatamente as mesmas características de uma outra unidade, também da versão Cross, testada em 2015. Isso não surpreende, pois a mecânica não mudou, e tampouco chega a ser problema, uma vez que a dinâmica agrada. Outros detalhes, porém, poderiam ter evoluído.

No que diz respeito à dirigibilidade, não é por acaso que a Saveiro manda bem. Afinal, ela possui o motor mais atual da linha, o EA-211, um 1.6 de 16 válvulas capaz de desenvolver 110 cv de potência com gasolina e 120 cv com etanol, a 5.750 rpm, além de 15,8 kgfm de torque com o combustível mineral e de 16,8 kgfm com o derivado da cana, a 4.000 rpm, sendo que, segundo a Volkswagen, 85% da força máxima está disponível já a 2.000 rpm. Esse propulsor tem concepção atual, o que é evidenciado pela construção de bloco e cabeçote em alumínio, pelo duplo comando de válvulas variável na admissão, pela correia dentada do tipo longa-vida (com troca prevista a cada 120 mil km) e pelo sistema de partida a frio com aquecimento dos bicos injetores, que dispensa o subtanque. O câmbio, manual de cinco marchas, é o conhecido MQ-200.

Dirigibilidade

Esse conjunto é capaz de dar à Saveiro Cross um desempenho muito bom. A picape responde rápido desde as baixas rotações e não perde o fôlego em alta. Além disso, o 1.6 16V tem funcionamento suave, enquanto o câmbio mostra os engates precisos de sempre. O escalonamento também é correto, e, a 120 km/h, em quinta marcha, o conta-giros registra 3.200 rpm, valor coerente para a cilindrada do motor.

Por sua vez, a direção com assistência hidráulica (como no Gol e no Voyage) acompanha o bom acerto geral, entregando progressividade: ela é leve em manobras e firme em alta velocidade, ainda que esse tipo de solução esteja em desuso atualmente, pois os sistemas elétricos são energeticamente mais eficientes e capazes de entregar ótimo manejo. Os freios fazem bonito: com discos nas quatro rodas – item de extrema importância em um veículo que, apesar de leve quando vazio, pode transportar mais de 600 kg de carga – a picape freia em espaços bastante curtos.

Rodar equilibrado para uma picape

A suspensão é o sistema mais polêmico da Saveiro, não pela arquitetura da dianteira, que segue o esquema padrão do tipo McPherson, e sim pela da traseira, que traz eixo de torção com molas helicoidais, enquanto algumas caminhonetes adotam eixo rígido com molas parabólicas. Essa solução, teoricamente, prejudica a capacidade de carga (embora venha sendo cada vez mais adotada por picapes, inclusive de segmentos superiores, capazes de transportar mais de 1 tonelada) mas, por outro lado, em tese, favorece a dirigibilidade. E, nesse sentido, a utilitária agrada em cheio: a estabilidade é ótima, principalmente quando comparada à de outras picapes.

Fora do asfalto, a Saveiro Cross também vai bem, desde que o roteiro não seja muito radical. O veículo avaliado circulou por cerca de 20 km por estradas de terra em boas condições, e agradou por não tocar o solo nenhuma vez. Mérito do vão livre de 18,1 cm. A boa absorção dos impactos do solo também agrada. Nesse aspecto, o resultado é desconfortável se comparado ao rodar de um hatch ou um de sedã, mas dos melhores para uma picape compacta: para um veículo de carga, que tem suspensão traseira desenvolvida para suportar peso, o rodar pode ser considerado suave .

Consumo

Assim como já havia ocorrido em outras avaliações de veículos equipados com o motor EA-211, o consumo de combustível foi baixo. As aferições do Autos Segredos registraram médias de 10,8 km/l na cidade e de 13 km/l na estrada, quando a picape estava abastecida com gasolina. As marcas com etanol foram de 8,3 km/l e de 11,4 km/l, respectivamente. Como o tanque de combustível tem 55 litros de capacidade, a autonomia pode chegar a 715 km com o derivado do petróleo.

Interior melhorou, mas precisa evoluir mais

A exemplo do Gol, o destaque do interior da Saveiro é o painel redesenhado. Apesar de ser feito de plástico duro (padrão no segmento), como o antecessor, deu ao habitáculo um aspecto mais atual e elaborado. Além do mais, ele tem bom padrão de montagem, sem peças desalinhadas ou rebarbas. E o cluster dá exemplo na categoria, com instrumentação completa (inclusive termômetro de água) e mostradores grandes e de grafia limpa, o que torna a leitura bastante fácil. É pena que a Volkswagen não tenha alterado as forrações das portas, que destoam do conjunto em termos de design, embora apresentem acabamento correto e enxertos de tecido.

Outros componentes que mereciam ser substituídos são os bancos: além de disporem de pouco apoio lombar, o que prejudica a acomodação da coluna, o assento é curto, incapaz de sustentar as coxas com conforto. O do motorista mantém o ajuste de altura que lembra uma gangorra, elevando e abaixando as extremidades da frente e de trás do assento, e não a peça como um todo. Do volante, nada a reclamar, pois sua empunhadura é boa. A coluna de direção é ajustável em altura, e profundidade.

