Com comportamento suave, Nissan Sentra não proporciona fortes emoções ao motorista; porém, é uma opção interessante para quem quer um sedã espaçoso e bem-equipado 

teste_nissan_sentra_2017_31Alexandre Soares

A campanha publicitária que a Nissan colocou no ar durante o lançamento da sexta geração do Sentra no país, no já longínquo ano de 2007, enfim parece fazer sentido. Só neste ano, marcado pela reestilização da sétima geração do modelo, ele deixou de ter cara de tiozão. Apesar de ter aplicado um redesenho leve ao veículo, o fabricante conseguiu deixá-lo como uma dianteira bem agressiva, até um tanto esportiva. A questão é que quem vê cara não vê coração: por trás do rostinho retocado, o tiozão continua vivo. O sedã é como aquele senhor de meia-idade que faz um aplique de botox, uma plástica para tirar as rugas ao redor dos olhos, troca o traje social por calça jeans e camiseta, e, assim, até consegue parecer razoavelmente mais jovem. Porém, as aparências são facilmente derrubadas depois de algum tempo de convivência: quando o tiozão sai à noite, logo procura um lugar pra se sentar e fica rapidamente sonolento depois da meia-noite. No caso do Sentra, quem dá pistas sobre sua real faceta é o comportamento dinâmico.

teste_nissan_sentra_2017_26Como em um tiozão que está na balada, basta um breve contato com o Sentra para descobrir que a vibe dele é outra, bem mais tranquila. A suspensão, independente do tipo McPherson na dianteira e semi-independente, por barra de torção na traseira, tem calibragem suave, isolando bem as imperfeições do piso dos ocupantes, mas permitindo que a carroceria role em curvas. Não que o modelo seja instável, longe disso, mas o caso é que ele não proporciona empolgação em estradas sinuosas. Se a prioridade é o conforto, ela poderia apenas ter um curso um pouco maior, pois o sistema “dá batente” quando se passa mais rápido em quebra-molas e ondulações. A direção com assistência elétrica foi recalibrada na linha 2017, mas ainda é um tanto indireta em alta velocidade. Em manobras, o sistema oferece muita leveza. Essas características acabam convidando a circular com o pé mais leve, curtindo o trajeto.

teste_nissan_sentra_2017_17Motor e câmbio

A mecânica do Sentra continua sendo capitaneada pelo motor 2.0, que tem 16 válvulas com variação no tempo de abertura e acionamento por corrente, construção integral (bloco e cabeçote) em alumínio e sistema de partida a frio sem tanquinho. Ele desenvolve 140 cv de potência a 5.100 rpm e 20 kgfm de torque a 4.800 rpm, tanto com gasolina quanto com etanol. Apesar da dose razoável de tecnologia embarcada, os números são modestos para a cilindrada. A vantagem é que o propulsor entrega boas respostas em todas as faixas de rotação e funciona com suavidade. Os freios, com discos nas quatro rodas, por outro lado, não fariam feio em um sedã com pretensões mais esportivas: bem-dimensionados, imobilizam o veiculo com eficiência.

Acoplado ao motor, há um câmbio automático do tipo CVT, sem simulação de marchas para trocas manuais: ele traz apenas um botão que faz o sistema trabalhar com uma relação final mais curta, eliminando o overdrive – o que, consequentemente, faz o propulsor trabalhar em giro mais alto – além da função Low. Por outro lado, se essas funções não forem acionadas, em rodovias, a 120 km/h, com o pé leve no acelerador, o motor funciona a serenas 2.100 rpm. Com um conjunto que passa longe de ter pretensões performáticas, o desempenho do sedã é não mais que correto para sua categoria. Ele entrega reações típicas de um veículo equipado com transmissão continuamente variável, mantendo as rotações constantes quando se pisa fundo no acelerador. As acelerações são razoavelmente ágeis, mas era de se esperar mais das retomadas; para otimizá-las, o motorista precisa recorrer à função “Overdrive Off”. Todavia, mais uma vez, trata-se de um comportamento coerente dentro da proposta sóbria do modelo.