Já a visibilidade é boa, menos para trás, onde as barras protetoras do vigia bloqueiam parte da visão, algo comum em picapes. Esse inconveniente, porém, é minimizado pelos retrovisores bem-dimensionados. O isolamento acústico também satisfaz. A versão avaliada, com cabine estendida, acomoda apenas dois ocupantes, que não têm do que se queixar em relação ao espaço. Atrás dos bancos, há lugar de sobra para a bagagem da dupla. Se for preciso transportar objetos maiores, a caçamba tem 734 litros de área. Por sua vez, a capacidade de carga do modelo é de 621 kg.

Conteúdo

A versão Cross é a top de linha e, de série, traz ar-condicionado manual, computador de bordo, vidros, travas e retrovisores elétricos, rodas de liga leve aro 15, volante multifuncional, sensores de estacionamento traseiros, faróis de neblina conjugados aos de millha, lanterna traseira de neblina, entre outros pormenores. Há ainda o sistema infotainment “Composition Touch”, com MirrorLink e tela touch de cinco polegadas.

Segurança eletrônica

Porém, no que a picape mais se destaca é na oferta de itens de segurança: há controles eletrônicos de estabilidade e tração, assistente de partida em rampas, bloqueio do diferencial (que direciona a tração para a roda com maior aderência) e freios ABS com função off-road (que permite que as rodas travem até certo ponto, o que reduz os espaços de frenagem na terra). A crítica vai para a oferta apenas dos obrigatórios airbags frontais: não é possível adquirir mais bolsas, nem mesmo pagando à parte.

Opcionalmente, é possível adquirir revestimento dos bancos em couro sintético, controlador de velocidade de cruzeiro, retrovisor interno eletrocrômico e sensores de chuva e crepuscular, reunidos no pacote Cross Completo, por R$ 2.818, suporte para celular no painel, por R$ 320, e o sistema infotainment “Discover Media”, com tela touch de 6,3 polegadas, Bluetooth, comando de voz, navegação e App-Connect, por R$ 1.958.

Preço alto é obstáculo

Uma Saveiro Cross cabine estendida, como a avaliada, tem preço sugerido de R$ 70.590, pouco mais que sua concorrente direta, a Strada Adventure, que, com a mesma configuração de carroceria, custa R$ 67.610. Porém, ela tem pacote de equipamentos mais generoso, que se destaca principalmente pelos itens de segurança. Vale lembrar que a versão top de linha é a única equipada com o motor 1.6 16V – as demais vêm com o 1.6 8V de geração anterior, conhecido como EA-111. Ainda assim, parece muito dinheiro por veículos que, no fundo, são derivações de hatches populares. No caso da picape da Volkswagen, trata-se de uma variação competente, sem dúvida, mas que deveria custar menos, mesmo no inflacionado contexto do mercado brasileiro.

AVALIAÇÃO Alexandre Marlos
Desempenho (acelerações e retomadas) 8 8
Consumo (cidade e estrada) 8 8
Estabilidade 8 8
Freios 9 8
Posição de dirigir/ergonomia 7 8
Espaço interno 8 8
Caçamba (espaço, acessibilidade e versatilidade) 7 8
Acabamento 7 8
Itens de segurança(de série e opcionais) 8 8
Itens de conveniência(de série e opcionais) 7 8
Conjunto mecânico(acerto de motor, câmbio, suspensão e direção) 9 9
Relação custo/benefício 6 7

 

FICHA TÉCNICA

MOTOR
Dianteiro, transversal, quatro cilindros em linha, com 76,5 mm de diâmetro x 86,9 mm de curso, 16 válvulas, a gasolina e etanol, 1.598cm³ de cilindrada, 110cv (g)/120cv (e) de potência máxima a 5.750, 15,8 kgfm (g)/ 16,8 mkgf (e) de torque máximo a 4.000 rpm

TRANSMISSÃO
Tração dianteira, câmbio manual de cinco marchas

ACELERAÇÃO  ATÉ 100 km/h (dado de fábrica)
10,5 segundos com gasolina e 10 segundos com etanol

VELOCIDADE MÁXIMA (dado de fábrica)
178 km/h com gasolina e 181 km/h com etanol

DIREÇÃO
Pinhão e cremalheira, com assistência hidráulica

FREIOS
Discos ventilados na dianteira e discos sólidos na traseira, com ABS

SUSPENSÃO
Dianteira, independente, McPherson; traseira, semi-independente, eixo de torção

RODAS E PNEUS
Rodas em liga de alumínio 6J x 15, pneus 205/60 R15

DIMENSÕES 
Comprimento, 4,497 m; largura, 1,728 m; altura, 1,512 m; distância entre-eixos, 2,753 m; altura em relação ao solo, 18,1 cm

CAPACIDADES
Tanque de combustível: 55 litros; caçamba: 734 litros; carga útil (passageiros e carga): 621 quilos; peso: 1.119 quilos

Fotos | Marlos Ney Vidal/Autos Segredos

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