teste_nissan_sentra_2017_23Ele é bom de copo

Um dos defeitos do tiozão que ficaram mais evidentes durante a avaliação foi sua tendência ao alcoolismo. Nas medições do Autos Segredos, feitas com etanol no tanque, o Nissan Sentra rendeu em média 6,7 km/l na cidade e 9,4 km/l na estrada. É pouco, e, como o tanque tem apenas 52 litros, a autonomia fica limitada a 494 km com o derivado da cana. E olha que nossos números foram parecidos com os obtidos no Programa de Etiquetagem veicular do Inmetro, de respectivos 6,6 km/l e 9,0 km/l, com eu combustível vegetal (apenas por curiosidade, com gasolina, que nós não tivemos a oportunidade de aferir, as médias alcançadas pelo órgão foram de 10 km/l em ciclo urbano e 13 km/l no rodoviário). O que era de se esperar, principalmente de um sedã sem pretensões esportivas, era um consumo de combustível moderado: ainda que esses índices variem de acordo com os tipos de condução e de utilização, a desvantagem em relação aos concorrentes que já aderiram ao downsizing é evidente.

teste_nissan_sentra_2017_10A Nissan tentou disfarçar o prefil de tiozão do Sentra também por dentro, com a adoção de um novo volante, que lembra o do esportivo 370Z. A empunhadura é boa, mas poderia ser ainda melhor se a peça fosse um pouco mais grossa. O ressalto introduzido no capô é visto pelo motorista, como em sedãs esportivos como o Jaguar XE, criando uma (falsa, no caso do Nissan) sensação de que há um motorzão sob o capô. Alguns detalhes em black piano, em substituição ao cinza metalizado, também foram adotados. No mais, o habitáculo do carro mantém o aspecto conservador, com linhas tradicionais e cores escuras. O cluster tem grafia simples e direta (como deve ser) e é completo, com termômetro do fluido de arrefecimento do motor. A coluna de direção com ajustes de altura e de profundidade e o banco do motorista também regulável em altura permitem encontrar rapidamente a posição ideal para dirigir.

Gentil como um senhor

Os bancos merecem destaque. Mais uma vez corroborando para a aura pouco emocionante mas muito cômoda do tiozão… ops, sedã, eles são extremamente confortáveis: não trazem abas laterais capazes de segurar bem o corpo em curvas, mas, em compensação, apoiam as coxas e toda a coluna cervical com perfeição. São, certamente, os mais confortáveis da categoria. Porém, nem tudo a bordo é perfeito: alguns comandos, como o da abertura interna do porta-malas e até o botão de partida, ficam parcialmente encobertos pelo aro do volante, o que prejudica o acesso.

teste_nissan_sentra_2017_9O acabamento é compatível com o segmento: o painel tem revestimento emborrachado, enquanto as forrações das portas, embora exibam todos os plásticos rígidos, têm grandes porções estofadas. Na unidade avaliada, não havia falha nos encaixes. Mas o ponto alto do interior é o espaço, amplo mesmo para um sedã médio. A unidade avaliada andou com lotação máxima, com três adultos atrás (dois homens e uma mulher grávida). Embora sem muita folga, todos viajaram com nível de conforto acima da média. Além de boa largura, o sedã oferece área razoável para as cabeças e muito generosa para as pernas dos passageiros traseiros. Ademais, todos contam com cintos de três pontos e encostos de cabeça. O porta-malas de 503 litros, também é dos maiores da categoria. O compartimento é tão amplo que, mesmo prejudicado pelas dobradiças pantográficas, que roubam algum espaço, o aproveitamento ainda é bom.

Tiozão equipado

A linha 2017 do Nissan Sentra ganhou alguns equipamentos. Na versão SL, avaliada, um dos mais interessantes é o alerta de colisão, que emite uma advertência sonora quando o veículo se aproxima muito rapidamente de algum obstáculo. Trata-se de um equipamento útil, mas que peca pelo excesso: a calibragem feita pela Nissan foi muito cautelosa, de modo que o carro “apita” a qualquer sinal de agressividade do motorista. Outros veículos com esse sistema dirigidos pelo jornalista que vos escreve, entre os quais o novo Chevrolet Cruze, atuavam apenas em situações de risco mais real (olha o Tiozão, excessivamente cauteloso) se revelando de novo). Outras novidades bem-vindas são o alerta de fluxo cruzado na traseira do carro e os alertas de ponto-cego; estes sim funcionaram perfeitamente. Os faróis ganharam uma assinatura em LED, que é diferente das DRLs; portanto, o motorista não está isento de acender as luzes baixas em rodovias. O conjunto óptico não traz tecnologia de direcionamento em curvas, mas é eficiente, vale ressaltar.

Bastante ampla, a lista de equipamentos do Sentra SL inclui ainda chave presencial com botão de partida, bancos revestidos em couro, ar-condicionado digital com duas zonas de temperatura, banco do motorista com regulagem elétrica, teto solar elétrico, computador de bordo, cruise-control, retrovisor interno eletrocrômico com bússola integrada, travas, retrovisores e vidros elétricos (esses últimos, porém, com função um-toque apenas para o motorista), alarme, acionamento automático de faróis e limpadores de para-brisa, sensores de estacionamento traseiros, câmera de ré e central multimídia com tela sensível ao toque de 5,8 polegadas, Bluetooth, navegador GPS e sistema de áudio com assinatura da marca Bose, com 4 alto-falantes, 2 tweeters e 2 subwoofers, rádio/CD-Player e entrada auxiliar para MP3 Player e iPod e porta USB. Entre os itens de segurança, há seis airbags (frontais, laterais e do tipo cortina), controles eletrônicos de tração e de estabilidade, ganchos padrão Isofix para fixação de cadeirinhas infantis e freios ABS com controle eletrônico de frenagem e assistência de frenagem.

Entre os sedãs médios vendidos no Brasil, há um grupo mais descolado, com dirigibilidade bem latente, como o Focus Fastback, o Honda Civic e o Volkswagen Jetta. De outro lado, há os “tiozões”, mais conservadores, entre os quais o Toyota Corolla, o Renault Fluence e… o Nissan Sentra! Pertencer a um desses grupos não faz determinado modelo ser pior ou melhor, e sim o torna mais apropriado para determinado tipo de público. É a velha relação entre conforto e esportividade, que separa os que prezam uma tocada mais agressiva daqueles que preferem um rodar suave. Se você faz parte do primeiro grupo, o Sentra não irá lhe agradar. Porém, se o leitor se encaixa no segundo time, provavelmente irá gostar bastante do modelo da Nissan. Principalmente porque, além de suave, ele entrega ótimo pacote de equipamentos por preço inferior ao da maioria dos concorrentes: a versão SL custa R$ 98.990, enquanto as configurações top de linha de vários outros sedãs médios já superaram a barreira dos R$ 100 mil. Ele é tiozão, mas pode até conquistar alguma novinha se tiver a oportunidade de interagir com ela.

AVALIAÇÃO Alexandre Marlos
Desempenho (acelerações e retomadas)  7  7
Consumo (cidade e estrada)  6  6
Estabilidade  8  9
Freios  9  9
Posição de dirigir/ergonomia  8  9
Espaço interno  9  9
Porta-malas (espaço, acessibilidade e versatilidade)  9  9
Acabamento  8  9
Itens de segurança (de série e opcionais)  9  8
Itens de conveniência (de série e opcionais)  9  8
Conjunto mecânico (acerto de motor, câmbio, suspensão e direção)  8  7
Relação custo/benefício  8  8

FICHA TÉCNICA

»MOTOR
Dianteiro, transversal, quatro cilindros em linha, 16 válvulas, flex, 1.997cm³ de cilindrada, 140cv de potência máxima a 5.100 (tanto com gasolina quanto com etanol), 20 kgfm de torque máximo a 4.800 rpm (tanto com gasolina quanto com etanol).

»TRANSMISSÃO
Tração dianteira, câmbio automático do tipo CVT.

»ACELERAÇÃO ATÉ 100 km/h (dado de fábrica)
10,2 segundos

»VELOCIDADE MÁXIMA (dado de fábrica)
186 km/h

»DIREÇÃO
Pinhão e cremalheira, com assistência elétrica.

»FREIOS
Discos ventilados na dianteira e discos sólidos na traseira, com ABS.

»SUSPENSÃO
Dianteira, independente, McPherson, com barra estabilizadora; traseira, semi-independente, eixo de torção, com barra estabilizadora.

»RODAS E PNEUS
Rodas em liga de alumínio de 7×17 polegadas, pneus 205/50 R17.

»DIMENSÕES 
Comprimento: 4,636 metros; largura, 1,761 m; altura: 1,504 m; distância entre-eixos: 2,700 m; peso: 1.360 quilos; altura em relação ao solo, 186 mm.

»CAPACIDADES
Tanque de combustível: 52 litros; porta malas: 503 litros; carga útil (passageiros e bagagem): 465 quilos.

Fotos | Marlos Ney Vidal/Autos Segredos

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